Discurso de Sayyed Hassan Nasrallah sobre Beirute

 

Discurso de Sayyed Hassan Nasrallah, Secretário Geral do Hezbollah, sobre os acontecimentos em Beirute

 

Enviado por Castor Filho, via Lou Salomé 

 

 

Secretário Geral do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, discursa sobre os últimos acontecimentos e incidentes nacionais, dia 07 de Agosto de 2020. 

 

Sayyed Hassan Nasrallah: 

 

"O Hezbollah não tem nada a ver com a explosão do porto. Os acusadores são mentirosos despóticos."

 

O Secretário-Geral do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, dedicou todo o seu discurso à tragédia que atingiu o Líbano pela explosão de nitrato no porto de Beirute.

 

Ele começou seu discurso apresentando suas condolências às vítimas, aos mártires, aos feridos e desaparecidos, suas famílias e àqueles que perderam suas casas e foram feridos por este incidente que custou a vida a mais de 150 pessoas e feriu mais de 5.000.

 

“Estamos perante um incidente excepcional na nossa história moderna, que exige uma reação específica relacionada em todas as áreas”, frisou.

 

Prestando homenagem ao estado, corpo médico, defesa civil e instituições populares que correram para resgatar as vítimas, Sayyed Nasrallah também elogiou a ajuda e os esforços de apoio que têm sido fornecidos por estados e organizações estrangeiras,  segundo ele, o que devem "dar oportunidade para sair do embargo imposto ao Líbano".

 

No entanto, ele parou  na terceira  cenário , o cenário político libanês, onde alguns líderes políticos, além de alguns estados regionais e sua mídia exploraram o incidente para acertar suas contas com o presidente libanês Michel Aoun, o governo de Hassan Diab e especialmente com o Hezbollah.

 

“Mesmo antes de entenderem o que havia acontecido, essas partes começaram a acusar o Hezbollah, seja alegando que ele possui depósitos de armas e munições no porto de Beirute, ou dizendo posteriormente , quando a investigação preliminar certificou que o embarque de nitrato de amônio era a origem do problema , que foi o Hezbollah que o depositou no porto. 

 

Eles queriam dizer aos libaneses afetados, que o Hezbollah é o responsável por este desastre, pela morte de pessoas, pelos feridos e pela destruição das suas casas”, lamentou, assegurando que se trata apenas de mentiras e desinformações.

 

“Essas são acusações injustas e arbitrárias contra nós. Essas são alegações injustas que eu queria responder”, disse ele.

Nasrallah continuou: “Posso dar a certeza de que nunca houve um depósito de armas ou munições do Hezbollah no porto, nem no passado nem agora. Em breve a investigação revelará todas as verdades".

 

Propondo que as investigações fossem realizadas pelo Exército Libanês que goza da confiança de todos os protagonistas libaneses e de todas as comunidades, o líder do Hezbollah, insistiu na necessidade de que fossem realizadas, e que aqueles que serão responsabilizados sejam julgados e punidos, pois segundo ele é "a única prova de que o Governo Libanês realmente existe ou de que há esperança de que possa existir".

 

Dirigindo-se aos que culpam o Hezbollah, ele garantiu que seus esforços  falharão.

 

“Quem abriu uma guerra contra nós, contra a resistência e o eixo da resistência, sabe que seus esforços não terão os resultados desejados. Essa resistência graças à confiança do povo, às suas posições nacionais e regionais é certamente maior do que ser injustiçada por mentirosos que incitam a guerra civil e deformadora da realidade, os despóticos. 

Eles vão falhar”, concluiu.

 

Principais ideias do discurso:

 

Eu havia anunciado que queria falar na quarta-feira passada antes deste trágico incidente, de algumas questões relacionadas à situação atual, sobre a  fronteira libanesa com a Palestina ocupada, sobre o tribunal internacional e a  data de sete de agosto (o anúncio de seu veredicto final) e sobre o novo coronavírus que teve um novo aumento no Líbano e a crise de combustível nacional além de alguns problemas regionais. 

 

Mas quando este trágico incidente aconteceu eu decidi mudar e só irei falar sobre este trágico incidente que aconteceu nos últimos dias.

 

Estamos enfrentando um desastre em grande escala, que afetou todos os libaneses. Beirute é o lar de todas as comunidades. Foram mais de 150 mártires  libaneses, sírios e de outras nacionalidades. Milhares de feridos, dezenas de pessoas desaparecidas e desabrigadas. A população viveu um pânico vendo os prédios tremendo parecendo que havia um terremoto. Seus efeitos colaterais são muito perigosos e as cenas que todos nós vimos mostram isso muito bem.

 

Estamos enfrentando uma verdadeira tragédia, um incidente excepcional, sem precedentes e isso terá consequências em diversas áreas agravando a crise econômica e financeira. 

Estendo minhas condolências a todas as famílias que foram prejudicadas e afetadas por esta explosão. Peço a Deus pela cura de todos os feridos e que nos dê paciência e exigimos uma reação específica em todas as áreas.

 

Tem um sentimento colegial de solidariedade e compaixão que merece grande estima nacional e moral que caracteriza o nosso povo. Diversas instituições do Estado foram às ruas, mas o mais cativante foi o entusiasmo popular que se seguiu, organizações civis, jovens, cidadãos desceram para varrer as ruas e tirar entulhos, além das campanhas de doação de sangue. Muitas famílias ofereceram suas casas para abrigar as vítimas do desastre.

 

O Hezbollah, por sua vez, não falhou em seu dever e todas as suas instituições e capacidades humanas e materiais estão a serviço das instituições do Estado e de nosso povo. O projeto de abrigo para quem perdeu a casa deve ter prioridade e ser levado a sério e estamos totalmente preparados para ajudar as famílias que perderam as suas casas a encontrar abrigo e acomodação.

 

A segunda cena que se apresenta vem de fora: as posições de muitos estados do mundo, referências religiosas, cristãs e muçulmanas, sunitas e xiitas, forças políticas e outras fizeram parte de um grande movimento de compaixão e solidariedade. Só podemos cumprimentá-los e agradecê-los.

 

São as várias delegações que vieram ao Líbano, incluindo a visita do Presidente francês, a quem damos as boas-vindas. Todos os apelos por ajuda do Líbano e para reunir os libaneses são bem-vindos. Queremos enfatizar os aspectos positivos, embora alguns desses devem ser tratados com cautela. Isso tudo abre uma nova oportunidade para o Líbano sair do embargo.

 

A terceira cena diante de nós está no nível político nacional libanês:

 

Diz-se que os povos  que gozam de certo padrão moral e de certo senso de responsabilidade, quando uma tragédia ou catástrofe ocorre, todos congelam seus conflitos e suspendem suas disputas internas. Eles agem com moral para poderem superar o desastre e depois abrem seus cadernos novamente.

 

O que aconteceu, infelizmente, desde as primeiras horas do desastre, quando as pessoas nem sabiam ainda o que tinha acontecido, sobre a natureza da explosão, para que era destinada a natureza da explosão, sobre a natureza produzida, se fortuita ou premeditada, certas forças em conjunto com seus meios de comunicação saíram para difundir uma versão nítida e definitiva, segundo a qual a explosão do depósito se deve a mísseis do Hezbollah, ou  é um depósito cheio de munições e armas do Hezbollah.

 

Mesmo quando as autoridades oficiais garantiram que não havia mísseis ou munições e que foi o nitrato que explodiu, eles passaram a acusar o Hezbollah de o ter feito.

 

Além do fato de se ter sido um acidente fortuito, ou devido a mísseis ou ataque de aviões, o principal para eles foi acusar o Hezbollah, para dizer aos libaneses que foi este partido quem destruiu suas casas. 

Isso é uma grande injustiça e não é chamado de liberdade de expressão. Nós também fomos injustiçados, e fomos atingidos diretamente no incidente, pois perdemos vidas, temos muitos feridos além das perdas materiais e empregos. 

 

Embora este assunto não mereça ser falado, mas uma categoria de pessoas podem ser influenciadas por este discurso e realmente acreditem que o Hezbollah seja o  culpado porque não reagiu. Disseram-me que não valia a pena falar nisso, mas fiz questão de levantar esta injustiça.

 

Posso dizer com certeza que nunca houve um depósito de armas do Hezbollah no porto, nem no passado e nem agora. Amanhã a investigação revelará todas as verdades.

É importante para mim que essas mentiras e manipulações injustas e arbitrárias  passem.

 

Nenhuma mídia estrangeira levou a sério esta versão dos eventos que permaneceu como prerrogativa dessas forças políticas locais e árabes. Alguns adotaram outra versão de que embora o Hezbollah não tenha um depósito de armas no porto, será responsabilizado pelo desastre, porque controla o porto. O que é uma grande mentira.

 

Não temos nada a ver com o porto, não sabemos o que está acontecendo lá, nem o que está armazenado dentro.

Sim, sabemos o que está acontecendo no porto de Haifa muito mais do que no porto de Beirute, porque está relacionado ao conflito com o inimigo. 

 

Sabemos que sempre ouviremos esta sinfonia  desse povo opressor e despótico que sempre continuaram a falar.

 

As investigações permitirão em um futuro próximo esclarecer tudo sobre o que aconteceu, e espero que a opinião pública libanesa   julguem estes meios de comunicação que semearam mentiras abstendo-se de ódio e rancor, e não os seguir porque  já não terão credibilidade e fazem parte da batalha que almeja o país.

 

Esta não é uma acusação política, quando você mente para as pessoas acusando um partido e culpando-o pela morte e destruição. Além disso, vimos a exploração política do evento. Quem tem problemas com o chefe de estado, com o governo e conosco deve se abster.

 

Não queremos falar sobre isso porque agora é o momento de solidariedade e ação para reverter o rescaldo desta tragédia. Mas assim que a catástrofe acabar, vamos abrir os arquivos. Não quero levantar polêmica agora. A prioridade hoje é solidariedade e compaixão.

O principal agora é proceder as investigações para apontar os responsáveis ​​e responsabilizá-los. Deve ser realizada uma investigação, a pedido do Presidente da República e do Primeiro-Ministro, garantindo que todos os envolvidos sejam julgados. Isso será um bom começo.

 

O que os libaneses aspiram unanimemente é um trabalho sério e diligente para uma investigação transparente e completa,  para punir os responsáveis.

 

Estamos entre aqueles que exigem isso. Não é permitido esconder a realidade. Devemos evitar os meios ancestrais que sempre governaram no Líbano em uma base confessional e em balanços confessionais, os responsáveis ​​devem ser julgados em publico por seus crimes e responsabilidades. Eles não devem ser poupados por serem membros da comunidade. Nem para condicionar que haja equilíbrio comunitário e veredicto.

 

Quero dar respostas para as forças políticas que perguntam quais os partidos que farão essa investigação e que expressam suas suspeitas. Sabendo que todos os protagonistas libaneses confiam no exército libanês, são eles que devem fazer as investigações. Todos os libaneses tem que confiar nos órgãos de segurança e os incentivar  para um trabalho completo e  uma investigação séria.  O exército e' a melhor escolha.

 

Sobre este ponto, gostaria de acrescentar algo:

Como o incidente é excepcional, o comportamento do estado libanês também deve ser sério e responsável, porque isso não é um assunto relacionado apenas ao chefe de estado ou ao governo.  Todas as instituições do estado estão preocupadas. Não é permitido politizar um evento como este.

 

O comportamento dessas instituições terá um impacto sobre o destino do país, se há ou não um estado no Líbano ou se há esperança de que haja um. 

 

Se as instituições do Estado não realizarem esta investigação, significa que não existe Estado e que nunca haverá.

 

Mesmo que o incidente tenha sido acidental ou premeditado, esta catástrofe reflete o problema de corrupção e negligência. Se não podemos elucidar o que aconteceu e julgar os responsáveis, isso significa que não há Estado. Isso significaria que estamos diante de uma crise do sistema do estado.

 

Apelo para ser extremamente sério e determinado a processar os responsáveis ​​por este incidente para dar esperança ao povo libanês.

 

Eu termino com dois pontos:

 

Os dias de desastre são dias de sacrifício e fardos adicionais, mas também devem oferecer novas oportunidades. A reação de diferentes países e estados de compaixão ao desastre apresenta esta oportunidade e devemos aproveitá-la.

 

O ponto final: todos aqueles que abriram uma batalha contra nosso partido, contra a resistência e o eixo de resistência, sabem que não alcançarão nenhum dos resultados desejados. 

 

Seus esforços terminarão em fracasso porque os poderes nacionais e regionais da nossa resistência, além da confiança do povo, são maiores do que ser injustiçados ou julgados por pessoas injustas e despóticas que incitam a guerra civil, como sempre foi feito. 

Eles são mentirosos que disfarçam a realidade.

Via Fatima Jezzini

Beirute

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