De volta aos
confrontos no mar
por Brian Clouglhey
http://www.strategic-culture.org/news/2016/10/30/down-seas-confrontation.html
http://www.strategic-culture.org/news/2016/10/30/down-seas-confrontation.html
tradução:
btpsilveira
Há mais de um século o poeta
inglês John Masefield escreveu: “Devo voltar mais uma vez aos mares e céus
solitários / E tudo o que peço é um veleiro e uma estrela que me guie”, e não
há dúvidas de que poderia agir dessa forma naquela época, porque se o fizesse
agora provavelmente teria muita dificuldade de evitar ser abalroado por um dos
vários e enormes Grupos de Ataque de Porta Aviões, ou da mesma forma, dos
grandes Grupos Anfíbios de Prontidão dos Estados Unidos que perambulam por
todos os quadrantes, dominando os céus e os mares abaixo dele, fazendo alarde
do poderio (norte)americano por todos os cantos do planeta.
Aliás,
Masefield também teria dificuldade para não trombar com um dos mal conservados
e fétidos barcos fugidios, abarrotados de refugiados desesperados, vindo de
regiões onde impera o terror para mares hostis, até praias onde não são
bem vindos e onde as autoridades os tratam com menosprezo – se conseguirem
chegar.
Em 21
de outubro, por exemplo, uma reportagem da Reuters deu conhecimento de que no Mar Mediterrâneo “a
tripulação de uma lancha com as insígnias da Guarda Costeira da Líbia atacou um
barco lotado com cerca de 150 migrantes a pauladas, fazendo com que muitos
deles caíssem ao mar, com o afogamento de pelo menos quatro deles, de acordo
com afirmações do grupo Sea-Watch na sexta feira. Socorristas recolheram ainda
mais três corpos de pessoas mortas de um outro barco de borracha. No total, contaram
3.300 sobreviventes em diferentes embarcações durante o dia...” Trata-se apenas
de um dia no terror infligido pelas nações do ocidente, que produziram
incontáveis refugiados, espalhados pelas ações dos Estados Unidos em conluio
com a OTAN, que reduziram o Iraque, o Afeganistão e a Líbia a um estado de caos
total, tornando os países ingovernáveis.
O Mar
Mediterrâneo está cheio de barcos precários repletos de refugiados tentando encontrar
o caminho, através de corpos que boiam e entre os navios de guerra da 6ª Frota
(norte)Americana, que ignora os refugiados, mas “realiza
todo tipo de operações navais solo e em conjunto... para continuar protegendo
os interesses nacionais e a segurança e estabilidade na Europa e na África”.
Como parte de sua missão, envia navios para o Mar Báltico, para demonstrar “nosso
comprometimento total com a segurança coletiva da OTAN, sob a operação Atlantic
Resolve”
O
jornal semanal US Navy Times revelou
que o Almirante Mark Ferguson, atualmente comandando as Forças Navais
Europa/África dos Estados Unidos teria dito que “a Rússia está elaborando ‘um
arco de aço’ que vai do Ártico ao Báltico, até a Crimeia e o Mar Negro, instalando
recursos sofisticados que parecem indicar sem sombra de dúvida uma ‘contestação
marítima dirigida contra a OTAN’”
Deve ter “escapado” do
entendimento do almirante o fato de que a Rússia tem portos no Báltico – ao contrário
dos Estados Unidos – e quem todo o direito de operar ali. São Petersburgo é
nada mais nada menos que a segunda maior cidade da Rússia (mesmo que o
almirante não tenha conhecimento disso) e sua mais importante plataforma de
exportação. Sob vários aspectos, equivale à cidade de San Diego, na costa oeste
dos Estados Unidos, que também tem importantes instalações navais, bem como
comerciais. Mas parece que, na decodificação histérica do almirante, se a
Rússia tem um porto no Báltico, deve estar construindo ”um arco de aço”.
Em
seguida o almirante alegou que a Rússia estaria “falando de se estabelecer de
forma permanente no Mediterrâneo, tentando quebrar o notório cerco que lhe faz a
OTAN, realizado à base de sanções econômicas e isolamento político”.
Muito
bem. De acordo com o almirante Ferguson, os Estados Unidos tem objeções a que a
Rússia marque presença no Mediterrâneo, mesmo estando os EUA operando ali uma
de suas cinco maiores frotas regionais, que contam em conjunto com 10 Porta
Aviões, nove navios anfíbios de assalto, 22 cruzadores, 62 destroyers, 17
fragatas, 72 submarinos, grande número de naves de apoio e 3.700 aviões.
Além de
confrontar a Rússia, muitos desses navios e aviação de guerra estão colocados diretamente
contra a China no Mar do Sul da China, que ali, da mesma forma que a Rússia no
Mar Báltico e no Mar Negro, tem portos e rotas para navios comerciais que são
essenciais para o seu comércio global.
Nunca
houve qualquer incidente no qual a Rússia ou a China tenham interferido contra
um navio comercial nos mares que banham suas costas ou em qualquer outro lugar.
Jamais houve indicação de que qualquer país poderia ao menos cogitar de impedir
a passagem de navios comerciais de outro país, em águas que são evidentemente
de importância vital em termos de exportação e importação de grandes
quantidades de commodities diversas. É do maior interesse de qualquer país,
regional, doméstica ou comercialmente, assegurar que a livre e pacífica
passagem em seus mares (e terras) possa ser efetuada com facilidade.
No ultimo
22 de outubro, como relato da Fox News, Washington
mandou mais um navio de guerra para conduzir operações de “liberdade de
navegação” no Mar do Sul da China. Citava declaração do Pentágono, que afirmava
que as manobras teriam lugar nas imediações das Ilhas Paracel, onde a China e
outros países reivindicam soberania. De acordo com o Pentágono, a intenção era “demonstrar
para os países costeiros que não poderiam, ilegalmente, restringir os direitos
de livre navegação, e uso legal do mar”, que todos os estados podem exercer sob
a lei internacional.
A
primeira coisa a dizer sobre estes últimos atos de confrontação beligerante é
que os Estados Unidos deveriam ser mais cautelosos ao citar a “lei
internacional” Como escrevi há um ano, o comandante da Frota do Pacífico dos
Estados Unidos, almirante Scott H. Swift declarou
que “algumas nações continuam a impor alertas e restrições supérfluas contra a
liberdade de navegação em mares de suas zonas econômicas exclusivas e reclamam
direitos territoriais que são inconsistentes com a Convenção das Nações Unidas
sobre a Lei do Mar. Essa tendência é particularmente chocante em águas
contestadas”.
A
referência que o almirante faz sobre a Convenção das Nações Unidas sobre a Lei
do Mar (UNCLOS) parece muito benvinda porque traduz uma intenção de clarificar
a resolução das disputas marítimas. Mas não deixa de ser intrigante a menção do
almirante Swift ao UNCLOS, acordo que foi assinado por 167
países para “estabelecer, num espírito de entendimento e cooperação mútuas,
todos os assuntos relativos à lei do mar”, por
que os Estados Unidos da América não ratificaram o acordo.
Admitir
que o Pentágono ou o almirante Swift tenha o direito de criticar qualquer país
por alegadamente infringir as determinações do UNCLOS é não só hilariante como
absurdo.
Os
Estados Unidos da América não têm direitos territoriais, reclamações ou
associações no Mar do Sul da China. Mesmo assim insistem em enfiar seu nariz
sujo – e sua guerra eletrônica aérea, seus submarinos e seus navios armados de
mísseis, desta vez o destroyer USS Decatur – em uma região que nada tem a ver
consigo. Deixe-me enfatizar que os Estados Unidos não tem qualquer procuração
ou direito, sob a lei internacional, de interferir, invadir ou se meter onde
quer que seja além de suas águas territoriais, a não ser, como acontece na
Europa, em um grupo militar subordinado – OTAN, por exemplo – que apoia (mesmo
que com relutância crescente) sua posição de confronto contra a Rússia. No Mar
do Sul da China o único tratado que poderia ser invocado por Washington é o que
foi assinado em 1951, quando as Filipinas declarou que “cada parte reconhece
que um ataque armado na área do Pacífico contra qualquer das partes ameaçaria
sua própria paz e segurança, e declara que teria então o direito de agir para
combater os perigos comuns, de acordo com os procedimentos próprios das
respectivas constituições”.
O tratado mal redigido poderia
ser suficiente para que Washington desafiasse a China de modo cada vez mais
beligerante, dando ao presidente o poder de levar seu país à guerra sem
consultar o Congresso – mas os Estados Unidos tem que contar com o presidente
Duterte, das Filipinas, que não é um joguete do Pentágono como seus
predecessores. Na realidade, ele ousa dizer
que “os (norte)americanos são uns apavorados, desordeiros por vezes. Suas
laringes não estão sintonizadas com a civilização”. Ele não tem a menor
intenção de ir à guerra por Washington, ou de fornecer desculpas para que o
Pentágono continue suas operações escandalosamente hostis para demonstrar “direitos
de navegação”.
O presidente Duterte quer
manter boas relações com a China, e está caminhando nessa direção. Ele não quer
cortar relações diplomáticas com os Estados Unidos, mas está, assim como o
Primeiro Ministro da Malásia Datuk Seri Najib Razak, tomando posição
no sentido de que os países ao redor do Mar do Sul da China “devem assegurar a
paz e a estabilidade na região, evitando atos provocativos que possam criar tensões,
preocupações ou desconfianças” – como, por exemplo, mandar navios de guerra em
clara provocação para provocar uma reação chinesa.
Porém o
presidente Duterte faria bem se tomasse muito cuidado, porque se Hillary Clinton
se tornar presidente dos Estados Unidos, ele se tornará alvo de sua fúria. Ela
não gosta de líderes de outros países que não concordam com as políticas dos
EUA e Duterte deve ter em mente o destino do presidente da Líbia, Gaddafi. Ele
tirou só um dedo fora da linha imposta por Washington, não sendo obediente no
grau requerido e seu destino foi contado entre gargalhadas pela Secretária de
Estado Hillary Clinton que disse: “Nós viemos. Nós vimos. Ele morreu”.
Comentário do tradutor: Essa frase lamentável acompanhará
Hillary Clinton por toda a sua vida, e depois de sua morte. Assim como
Descartes é lembrado pelo “Cogito, ergo sum” e Sócrates é lembrado pela frase “Só
sei que nada sei”, Hillary será tristemente lembrada por essa frase
terrivelmente odiosa.
Clinton certamente insistirá na
política de “pivoteamento para a Ásia” de Obama, a qual tem foco no desafio
contra a China ao invés de promover laços diplomáticos de comércio com as nações
da região. Ela deverá ainda intensificar as igualmente contraproducentes
manobras militares contra a Rússia em suas tentativas malévolas de obter uma “mudança
de regime” em Moscou.
Sob uma
administração Clinton não haverá solução de continuidade nas bravatas
arrogantes dos Estados Unidos pelo mundo afora, e refugiados desesperados
continuarão morrendo aos milhares, com os Estados Unidos voltando sempre e
sempre aos mares em provocações. Até um dia, quando o Pentágono for longe
demais...
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