O império
da destruição
Guerra de precisão? Não me faça rir
Por Tom Engelhardt, trad: mberublue
Julho de 2017 - Information Clearing House – Você lembra.
Supostamente, era para ser uma guerra estilo (norte)americano do século 21:
precisa além da imaginação; bombas inteligentes; drones capazes de buscar um
ser humano individual cuidadosamente identificado em qualquer lugar do planeta;
operações especiais desfechadas de forma tão precisa que deveriam representar
um triunfo da moderna ciência militar. Tudo devidamente “cibernetizado”. Era
para ser uma espécie de sonho de destruição limitada combinada com poder
ilimitado e sucesso idem. Na realidade, tudo se provou um pesadelo de primeira
ordem.
Se você quer sintetizar em uma palavra
a máquina de guerra dos Estados Unidos na última década e meia, a palavra que
vem imediatamente à mente é: “escombros”. Trata-se de um termo dolorosamente
apto desde 11 de setembro de 2001. Para apanhar a essência das guerras dos EUA
neste século, duas palavras podem ser úteis: ruínas e arruinar. Vou explicar o
que significam.
Nas últimas semanas, outra grande
cidade do Iraque teria sido oficialmente “liberada” (quase), dos militantes do
Estado Islâmico. No entanto, os resultados da campanha do exército iraquiano
apoiada pelos EUA para retomar Mosul, segunda maior cidade do país não se
encaixa numa definição comum de triunfo ou vitória. Desde o início em outubro
de 2016 de depois de nove meses e ainda contando, significa espaço de tempo
maior que a batalha de Stalingrado, na Segunda Guerra Mundial. Semana a pós
semana, na luta de rua em rua, com os Estados Unidos bombardeando repetidamente
nas vizinhanças cheias de civis aterrorizados, o número potencial de civis
mortos é desconhecido, mas provavelmente impressionante. Mais de um milhão de
pessoas – sim, você leu o número corretamente – foram expulsas de suas casas e
grandes porções da metade ocidental da cidade onde essas pessoas moravam,
incluindo locais antigos e históricos, hoje não passa de um monte de ruínas.
Isso pode muito bem ser a definição de
vitória como derrota, sucesso como desastre. Também é um padrão. Essa tem sido
a essência da história de guerra ao terror pelos (norte)americanos desde que,
no mês após os ataques de 11 de setembro, o presidente George W. Bush liberou o
poder aéreo (norte)americano contra o Afeganistão. Esta primeira campanha aérea
começou com o que está cada vez mais se tornando o arruinamento em escala total
de significantes partes do Oriente Médio.
Ao invés de simplesmente recolher as
tripulações que cometeram o ataque, a administração Bush resolveu derrubar o
Talibã, ocupar o Afeganistão e, em 2003, invadir o Iraque, acabando por abrir
um proverbial “can of worms” (expressão
que significa uma situação que, uma vez iniciada, piora cada vez mais sem
resultado positivo à vista. Diríamos em português: “balaio de gatos” - NT)
naquela enorme região. Uma insistência imperial para derrubar o líder iraquiano
Saddam Hussein, que aliás era “o cara” de Washington no Oriente Médio apenas
para logo a seguir se tornar um inimigo mortal (e que nada teve a ver com os
acontecimentos de 11 de setembro), se provou um erro de cálculo fatal da era
imperial.
Naquela época os funcionários da
administração Bush estavam profundamente iludidos pela crença de que dominavam
uma precisão militar de alta tecnologia que poderia projetar poder de maneiras
nunca antes sonhadas por qualquer outra nação do planeta em qualquer época da
história; um exército que seria, nas palavras do presidente Bush “a maior força
para a libertação do ser humano que o mundo jamais conheceu”. Com o Iraque
devidamente ocupado e guarnecido (estilo Coreia) por gerações a seguir, seus
altos oficiais entenderam que poderiam dominar a seguir o Irã fundamentalista
(soa familiar?) e outros regimes hostis na região, criando assim uma Pax (norte)Americana no território. (Daí a ironia particular da atual ascendência
iraniana no Iraque.) Na perseguição fútil de fantasias de poder global, a
administração Bush conseguiu efetivamente cavar um buraco devastador nas terras
ricas em petróleo do Oriente Médio. Na imagem pungente de Abu Mussa, presidente
da Liga Árabe na época, os Estados Unidos dirigiram diretamente através dos
“portões do inferno”.
Transformando o Oriente Médio em ruínas
Nos quinze ou mais anos depois de 11 de
setembro, parte de uma enorme faixa do planeta – das fronteiras do Paquistão no
Sul da Ásia até a Líbia no Norte da África – foi catastroficamente tornada
instável. Pequenos grupos de terroristas islâmicos se multiplicaram de maneira
exponencial tanto em organizações locais como transnacionais, espalhando-se
através da região com a ajuda da “precisão” guerreira (norte)americana e com o
ódio espalhado entre a população civil desamparada. Os estados começaram a
oscilar ou cair. Os países colapsaram na essência, espalhando uma onda de
refugiados pelo mundo, enquanto ano a fio, o exército dos Estados Unidos e suas
forças de operações especiais, junto com a CIA, se implantavam de uma maneira
ou outra país após país.
Embora, um caso depois do outro os
resultados fossem visivelmente desastrosos, as três administrações em
Washington depois dos fatos de 11/09, como viciados incuráveis, pareciam
incapazes de chegar a conclusões óbvias e continuaram em vez disso a fazer mais
do mesmo (com alguns pequenos ajustes de um tipo ou outro). Os resultados, sem
nenhuma surpresa só podiam ser ou desapontadores ou desastrosos.
O processo só aumentou nos primeiros
seis meses da presidência Trump, apesar das dúvidas que ele expressou sobre
essa forma de guerra global durante a campanha eleitoral de 2016. Parece que
Washington simplesmente não consegue ajudar a si mesma na obstinada perseguição
a esta versão de conflito, de toda a sua sombria imprecisão até a sua cada vez
mais imprecisa, mas perfeitamente previsível conclusão destrutiva. Ainda pior,
se as figuras militares de proa em Washington impuserem suas ideias, nenhum de
nós verá o final do conflito em nosso tempo de vida. (por exemplo, em anos
recentes, o Pentágono e aqueles que representam seus modos de pensar começaram
a especular sobre uma “abordagem geracional” ou um “conflito geracional” no
Afeganistão).
De qualquer forma, tantos anos depois
de lançada, a guerra ao terror continua a sinalizar para uma expansão e os
escombros se tornam dia a dia o nome do jogo. Aqui está um resumo geral, embora
parcial, sobre a questão:
Além de Mosul, outras grandes cidades
(e vilas) iraquianas – entre elas Ramadi e Falluja – foram igualmente reduzidas
a escombros. Através da fronteira da Síria, onde uma Guerra brutal está em
andamento por seis anos, numerosas cidades e vilas, de Homs até partes de Alepo
foram essencialmente destruídas. Agora, é Raqqa, a “capital” do autoproclamado
Estado Islâmico, está sob cerco. (As forças operacionais especiais dos EUA já
estão alegadamente ativamente operando dentro de seus muros rompidos,
trabalhando juntamente com seus aliados curdos e rebeldes sírios). Claro que
será “liberada” (quer dizer, reduzida a escombros) cedo ou tarde.
Como em Mosul,
Falluja e Ramadi, os aviões dos EUA estão bombardeando posições do Estado
Islâmico no coração urbano da cidade de Raqqa e matando civis em número
considerável, enquanto reduz parte da cidade a ruínas. Esse tipo de atividade
se espalha cada vez mais em anos recentes. Na distante Líbia, por exemplo, a
cidade de Sirte está em ruínas depois de um conflito similar envolvendo forças
locais, poderio aéreo (norte)americano e militantes do Estado Islâmico. No
Iêmen, já por pelo menos dois anos os sauditas estão conduzindo uma guerra
aérea sem fim (com apoio [norte]americano), destinado significativamente contra
a população civil; quer dizer, eles estão destruindo o país, enquanto preparam
o caminho para uma fome devastadora e uma horrível epidemia de cólera que não
pode ser combatida, dadas as condições de pobreza da terra devastada pela
guerra.
Recentemente esse tipo de destruição se
espalhou pela primeira vez além do Oriente Médio e partes da África. Em maio
passado, a Ilha de Mindanao no Sul das Filipinas, rebeldes muçulmanos locais
identificados com o Estado Islâmico tomaram a cidade de Marawi. Desde que eles
tomaram a cidade, muito de sua população de 200.000 pessoas foi deslocada e
quase dois meses depois eles ainda detêm parte da cidade, engajados em uma
guerra urbana ao estilo de Mosul com o exército filipino (apoiado por
conselheiros das Operações Especiais dos Estados Unidos). No processo,
relata-se que a área sofreu uma destruição também no estilo de Mosul.
Na maioria destas cidades destruídas e
nas regiões em volta delas, mesmo quando a “vitória” é declarada, o pior ainda
está por vir. No Iraque, por exemplo, com o “Califado” de Abu Bakr al-Baghdadi
aos poucos se desmantelando, o Estado Islâmico ainda é uma força de guerrilha
genuinamente ameaçadora, as comunidades xiita e sunita (entre elas, milícias
xiitas armadas) mostram pouca disposição de união, e ao norte do país os curdos
estão ameaçando declarar um estado independente. Dessa forma, se garante uma
enorme variedade de pequenos conflitos e a possibilidade de que o Iraque se
torne um estado falido ou em vários mini estados devastados permanece muito
real, mesmo se a administração Trump, conforme se assegura, esteja pressionando
o congresso para obter permissão para construir e ocupar novas bases militares
“temporárias” e outras instalações no país (e na vizinha Síria).
Ainda pior, através do Oriente Médio a
“reconstrução” não passa de um conceito. Simplesmente não há dinheiro para
isso. Os preços do petróleo continuam profundamente diminuídos e, da Líbia ao
Iêmen, para o Iraque e Síria, os países são ao mesmo muito tempo pobres e
divididos para começar a reconstrução de qualquer coisa. W que não se espere –
e isso é certo – que Donald Trump dos Estados Unidos lance o equivalente a um
“plano Marshall” para a Guerra ao Terror para a região. E mesmo que tal se dê,
o que se pode concluir dos anos depois de 11/09 mostra que a versão altamente
militarizada dos EUA de “reconstrução” ou “construção” de uma nação tanto no
Iraque quanto no Afeganistão através de corporações guerreiras não passou de
uma das grandes safadezas de nossa era.
(Mais dólares dos contribuintes (norte)americanos foram gastos nos
esforços de reconstrução do Afeganistão que em todo o Plano Marshall, e já
sabemos o quão dolorosamente óbvia está a inutilidade desses esforços).
Claro que como na Guerra da Síria,
Washington dificilmente pode ser responsabilizada por toda a destruição na
região. O Estado Islâmico por si só tem sido uma destacada e brutal máquina de
matar com o seu próprio e impressionante recorde de destruição. Ainda assim, a
maior parte da destruição na região foi pelo menos iniciada pelos sonhos
militarizantes e planos da administração Bush, na sua resposta aos
acontecimentos de 11/09 (que acabou sendo algo como o cenário dos sonhos de
Osama Bin Laden). Não esqueça que o predecessor do Estado Islâmico, a Al Qaeda
no Iraque, foi uma criatura que surgiu com a ocupação e invasão
(norte)americana desse país e que o próprio Estado Islâmico foi formado
essencialmente em uma prisão militar dos EUA naquele país, onde o futuro califa
estava confinado.
Caso você esteja pensando alguma dessas
lições serviu para que aprendêssemos alguma coisa, pense novamente. Nos primeiros
meses da administração Trump, os Estados Unidos essencialmente decidiram por
uma nova leva de tropas no terreno no Afeganistão; disparar ali pela primeira
vez a maior bomba não nuclear que tinha em seu arsenal; prometeu aos sauditas
apoio ainda maio em sua guerra no Iêmen; aumentou seus bombardeios aéreos e
atividades de operações especiais na Somália; está se preparando para uma nova
presença militar (norte)americana na Líbia; aumentou as forças
(norte)americanas e relaxou as regras para bombardeios aéreos em áreas civis no
Iraque e outros locais; e mandou operadores especiais dos Estados Unidos e
outros tipos de pessoal em número crescente tanto para o Iraque quanto para a
Síria.
Não importa quem seja o presidente, a
aposta só parece subir quando se trata da “guerra ao terror”, uma guerra
imprecisa e que ajudou a deslocar um número recorde de pessoas no planeta, com
os resultados usuais e previsíveis: o espalhamento ainda maior de grupos
terroristas, a consequente desestabilização de estruturas estatais, número
crescente de refugiados e mortos entre os civis e a destruição indiscriminada
de partes cada vez maiores do planeta.
Mesmo que ninguém possa negar
historicamente o potencial destrutivo de grandes poderes imperiais, o Império
(norte)Americano de destruição está sendo único em sua magnitude. No ápice de
sua força militar nestes anos, ele tem sido incapaz de traduzir esse poder de
outra forma que não seja mais e mais destruição.
Uma breve história do século 21:
vivendo entre escombros
Desde que vivo no extraordinariamente
protegido e pacífico coração do império da destruição e mesmo na cidade onde
tudo começa, posso falar pessoalmente. O que me confunde sempre é a inabilidade
daqueles que governam a maquinaria imperial para apreender o que na realidade
aconteceu desde os fatos de 11 de setembro e daí tirar conclusões racionais.
Afinal de contas, tudo o que escrevi até este ponto sempre pareceu
dolorosamente previsível.
Se tanto, a natureza
“geracional” da Guerra ao terror e a maneira pela qual se torna uma guerra
permanente do terror, pode neste
instante parecer coisa óbvia demais para sequer ser discutida. Mesmo assim,
independente do que tenha dito na campanha presidencial, Trump imediatamente
indicou para posições chaves no governo os mesmos generais que há longo tempo
fazem os EUA permanecerem enterrados em guerras através do Oriente Médio, e
claramente prontos para fazer apenas mais do mesmo. Porque qualquer pessoa
racional no mundo, mesmo generais, possam imaginar que esse tipo de atitude possa
resultar em nada mais que fracassos está além da minha compreensão.
De muitas formas a destruição está no coração
de todo o processo, começando no exato momento dos fatos de 11 de setembro. Afinal
de contas, o objetivo do ataque era derrubar os símbolos do poder
(norte)americano – o Pentágono (como poder militar); o World Trade Center (como
poder financeiro); e o Capitólio ou algum outro prédio em Washington
(personificando o poder político, como indubitavelmente queriam os
sequestradores do avião que caiu em um campo na Pennsylvania) – transformando-os
em um monte de escombros. No processo, milhares de pessoas inocentes foram
imoladas.
De muitas maneiras, grande parte da
destruição do Oriente Médio nos anos recentes pode ser debitada como sendo,
mesmo inconscientemente, uma campanha de vingança contra o terror e o insulto
dos ataques naquela manhã de setembro em 2001, os quais pulverizaram as duas
torres mais altas de minha cidade natal. Desde então, os (norte)americanos, em
certo sentido, em devolver na mesma moeda a Osama Bin Laden, mas em uma escala
monumental. No Afeganistão, no Iraque, em qualquer parte, momentos chocantes
mas passageiros para os cidadãos dos EUA se transformaram em uma vida toda de
terror para populações inteiras e inocentes que morreram em números que dariam
para encher vários World Trade Centers empilhados um em cima do outro.
As origens de TomDispatch, o site que dirijo, também está naqueles escombros. Eu
estava em Nova Iorque naquele dia. Experimentei o choque dos ataques e o cheiro
daqueles edifícios em chamas. Um amigo meu viu um dos aviões sequestrados bater
numa das torres e outro amigo penetrar na área encoberta pela fumaça, em busca
de sua filha. Estive nos locais dos ataques depois de alguns dias com minha própria
filha e andamos pelas ruas próximas, examinando os pedaços enormes desses
edifícios destruídos.
Na sequência de 11/09, naquele momento
singular, tudo “mudou”, e em certo sentido, foi exatamente o que aconteceu. Senti
isso. Quem não sentiu? Notei um senso de medo crescendo em escala nacional com
as repetitivas cerimônias através do país, nas quais os (norte)americanos se
viam como as principais vítimas do planeta, como sobreviventes e (no futuro)
como vencedores. Naquelas semanas depois dos acontecimentos tornei-me
consciente de um crescente senso de choque e de um desejo por vingança entre a
população que estava levando os funcionários da administração Bush (que há anos
sonhavam com a construção de “uma única superpotência” onipotente de maneira
ainda sem precedentes) a agir mais ou menos como quisessem.
Quanto a mim mesmo, fui preenchido por
um senso de que o período que viria a seguir seria o pior de minha vida, pior
mesmo que a era do Vietnã (a última vez em que fui realmente mobilizado
politicamente). E tinha a certeza de uma coisa: as coisas iam piorar muito.
Tinha uma percepção de que deveria fazer algo com urgência, mas não tinha ideia
de que.
No início de outubro de 2001, a administração
Bush deslanchou seu poder aéreo no Afeganistão, uma campanha que, em certo
sentido, nunca terminaria, e simplesmente se espalharia através do Oriente
Médio. Até agora, os Estados Unidos lançaram, repetidos bombardeios em pelo
menos sete países na região). Naquela época, alguém me mandou um email com um
artigo de Tamim Ansary, um afegão que vive nos Estados Unidos há anos mas que
continua a seguir os eventos em seu país de nascimento.
Seu trabalho, que apareceu em primeiro
lugar no site CounterPunch, se provou
realmente presciente, especialmente quando se pensa que foi escrito em meados
de setembro, dias após os acontecimentos de 11/09. A certa altura, como
percebeu Ansary, os (norte)americanos chegaram mesmo a ameaçar – em uma frase
que foi adotada na época da Guerra do Vietnã – bombardear o Afeganistão “de
volta para a idade da pedra”. Qual poderia ser o objetivo disso, questionava
ele, já que, como colocou magistralmente, “novas bombas só serviriam para
revolver os escombros de bombas anteriores”? Como ele ressaltou, o Afeganistão,
largamente governado então pelo sombrio Talibã, já tinha se tornado um monte de
ruínas anos antes, durante a guerra por procuração que os soviéticos e
(norte)americanos lutaram até que o Exército Vermelho voltou para casa depois
da derrota em 1989. Os escombros nos quais o Afeganistão já se tornara só
poderia ser aumentado na brutal guerra civil que se seguiu. Nos anos anteriores
a 2001, pouco tinha sido reconstruído. Assim, como Ansary tornou claro, os
Estados Unidos estavam deslanchando seu poderio aéreo pela primeira vez no
século 21, contra um país que nada mais tinha, um país arruinado e em ruínas.
Ele conseguiu prever o desastre que
tais atos provocariam. E aconteceu exatamente como ele previu. Naquela época,
algo nas imagens de um ataque aéreo contra um país já em ruínas me atingiu, em
parte porque senti quão horripilante seria, e quão verdadeiro, em parte porque
parecia um sinal ominoso do que poderia acontecer no futuro, e em parte porque
não tinha encontrado nada parecido na mídia corporativa ou em qualquer tipo de
debate sobre como responder aos fatos de 11/09 (não havia tal debate).
Impulsivamente, mandei seu artigo por
email com uma nota inicial minha para amigos e parentes, algo que nunca tinha
feito antes. Como se viu mais tarde, este foi o começo do que se tornou uma lista
de nomes em constante expansão e um pouco mais tarde, o site Tom Dispatch.
Uma plutocracia sobre os escombros?
Dessa forma, a primeira palavra que me
chamou a atenção e me emocionou depois de 11/09 era “escombros”. É triste
perceber que, quase 16 anos depois, os (norte)americanos ainda temem
obsessivamente por sim mesmos, um medo que ajuda a financiar e construir um
estado de segurança nacional de dimensões ciclópicas. Por outro lado, uma
quantidade espantosamente pequena de nós consegue perceber as experiências “estilo
11/09” que nossos militares tão imprecisamente estão espalhando pelo mundo. As
bombas até podem ser inteligentes, mas os atos não poderiam ser mais idiotas.
Neste país inexiste o senso de responsabilidade
por ter espalhado o terrorismo, da desintegração de Estados, da destruição de
vidas e meios de subsistência, das ondas de refugiados e do arruinamento de
algumas das maiores cidades do planeta. Sequer existe análise da real natureza
e dos efeitos das guerras dos EUA no estrangeiro: sua imprecisão, sua
estupidez, a destruição que causa. Em nossa terra pacífica, é difícil imaginar
o verdadeiro impacto da imprecisão da guerra ao estilo (norte)americano. Do
jeito que as coisas vão, é muito fácil, porém, imaginar o cenário desenhado por
Tamim Ansary e que será aumentado nos anos Trump a seguir: (norte)americanos
continuarão bombardeando os escombros que eles mesmos ajudaram a criar no
Oriente Médio.
De uma maneira ou de outra, ainda assim
as guerras encontram um jeitinho de voltar para casam e não apenas em formas de
novas técnicas de vigilância, ou drones voando pela “pátria”, ou na militarização
em larga escala das forças policiais. Sem aquelas desastrosas e intermináveis
guerras, suspeito que seria muito improvável a eleição de Donald Trump. E mesmo
que ele não perca essa “guerra de precisão” doméstica, seu projeto (e do
Congresso Republicano) – para a saúde e para o meio ambiente – é visivelmente
destinado a reduzir a sociedade (norte)americana a escombros. Se conseguirem,
poderão certamente criar uma plutocracia dos escombros em um mundo onde as ruínas
reinarão e se tornarão a norma.
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