As bombas Atómicas
no Japão Foram Destinadas a Terminar a Guerra e a salvar vidas?
Por Larry Romanoff
Global Research, December 23, 2019
(Nota
do administrador do blog: texto traduzido em português europeu, porém de fácil
compreensão)
Há alguns anos, um escritor americano chamado Greg Mitchell escreveu um livro elucidativo sobre a enorme ocultação forjada pelo governo dos Estados Unidos sobre o lançamento da primeira bomba atómica no Japão, e a censura a que foi sujeito o primeiro filme de Hollywood sobre esse assunto. (1) O governo tinha na sua posse muitas filmagens ao vivo realizadas pelas Forças Armadas Americanas, sobre Hiroshima e Nagasaki, que Mitchell diz que teria chocado os espectadores, com ruínas fantasmagóricas e bebés com as caras queimadas. Ele inclui muitas das fotos originais no seu livro, bem como pormenores dos enormes esforços para esconder os factos, a evidência do uso de bombas atómicas e a tapeçaria de mentiras criadas após o facto, para justificar esta atrocidade e apresentá-la como um mal necessário.
O filme de Hollywood surgiu porque a indústria
cinematográfica queria alertar os povos do mundo sobre os perigos futuros de
uma corrida ao armamento nuclear, alegando Mitchell, que os
primeiros argumentos apresentavam uma imagem chocante que, de facto, teria
provocado o desarmamento, mas a versão final de Hollywood sobre a versão
da narrativa oficial era que a bomba tinha sido absolutamente necessária para
terminar a guerra e salvar vidas americanas.
Ele escreve que, à medida que os roteiros foram
rectificados, o lançamento das bombas tornou-se não só justificável, mas mesmo
admirável. Robert Oppenheimer, o notável físico judeu e principal responsável
pelo desenvolvimento da bomba, teve a certeza de que no filme, a sua personagem
mostraria “humildade” e “amor à Humanidade”. Mas não foi bem assim. “Na
primeira detonação bem-sucedida de uma bomba atómica, em 16 de Julho de 1945,
“Oppenheimer ficou fora de si com o espectáculo. Ele gritou: “Eu transformei-me
na Morte, no Destruidor de mundos.” (2)
O roteiro do filme foi
alterado para mostrar o Presidente Truman angustiado com a decisão, quando, na
verdade, se vangloriava, orgulhosamente, de nunca ter deixado de dormir devido
a esses factos, e escreveu ainda, numa carta a um crítico: “Não tenho dúvidas
sobre o que quer que seja ”. (3)
Hollywood tinha começado a criação de mais um mito
da História Americana. Pelas anotações de Mitchell, até pequenos detalhes do
filme foram alterados para aparentar que o lançamento das bombas era
justificado. As consequências da radiação nuclear foram desvalorizadas como
sendo comuns e foram inseridas cenas fabricadas para retratar os bombardeiros
americanos a ser fortemente bombardeados com fogo antiaéreo (o que era falso)
para fazer o ataque parecer mais corajoso.
Foram produzidas alegações de que o uso das bombas
atómicas reduziria a guerra num ano, o que era 100% falso, visto que os
japoneses já tinham oferecido repetidamente para se render, assim como a
argumentação de que o uso da bomba atómica economizaria, pelo menos, meio
milhão de vidas americanas, que também era, evidentemente, falsa. De facto, o
lançamento das bombas não salvou vidas americanas, pois já era bastante claro
que nenhuma invasão do Japão seria necessária para efectuar uma rendição e,
efectivamente, a perspectiva de uma invasão física nunca foi submetida a
discussão. Mas esses lançamentos eliminaram, desnecessariamente, pelo menos,
mais de um milhão de vidas japonesas, apesar da Wikipedia declarar pouco mais
de 100.000.
Outro mito criado por Hollywood foi que as cidades
alvos – Hiroshima e Nagasaki – tinham sido escolhidas pelo seu valor militar,
mas, na verdade, ambas eram cidades inteiramente civis e foram escolhidas,
apenas, porque não haviam sido bombardeadas antes e podiam demonstrar,
claramente, o poder destrutivo desta nova arma.
O filme final foi apresentado “basicamente, como
uma história verdadeira” para os inúmeros americanos que o viram. O New York Times designou-o como uma
“reconstituição digna de crédito” e elogiou o manuseamento das questões morais
de um “mal necessário”. Uma revista popular elogiou a sua “aura de
autenticidade e significado histórico especial”. E o “bombardeio humanitário”
de Hiroshima entrou na mitologia americana como História Americana
autêntica. Mas não era.
Ellsworth Torrey
Carrington, em ““Reflections of a Hiroshima Pilot/Reflexões de um piloto
de Hiroshima” (4), citou o segundo piloto do B-29, que disse: “Depois da
primeira bomba ter sido lançada, o comando da bomba atómica ficou com muito
medo de que o Japão se rendesse antes de pudermos lançar a segunda bomba, então
o nosso pessoal trabalhava dia e noite, 24 horas por dia, para evitar tal
infortúnio.” Uma das maiores mentiras fabricadas para o filme, foi a história
do Presidente dos EUA, Harry Truman, proclamar que antes dos lançamentos reais
os EUA lançaram panfletos sobre o Japão para alertar a população do que “está
para vir” como um meio de “salvar vidas”. Harrison Brown, que havia trabalhado
na bomba, designou essa ficção dos folhetos de aviso como “a mais horrível
falsificação da História”. A Wikipedia, a mentir como sempre, diz-nos: “Várias
fontes dão informações contraditórias sobre quando os últimos folhetos foram
lançados sobre Hiroshima, antes da bomba atómica.” Mas, na verdade, nenhum
panfleto foi lançado em Hiroshima antes do bombardeio, em 6 de Agosto.
Hiroshima e Nagasaki não eram os alvos originais
das primeiras bombas atómicas. O Major General Leslie Groves é geralmente
responsabilizado pela sugestão de bombardear Kyoto, mas aparece bem
documentado, que foi Bernard Baruch quem, persistentemente, exigiu que Kyoto
fosse destruída por causa do seu valor cultural e histórico para o povo
japonês; a sua destruição abriria uma ferida que nunca se curaria. Henry
Stimson, então Secretário da Guerra dos EUA, recusou-se a aceitar Kyoto como
alvo pela mesma razão, mas foi posto de parte. No entanto, Kyoto foi protegida
pela Providência e por uma densa cobertura de nuvens que impediu os
bombardeiros americanos de localizá-la com precisão suficiente, deixando-os
avançar para as alternativas.
Em Maio de 1945, vários meses antes das bombas
atómicas estarem prontas, os auto-proclamados “Mestres do Universo” realizaram
uma reunião no Palace Hotel, em San Francisco, para discutir o fim da guerra no
Pacífico. A questão era que o Japão já estava a apelar oficialmente pela paz e
a opinião colectiva desses senhores era, de acordo com Edward Stettinius, então
Secretário de Estado: “Já perdemos a Alemanha. Se o Japão desistir, não teremos
uma população viva para testar a bomba … todo o nosso programa pós-guerra
depende de aterrorizar o mundo com a bomba atómica … esperamos
um cálculo de 1 milhão no Japão. Mas se eles se renderem, não
teremos nada. ”O conselho de John Foster Dulles foi o seguinte: “Então deve
mantê-los em guerra até que a bomba esteja pronta. Isso não é problema.
Rendição incondicional.” Stettinius respondeu: “Eles não irão concordar com
isso. Eles juraram proteger o Imperador.” Resposta de Dulles: “Exactamente.
Mantenha o Japão em guerra durante mais três meses, e podemos usar a bomba nas suas
cidades. Terminaremos esta guerra com o medo puro de todos os povos do
mundo, que se curvarão à nossa vontade.”(5) Hoje, muitos americanos gostam de
justificar o uso de armas nucleares pela sua nação, no Japão, dizendo-nos que
encurtou a guerra, totalmente confiantes de que a sua superioridade moral
permanece intacta. Mas, na verdade, as bombas foram lançadas em Hiroshima
e Nagasaki, principalmente, como uma “oportunidade única na vida” de
testemunhar os efeitos das explosões nucleares na população humana. Não se sabe
amplamente que os EUA lançaram dois tipos diferentes de bombas – urânio e
plutónio – nas duas cidades, sendo esses bombardeamentos experiências de
laboratório ao vivo, para determinar as diferenças de rendimento e de efeito
entre as duas. O Departamento de Energia dos EUA ainda especificam essas
explosões como “testes”.
Após o lançamento das bombas, houve uma ânsia quase
obscena da parte dos americanos em chegar a Hiroshima e a Nagasaki para
‘examinar e catalogar’ os resultados da sua nova monstruosidade. Ao conferir os
relatos da presença americana nessas duas cidades após as explosões, não se
pode escapar à conclusão de que os denominados “cientistas” eram quase tão
irreflectidos como os estudantes ao ver a sua obra-prima da guerra e, moralmente,
demasiado deformados, para ponderarem o horror que eles tinham consumado.
Quando as forças americanas entraram e ocuparam as
duas cidades, imediatamente após o lançamento das bombas, a sua primeira ordem
foi o apagão completo das informações e a proibição da publicação de
quaisquer relatórios sobre a destruição e sobre os seus efeitos, mantendo o
monopólio totalmente controlado das informações.Os jornalistas e os ‘operadores
de cameras (cinegrafistas) japoneses foram proibidos de fazer qualquer
reportagem e ameaçados de julgamento em tribunal marcial e execução, se
ousassem desobedecer. Todos os livros e relatos escritos sobre os lançamentos
das bombas e os seus resultados, foram censurados e, na maioria das vezes,
confiscados e destruídos pelos americanos. Até a necessidade de dar tratamento
às vítimas foi proibida de ser relatada no Japão e, consequentemente, os
japoneses praticamente não tinham informações sobre a condição das vítimas.
Todos os médicos do Japão foram proibidos de se comunicar ou trocar informações
sobre a devastação humana. “Os seus registos, pesquisas clínicas e outros dados
foram suprimidos e confiscados. As forças armadas dos EUA também confiscaram
todas as amostras de tecido danificado, pele queimada e irradiada, sangue e
órgãos internos, de vítimas mortas e vivas.” Todas as informações foram total e
completamente suprimidas.
Além disso, as autoridades americanas forçaram o governo japonês a recusar qualquer assistência médica oferecida pela Cruz Vermelha Internacional ou por outras agências porque, nas palavras de um autor, “se o animal de laboratório fosse curado, seria inútil para a pesquisa médica científica”. Os americanos também fizeram todo o possível para impedir que qualquer tratamento fosse dado às vítimas. A sua política declarada era: “No que diz respeito à assistência médica, quanto menos, melhor”. Os médicos japoneses, a lidar com o primeiro holocausto nuclear da Humanidade, estavam desesperados para ajudar as vítimas e descobrir tratamentos ou curas, mas foram rejeitados pelos americanos e proibidos de tentar qualquer tratamento. As vítimas feridas das primeiras explosões nucleares da História, foram verdadeiras cobaias destinadas apenas à observação.
Houve outra razão importante, mas nunca discutida,
para escolher lançar bombas atómicas. Os americanos estavam a levar a cabo
ataques de alto nível contra o Japão há algum tempo e, apesar de serem
bem-sucedidos, ficaram desapontados com os resultados gerais. Temos bom
conhecimento do bombardeio americano de Dresden, na Alemanha, e do seu deleite
visível com os resultados dessa perversão, mas a História Americana enterrou-se
silenciosamente e os americanos nunca tiveram de enfrentar o facto dos EUA
terem conduzido uma campanha semelhante e de longa duração, contra o Japão.
Numa reunião, em 27 de Abril de 1945, o chamado
“Target Committee”/“Comissão-Alvo” reuniu-se no Pentágono para discutir a lista
de possíveis cidades japonesas para experimentar a bomba atómica. Tóquio foi
eliminada porque, nas palavras do comissão, estava “agora praticamente toda
bombardeada e queimada e, praticamente, é um monte de entulho, só com os
terrenos do palácio em pé”. Os membros discutiram ainda o facto de que havia
poucas cidades não danificadas no Japão, para uma demonstração do poder da nova
arma atómica, observando que a sua política durante um ano, tinha sido
bombardear “sistematicamente as cidades, tendo em mente, como objectivo
principal, não deixar pedra sobre pedra.”
O General americano, Curtis LeMay, um dos
assassinos patológicos mais talentosos da História, havia aprendido com o
bombardeamento de Dresden e queria levar a cabo o seu próprio genocídio numa
tapeçaria que oferecia muito mais potencial do que uma única cidade alemã. Por
essa razão, conduziu uma intensa campanha de extermínio, durante um ano, contra
o povo do Japão. Durante um ano inteiro, os americanos travaram uma
campanha de bombardeio que incluiu quase 100 cidades japonesas, devastando as
frágeis comunidades japonesas de madeira e papel. Essa campanha matou exponencialmente
mais civis, do que nos dizem sobre Hiroshima e Nagasaki. É o
mesmo Curtis LeMay que se gabaria, alguns anos mais tarde, de ter
bombardeado e matado cerca de 40% da população civil da Coreia do Norte – sem
motivo algum.
Os ataques anteriores de bombardeio a grandes
altitudes nas cidades japonesas foram considerados pelos
americanos como “ineficazes”, de modo que LeMay mudou para
ataques nocturnos usando bombas incendiárias e ordenou que os seus bombardeiros
voassem a altitudes muito baixas (500 pés/150 mt) para garantir a destruição
dos edifícios vulneráveis de madeira e papel do Japão e, é claro, para
assegurar a destruição da população civil que neles residia. A sua ideia era
que os ataques nocturnos e os bombardeios generalizados contra civis, eram
uma medida apropriada para multiplicar a destruição e o terror. Naquela
época, as defesas aéreas japonesas eram inexistentes e não permaneceu nenhum
alvo militar útil; os americanos estavam, simplesmente, a “pacificar” uma
população civil indefesa.
No caso mais célebre, “Operation Meeting-house”, os
bombardeiros norte-americanos realizaram uma incursão nocturna em Tóquio que
destruiu 50 km quadrados da cidade. O subúrbio de Shitamachi, no centro de
Tóquio, tinha sido considerado o centro desse ataque, porque, nessa
época, a área continha a maior densidade populacional civil de
qualquer cidade do mundo, com cerca de 750.000 pessoas a viver nos prédios de
madeira, facilmente inflamáveis naquele distrito. LeMay queria realizar uma
“experiência” sobre os efeitos do bombardeio, incendiando esta cidade virtual
de papel. Logo após a meia noite, 334 Fortalezas voadoras enormes, os
bombardeiros B-29, voando a uma altitude de apenas 150 metros, realizaram um
intenso ataque de três horas que lançou meio milhão de bombas incendiárias
M-69. Esses dispositivos incendiários, como aconteceu em Dresden, criaram uma
imensa tempestade de fogo, atingida por ventos de 50 km por hora, que arrasou
totalmente o distrito de Shitamachi e espalhou chamas por toda a restante
cidade, destruindo quase 50 km quadrados de Tóquio.
Os bombardeiros B-29 para esses ataques de
extermínio levavam uma mistura de explosivos incendiários que incluíam napalm
misturado com fósforo branco, talvez a mais cruel e imoral de todas as armas já
usadas em populações civis, tendo essa contribuição para a Humanidade sido
criada e desenvolvida pela Universidade de Harvard. Os incendiários
produziram tempestades de fogo semelhantes às de Hamburgo, na Alemanha, dois
anos antes, e às de Dresden, apenas um mês antes. As temperaturas no solo em
Tóquio atingiram 1.800 graus em alguns lugares. Os relatos de
sobreviventes falam de mulheres correndo pelas ruas com bebés em chamas
amarrados às suas costas, de pessoas a pular para dentro de piscinas para
tentar escapar às chamas e a ser fervidas vivas. No seu livro “Guerra sem
Misericórdia”/“War Without Mercy”, John Dower escreveu “Canais a ferver,
metal derretido, prédios e seres humanos explodem espontaneamente em chamas”.
Cerca de 65% da área comercial de Tóquio e cerca de 20% da sua indústria foram
destruídos. Quase 300.000 prédios arderam até ao chão, somente em Tóquio. Este
foi o ataque aéreo mais mortal da Segunda Guerra Mundial. Poucos escaparam
desse inferno.
Houve relatos documentados de que, durante as três
horas do ataque, havia grandes nevoeiros vermelho-sangue e um cheiro
avassalador de carne humana em chamas, a subir no ar e a encher as cabines dos
bombardeiros americanos de baixo vôo, que as equipas foram obrigadas a colocar
as máscaras de oxigénio para impedi-las de vomitar. Tal era a carnificina
humana. De qualquer maneira, essa acção foi genocídio e, no entanto, toda
a confusão sórdida foi retirada de todos os livros da História dos EUA. O
ajudante do General Douglas MacArthur, o Brigadeiro General Bonner Fellers,
chamou o atentado de LeMay a Tóquio “um dos assassinatos mais
implacáveis e bárbaros de não combatentes, em toda a História”, mas
LeMay estava orgulhoso da sua conquista no Japão, como estaria mais tarde, na
Coreia, vangloriando-se de que ele “conseguiu queimar, ferver e assar até
à morte bem mais de meio milhão de civis japoneses, talvez quase um
milhão”, naquele único acontecimento em Tóquio. Após o sucesso desse
primeiro ataque, LeMay estava determinado a continuar, declarando a sua intenção
de que Tóquio fosse totalmente “queimada – varrida completamente do mapa” e
prosseguiu na sua determinação homicida com repetidos ataques de bombas
incendiárias, cobrindo uma área ainda maior do Japão. As bombas incendiárias
desencadearam tempestades de fogo inimagináveis nessas cidades,
tempestades que criaram correntes de ar tão intensas que os bombardeiros às
vezes eram carregados para altitudes até 10.000 pés. Esses ataques
genocidas foram tão bem-sucedidos que os EUA estavam a ficar sem cidades para
bombardear, os executivos da Força Aérea a reclamar que poucas cidades
restantes valiam a atenção de 50 bombardeiros, enquanto eles podiam
colocar pelo menos 450 bombardeiros de cada vez. “A totalidade da devastação no
Japão foi extraordinária, correspondendo à quase totalidade da população civil,
sem defesa do Japão”.
Mas Tóquio foi apenas uma das muitas cidades
bombardeadas por LeMay e pelos americanos. No total, quase 100 cidades
japonesas e as suas populações civis sofreram o mesmo destino, cerca de 40 das
principais cidades do Japão sofreram uma destruição de 50% a quase 100% e
dezenas de outras, entre 25% e 50%, deixando, pelo menos, 30% da população
japonesa sem abrigo até ao final da guerra. Esta orgia de ódio e
assassinato que durou um ano, “levou a incineração em massa de civis a um novo
nível, num conflito já caracterizado por derramamento de sangue sem
precedentes”.
Inexplicavelmente, as estatísticas da população
fornecidas pelos EUA sugerem que o número de mortos por todo esse bombardeio
incendiário foi praticamente nulo, a população do Japão antes da guerra estava
recenseada em 73 milhões e após a guerra em 72 milhões. (Outubro de 1940 –
73.000 milhões; Outubro de 1945 – 71.999 milhões). A Wikipedia é uma fonte
destas estatísticas bem absurdas, mas existem muitas outras. De qualquer
modo, só precisamos pensar. Além das baixas habituais da guerra, um ano inteiro
de bombardeamentos intensos de quase 100 cidades, com taxas de destruição em
média de 50% e depois com duas bombas atómicas, produzirá baixas em número
maior do que zero.
Houve alguns ajustes maciços feitos nas
estatísticas da população do Japão para o período imediatamente antes e durante
a Segunda Guerra Mundial, uma vez que nas comparações dos números do censo, os
números da população civil e a contagem das mortes, muito poucas fazem sentido.
Os americanos e os japoneses, até certo ponto, chegaram a reivindicar o número
de mortos pelo bombardeio de Tóquio em apenas 35.000, o que é um absurdo, já
que só a área de Shitamachi continha mais de vinte vezes esse número e foi
destruída tão completamente – e tão rapidamente – que a população não poderia
ter escapado. Esforcei-me para extrair os números anteriores do censo do
governo japonês por cidade e, desses números, a população da cidade de
Tóquio mostra uma redução de quase 60% entre 1940 e 1945, que é o que se
esperaria: Outubro de 1944: 6.558.161; Outubro de 1945: 2.777.010. Estes
números sugerem um número de mortos de quase quatro milhões, a maioria dos
quais teria sido necessariamente vítimas directas do bombardeio. O primeiro
bombardeio destruiu cerca de 50 quilómetros quadrados de Tóquio, mas LeMay
realizou muitos ataques posteriores, em noites sucessivas que, finalmente,
elevaram a área devastada total de Tóquio para mais de 150 quilómetros
quadrados ou quase 60 milhas quadradas. Com ventos fortes, até 160
km/hora, criados perto do centro da tempestade, e uma incapacidade total de
combater incêndios dessa magnitude, e considerando que a área relativamente
pequena de Shitamachi continha cerca de 750.000 pessoas e constituía, apenas,
cerca de 10% da área bombardeada pelos americanos, é
ridículo considerar somente a morte de 35.000 pessoas.
A partir de uma comparação de dados do censo
anterior, amplamente publicados e provavelmente exactos, disponível em 40 das
principais cidades do Japão, a diferença populacional entre as duas datas acima
indicadas produz uma redução na população total de quase 50%, de cerca de
19.750.000 para 10.500.000, o que é o que seria de esperar e que indica cerca
de dez milhões de mortes resultantes principalmente do bombardeamento de bombas
incendiárias, nessas 40 cidades. Vários historiadores e cientistas políticos
ofereceram explicações diferentes sobre o motivo pelo qual os americanos e os
japoneses estariam ansiosos por mascarar os verdadeiros números de vítimas, mas
as razões são mais óbvias. Os americanos estavam desesperados para
destruir as provas de muitos dos seus crimes durante a Segunda Guerra Mundial,
e controlaram totalmente a comunicação mediática do pós-guerra na Alemanha e no
Japão, eliminando o acesso do público a informações precisas. E, como nas
Filipinas, na Indonésia e noutras nações vítimas dos massacres militares dos
EUA, os americanos destruíram e reescreveram os livros de História dessas nações,
para tornar permanente a ignorância pública. Naturalmente, essa informação
também se evaporou do registo histórico, o mundo já não está mais ciente de que
os EUA são um dos grandes queimadores de livros e revisionistas históricos de
todos os tempos. Gostaria de recordar aqui, a Historiadora
indonésia Bonnie Triyana, que escreveu: “A nossa sociedade é uma
sociedade alheia. Durante quase 50 anos, ninguém nos ensinou o que realmente
aconteceu em 1965. Quase ninguém sabe que houve milhões de mortos”.
É improvável que esta exposição da História
enterrada revele muita simpatia pelos japoneses, dada a sua conduta selvagem e
patológica durante a mesma guerra, mas esta História não é sobre os
japoneses; é sobre os americanos. É mais uma revelação da sede de sangue
americana, não apenas de uma vontade, mas de uma vontade de deliberadamente
atingir populações civis com uma intenção real de exterminar ou, pelo menos, de
a esgotar de forma selvagem.
O bombardeio do Japão por bombas incendiárias é
apenas um capítulo de um livro escrito durante mais de 200 anos. Foi precedido
pela Alemanha e outros capítulos semelhantes e em breve seria seguido pela
Coreia, pelo Vietname, pela Indonésia e por muitas outras nações. Durante
toda a sua História, os americanos envolveram-se regularmente em orgias
literais de massacres de populações civis em circunstâncias totalmente
desprovidas de causa, matando pelo prazer de matar. Desde o primeiro
desembarque de colonos europeus no Novo Mundo, os invasores, liderados por
Cristóvão Colombo, exterminaram 125 milhões de pessoas pela pura alegria
de matar, extinguindo toda a civilização Inca, Asteca e Maia, além de 90% dos
aborígenes norte-americanos. Os americanos continuam com essa tradição desde
então, estabelecendo um mundo seguro para a democracia, através do extermínio
da sua população.
Larry
Romanoff
Artigo original em inglês :
A História Secreta dos Crimes de Guerra dos Estados Unidos
Japan – Ending a War and Saving Lives?, 4
de Novembro de 2019
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Larry Romanoff é
colaborador frequente do CRM-CRG (Centro de Pesquisa sobre
a Globalização).
Notas
(1)
Atomic Cover-Up; Greg Mitchell; https://www.amazon.com/ATOMIC-COVER-UP-Soldiers-Hiroshima-Nagasaki-ebook/dp/B005CKK9IG
(2) https://www.huffpost.com/entry/now-i-am-become-death-the_b_13055468
(3) https://www.globalresearch.ca/how-the-bombing-of-hiroshima-got-a-hollywood-makeover/5372768
(4)
The Secret History of the Atomic Bomb; https://modernhistoryproject.org/mhp?Article=AtomicHistory
(5)
Edward Reilly Stettinius Jr.; https://history.state.gov/departmenthistory/people/stettinius-edward-reilly
“Larry Romanoff é
um consultor de administração e empresário aposentado. Ocupou cargos executivos
especializados em empresas de consultoria internacionais e possuía uma empresa
internacional de importação e exportação. Professor Visitante da Universidade
Fudan de Shangai, apresenta estudos de casos em assuntos internacionais a
executivos especializados. Romanoff reside em Shangai e, actualmente,
está a escrever uma série de dez livros, de um modo geral, relacionados com a
China e com o Ocidente. Pode ser contactado através do email: 2186604556@qq.com”.
The
original source of this article is Global Research
Copyright © Larry Romanoff, Global
Research, 2019
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