Calma, Damasco… A Cavalaria
Chinesa Está Chegando.
Martin Berger
tradução btpsilveira
Uma série de eventos recentes
no Oriente Médio está resultando no engajamento cada vez mais efetivo da China
no desenvolvimento do conflito sírio. A razão principal está no envolvimento cada
vez mais crescente de terroristas uigures do ETIM (East Turkestan Islamic
Movement, em inglês, Movimento Islâmico do Turquistão Oriental – NT), o qual,
de acordo com uma reportagem do The Long
War Journal, tem lutado contra as forças governamentais da Síria ao lado do
Estado Islâmico. Além disso, há relatos que dão conta que o movimento estaria
envolvido na batalha por Alepo. O grupo é largamente conhecido através do globo
por seus laços muito próximos com Al-Qaeda e por suas intermináveis apelos pelo
separatismo dentro da Região Autônoma dos Uigures de Xinjiang (XUAR, na sigla
em inglês – NT), da China.
Convém
não esquecer que os uigures são muçulmanos que falam turco e residem tanto nas áreas
urbanas quanto nas rurais ao redor do deserto de Taklamakan, exatamente a
região por onde passava a antiga Rota da Seda. Desde os anos 90, essas terras deram
origem a dois grupos: o Congresso Uigur Mundial, que luta pela independência
através de meios “pacíficos” e o ETIM, que escolheu a opção terrorista. O
gabinete central do Congresso Mundial está localizado em Nova Iorque e goza de
imenso apoio dos Estados Unidos, que o utilizam sempre que precisam criticar o “autoritarismo”
do governo chinês. Por seu lado, o ETIM há tempos estabeleceu-se em bases
operacionais no Wazaristão, as quais permanecem independentes de fato e fora do
alcance do governo paquistanês.
Com a Síria
abarrotada de mercenários estrangeiros os militantes do ETIM também se
deslocaram para o país arrasado pela guerra. Há relatos confiáveis de que
existe um grande número de militantes do ETIM nos quadros da Jabhat-al-Nusra
(que agora está tentando renomear-se como Jabhat Fateh al-Sham). Com o ETIM se
tornando cada vez mais engajado na guerra da Síria, a chegada das tropas
chinesas era apenas questão de tempo. Mais que isso, o Iraque e a Síria se tornaram
campo de provas para teste de novas armas e táticas, e seria improvável que a
China deixasse passar a oportunidade.
Em
agosto passado, o contra almirante chinês Guan Yufeen, que lidera o gabinete de
cooperação militar internacional encontrou-se com o Ministro da Defesa da
Síria, Fahedom Jassem Al-Frege em Damasco. O encontro permitiu a discussão
pelas partes da possibilidade de ajuda ao exército regular da Síria através de
conselheiros militares chineses. Mais: as partes chegaram a um consenso quanto
à entrega de ajuda militar e humanitária para a Síria em troca da posição síria
em apoio a Pequim nas questões relativas ao Mar do Sul da China.
Desde
agosto de 2015 o Parlamento Chinês já aprovara a primeira lei do país na guerra
ao terrorismo, a qual permite que seu exército se envolva em operações antiterroristas
no estrangeiro e por consequência o envolvimento da China na Síria estaria em
perfeito acordo com as leis do país. A alavanca que faltava para o envolvimento
da China no conflito sírio veio quando Pequim tomou conhecimento de evidências
irrefutáveis de que um esquadrão bem treinado e organizado do ETIM se
encontrava operando regularmente em suas bases na Síria.
Aliás, a China também tem seus próprios interesses na Síria.
Desde antes do início da guerra, Damasco já era um dos maiores parceiros de
Pequim, com um total de dois bilhões de dólares em volume de negócios, e Pequim
não faz o menor segredo que empresas chinesas pretendem investir em extração de
petróleo em solo sírio. Por conseguinte, Pequim tem interesse em fortalecer sua
presença no Oriente Médio e claramente seria beneficiada ao prestar assistência
para a reconstrução da infraestrutura civil e industrial do país pelo governo
sírio.
Pequim
estava muito desapontada com a explosão da assim chamada “primavera árabe”, a
cadeia de “revoluções coloridas” que abalaram a região em seu núcleo. A China
tinha investido pesado no oriente Médio e providenciara empréstimos ao governo
sírio, que desempenharam um papel central na ajuda a Damasco que pode continuar
a alimentar seu povo nestes tempos de necessidade. Porém Pequim prefere não se
envolver ostensivamente no conflito sírio, devido aos seus interesses
diversificados na região. Por um lado – tem uma parceria bem sucedida com o Irã
e por outro lado, fez investimentos pesados e tem alto volume de comércio com
as poderosas nações seculares sunitas bem como com os regimes autocráticos,
entre eles, Arábia Saudita e Qatar.
Mas se
a China antes se limitava a fornecer blindados leves e pequenas armas para o exército
sírio, agora finalmente se decidiu a dar assistência a Damasco através do
treinamento de seu exército. No entanto, o exército chinês não tem muito
experiência em conflitos desse tipo, e aparentemente não será capaz de prestar
bons serviços neste campo, mas pode treinar atiradores, sinalizadores,
motoristas, mecânicos e especialistas em reparos. Afinal de contas, muitos
sistemas de artilharia fabricados na Rússia e que estão em ação no teatro sírio
também são largamente utilizados pelo exército chinês.
Além
disso, não se pode esquecer que a China pode querer providenciar para suas
tropas algum treinamento em condições reais de combate, que até este momento,
se limitaram a operações especiais contra separatistas em Xinjiang e expedições
pacificadoras, por exemplo, em Mali e Sudão do Sul. Não se pode desprezar a
possibilidade de vermos em breve a instalação de tropas chinesas na Síria em
futuro próximo. Afinal, a China acompanha de perto as instalações russas que
estão sendo levadas a cabo na Síria, e os generais chineses adorariam testar
suas armas, sistemas militares, táticas e o sistema chinês de posicionamento
global. Quão extensa será o envolvimento não dá para prever, mas é certo que
exército sírio necessita de toda e qualquer ajuda que conseguir neste momento.
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