O que realmente acontece na Síria é uma
guerra fabricada contra um país independente
Os povos do mundo deveriam perguntar aos líderes ocidentais e seus aliados: Por que vocês estão prolongando esta guerra? Por que continuam a fornecer liberdade de ação e fundos para os terroristas? Cinco anos de guerra ininterrupta já não foram suficientes? Vale mesmo a pena tanta morte e sofrimento apenas para derrubar o governo da Síria?
29 de maio de 2016 "Information Clearing House" - "Mint Press" – 250 tropas
de Operações Especiais dos Estados Unidos foram enviadas para a Síria conforme
anúncio do presidente Barak Obama em abril. Diferentemente das forças iranianas
e russas que prestam ajuda contra o terrorismo no país, o pessoal militar dos
Estados Unidos entrou no país contra os desejos do governo reconhecido
internacionalmente.
Se fossemos observar fielmente os
termos da lei internacional, os Estados Unidos invadiram a Síria, um país
soberano, membro das Nações Unidas. Contudo, esta não foi a primeira vez – John
Mccain, senador (norte)americano pelo Arizona cruzou as fronteiras da Síria sem
visto senador (norte)americano pelo Arizona cruzou as
fronteiras da Síria sem um visto, para encontrar com lutadores anti governo em
2013.
Mesmo que oficialmente as
novas tropas dos EUA no teatro de guerra na Síria ali estejam para
supostamente combater o Daesh (acrônimo árabe para a organização conhecida no
ocidente como Estado Islâmico, ISIL ou ISIS), é muito mais provável que
trabalhem para alcançar a meta perseguida pelos Estados Unidos há longo tempo:
a derrubada violenta do governo da Síria.
Os altos custos das tentativas do
governo dos Estados Unidos para a ação de “mudança de regime” na Síria deveriam
ser questionados, já que o terrorismo do Estado Islâmico e outros grupos
extremistas cresce cada vez com mais intensidade, enquanto milhões de cidadãos
sírios se tornam refugiados.
Educação, assistência
médica e o renascimento da nação
Império francês na Síria |
A luta contra o colonialismo foi o
fator de nascimento do governo nacional sírio independente, que agora se tornou
o alvo da política externa ocidental. Foram necessárias décadas de sofrimento e
um enorme sacrifício do povo sírio para tornar o país livre da dominação
estrangeira – primeiro do império francês e depois dos líderes que eram seus
títeres. Nas últimas décadas, a Síria se tornou um país forte e autoconfiante
na região do Oriente Médio, rica em petróleo. Vivia também um período de
relativa paz.
Desde que alcançou a independência a
liderança Baathista síria tem desenvolvido um enorme esforço para melhorar o
padrão de vida da população. A expectativa de vida da população cresceu 17 anos
no período compreendido entre 1970 e 2009. A mortalidade infantil diminuiu
dramaticamente, de 132 mortes por 1.000 nascimentos para apenas 17.9. De acordo
com um artigo publicado pelo Avicenna Journal of Medicine, essas mudanças
extraordinárias foram resultado do acesso da população à saúde pública, por sua
vez proporcionado pelos esforços governamentais para levar assistência médica
para as áreas rurais do país.
Um estudo nacional sobre a Síria de 1987 publicado pela Biblioteca
do Congresso dos Estados Unidos, descreve enormes progressos no campo da
educação. Durante os anos 80s, pela primeira vez em sua história, o país
alcançou “a totalidade em matrículas de meninos na escola primária”, com 85%
das meninas também matriculadas da escola primária. Em 1981, 42% da população
adulta da Síria era analfabeta. Por volta de 1991, o analfabetismo tinha sido
eliminado da Síria, graças a uma campanha massiva de alfabetização liderada
pelo governo.
O nome do principal partido político na
Síria é: “Partido Socialista Árabe Baath”. A palavra árabe “baath” pode ser
literalmente traduzida como “Renascimento” ou “Ressurreição”. Em termos de
padrão de vida, o partido Baath esteve à altura de seu nome, forjando um país
novo, com uma economia independente e rigorosamente planejada. O “Estudo
Nacional” da Síria da Biblioteca do Congresso
(norte)Americano descreve a vasta indústria da construção de infraestrutura nos
anos 80s: “gastos massivos para o desenvolvimento da irrigação, eletricidade,
água, projetos de construção de rodovias, expansão dos assistência médica e
educação para as áreas rurais contribuíram para a prosperidade do país”.
Comparado ao Iêmen – dominado pela Arábia
Saudita, muitas partes da África e outros cantos do mundo que nunca conseguiram
estabelecer plenamente sua independência econômica e política, as conquistas da
República Árabe Síria parecem sensacionais. Apesar de meio século de
investimentos pela Petróleo Shell e outras companhias ocidentais, the
CIA World Factbook (livro de referências [como se fosse um almanaque] elaborado pelo
governo dos EUA com um resumo conciso sobre quase todos os países do mundo.
Fornece elementos geográficos, econômicos, militares, estratégicos e gerais
para uso de funcionários do governo [norte]americano. Pode ser acessado por
qualquer pessoa, por ser de domínio publico – NT) informa que apenas cerca de 60%
dos nigerianos são alfabetizados e que seu acesso a assistência médica e
moradia é muito limitado. Na Guatemala, dominada pelos Estados Unidos, 18% da população
é analfabeta, e a pobreza grassa no país, ainda de acordo com the
CIA World Factbook.
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a represa de Tabqa |
Aquilo que os conquistadores e
colonizadores ocidentais não conseguiram realizar durante séculos de dominação,
foi feito rapidamente pelo governo sírio independente com a ajuda da União
Soviética e outros países anti-imperialistas. A União Soviética providenciou um
empréstimo de $100 milhões de dólares para que a Síria construísse a
represa de Tabqa no Rio Eufrates a qual a qual, após concluída foi
“considerada a espinha dorsal de todo o desenvolvimento econômico e social na Síria”.
Novecentos técnicos soviéticos trabalharam no projeto de infraestrutura que
levou eletricidade a várias partes do país. A construção da barragem também
possibilitou a irrigação para toda a zona rural do país.
Em tempos mais recentes, a China
estabeleceu várias joint ventures com corporações energéticas sírias. De acordo
com relato
da Fundação Jamestown em 2007 a China já teria investido “centenas de
milhões de dólares” para ajudar os esforços do país na “modernização da
ultrapassada infraestrutura de petróleo e gás”
Não dá para simplesmente colocar de
lado ou negar essas grandes conquistas da população síria, como fazem
rotineiramente os comentaristas e analistas quando repetem despreocupadamente a
narrativa ocidental de que “Assad é um ditador”. Para as pessoas que sempre
tiveram acesso a educação e assistência médica, pode-se banalizar essas conquistas.
Mas para milhões de sírios, especialmente aqueles residentes em áreas rurais,
que viveram em extrema pobreza há apenas duas décadas, coisas como água
corrente, educação, eletricidade, assistência médica e educação universitária
representam uma tremenda mudança para melhor.
Como quase todo país na alça de mira da
política externa dos Estados Unidos, a Síria tinha uma economia forte e
controlada pelo próprio país. Não era um “Estado Cliente” como as autocracias
do Golfo que a cercam, o que era objeto de desconfiança por parte de Estados
Unidos e Israel. Foi isso, não uma suposta preocupação com direitos humanos que
motivou os ataques do ocidente contra o país.
O que a Síria precisa
é de reformas, não de terrorismo
Uma nova Constituição Síria foi
promulgada em 2012 em resposta aos protestos ocorridos durante a
Primavera Árabe. De acordo com a nova Constituição, a Síria promoveu uma
controversa eleição em 2014, a qual foi monitorada por observadores de 14
países.
A liberdade religiosa é algo que
distingue a Síria da Arábia Saudita, Catar, Barein e vários outros regimes
alinhados aos Estados Unidos na região. A prática da religião e a liberdade de
fé na Síria são estendidas desassombradamente a Sunitas, Cristãos, Alawitas,
Drusos, Judeus e outros grupos religiosos. O governo é secular e respeita os
direitos da maioria sunita tanto quanto o de minorias religiosas.
Além da liberdade religiosa, a Síria
permite abertamente a existência de dois fortes partidos Marxista/Leninistas. O
partido Comunista Sírio e o Partido (Bakdash) Comunista Sírio operam
abertamente como parte de uma coalizão anti-imperialista apoiada pelo Partido
Socialista Árabe Baath. Os comunistas lideram os sindicatos trabalhistas e as
organizações comunitárias em Damasco e outras partes do país.
Observe-se que o presidente sírio
Bashar al Assad professa a fé Alawita e sua esposa, Asma, é sunita como a
maioria da população. Historicamente, os maiores oponentes do governo sírio
foram apoiados pela Irmandade Muçulmana, culminando com um episódio sangrento
em 1982. Na esperança de amenizar a tensão recorrente, o Presidente Assad
recentemente fez incansáveis gestos de boa vontade e solidariedade para com a
comunidade sunita. Chegou ao ponto de usar práticas religiosas que não são
comuns para os alawitas, como rezar
em mesquitas e estudar do Corão.
Imediatamente após o início do conflito
em 2011, o governo sírio garantiu autonomia à regiões de maioria curda e delegou
autoridade política para organizações nacionalistas curdas de esquerda.
O sistema politico da Síria com certeza
necessita de reforma e modernização, e representantes do governo como o
embaixador da Síria para a ONU, Bashar Al-Jaafari Bashar Al-Jaafari admitem
prontamente tal assertiva. Ocorre que a guerra que assola o país há cinco anos
não se trata nem de democratização, nem de reforma nem de modernização.
Em 2013, a BBC publicou um “guia para os rebeldes na Síria”. Entre eles, não se enumera apenas
o infame “Estado Islâmico”, que atualmente causa horror pelo mundo afora, mas
também a Frente Al Nusra, conhecida anteriormente como Al Qaeda na Síria.
Outras organizações com nomes como “Frente Islâmica”, “Frente Islâmica de
Liberação” e “Brigadas Ahfad al-Rasoul” também fazem parte da lista.
Mesmo que a mídia ocidental apresente a
Guerra na Síria como sendo uma “Batalha pela Democracia”, liderada por
“Revolucionários”, o objetivo principal de quase todas as organizações é a
criação de um califado sunita – não um que reflita a realidade sunita nem que
sirva para abrigar sunitas, mas em vez disso uma versão politizada e pervertida
do sunismo criada pela Arábia Saudita a fim de controlar ideologicamente toda a
região. A religião unificada que os “rebeldes” sírios têm em mente é a
interpretação do Islã Sunita praticado e promovido pela Arábia Saudita,
conhecido como Wahabismo.
Lutadores
estrangeiros, armas químicas e crianças usadas como soldados
A maioria dos insurgentes não é
composta de sírios. Pessoas empobrecidas em todo o Oriente Médio são recrutados
para lutar contra o governo da Síria. no
Barein, há instalações onde recrutas são treinados para matar, mandados em seguida para lutar na
Síria.
Em vários outros países do Golfo
existem instalações para o treinamento de terroristas. Lutadores
estrangeiros vêm de lugares tão longínquos quanto a Malásia. Filipinos foram encontrados entre
as fileiras de insurgentes Wahabitas que tentam derrubar o governo sírio.
Não é fruto do acaso esse fluxo de
lutadores violentos dentro da Síria. Isso foi apoiado e facilitado pelos
Estados Unidos e seus aliados. A CIA gastou bilhões de dólares em campos
de treinamento na Jordânia para os guerreiros antigovernamentais.
Os regimes da Turquia e da Arábia
Saudita, aliados dos Estados Unidos, apoiam
abertamente a Frente Al Nusra, ligada à Al Qaeda, organização por sua vez acusada
de já ter matado dezenas de milhares de pessoas inocentes na Síria. O Gen.
David Petraeus não se pejou de instar os EUA a se juntar a
tais esforços, iniciando
imediatamente o envio de armamento diretamente para a Frente Al Nusra.
Nas Colinas de Golan (ocupadas por
Israel) o governo israelense fez questão de providenciar assistência médica
para os extremistas Wahabi. Também fez questão de atacar com bombardeios aéreos
os aliados do governo sírio.
Enquanto a mídia ocidental faz alarde
estridente das alegações de que o governo sírio teria usado armas químicas, Carla
Del Ponte, das Nações Unidas confirmou que os insurgentes, apoiados por
governos estrangeiros estão usando largamente o gás sarin, que ataca o sistema
nervoso, e outras armas químicas.
Segundo
informações fornecidas pela UNICEF, os insurgentes usam crianças em suas fileiras, recrutadas do mundo árabe
empobrecido, para a tentativa de derrubar pela violência o governo da Síria.
Cometem atos como sequestro para extorsão, bombardeio de escolas e hospitais,
além da decapitação e tortura indiscriminada entre a população, tornando a vida
efetivamente insuportável no país.
Entre 50 a 72 por cento da população
vive em áreas controladas pelo governo sírio. Mesmo assim, a USAID confirmou
que o comparecimento nas eleições realizadas em 2014 na Síria foi maior que 70%
da população.
Enquanto a inundação de lutadores
estrangeiros e extremistas, alinhados com pequena percentagem da população e
armada pelas potências ocidentais e seus aliados está comprometida com a
derrubada do governo sírio, é flagrante a discordância do povo sírio. O fato de
que o governo sírio mantém sua força depois de cinco anos de massacres mostra
que o país como um todo está dedicado a preservar sua independência. A revista Time
magazine e outros órgãos da imprensa empresa ocidental foram obrigados a
reconhecer que muito dificilmente o presidente Assad será deposto pelo povo da
Síria.
Como acabar com a Guerra?
À medida que lutadores estrangeiros fluíram
para a Síria, centenas de milhares de pessoas morreram nos últimos cinco anos, e
mesmo assim a mídia ocidental continua a culpar o governo da Síria pelo
conflito. No entanto, a guerra poderia ser muitíssimo abreviada. Bastaria que
findasse o apoio estrangeiro dado aos extremistas.
Ao se mostrar um país independente, com
uma economia centralizada e planejada nos mínimos detalhes, a Síria se exibe
como um exemplo para o mundo. Prova que mesmo sem a doutrina econômica
neoliberal é possível proporcionar condições de vida para a população e se desenvolver
de forma independente. O governo da Síria não poupou esforços para ajudar o
povo Palestino e sua resistência contra as agressões israelenses, tendo sido
esta a causa principal da sua inclusão como estado patrocinador do
terrorismo pelo Departamento de Estado dos EUA. A Síria também tem relações
econômicas estreitas com a Rússia e com a República Islâmica do Irã.
A Guerra na Síria não é um conflito doméstico.
Foi imposta por Israel, Estados Unidos e outras potências ocidentais. A causa primária
do extremismo Wahabista através do mundo sempre foi a Arábia Saudita, Estado
Cliente dos Estados Unidos. A Turquia e a Jordânia, países que fazem fronteira
com a Síria e alinhados com os EUA mantiveram abertas suas fronteiras, através
das quais as armas, suprimentos e dinheiro puderam continuar a fluir para as
mãos do Estado Islâmico e outros grupos terroristas antigovernamentais.
Morreram pelo menos 470.000
pessoas, e milhões de outros foram
forçados a se tornarem refugiados, porém mesmo assim os líderes ocidentais e
seus aliados não querem interromper sua campanha. O coro insano “Assad tem que
sair” transformou o que deveria ser um pequeno conflito doméstico numa crise
humanitária de larga escala.
A guerra nunca teve a ver com os pedidos de
reformas e os protestos pacíficos de 2011.
Agora que o Estado Islâmico ameaça o
mundo inteiro, as consequências da operação de mudança de regime promovida por
Wall Street, irrigada pela propaganda enganosa sobre “direitos humanos” se
tornam cada vez mais extremos. O governo sírio convocou uma coalizão de
Cristãos, Comunistas, Revolucionários Islâmicos e outras forças que estão
lutando para manter a estabilidade do país e derrotar as forças do terrorismo
Takfiri ( o termo “Takfiri” se refere a grupos de muçulmanos sunitas que
consideram todos os outros muçulmanos como apóstatas e pretendem estabelecer um
Califado através da violência).
O único plano de paz com chances reais
de funcionar na Síria seria o abandono por Estados Unidos, França, Arábia
Saudita, Turquia, Jordânia e outras potências de sua cruzada neoliberal. O
governo sírio internacionalmente reconhecido e recentemente reeleito pode
derrotar facilmente os insurgentes se a intromissão estrangeira for
interrompida.
Enquanto a imprensa dos Estados Unidos continua
cinicamente lamentando a crise humanitária, culpando o governo sírio por tudo o
que aconteceu e os Estados Unidos continuam mandando suas forças militares para
o país, os povos ao redor do mundo deveria perguntar aos líderes ocidentais e
seus aliados: Por que vocês estão prolongando esta guerra? Por que continuam a
fornecer liberdade de ação e fundos para os terroristas? Cinco anos de guerra
ininterrupta já não foram suficientes? Vale mesmo a pena tanta morte e
sofrimento apenas para derrubar o governo da Síria?
Caleb Maupin – É um jornalista do
MintPress e analista político que reside em Nova Iorque. Seus trabalhos estão
focados na cobertura da política externa dos Estados Unidos e o sistema global
de monopólio do capitalismo e do imperialismo.
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