Envenenando o Nord Stream-2
Envenenando
o gasoduto
Texto de Finian Cunningham, tradução de btpsilveira
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Setembro de 2020 – “Information Clearing House” – Na maioria dos casos criminais, o objetivo emerge rapidamente e mostra motivo e perpetrador. Como sempre, o guia mais confiável para qualquer investigação é: quem ganha com o crime.
Nesta semana, autoridades alemãs estão
acusando candentemente o governo russo pelo alegado envenenamento do dissidente
Alexei Navalny, que supostamente ainda estaria em coma, hospitalizado em
Berlin. Dias antes, Navalny fora levado de avião para Berlin. Um laboratório
militar afirma ter encontrado traços de um agente neurológico mortal chamado Novichok
em seu corpo.
Por trás das acusações criminais sem
provas contra Moscou, surgem agora alegações de que a Chanceler Angela Merkel sofre
novas pressões para abandonar o projeto de parceria com a Rússia, para
construir o gasoduto Nord Stream-2
Parlamentares alemães de alta patente
dentro do governo Merkel estão pedindo que Berlin deixe de lado o
ambicioso projeto de fornecimento de energia em retaliação à “tentativa
de homicídio” contra Navalny. Estes parlamentares germânicos, como por exemplo
Norbert Röttgen, há muito tempo são contra o gasoduto Nord Stream-2.
O congresso dos Estados Unidos e a administração
Trump intensificaram seus esforços políticos para inviabilizar o gasoduto submarino
que custará 11 bilhões de dólares e já com 90% da construção completada. O
secretário de estado Mike Pompeo disse recentemente que os EUA “farão qualquer
coisa” para impedir a finalização do
projeto.
O Nord Stream-2 dobrará o fornecimento
de gás russo para a Alemanha. Trata-se de acordo de enorme importância
estratégica. Washington não nega que quer barrar o acordo, dado que tem
projetos de vender seu próprio gás para a Europa, com preço muito mais alto.
Na Alemanha, Polônia e Estados
Bálticos, há políticos favoráveis a Washington que são agressivos no lobby
contra o comércio de energia com a Rússia, parte devido à sua russofobia
congênita e parte devido às sinecuras e subornos do Tio Sam.
Oportunamente, surge o caso Navalny.
Semana passada, Merkel insistia que a doença de Navalny não influenciaria
economicamente o projeto Nord Stream-2. Daí nesta semana, a inteligência do
exército alemão anuncia ter provas “contundentes” que houve
envenenamento com Novichok, arma química da era soviética. Agora, em furacão de
acusações, os dedos apontam para o Kremlin.
Que as maiores repercussões políticas
sejam as exigências peremptórias a Merkel para que abandone o Nord Stream-2 é
muito revelador.
Coloquemos os eventos em perspectiva.
Quando, em voo da Sibéria para Moscou, Navalny adoeceu, em 20 de agosto. Os médicos
russos que o trataram não encontraram traços de veneno em seu corpo, e
especificamente, nenhum traço de agentes neurotóxico do tipo organofosfato,
como o Novichok. Navalny adoeceu por causa de uma desordem metabólica, como
nível muito baixo de açúcar no sangue, o que é perfeitamente plausível para
quem notoriamente sofre de diabetes.
Os médicos alemães que o trataram
quando ele voou para Berlin em 22 de agosto também não detectaram agentes
venenosos específicos. Asseveraram que o doente testou positivo para inibidores
de colinesterase, exatamente a mesma coisa encontrada pelos médicos russos.
Ao contrário dos russos, que atribuíram
as substâncias a uma gama de drogas farmacêuticas legais, os médicos
berlinenses dramaticamente disseram que acreditam que um veneno neurológico
estaria envolvido.
Essa afirmação inicial parece então ser
“confirmada” vários dias depois por um laboratório das Forças Armadas, que
afirma ter detectado Novichok no corpo de Navalny.
Assim, ou os médicos russos dizem a
verdade ou os alemães, com conclusões radicalmente diferentes. No entanto, uma
questão se levanta: por que os alemães não fornecem as amostras biológicas que
afirmam ter testado positivo para Navalny? Os médicos russos afirmam ter as
amostras biológicas originais, as quais, garantem, não mostram traços do veneno
neurológico. A disputa com certeza pode ser resolvida facilmente se ambos os
lados cooperarem
Ocorre que há um problema. O lado
alemão se recusa incisivamente a interagir com os doutores russos ou com
procuradores do país para estabelecer a causa da doença que acometeu Navalny.
Em vez disso, junto com seus aliados ocidentais, Berlin preferiu fazer acusações
graves contra Moscou como se a incriminação da Rússia fosse uma
resposta predeterminada.
Sem demonstrar o encadeamento das
provas que supostamente evidenciam o uso de Novichok contra Navalny, todas as
acusações feitas por Berlin são nulas e sem efeito, sem os padrões básicos do
devido processo legal. O ônus da prova recai sobre Berlin, não em Moscou. São os
alemães que tem questões a responder, sem basear-se em ilações e preconceitos.
Neste momento a maior questão, quem
ganha, aponta para aqueles mesmos políticos dos dois lados do Atlântico, que
estão tentando clamorosamente sabotar o projeto do gasoduto Nord Stream-2
Transportaram um “quadro oposicionista”
cantado em verso e prosa pela mídia ocidental para Berlin. O corpo de Navalny
inicialmente sequer mostrava traços de envenenamento. A seguir um laboratório militar
alemão “encontra” traços de um agente neurológico mortal. Segue-se a cacofonia
previsível para tentar cancelar o comércio de energia com a Rússia. O “plano do
envenenamento” parece óbvio e a autoria não é de Moscou.
Finian Cunningham escreve extensivamente
sobre assuntos internacionais, com artigos publicados em várias línguas. É
bacharel e mestre em Química Agropecuária e trabalhou como editor de ciências
para a Sociedade Real de Química em Cambridge, Inglaterra, antes de seguir carreira
jornalística. É também músico e compositor.
http://www.informationclearinghouse.info/55543.htm,
publicado originalmente em https://sputniknews.com/columnists/202009041080367400-poisoning-nord-stream-2/
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