Como e porque o ataque de Trump está saindo pela culatra

Texto de Martin Berger, traduzido por btpsilveira
O resultado do ataque com mísseis lançado pela marinha dos Estados Unidos contra a base aérea de Shayrat na província síria de Homs revelou-se politicamente inconsistente. Esta posição está se tornando cada vez mais popular entre os principais analistas e especialistas em Oriente Médio, e rapidamente está prevalecendo também nos próprios Estados Unidos. Foi preciso menos de um dia depois do ataque inicial para que se começasse a questionar a atitude inconsistente de Trump em relação à crise da Síria.


Como foi realçado pelo site do jornal The American Conservative é uma besteira usar uma ação militar para “mandar uma mensagem” para outro governo. Para começar, não há absolutamente nenhuma certeza de que a tal “mensagem” será recebida, desde que no Oriente Médio ela está sendo vista sob luzes completamente diferentes daquelas dos falcões (norte)americanos. Além disso, cresce o número de vozes declarando que a agressão militar é uma maneira rude, imprecisa e improdutiva de se comunicar com outros estados. Se alguém lança um ataque ilegal contra dado governo, não significa necessariamente que será levado a sério.

A simples ideia de que um ataque de mísseis contra uma base aérea síria pode seja lá como for reforçar normas internacionais não faz o menor sentido. É preciso que alguém esteja necessitado de uma camisa de força para acreditar que uma violação da lei possa de alguma forma contribuir para a manutenção do sistema legal internacional.

Até um antigo membro da CIA e atual analista de inteligência em atividade, Robert Baer, submeteu para a CNN a noção de que a comunidade de inteligência de Washington está esperando graves consequências por causa da aposta arriscada de Trump na Síria.

O site The Huffington Post informou que um protesto civil estava se tornando violento na Flórida, enquanto outros ativistas estavam se reunindo em Jacksonville, Nova Iorque, Filadélfia, Newark, Detroit, Boston e outras cidades para protestar contra os ataques na Síria.

Recentemente, houve uma grande quantidade de comentários sobre a “inutilidade” das armas (norte)americanas, em particular do míssil Tomahawk. Afinal de contas, dos 59 mísseis disparados apenas 23 atingiram seus alvos na Síria. Ainda mais curioso é o fato de que o Pentágono tenta convencer o mundo de que os mísseis “atingiram duramente a base”, sem fornecer nenhuma prova das assertivas até o momento. Mas parece que é evidente que se a base de Sahyrat tivesse sido mesmo atingida assim tão “duramente”, com “danos de grande extensão”, a Força Aérea da Síria não poderia usá-la já no dia seguinte.

Também é curioso que a arma escolhida pelos (norte)Americanos, o míssil Tomahawk, nem sequer chegou perto da eficiência dos mísseis Kalibr da Rússia, pois todos os 26 que foram lançados contra as forças terroristas na Síria chegando aos alvos com sucesso depois de viajar 1.200 milhas antes de atingir seus alvos previamente designados.

Seria muito bom para a administração Trump ter uma capacidade pelo menos parecida, e parece também que o governo dos EUA está consciente dos fatos, já que certo número de fontes na mídia e políticos (norte)americanos estão agora afirmando que a administração Trump mantém contatos secretos com o governo russo e que estaria prestes a usar a visita do Secretário de Estado Rex Tillerson para sondar a possibilidade de comprar mísseis russos Kalibr para substituir os Tomahawks que se mostraram inúteis.

Não se pode dar essas informações como infundadas, desde que lembremos que o governo dos EUA ainda está usando os motores russos para foguetes RD-180, isso apesar da rigidez das sanções que o regime de Washington resolveu introduzir contra Moscou! Além disso, já existem vários relatos informando que os pilotos (norte)americanos já iniciaram o uso de aviões militares russos.

Se essa tendência continuar, em breve veremos o Pentágono recrutando cidadãos russos com o intenção de “proteger Trump”. Afinal de contas, a Alemanha já está à procura de especialistas de língua russa que pudessem providenciar treinamento para o pessoal militar dos Estados Unidos, pesquisa já anunciada em março passado pela agência de recrutamento denominada Optronic.

Martin Berger é um jornalista freelance e analista geopolítico.



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