Resultado de imagem para F William EngdahlPor Trás da Fachada: EUA, uma Hegemonia Falida.

por F William Engdahl ●●●●● tradução de NirucewKS063



Fantasias e contos da carochinha sobrevivem apenas até encontrar a realidade nua e crua de coisas, acontecimentos e pessoas. Mais cedo ou mais tarde, a verdade mostra a cara feia.  Isso vem bem a calhar quando olhamos para a verdadeira situação e condição da nação que os chineses chamam de Hegemon, os que-não-são-mais Estados Unidos da América. As estatísticas oficiais da Administração Obama declararam ao mundo nos últimos seis anos que a maior economia (de papel) do mundo estava em uma maravilhosa situação e recuperação e que o desemprego nos EUA era de meros 5%. Agora, enfrentando o mais duro colapso dos preços do petróleo em 13 anos, o último setor que ainda criava empregos nos Estados Unidos, o setor da indústria de petróleo e gás está rapidamente se juntando à cadeia de dominós em queda que ameaça por abaixo uma montanha de créditos podres e coloca uma faca no pescoço de muitos bancos. Para complicar, desta vez, diferentemente de 2009, o Federal Reserve está em dificuldades reais, com o  débito do Federal tendo dobrado para $18 trilhões de dólares (US$ 18.000.000.000.000 – é um bocado de zeros! – NT) desde o início da crise financeira em 2007.


Economistas líderes, entre os quais o ganhador do Prêmio Nobel Paul Krugman, afirmam que o débito de uma economia, especialmente a economia com o maior débito do mundo, os Estados Unidos, “não importa”. Basta manter ininterrupto o ciclo cada vez mais crescente de endividamento e tudo ficará bem. Kurgman argumenta em sua coluna no jornal New York Times, “... acontece que há um ponto ao qual ninguém parece prestar atenção – uma família endividada acima de sua capacidade deve dinheiro a alguém; o débito dos Estados Unidos é composto, em larga escala, de dinheiro que devemos a nós mesmos”.

Dívidas não importam?

Como assim, meu caro e preclaro professor? Isso não passa de uma armadilha retórica “espertinha” na linguagem e uma desonestidade na argumentação. “Nós devemos a nós mesmos”? Será que o professor quer dizer que o banco onde estou enterrado até o pescoço faz parte de minha feliz e unida família? Será que “somos nós mesmos” o Banco do Povo da China ao qual devemos, “nós”, os contribuintes (norte)americanos, através de nosso governo em Washington, trilhões de dólares? O Banco Central japonês é meu parente?

O que você quer dizer é que não importa se eu tenho que me enfiar até o pescoço no cartão de crédito com juros a 25% ao ano para pagar meu custo de vida, como são obrigados a fazer milhões de (norte)americanos sem alternativa? Quer dizer que não tem a menor importância quando eu tenho que correr até o banco e pedir um empréstimo de $100.000 para financiar uma educação universitária que resultará em um diploma que posso jogar no lixo porque as empresas (norte)americanas mandaram os empregos para o estrangeiro, para a Ásia? Não importa que eu tenha incorrido em uma dívida hipotecária para uma casa que comprei em 2006, no pico da bolha imobiliária sub-prime? Dane-se o fato de que obtive meu empréstimo mentindo ao banco sobre minha real capacidade de pagamento de minha hipoteca, mas o banco não quis nem saber porque poderia em seguida vender essa hipoteca de risco alto e sem valor real para a Goldman Sachs ou outro banco qualquer de Wall Street que comprou essas hipotecas de risco altíssimo aos montes, criando um Frankenstein financeiro que os banqueiros chamam de “títulos garantidos por hipotecas”?

A implosão do débito em 2007

No verão de 2007, a pirâmide financeira do débito de mais de 4 trilhões de dólares em débitos garantidos imobiliários garantidos por hipotecas começou a implodir. Essa implosão disparou o maior colapso de crédito já verificado na história, um colapso que levou as economias dos Estados Unidos e União Europeia para sua pior condição desde a criação do sistema dólar em Bretton Woods, New Hampshire, em 1944.

Em 27 de julho de 2007, o Ministro da Finanças da Alemanha, Peer Steinbrück e o presidente do sistema regulador bancário da Alemanha (Bafin) concederam uma conferência de imprensa para anunciar que o Estado Alemão, juntamente com os bancos públicos e privados que lideram o sistema financeiro da Alemanha estavam organizando um resgate de emergência do IKB Deutsche Industriebank (IKB) alemão. O IKB foi o banco criado originalmente em 1924 para facilitar o pagamento das reparações de guerra industriais pela Alemanha sob o plano Dawes.

Em 2007, foi a segunda vez na sua história, que o IKB desempenhou papel histórico no contexto das práticas bancárias maliciosas dos (norte)americanos. O presidente do Deutsche Bank, Josef Ackerman, convenceu a diretoria do IKB a comprar os novos títulos de alto rendimento emitidos pelos bancos de Wall Street, conhecidos como títulos garantidos por hipotecas sub-prime. Ora, sub-prime significa nada mais nada menos que alto risco. Posteriormente Ackerman viria a admitir abertamente que tinha consciência de que o IKB passaria por graves problemas porque o seu próprio Deutsche Bank tinha descarregado seus títulos (norte)americanos de alto risco no IKB devido à ingenuidade da gestão incompetente do IKB. Só que desta vez o colapso do IKB acabou por provocar um tsunami financeiro de nível mundial cujos efeitos oneram a economia global até hoje.

Que quer dizer ou débito ou dinheiro?

Em seus fundamentos, o dinheiro, em especial em um mundo onde dinheiro não passa de uma mercadoria de papel – dinheiro baseado na fé ou na ingenuidade, já que não é lastreado em ouro, prata ou qualquer outro valor tangível – é questão de pura confiança. Em última análise em que confiamos? No crédito total e na “fé” no governo dos Estados Unidos da América – e que a confiança (ou a fé) continue sendo bancada sempre, até a última consequência, pelos poderes militar, político, e de compra dos EUA e no controle dos legisladores, administradores, presidentes, juízes e congressistas (norte)americanos.

Resultado de imagem para Wall Street debtEstamos nos primeiros meses de 2016. Hoje, os Estados Unidos estão sob o efeito da implosão do débito já há nove anos e parece não haver um fim à vista. O Federal Reserve, cão de guarda dos interesses privados e de grande parte dos bancos de Wall Street, começou de modo tímido a subir as principais taxas de juros bancárias de um patamar de zero para 0,25% em 15 de dezembro de 2015. Só aconteceu depois de muito tempo num jogo de gato e rato com o mercado financeiro, sugerindo a toda hora que as coisas “estavam voltando ao normal”. Apenas um mês depois o mesmo Federal Reserve, com o rabo entre as pernas, admitiu que talvez tivesse calculado mal. Resultado, agora, o setor econômico e financeiro dos Estados Unidos entrou de novo numa espiral de queda puxada pela dívida.

A crise dos títulos podres do setor petrolífero dos EUA

Quem lidera atualmente a implosão da pirâmide de débitos nos Estados Unidos são as companhias de energia, que encaram condições impossíveis no mercado de petróleo e gás cujos preços estão em queda livre há 13 anos, sem qualquer perspectiva de recuperação próxima. Em 25 de fevereiro, a Boolmberg relatou que o fracasso da indústria de petróleo nos Estados Unidos já pode reivindicar as primeiras vítimas de peso: a Energy XXI Ltd e a SandRidge Energy Inc., perfuradoras de petróleo e gás com um débito combinado de $7,6 bilhões de dólares, que não conseguem mais pagar sequer os juros cobrados sobre suas dívidas tituladas.

Claro que, a darmos ouvidos a Paul Krugman, isso não importa, porque “devemos a nós mesmos”. As companhias citadas têm até meados do próximo mês para pagar os juros e fechar um acordo com os credores, sob pena de enfrentar o default que poderia colocá-las rapidamente no caminho da falência.

Resultado de imagem para shale oil in debtNos últimos sete anos, as companhias (norte)americanas de petróleo de xisto surgiram como os “salvadores da pátria” para os bancos de Wall Street, desesperados para encontrar novas formas de lucrar em uma economia em colapso. Eles literalmente despejaram dinheiro aos borbotões naquela que era uma indústria em franco crescimento nos Estados Unidos, na exploração de petróleo de xisto. Muito do débito assumido por essas companhias frente ao bancos de Wall Street são o que se conhece como “títulos podres”. Refere-se ao fato de que se a empresa mutuária, como a já citada SandRidge Energy falir, os detentores de títulos terão nas mãos exatamente o seguinte: lixo.

Desde 2009, os quase quatro milhões de barris de petróleo extraídos diariamente nos Estados Unidos vieram principalmente do petróleo não convencional de alto custo: petróleo de xisto, extraído por “fracking”. A situação foi bancada até agora pelos banqueiros de Wall Street, que continuavam dispostos a emprestar mais e mais dinheiro às empresas em dificuldades, na esperança de que o preço do petróleo poderia se recuperar. No entanto, a partir de junho de 2014 até esta data, o preço do barril de petróleo nos Estados Unidos caiu de $103 dólares para $30 dólares. Mesmo que recebessem $60 dólares por barril a maioria das empresas extratoras de petróleo de xisto quebrariam. Agora, o final da festa está acontecendo rapidamente, já que os bancos de Wall Street, liderados pelo JP Morgan Chase decidiram cortar os créditos. Sabe como é, como diz o velho ditado, “parar de colocar dinheiro bom em cima de dinheiro ruim”.

Desde o acordo feito entre o Rei Saudita Abdullah e a besta do Secretário de Estados dos EUA John Kerry em setembro de 2014 para inundar o mundo de petróleo saudita barato para aumentar a crise do Rublo russo entre as sanções impostas pelos Estados Unidos, o golpe mais severo quem suportou foi a indústria (norte)americana de petróleo e gás de xisto, não convencionais e de extração cara. Já venderam centenas de campos de petróleo, eliminaram estimados 250.000 empregos e cortaram bilhões de dólares em gasto de capital e pagamentos de dividendos de ações.

Como cada vez mais empresas irão à falência nas próximas semanas, é certo que não haverá mais empréstimos fora do convencional, por décadas. O jornal comercial OilPrice.com observa: “o banco J P Morgan foi o primeiro a ficar na defensiva e está pronto para começar a cortar seriamente os refinanciamentos bancários para o setor petroleiro, sem esperar o tradicional período de avaliação em abril. Os bancos finalmente estão sentindo os riscos de emprestar indiscriminadamente para a indústria de petróleo de xisto... A indústria de xisto dos Estados Unidos parece estar mudando para sempre e não mais terá à disposição esse tipo de ‘dinheiro fácil’”

O colapso do Mercado de títulos podres do setor energético dos Estados Unidos está avançando como uma metástase cancerígena sobre todo o mercado de títulos duvidosos dos EUA, incluindo mutuários que vão da Toys R’Us ao setor de alta tecnologia. As companhias dos Estados Unidos tem um débito total de $1,32 trilhões de dólares em títulos podres a vencer entre este ano e 2020, de acordo com a Standard and Poor’s. Nestes, estão $92,3 bilhões de dólares este ano, seguindo-se $160,9 bilhões de dólares em 2017, $272,5 bilhões em 2018, conforme informações do jornal Wall Street Journal em 21 de fevereiro.

Os consumidores de débitos… em débito

Um bom indicador do verdadeiro estado da economia de débito superdimensionado nos Estados Unidos é o fato de que a maior cadeia de lojas de vendas a varejo, a WalMart, acaba de anunciar que fechará 154 de suas lojas gigantes, que vendem de tudo, de comida a equipamentos de jardim e brinquedos. Nos últimos dois anos, centenas de lojas gigantes dos EUA fecharam suas portas, como as cadeias de lojas a varejo como J. C. Penney, Kmart, Radio Shack e Sears, com o encerramento de milhares de seus pontos de vendas.

Os consumidores (norte)Americanos altamente endividados são a principal razão disso. Um estudo recente mostrou que em 2015 a taxa de débito de cada família (norte)americana era de $129.579 dólares – dos quais $15.355 dólares em cartões de crédito. O fato de que o Federal Reserve está com uma taxa de juro zero não significa que cartões de crédito como o Visa também o farão. Na verdade eles estão cobrando de 13% a 25% de juros, dependendo do histórico de crédito do possuidor.

Resultado de imagem para consumer in debtO total do débito dos consumidores nos EUA está atualmente em $11,91 trilhões de dólares, o que representa quase 70% do PIB. Acontece que o cenário real ultrapassa a frieza das estatísticas. As famílias (norte)americanas estão sendo obrigadas a dever cada vez mais, já que o custo de vida cresce a ritmo muito maior que a renda familiar nos últimos 12 anos. Na média, a renda familiar teve crescimento de 26% desde 2003, mas as despesas familiares ultrapassaram essa taxa de forma significante – com os custos médicos crescendo 51% e comida e bebida com 37% de aumento neste mesmo intervalo. A unidade familiar média dos Estados Unidos tem despesa de $6.658 dólares apenas para o pagamento de juros sobre sua dívida, juntando-se casas, carros, dívidas de cartão de crédito, o que representa 9% de toda a renda familiar durante o ano, que é de $75.5912 dólares. Esta é a verdadeira razão pela qual o Federal Reserve está em uma trapalhada gigantesca quanto ao aumento das taxas de juros que, se “normalizada”, iria mesmo é explodir a já gargantuesca pirâmide da dívida dos consumidores, de $12 trilhões de dólares, para nem falar das dívidas corporativas.

 Estudantes que… devem

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Bem. Com os empregos no setor de petróleo e gás se desmanchando no ar, com as companhias indo à falência em ritmo cada vez mais acelerado, com famílias atoladas em dívidas, com o desemprego real gargalhando ante a mítica soma de 5% declarada pelo Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, mas na realidade sendo de mais de 23% de acordo com a organização Estatísticas Paralelas ao Governo (Shadow Government Statistics, no original – NT) de John Williams, já há outra fonte de débitos que assume proporções alarmantes. Trata-se do débito estudantil, que há 25 anos era quase desprezível. Hoje, se quiser frequentar um curso qualquer, os estudantes têm que tomar empréstimos para pagar a Faculdade.

Atualmente, a totalização da dívida estudantil nos Estados Unidos é de $1,2 trilhões de dólares. Só a dívida hipotecária é maior. Cerca de 40 milhões de estudantes (norte)americanos e cerca de 70% dos bacharelados e pós graduados estão devendo. Os que se formaram em 2015 deixaram a Universidade com uma dívida média de $35.051 dólares, antes mesmo de ganhar seu primeiro salário. Um em cada quatro mutuários desse tipo de empréstimo está ou marginalizado ou inadimplente...

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E nós ainda temos que acreditar quer toda essa pletora de débitos não importa porque, segundo o Professor Krugman, “devemos a nós mesmos”. Com esse tipo de professores ensinando tais economias, não é de se admirar que a Washington “hegemônica” está indo à falência. O débito é um fator estratégico da maior importância na saúde de qualquer economia nacional e historicamente tem sido fator de ruína de nações, Estados Unidos inclusive.

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F. William Engdahl é um consultor de risco estratégico e professor, além de autor de livros sobre petróleo e geopolítica.


Comentários

  1. Enquanto isso aqui no Brasil a burguesia que voltar a lamber as botas dos EUA.

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