Estados Unidos perdem seus maiores aliados na Ásia
por Alex Gorka
tradução
de btpsilveira
O relacionamento amistoso entre as Filipinas e os
Estados Unidos tem sido um dos pilares da estratégia de reequilíbrio militar
para a Ásia sob o governo do presidente Barak Obama. Esta aliança, no entanto
encontra-se sob questionamento agora que as Filipinas anunciaram que deverão
adotar uma política muito mais independente nas relações exteriores do que vinha
sendo feito no passado.
Rodrigo Duterte, presidente Filipino, tem exibido
um forte sentimento anti (norte)Americano no país desde que a administração dos
Estados Unidos começou a criticá-lo por supostas violações de Direitos Humanos
relacionados às suas lutas contra as
drogas no país. “Perdi meu respeito pela América do Norte”, disse Duterte em 04
de outubro quando ameaçou cortar completamente os laços com os Estados Unidos
em favor da Rússia e da China. Mês passado, acusou a CIA de estar planejando
assassiná-lo. Em 06 de outubro o Secretário Filipino para Relações Exteriores
Perfecto Yasay Jr. Realizou um pronunciamento duríssimo, dizendo que já está na
hora de “colocar um fim na subserviência de nossa nação aos interesses dos
Estados Unidos”.
O final da subserviência inclui a suspensão da
cooperação no campo militar. Duterte quer que ,mais de uma centena de pessoal
militar dos EUA, que presta assistência aos soldados locais na vigilência do
Sul do país, deixem a Filipina. Também quer acabar com os 28 exercícios
militares realizados em conjunto com as forças (norte)americanas a cada ano.
Delfin Loredana, Secretário da Defesa das Filipinas
disse em 07 de outubro que o exército filipino pode e é perfeitamente capaz de
se auto gerir caso os Estados Unidos se retirem do país. De acordo com o
ministro, o valor da ajuda militar dos EUA às Filipinas “não é grande”. “Podemos
viver sem isso”, disse Loredana a repórteres.
A autoridade observou que as Filipinas pretendem
comprar armas da China e da Rússia, e que os planos para coibir a cooperação de
defesa com os Estados Unidos não têm oposição dos militares filipinos. Ele
recebeu ordens do presidente para visitar esses países e auferir a
possibilidade de possível aquisição de equipamento militar. Anunciou ainda que
as patrulhas marítimas conjuntas com os EUA estão suspensas, assinalando uma
ação concreta de Manila na direção da interrupção da cooperação.
Originalmente as patrulhas foram iniciadas como
demonstração da intenção de deter a China no Mar do Sul da China, mas o
presidente Duterte optou por se envolver em conversações bilaterais com a China
para resolver a disputa territorial. Duterte planeja visitar a China em
outubro, de 19 a 21, e encetar conversações com o presidente Xi Jinping e com o
Primeiro Ministro Li Keqiang. Fontes diplomáticas e empresariais de Manila
informam que o presidente será acompanhado de cerda de duas dezenas de homens
de negócios filipinos, o que pode levar a acordos comerciais que previnam uma
possível dificuldade com os laços bilaterais que os países planejam reforçar.
Mês passado, o presidente Duterte afirmou que
poderia visitar a Rússia em 2016. Coincidentemente, o ano de 2016 marca o 40º aniversário
do estabelecimento de relações diplomáticas entre a Federação Russa (a URSS) a
as Filipinas. Acordos econômicos e de segurança seguramente estarão na agenda.
Moscou não está tomando lado nas disputas do Mar da China e pode perfeitamente
assumir o papel de mediador, se as Filipinas se moverem na direção de estreitar
lações com a China.
Em 2015, o total do comércio entre os países
diminuiu em $ 0,58 bilhões, uma queda significativa em relação aos $1,4 bilhões
no período anterior. O embaixador russo Igor Khovaev vê grande oportunidade
para que os dois países trabalhem juntos nos campos de transportes, energia,
comércio, investimentos e mineração. Khovaev disse que os dois países podem trabalhar
lado a lado em comércio e cooperação econômica, segurança, educação, ciência e
cultura. O turismo está em crescimento. Convidar mais filipinos para trabalhar
na Rússia também consta da agenda. De acordo com o embaixador, “nossas relações
são realmente amigáveis. Nós temos um legado positivo de cooperação bilateral,
Não temos disputas, contradições políticas ou diferenças”.
Pode ser coincidência ou não, mas o governo
paquistanês também emitiu declaração do mesmo tipo e ao mesmo tempo em que os
líderes das Filipinas anunciavam os planos para interromper a colaboração
militar com os Estados Unidos. O Paquistão pode se aproximar da Rússia e da
China se os Estados Unidos não reconsiderarem suas posições em relações ao
conflito entre Paquistão e Índia quanto à disputada região de Cashemira, no
Himalaia. “Esqueça isso. Os Estados Unidos já não são um poder mundial. São um
poder em declínio”, disse o Primeiro Ministro paquistanês Mushahid Hussain
Syed, embaixador especial para a Cashemira, em 05 de outubro em debate junto ao
Atlantic Council, prestigiado think thank dos Estados Unidos.
“Devagar mas com firmeza está se construindo a
relação entre Moscou e Islamabad”, disse Syed, ao se referir aos exercícios
militares conjuntos entre Rússia e Paquistão. Salientou ainda que “o governo
russo pela primeira vez concordou em vender armas ao Paquistão e os Estados
Unidos fariam bem se prestassem atenção a estes realinhamentos regionais”.
A deterioração dos laços com as Filipinas e com o
Paquistão faz parte de um quadro mais amplo. Por exemplo: a relação entre a
Tailândia e os Estados Unidos está estremecida desde que os militares assumiram
o poder naquele país em um golpe de estado em 2014.
Washington não conseguiu influenciar os Estados
membros da ASEAN, fazendo-os tomar uma posição anti China.
Através de toda a Ásia, a população tem a percepção
de que os Estados Unidos estão perdendo influência e que a China fatalmente
dominará a região na próxima década, de acordo com uma pesquisa recentemente
divulgada pelos Centro de Estados sobre os EUA da Universidade de Sidney,
Austrália.
Mais de quatro anos depois que a administração
Obama anunciou seu “pivoteamente para a Ásia”, os aliados dos EUA na região
estão se mostrando difíceis de serem convencidos. Cerca de seis em cada dez
japoneses (61%) disseram que os Estados Unidos deverão perder influência nos
próximos dez anos.
A perda de influência dos EUA na região é
questionada mesmo na Austrália.
“O
equilíbrio de poder militar na região está mudando contra os Estados Unidos”, afirma
um relatório do Centro Internacional de Estudos de Estratégia (CSIS, em
inglês). “A administração Obama ainda não conseguiu produzir uma estratégia
consistente, clara ou coerente para a região”, afirma o estudo.
A administração dos Estados Unidos não conseguiu
sequer fazer ser aprovado pelo Congresso dos EUA o acordo TPP (Trans Pacific
Partnership), um golpe sério que mina cada vez mais a credibilidade dos Estados
Unidos na região. De acordo com o Primeiro Ministro de Cingapura, Lee Hsien,
falando em nome dos subscritores, “para os amigos e parceiros dos Estados
Unidos, a ratificação do acordo de comércio pelo Congresso dos EUA é um teste
decisivo para sua credibilidade e seriedade de propósitos”.
A China, excluída do TPP, está oferecendo um novo
pacto – o Regional Comprehensive Economic Partnership (RCEP), um acordo de
livre comércio comparável ao TPP que não inclui os Estados Unidos. Em outra frente,
Pequim está concedendo mais empréstimos na região através do Asian
Infrastructure Investiment Bank (AIIB) e do Fundo para a Rota da Seda. Ao mesmo
tempo, a União Econômica Eurasiana (EAEU, na sigla em inglês), está se expandindo
para a região. Moscou e Pequim estão discutindo as possibilidades de um acordo
econômico e de comércio entre a EAEU e a China.
As tendências observadas recentemente na região
parecem prejudicar os planos de Washington de expandir a influência das forças
(norte)americanas. Os Estados Unidos estão perdendo seus maiores aliados na
região e a perda de sua influência parece estar em queda irremediável.
(assina) ALEX GORKA, originalmente
publicado no site Strategic Culture Foundation
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