A Rússia deve desempenhar um papel crucial Para amenizar o conflito entre China e Índia



Tradução de btpsilveira ( @btpsilveira )

O “timing” do encontro Rússia/China/Índia nesta semana não poderia ser mais adequado, na sequência de um conflito mortal na região do Himalaia (entre China e Índia), que resultou na morte de dezenas de militares de parte a parte.

A reunião, marcada (https://bit.ly/315NAOe - em inglês) para 22 de junho e que engloba o RIC (grupo formado por Rússia, Índia e China) teve seus preparativos iniciados em Moscou semanas atrás. Acontecerá por teleconferência entre os ministros de Relações Exteriores dos países participantes. O evento foi marcado antes do surgimento das tensões entre Nova Déli e Pequim.
Pelo menos 20 soldados indianos perderam a vida ( https://bit.ly/2AVJqhk - em inglês) em combate corpo a corpo com forças chinesas. Foi o incidente mais mortal em mais de meio século desde que as duas potências asiáticas lutaram uma guerra rápida em 1962, causada por disputas pelas mesmas fronteiras. Teriam acontecido também dezenas de mortes do lado chinês, mas Pequim ainda não confirmou oficialmente os números.
Imediatamente, tanto Nova Déli quanto Pequim expressaram, no mais alto nível, o desejo de amenizar as tensões ( https://bit.ly/2YjBsr1 em inglês). Há um reconhecimento mútuo de que o conflito pode evoluir perigosamente fora de controle entre os dois países possuidores de armas nucleares.
No entanto, não será fácil conter a tensão. Os dois lados se culpam mutuamente pela agressão à qual se seguiu o sangrento incidente da noite entre segunda e terça feira. Nas duas nações a raiva cresce entre a população, com manifestantes indianos queimando imagens do presidente chinês Xi Jinping.
Os relatos descrevem centenas de soldados empenhados em uma batalha campal usando pedras, porretes e facas depois de se envolveram em uma rixa nas altitudes do Vale Galwan. Muitos soldados perderam a vida ao cair nas encostas traiçoeiras do vale.
Forças indianas e chinesas patrulham os 3.500 quilômetros da disputada linha de controle entre os dois países, ambos com reivindicações territoriais. Existe um acordo bilateral que estipula que as unidades rivais devem permanecer desarmadas para reduzir o risco de conflito.
Em anos recentes os confrontos aumentaram, com os dois lados acusando-se de invasão indevida. Na sequência de um conflito em maio, comandantes indianos e chineses negociaram um armistício no início deste mês. Agora, ambos os lados se acusam de agir de má fé.
O encontro do RIC pode fornecer para Pequim e Nova Déli uma oportunidade de desescalar o conflito. O respeito que a Rússia goza entre as duas potências é fator crucial para tanto. O presidente Vladimir Putin mantém relacionamento cordial tanto com Narendra Modi quanto com Xi Jinping. Há confiança de parte a parte de que Moscou tem condições de desempenhar com honestidade o papel de mediador para facilitar um diálogo que finalize com a longa disputa territorial entre China e Índia, resquício e legado do Império Britânico e das fronteiras que impôs.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já havia se oferecido (https://cbsn.ws/3fNZPTV em inglês) para fazer a mediação entre China e Índia, mas, na ocasião, foi rejeitado (https://bit.ly/2V8CTqy em inglês) por Nova Déli. A percepção era a de que Washington não é um mediador confiável, dado o seu alinhamento já bem estabelecido com a Índia para objetivos estratégicos contra a China. O Primeiro Ministro Modi pode ter sentido que a mediação de Washington poderia minar sua credibilidade como um líder forte ao lidar com a China de maneira individual.
De qualquer forma, quaisquer pretensões de Trump como mediador seriam minadas antecipadamente dadas as acusações cada vez maiores de sua administração contra a China por causa da pandemia da COVID-19. Trump, juntamente com seus auxiliares, tem feito acusações candentes contra a China, que teria sido supostamente a causa da pandemia, e em particular, de grandes perdas econômicas e mais de 112.000 mortes nos Estados Unidos. Pequim classifica as acusações de Washington como uma tentativa cínica de encobrir a incompetência e falhas no manejo da pandemia por parte da administração Trump.
As tensões, que lembram a Guerra Fria, entre Washington e Pequim também levaram a uma implementação cada vez maior de forças militares dos Estados Unidos na região do Pacífico Asiático, para conter o que a administração Trump e o Pentágono chamam provocativamente de “agressão chinesa”.
Qualquer envolvimento dos Estados Unidos nas atuais tensões entre China e Índia só pode piorar uma situação que já é ruim. Na realidade, a Casa Branca e os falcões anti China no Congresso (norte)americano tentariam explorar as tensões para desestabilizar Pequim.
A Índia deve ser cuidadosa, evitando ser usada como representante dos EUA na confrontação destes com a China.
Em editorial desta semana, o jornal semi oficial chinês Global Times acusou a Índia de estar sendo enganada por Washington e usada como “alavanca” para a obtenção dos objetivos estratégicos dos EUA.
Se Nova Déli e Pequim querem realmente encontrar meios de negociar e resolver a disputa territorial de décadas, terão que trabalhar em conjunto para encontrar um compromisso mútuo para definir de uma vez por todas uma fronteira soberana, que substitua de forma inequívoca a atual e difusa Linha de Controle Real. A incoerência da LCR atual é uma fonte constante de discórdia e um barril de pólvora para a Guerra.
A Rússia é a única potência com boa fé e credibilidade para servir como mediador honesto na resolução do conflito entre Índia e China.
Nova Déli terá que decidir se quer se engajar definitivamente na visão multipolar de desenvolvimento da Eurásia, defendido, entre outros, por Rússia e China ou se permitirá que Washington interfira com sua agenda imperial egoísta em detrimento de toda a região.


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