Recadinho de Xi e Putin para Trump: O
mundo unipolar dos EUA acabou
texto escrito por Finian Cunningham – tradução: btpsilveira
JULHO de 2017 - Information Clearing House Há tempos, a estratégia dos EUA têm
sido isolar a Rússia internacionalmente. Está cada vez mais evidente que quem
está ficando isolado são os Estados Unidos em nível global. Nas preliminares
para o encontro do G-20 desta semana na Alemanha, a mudança da sorte se tornou
clara.
Ao mesmo tempo em que a Coreia do Norte desafia Washington abertamente
com mais testes de mísseis balísticos e o presidente Donald Trump permanece
tuitando pataquadas adolescentes, os líderes da Rússia e da China estão
orgulhosamente consolidando sua aliança estratégica para a formação de
uma nova ordem mundial multipolar.
A imprensa ocidental não entendeu
grande coisa, mas foi de uma importância histórica o encontro entre Putin e Xi Jinping
em Moscou, nesta semana. Estamos testemunhando uma transição de poder mundial.
Melhor: para o bem comum do planeta.
O presidente russo Vladimir Putin e seu
par chinês Xi Jinping estão ligados através de um senso de respeito mútuo
profundo e compreensão quanto aos desafios políticos que o mundo está
enfrentando atualmente. Os dois líderes se encontraram por mais de vinte vezes
nos últimos quatro anos. O presidente Xi se refere à Rússia como o principal
aliado da China e disse que no mundo caótico da atualidade a amizade entre os
dois países é uma fonte de estabilidade para ambos.
Sobre as últimas notícias sobre o teste
bem sucedido de lançamento do primeiro míssil balístico intercontinental (ICBM)
pela Coreia do Norte, tanto Putin quanto Xi pediram que se agisse com
prudência. Em contraste, o presidente dos Estados Unidos disparou no twitter: “Será que esse sujeitinho não tem mais o que
fazer na vida?” usando palavras que seriam mais apropriadamente empregadas
em relação ao próprio Trump.
Como os Estados Unidos e sua aliada
Coreia do Sul também lançaram seus mísseis balísticos em um exercício militar
destinado a dar uma demonstração de força para Pyongyang, Kim Jung-Un respondeu
que o ICBM era “um presente para os
bastardos (norte)americanos” no dia 04 de julho, o feriado do Dia da
Independência dos EUA e que teria ainda mais presentes do mesmo tipo a caminho.
Em vez de escalar as tensões, Putin e
Xi se esforçam para aprovar uma proposta razoável onde a Coreia do Norte
interromperia seus testes de mísseis e os EUA poderiam prudentemente terminar
com seus exercícios militares na Península Coreana. Todos os lados se
comprometeriam com conversações e com um compromisso de não violência, sem
precondições. A fim de chegar a uma declaração abrangente que pudesse colocar
fim e essa disputa que já vem de décadas.
O contraste entre a petulância
arrogante de Trump e a posição digna e inteligente de Putin e Xi é uma prova
clara de que a Rússia e a China mostram uma liderança global real, enquanto os
(norte)americanos se colocam como parte do problema.
Ocorre que o drama coreano é apenas um
episódio desta semana na qual se pode ver que as ambições (norte)americanas de
um mundo unipolar se tornaram irrelevantes.
Ao prelúdio do encontro do G20, onde
Putin recebeu Xi em Moscou seguiu-se uma visita de estado do presidente chinês
à Alemanha de dois dias na quarta feira antes do encontro em Hamburgo. Noticiou-se
que Xi e a chanceler alemã Angela Merkel assinaram um novo acordo de comércio entre os dois países líderes em exportações
no globo.
“As
relações entre China e Alemanha alcançaram seu melhor período histórico” disse Michael Clauss, embaixador da Alemanha para Pequim. “A
dinâmica econômica e política, de uma perspectiva alemã, está se movendo para o
Oriente”.
Também tem grande significância as notícias
desta semana de que a União Europeia estaria se preparando para finalizar um grande acordo
comercial com o Japão.
Não menos importante foi o pedido do
primeiro ministro japonês, Shinzo Abe, para que a China e a Rússia ajudem na
mediação da crise coreana, na sequência do lançamento por Pyongyang do teste
com o ICBM.
Tornou-se evidente que o Japão, embora
aliado de primeira mão de Washington, está procurando uma solução multilateral
como a proposta por Moscou e Pequim.
Assim, a busca mundial por segurança,
comércio ou economia, parece estar de várias formas se movendo inexoravelmente
para um formato multipolar como o mais apropriado para a resposta a vários
desafios.
Todas as nações parecem ser nada mais
que um apoio para amarrar os cadarços dos sapatos para os “excepcionais (norte)americanos”, do ponto de vista de Washington,
especialmente sob a liderança de Donald Trump. Os americanos se comportam no
cenário mundial como adolescentes arrogantes e valentões não importa onde
estejam.
O isolamento dos Estados Unidos no
mundo vem subindo desde a Reunião de Cúpula do G7 no início deste ano em maio,
quando as demais nações surpreendentemente divergiram de Trump sobre a sua
decisão de afastar os Estados Unidos do acordo global sobre o clima. Após dois
meses, o isolamento de Washington parece mais vívido que nunca no estágio da
reunião dos líderes do G20 em Hamburgo neste final de semana.
Uma manchete do jornal Bloomberg News colocou de forma sucinta:
“Trump se arrisca a unir aliados e inimigos da Guerra Fria contra ele”.
A busca atabalhoada de Trump pelo
conceito protecionista comercial verbalizado como ”America First” e seu unilateralismo tacanho quanto às questões de
segurança global, colocam os EUA em uma espécie de limbo, no que tenha a ver
com o resto do mundo.
Em que buraco está escondida a “equipe”
do suposto “líder do mundo livre?”
todas as virtudes auto proclamadas a bom som, estão sendo vistas como são na
realidade: conversa fiada, linguagem altissonante e presunçosa.
Os Estados Unidos estão sendo vistos
mais como um gigante egoísta e desajeitado. Seu desequilíbrio comercial com o
resto do mundo não acontece por causa do que Trump chama de “péssimos negócios”, mas por que a
economia (norte)americana está arruinando a si mesma por décadas. A exportação
dos empregos e das corporações e o arrocho dos trabalhadores (norte)americanos,
trazendo ao país ondas de pobreza e desemprego é parte disso.
Agora, quando os EUA falam da defesa da
lei e da segurança internacional, o resto do mundo apenas sorri com uma ironia
amarga. As guerras através do Oriente Médio e a patrocínio do terrorismo são em
grande parte produtos das intrigas criminosas para mudanças de regime. Do que
estão falando estes loucos de Washington?
É a mesma ilusão perversa da “diplomacia
do belo bolo de chocolate” oferecido ao presidente da China em um resort de
praia na Flórida para em seguida comunicar sanções contra a China e as
incursões militares provocativas em território chinês. Mas não se trata apenas
de Trump. Toda a liderança e a classe dominante dos Estados Unidos se tornaram
tão cegas pela arrogância que sequer percebem que o mundo que pretendem dominar
está fechando coletivamente a porta e se afastando.
Na verdade Washington não tem respostas
para os desafios globais atuais. Apenas pela sua colocação, Washington se torna
uma das fontes dos problemas, senão a maior delas. Sequer conseguem ter a humildade
de reconhecer as próprias responsabilidades. Parece que a única coisa que
conseguem é piorar os problemas. A crise coreana mostra isso de forma clara.
Os presidentes Xi e Putin não estão
conspirando para usurpar a dominação mundial, como Washington aparentemente
quer nos fazer acreditar. Só mesmo Washington pode conceber uma ordem mundial
democrática multipolar como algo ameaçador e sinistro, porque realmente
sinistra e ameaçadora é a ambição dos Estados Unidos de uma “dominação total” unipolar
O mundo inteiro deveria estar grato
pelo fato de que existem líderes como Putin e Xi, que estão avançando para
criar uma nova ordem mundial multipolar. Ainda bem que a aliança estratégica
entre China e Rússia tem a sustentação de uma enorme capacidade militar. Os
exercícios navais levados a cabo neste mês no Mar Báltico servem como apólice
de seguro indispensável para que Pequim e Moscou, cada vez mais ousados, possam
colocar para os (norte)americanos as coisas como elas são.
A lição efetivamente entregue a Trump
por Putin e Xi Jinping nesta semana, é que as ambições dos EUA de dominação
mundial já não são aceitáveis ou factíveis. Os dias em que Washington podia
intimidar o mundo com sua hipocrisia falsamente moralizadora e sua agressão
militar são parte do passado.
Finian Cunningham (nascido em 1963)
tem escrito exaustivamente sobre questões internacionais, com seus artigos
publicados em várias linguagens. Originário de Belfast, Irlanda, trabalhou como
editor de ciências na Sociedade Real de Química (ele é mestre em química
agricultural), em Cambridge, Inglaterra, antes de seguir uma carreira
jornalística. Por mais de 20 anos trabalhou como editor e escritor em grandes organizações
de imprensa, entre elas os jornais The Mirror,
Irish Times e Independent. Atualmente é um jornalista freelance baseado na
África. Suas colunas são publicadas na RT, Sputnik, Strategic Culture
Foundation e Press TV
Muito obrigado pela tradução.
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