28/2/2017, Pepe Escobar, SputnikNews, Tradução da Vila Vudu
Segundo me diz minha fonte insider, que aqui chamei de "X", "Flynn foi removido porque estava agitando a favor de um ataque ao Irã, que teria consequências desastrosas. Levaria os iranianos a atacarem suprimentos ocidentais de petróleo no Oriente Médio, o que faria subir o preço do petróleo a mais de $200 o barril, e a União Europeia teria de unir-se ao bloco russo-chinês para conseguir energia suficiente para sobreviver. E os EUA estariam, nesse caso, completamente isolados."
Quando ainda de serviço como Conselheiro Nacional de Segurança, Flynn disse publicamente que já pusera o Irã "de sobreaviso". Para todas as finalidades práticas, virtual declaração de guerra. "X" elabora sobre as ramificações: "A chave aqui é a Turquia, e a Turquia quer acordo com o Irã. O perigo chave para a OTAN é a Turquia, que controla a Sérvia, e Turquia-Sérvia mina a Romênia e a Bulgária, numa manobra de contornar pelo flanco até a parte sul-sudeste da OTAN. A Sérvia ligada à Rússia na 1ª Guerra Mundial, e a Turquia ligada à Alemanha. Tito ligado à Rússia na 2ª Guerra Mundial, e Turquia neutra. Se Turquia, Sérvia e Rússia se unem as três, a OTAN estará deixada de fora e para trás. Rússia está ligada ao Irã. Turquia está ligando-se à Rússia e ao Irã, depois do que, como Erdogan vê as coisas, foi tentativa fracassada de golpe da CIA contra ele. E tudo isso é muito mais do que Flynn conseguiria operar simultaneamente."
"X" insiste que a abertura que o governo Obama construiu na direção do Irã, e que levou ao acordo nuclear, foi, na essência, uma tática para enfraquecer a Gazprom russa – assumindo que um gasoduto Irã-Iraque seria construído diretamente até a Turquia e dali conectado com mercados da União Europeia.
Mas esse grande gambito no Oleogasodutostão exigiria investimento maior e anos até ser completado. Paralelamente, desde o início Teerã aumentou suas vendas de energia para vizinhos eurasianos, especialmente para a China. O objetivo só pode ter sido fazer subir a "tensão" EUA-Irã. Flynn pode ter-se metido em águas "nas quais não tinha pé", nas palavras de "X", no que tenha a ver com como se movimentar sobre o hipercomplexo tabuleiro de xadrez do Sudoeste Asiático.
"X", contra um consenso virtual em todo o Departamento de Estado, insiste que "a reaproximação com a Rússia não dependia de Flynn. Depende dos que supervisionam Trump, e esses o põem lá para a finalidade de criar uma deriva de aproximação na direção da Rússia. O conflito no estado profundo é irrelevante. Todos ali são profissionais que sabem como e quando mudar de política. Mantêm-se de olho aberto sobre todos que ocupam altas posições e podem destruí-los todos à vontade. Flynn meteu-se no caminho deles e já foi expelido."
"X" revela outra vez o que enlouquece o Pentágono, em tudo que tenha a ver com a Rússia: "A Rússia não é ameaça econômica aos EUA. A base da manufatura russa está centrada na produção militar. Desenvolveu-se desde o bombardeio de Belgrado [final dos anos 1990s] e é hoje a maior potência militar mundial em termos de autodefesa. Os mísseis de defesa russos realmente vedam o respectivo espaço aéreo; e os mísseis balísticos intercontinentais russos são os mais avançados do mundo. O míssil de defesa norte-americano recentemente testado e localizado na Romênia é praticamente imprestável, apesar do 'sucesso' inventado para consumo na Europa e para manter unida a OTAN. A Rússia é aliada natural dos EUA. Os EUA tomarão o rumo da Rússia, e a saída de Rússia é relativamente sem significado, exceto pelo que valha como entretenimento."
Golpe para tirar Trump
Agora comparem essa análise com a 'boataria' que a CIA fez circular servindo-se de seus estenógrafos em toda a mídia-empresa nos EUA, e que só falam de uma batalha interna terrível que estaria em curso dentro do governo Trump. Houve realmente uma batalha, e a inteligência dos EUA adorou poder ajudar, porque aquela gente jamais gostou de Flynn, e vice-versa.
Acrescentem àquela inteligência-polvo os obamistas, como aquele patético ex-conselheiro Ben Rhodes mais sortimento variado de operadores do estado profundo aposentados ou outros. A coisa vai ficando cada vez mais estranha, quando até o neoconservador Michael Ledeen, coautor com Flynn do livro islamófobo The Field of Fight, lamenta que seu assassinato político tenha sido levado a cabo por "uma quadrilha de funcionários da CIA e obamistas, mancomunados com aliados na mídia-empresa."
Para todas as finalidades práticas, as mais poderosas facções estado-profundo-neoconservador/neoliberais conservadores realmente lançaram operação clandestina para tirar Flynn e continuar avançando para, eventualmente, tirar Trump – seguindo cada possível via de impeachment que haja pelo caminho. Seja qual for a estratégia profunda dos verdadeiros Masters of the Universe como "X" a detalhou, Trump realmente está diante de um formidável eixo de neoconservadores/neoliberais conservadores, com a CIA, a mídia-empresa neoliberal, da CNN ao Washington Post, e a máquina dos Clintons, ainda operante.
O que realmente mudaria profundamente o jogo – um verdadeiro reset com a Rússia – pode estar visivelmente já sob risco, apesar da análise que "X" oferece. Ou, o que é ainda mais atraente, podemos estar bem no meio de um espetáculo muito sofisticado do teatro de sombras wayang –, dado que os Masters, como Kissinger prescreveu, planejam, na verdade, alinhar-se com a Rússia para desafiar e quebrar a integração da Eurásia, que vai sendo levada adiante, essencialmente, pela parceria estratégica Rússia-China-Irã.
Entrementes, surgem distrações sujas, como aquela dupla de senadores senis, fantasmagóricos, McCain/Graham, a empurrar Kiev, como se viu no início do ano, para a guerra contra a República Popular de Donetsk – ao mesmo tempo em que berram para a arquibancada que a culpa 'é' do presidente Putin.
O tenente-general HR McMaster em pessoa, novo Conselheiro de Segurança Nacional, pode ser distração tática implantada espertamente pela Equipe Trump. McMaster é o status quo do estado profundo politicamente correto; para ele, Rússia é "um adversário", seguidor empenhado da doutrina do Pentágono que vê a Rússia como "ameaça existencial" em pés de igualdade com a China.
Assim sendo, é ainda cedo demais para dar Trump por derrubado pelos neoconservadores. Estamos no meio de uma rinha fratricida, doentia, viciosa –, estado profundo versus elites norte-americanas. Coisa amplamente previsível, mesmo antes de conhecido o resultado final das eleições presidenciais nos EUA.
"X" parece acertar fundamentalmente, ao insistir em que Trump foi apoiado pelos Masters of the Universe para reorientar/reorganizar/reimpulsionar todo o projeto do Império do Caos. O aumento de $54 bilhões no gasto dos militares é movimento longamente planejado. "T. Rex" Tillerson, silenciosamente, já dizimou metade de todo o pessoal do Departamento de Estado de Obama; drenagem do pântano, no coração da matéria. O Big Oil e setor substancial do complexo industrial-militar apoiam Trump firmemente. Esses interesses já sabem que demonizar a Rússia é péssimo para os negócios.
Mas o eixo dos perdedores continuará a criar cada vez mais agitação, ao mesmo tempo em que o caos atual vai-se desenvolvendo como teatro de sombras turbinado. Steve Maquiavel/Richelieu Bannon pode ter entregado o jogo – em código – quando diz que se trata de processo de destruição criativa que leva a uma forma completamente nova para a estrutura de poder nos EUA. Nessas circunstâncias, Flynn não passou de peão descartável. E que ninguém se engane: o obstinado neo-Maquiavel e seu Príncipe platinado, estão firmemente empenhados no longo jogo.
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