2017: Não adianta culpar
Putin nem
procurar “Lugares
Agradáveis”. Os Atlanticistas Europeus estão perdidos
Por Ruslan Ostashko, traduzido do russo para o inglês por J. Arnoldski e para o
português por btpsilveira
Já tínhamos percebido que bastava alguém mencionar
qualquer problema enfrentado pela União Europeia e a reação era sempre a mesma,
resumindo-se ao seguinte argumento: “Bem, claro que a Europa está apodrecendo,
mas ainda não apodreceu desde os tempos da União Soviética”. Hoje, se eu disser
que a UE está cara a cara com uma perspectiva real de ruína, nossos “ocidentalistas”
provavelmente escreverão algo similar e ainda por cima me acusarão de ser
seguidor da propaganda do Kremlin.
Mas aconteça o que acontecer, eu continuarei
dizendo que a União Europeia corre risco de entrar em colapso em um futuro mais
ou menos previsível. No fim, não há qualquer problema errado com ser
considerado propagandista do Kremlin, especialmente desde que estou ao lado do
Primeiro Ministro francês Manuel Valls, que dia 19 deste mês disse a mesma
coisa. Sim, chegou a usar a palavra “colapso”. Que é que você acha? Será que
ele foi comprado por Putin ou realmente pensa assim?
O Primeiro Ministro Valls fez a assertiva em
Berlim, onde ele esteve para discutir com Angela Merkel como viver sob a nova
era Trump. Para ser honesto, o tom da entrevista ao jornal alemão Sueddeutsche
Zeitung sugere que a conversa com Merkel
teve mais ares de uma sessão terapêutica em grupo que com uma sessão de
tempestade cerebral. Mas isso me lembrou outra coisa. É o seguinte:
Em seguida à vitória de Trump, muitas universidades
(norte)Americanas promoveram eventos de apoio psicológico especial para os
estudantes que não podiam lidar com o sofrimento de ver Hillary Clinton ser
derrotada. Voluntários e empregados das universidades trataram de criar lugares
de atmosfera agradável para os jovens sofredores (norte)americanos,
consolando-os e dando a eles livros para colorir (para adultos), trazendo cães
terapeutas especiais para servir como animais de estimação e dando aos
estudantes oportunidade de chorar um rio de lágrimas. Chegaram a cancelar
algumas provas e exames.
Na realidade, as ações do políticos Europeus na
sequência da eleição nos EUA me lembrou esse tipo de terapia coletiva: eles
choram juntos, se lamentam em conjunto, convencem uns aos outros que no final
tudo ficará bem, mas nada fazem de concreto. Na entrevista com o Primeiro
Ministro francês é muito difícil encontrar um fiapo que seja de planejamento de
algo concreto. A declaração de que “a França e a Alemanha devem se tornar agora
os líderes da Europa” não é um programa de ação. Já há tempos a França e a
Alemanha são os líderes da Europa, e o problema é que os europeus parecem não
gostar do eles fizeram até agora. Os ingleses e parte de sua elite política
desgostaram da situação até o ponto de terem votado para deixar de fazer parte
da União Europeia. Até mesmo Manuel Valls começa a desconfiar que os britânicos
não serão o último país a desembarcar do Titanic europeu.
De repente, não mais que de repente, o Primeiro
Ministro francês entendeu que a União Europeia está enfrentando um problema com
os imigrantes. Não vamos deixar de dizer que isso já é um baita avanço, mas o
que será feito para reparar o problema? Com Merkel? Com a mesma Merkel que
entupiu a Alemanha com imigrantes e cuja taxa de aprovação está caindo por essa
mesma razão?
Existe uma teoria de que o francês veio até a
Alemanha para trazer apoio moral para Frau Merkel, que necessita muito disso.
Analistas ocidentais têm declarado que Merkel é a “salvadora do mundo livre”, mas
ela é a última pessoa que se adaptaria a esse papel, e ela mesma não se sente
lá muito confortável com isso. Os analistas ocidentais pelo menos reconhecem
que Merkel não tem o carisma, o exército ou a economia necessária para ser a “líder
e salvadora do mundo livre”, e que a União Europeia está caindo aos pedaços.
Permitam que eu relacione alguns fatos que
acontecerão em breve e que podem acabar abalando a estabilidade europeia. Em
dezembro, acontecerão as eleições presidenciais na Áustria, a qual pode ser
vencida por um candidato que está inclinado a reconhecer a Crimeia e tratar de
retirar a Áustria da União Europeia. Também em dezembro haverá um referendo na
Itália que pode fazer com que todo o governo Renzi peça demissão, causando uma
crise política e, na prática, uma paralisação dos tomadores de opinião em nível
de União Europeia, pelo menos até que os políticos italianos concordem uns com
os outros.
2017 pode trazer eventos ainda mais interessantes. Eleições
presidenciais também terão lugar na França onde Merina Le Pen pode vencer e
isso será péssimo para Merkel. A própria Merkel pode perder a cadeira de
Chanceler, em sua tentativa de disputar um quarto mandato.
De fato, gostaria de perguntar aos fãs da democracia
ocidental e dos mecanismos pacíficos de transferência de poder: como pode ser
explicada a possibilidade de um quarto mandato para Merkel? Democraticamente?
Que tal um quarto mandato para Putin? Não? O padrão de dois pesos e duas medidas mostra a
cara feia.
A julgar pela experiência das eleições nos Estados
Unidos e pela campanha pelo Brexit na Inglaterra, eu já sei sobre quem será
lançada a culpa pelos sofrimentos europeus. Ou você pensa que Obama estava
apenas sendo humilde quando declarou que a Rússia é uma superpotência capaz de
influenciar em todos os acontecimentos no mundo? Claro que não! Trata-se apenas
da artilharia preventiva de barragem que precede uma campanha massiva de desinformação
com a mensagem: “Putin está minando a União Europeia!”. Afinal de contas, os europeus
não entenderiam como a União Europeia pode ser minada por um “poder regional”
com uma economia “que está arruinada” (como
Obama disse sobre a Rússia ano passado – NT).
Tudo vai acontecer dentro dos conformes. Não
descarto nem mesmo que nossos adversários em Kiev possam mandar mais uma
coleção de documentos falsos para Berlim ou Paris, na forma de algumas cartas “roubadas”
de Surkov (político russo de grande
influência no Kremlin – NT), apenas para que a BBC e a Euronews a exponham
para denunciar algum tipo de plano a fim de assustar os eleitores. Será
engraçado, hilariante, mas não ajudará os políticos europeus.
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