Rússia e a próxima eleição presidencial nos EUA 

 

28/7/2020, The Saker, in The Vineyard of the Saker e Unz Review

 

 

Kent, para o Saker Blog


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“Quanto aos Democratas-EUA, já gritam que os russos publicam fake-news sobre Biden. Para usar expressão cunhada por meu amigo Gilad Atzmon, trata-se agora da síndrome da desordem PRÉ-traumática…”
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Introdução: quadro nada bonito



Comecemos com um spoiler: nesse artigo, assumo que haverá eleição presidencial nos EUA no outono. Nesse momento, parece provável que essa eleição aconteça (parece não haver via legal para cancelar ou adiar a eleição), mas nada é garantido (veja aqui uma tradução automática de artigo muito interessante de analista russo, que prevê uma diarquia após as eleições). Nesse momento, a situação na sociedade norte-americana é ao mesmo tempo de extrema preocupação (por bons motivos) e potencialmente explosiva. É impossível prever o que um bem executado ataque sob falsa bandeira poderia fazer aos EUA. Também há possibilidade ou de desastre natural (furação, terremoto, etc.) ou, mesmo, de desastre não natural (considerando a condição da infraestrutura nos EUA, quase inevitável) que pode precipitar algum tipo de estado de emergência ou lei marcial para “proteger” o povo.


Além disso, embora nesse momento não me pareça muito provável, sempre é possível alguma espécie de golpe, talvez um “governo de unidade nacional” com participação dos dois partidos, os quais – como Noam Chomsky aponta corretamente, são basicamente duas ‘alas’ do que se pode chamar de “Partido do Business”. Pode chegar um momento em que as elites governantes decidam derrubar também essa ‘fachada’ (basta considerar o modo como derrubaram muitas outras ‘fachadas’ na última década, pouco mais pouco menos).


Alexander Solzhenitsyn costumava explicar que todos os governos podem ser dispostos num continuum que vá de “estados cujo poder é baseado na própria autoridade”, até, no outro extremo, “estados cuja autoridade é baseada no próprio poder”. No mundo real, muitos estados dispõem-se aí, entre esses dois extremos. Mas é bastante óbvio que a política dos EUA já andou muito na direção de “estados cuja autoridade é baseado no próprio poder”, e falar de qualquer tipo de “autoridade moral” de políticos norte-americanos é piada. A (talvez) iminente “escolha” entre Donald “pegue elas pela vagina” Trump e Joe “Tio Sinistro” Biden tornará essa piada ainda mais risível.


Nesse momento, a maior força no sistema político dos EUA deve ser o setor financeiro. E, claro, há muitos outros poderosos grupos de interesse (Complexo Industrial Militar, Lobby Israelense, CIA e a ridiculamente inchada comunidade de inteligência, Big Pharma, o Gulag EUA, a mídia-empresa-comercial, o petróleo, etc.), os quais combinam seus esforços (como vetores, na matemática) para produzir um “vetor resultante”, que conhecemos como “políticas dos EUA”. Isso, na teoria. Na prática, são várias “políticas” que competem entre elas, por poder e influência, seja no front doméstico seja no front internacional. Com frequência, essas políticas se excluem mutuamente.


Por último, mas com certeza não menos importante, o nível de corrupção nos EUA é, no mínimo, tão ruim quanto, digamos, na Ucrânia ou na Libéria, mas, em vez de estar no nível da rua e de dinheiro de bolso, a corrupção nos EUA conta-se em bilhões de dólares.


Feitas as contas, não é bonito de ver. Mesmo assim, os EUA mantêm-se como potência nuclear e ainda têm muita influência política em todo o mundo e, portanto, não é país que qualquer um possa ignorar, sequer a Rússia.



Rápida olhada sobre a Rússia



Antes de considerarmos as opções da Rússia em relação aos EUA, temos de examinar, mesmo que rapidamente, como a Rússia está-se saindo esse ano. Em resumo: não muito bem. A economia russa encolheu cerca de 10%, e os pequenos negócios estão sendo devastados pelos efeitos combinados de 1) as políticas econômicas do governo e do Banco Central russos; e 2) o impacto devastador da pandemia chamada “COVID19”; e 3) os esforços de pleno espectro empreendidos pelo ocidente, sobretudo pela anglosfera, para estrangular economicamente a Rússia.


Politicamente, o “regime Putin” conserva alta popularidade, mas já há uma impressão de que está começando um cheiro de azedo, e de que a maior parte dos russos prefeririam ver políticas mais dinâmicas e proativas que visem, não só a ajudar as megaempresas russas, mas também a ajudar o povo comum. Muitos russos definitivamente têm uma sensação de que os russos definitivamente têm a sensação de que “o baixinho” [talvez Putin?] está sendo completamente ignorado pelos gatos gordos no poder. Esse ressentimento provavelmente crescerá até que – e a menos que – Putin decida, afinal, livrar-se de todos os Atlanticistas Integracionistas (AI) [
sobre os AI, ver aqui, artigo de 2013, precioso (NTs)], pessoal também conhecido como “Consenso de Washington”, ainda significativamente representados nos círculos governantes russos, inclusive dentro do governo.


Até aqui, Putin tem-se mantido fiel a sua política de concessões e pequenos passos, mas isso pode mudar futuramente, dado que o nível de frustração na população em geral muito provavelmente crescerá com o tempo.


Não estou dizendo que o Kremlin não esteja tentando agir. Muitas das emendas à Constituição votadas e aprovadas em votação nacional tiveram caráter “social” e “patriótico” muito claramente manifesto, e aterrorizaram absolutamente os quinta-colunistas “liberais”. Imediatamente esses “liberais” puseram a tentar de tudo 1) gerar movimento de boicote; 2) denunciar milhares de violações imaginárias (totalmente ou quase) de regras legais da votação; e 3) deslegitimar o resultado da votação, fazendo crer que a votação teria sido “fraude”. Nada disso funcionou: o comparecimento às urnas foi alto; só se confirmaram umas poucas violações reais no processo eleitoral (e não tiveram qualquer impacto nos resultados) e a maioria dos russos aceitou que as urnas manifestaram, sim, a vontade do povo.


Mais que isso, semana passada Putin divulgou sua  Ordem Executiva: Metas de desenvolvimento nacional da Rússia até 2030, fortemente orientada para melhorar as condições de vida e a vida do russo médio. É impossível prever o que acontecerá a seguir, mas deve-se prever que a Rússia tenha de enfrentar anos, digamos, de “sobressaltos”, seja no front doméstico seja no front internacional.


O que a Rússia pode racionalmente esperar que aconteça?



Essa é realmente a questão chave: o que, no melhor dos casos, a Rússia pode esperar obter nas próximas eleições? Entendo que haja de fato bem pouco que a Rússia possa ter esperança de ver acontecer, no mínimo porque a histeria russofóbica disparada pelos Democratas para derrotar Trump já parece agora contar com pleno endosso do governo Trump e de todas as alas no Congresso. Quanto à máquina de propaganda imperial, cuida agora de ‘noticiar’ ao mesmo tempo que a Rússia tentou “roubar” do ocidente segredos da vacina anti-Covid  e também que Relites russas receberam uma vacina secreta anti-Covid, na Primavera. Quanto aos Democratas-EUA já estão anunciado que os russos divulgam fake-news sobre Biden. Para usar expressão cunhada por meu amigo Gilad Atzmon, trata-se agora da síndrome da desordem PRÉ-traumática…


Embora eu não tenha como saber o que se passa realmente na mente delirante de políticos norte-americanos, desconfio fortemente de que a mais recente histeria sobre “Rússia roubou segredos da vacina COV19” foi desencadeada pela conclusão de que a inteligência dos EUA já sabe que a Rússia chegará à vacina antes dos EUA. Esse ‘evento’ é absolutamente impensável para políticos norte-americanos que tenham concluído (logicamente ou sabe-se lá como!) que “se esses ‘Russkies’ chegaram à vacina primeiro, *com certeza absoluta* roubaram de nós”  ou coisa que o valha (
aqui, uma boa análise desse ‘raciocínio’). E aproveita-se a mesma ‘explicação’ também para o caso de os chineses ultrapassarem os EUA. Afinal de contas, quem, em toda a história da imprensa nos EUA jamais sequer mencionou que pesquisadores russos ou chineses teriam qualquer chance de ultrapassar seus colegas dos EUA? Evidentemente, ninguém.


Minha avaliação é que essa desqualificação mântrica da Rússia, de repetição ao infinito, não mudará em futuro próximo. Isso, por uma única razão: dado que as elites imperiais governantes claramente perderam o controle sobre a situação, já não têm alternativa que não seja ‘culpar’ algum agente externo, não importa de que crime for. A “ameaça terrorista” ao longo dos anos foi perdendo capacidade de assustar; a “ameaça muçulmana” é exageradamente racista e tão politicamente incorreta, que já não é possível culpar o Islã de todos os crimes; tampouco se pode usar, dessa vez, outros espantalhos com os quais os norte-americanos amam auto assustar-se em salas escuras (imigrantes, traficantes de drogas, agressores sexuais, “terroristas domésticos”). Ninguém acreditaria que qualquer dessas ‘ameaças’ conseguiria destruir a economia dos EUA. Mas Rússia e China, ok, elas conseguiriam.


De fato, desde o “caso Skripal” ridículo em si mesmo, o coletivo ocidental provou que simplesmente não tem os indispensáveis colhões para dizer “não” (sequer tem colhões para dizer “talvez, não sei...”) para qualquer ideia promovida vigorosamente pela máquina de propaganda AngloSionista. Assim, não importa quão imbecil seja a propaganda do Império, o pessoal no ocidente tem sido literalmente condicionado a aceitar qualquer alucinação como “altamente provável”, desde que apareça proclamada com ares de invencível honestidade e boas maneiras por políticos e respectiva sio-mídia-de-repetição. Quanto aos líderes da União Europeia, já sabemos que, em nome da solidariedade, apoiarão qualquer imbecilidade que venha de Washington ou Londres.


Para dizer a verdade, a maioria dos políticos russos (com a importante exceção do bobo-da-corte oficial do Kremlin, Zhirinovskii) e analistas russos jamais viram Trump como aliado potencial ou amigo. O Kremlin foi especialmente cauteloso, o que me leva a crer que analistas da inteligência russa tenham feito excelente trabalho de avaliação da psique Trumpiana, e logo perceberam que não era perfeitamente equivalente a qualquer outro político norte-americano. No momento, não sei de nenhum analista russo que preveja qualquer melhoria nas relações EUA-Rússia em futuro próximo. No mínimo, a maioria deles diz que “rapazes, melhor nos acostumarmos à coisa” (acusações, sanções, acusações, sanções etc. etc. etc.). Além do mais, é perfeitamente óbvio para os russos que, por mais que a Crimeia e o voo MH17 tenham sido pretextos para sanções ocidentais contra a Rússia, não foram a real causa.


A real causa do ódio do ocidente contra a Rússia tem de simples o que tem de velha: a Rússia não é conquistável, derrotável, submissível, subversível ou destrutível. O ocidente tenta há mil anos e ainda não desistiu de tentar. De fato, cada vez que fracassam e não conseguem esmagar a Rússia, a russofobia sobe neles até níveis sempre mais altos (falo de “fobia” nos dois sentidos da palavra, como “medo” e como “ódio”).


Dito de forma simples – não há o que a Rússia possa esperar da próxima eleição nos EUA. Perfeitamente nada a esperar. Mas não implica que as coisas não estejam melhores hoje que há quatro ou oito anos atrás. Vejamos o que mudou.



A grande diferença entre agora e antes



O que a eleição de Trump deu ao mundo?


Eu diria que deu quatro anos para que a Rússia se preparasse para o que possa vir depois de Trump.

Entendo que a Rússia e o Império Anglo-sionista estão permanentemente em guerra desde pelo menos 2013, quando a Rússia fez gorar o plano dos EUA de atacar a Síria sob o pretexto de que seria “altamente provável” que o governo sírio tivesse usado armas químicas contra civis (na verdade, tratou-se de muito evidentemente claro caso de ataque sob falsa bandeira organizado pelos britânicos). Significa que a Rússia e o Império estão em guerra por nada menos de sete anos (algo que os 6a-colunistas russos e neomarxistas fazem o diabo para conseguir ignorar).


É verdade que, pelo menos até agora, a guerra foi 80% informacional, 15% econômica e só 5% foi guerra cinética, mas é muito real guerra existencial pela vida, para os dois lados, e só um dos dois lados sairá dessa guerra andando sobre os próprios pés. O outro lado simplesmente desaparecerá (não como nação ou como povo, mas como entidade política, como regime).


O Kremlin compreendeu isso completa e perfeitamente e embarcou num gigantesco processo de reforma e modernização das Forças Armadas russas, em três diferentes trilhas:

1.      Reforma “geral” das Forças Armadas da Rússia, das quais 80% exigiram modernização. Essa parte da reforma está agora praticamente completada.

2.     Reforma específica para preparar os distritos militares do sul e do oeste para grande guerra convencional contra todo (ou quase todo) o ocidente unificado (como sempre, na história russa), que envolveria os blindados do 1º Exército dos Tanques-guardas Blindados [ing. First Guards Tank Army e as Forças Aeroembarcadas Russas.

3.     O desenvolvimento de sistemas de armas avançadíssimos, sem equivalente no ocidente e que não podem ser nem contidos nem derrotados; essas armas tiveram impacto especialmente dramático na Estabilidade de Primeiro Ataque e nas operações navais.

 

Embora alguns políticos dos EUA tenham compreendido o que estava acontecendo (penso em Ron Paul, aqui), a maioria nada compreendeu. Vivem sob tão intensa lavagem cerebral, pela propaganda pró EUA, que não têm qualquer dúvida de que, aconteça o que acontecer, é sempre “EUA! EUA! EUA!”. Infelizmente para eles, a realidade é bem diferente.


Oficiais russos 
confirmaram que a Rússia preparava-se para guerra. Afinal de contas, as reformas eram tão profundas e de tão longo alcance, que teria sido impossível para os russos esconder o que estavam fazendo (detalhes aqui; vejam também o excelente ensaio de Andrei Martyanov, sobre a nova Marinha russa, aqui).


Apesar de nenhum país estar jamais realmente preparado para guerra, posso dizer que, em 2020, os russos alcançaram seus objetivos; agora a Rússia está plenamente preparada para enfrentar qualquer conflito que o ocidente tente lançar sobre ela, indo de um pequeno incidente de fronteira em algum ponto da Ásia Central, até uma guerra de plena escalada contra EUA/OTAN na Europa.


Pessoas no ocidente vão agora, aos poucos, despertando para a nova realidade (referi-me a ela 
aqui), mas é tarde demais. Em termos puramente militares, a Rússia já criou uma lacuna qualitativo tão grande em relação ao ocidente, que a lacuna quantitativa ainda existente não basta para assegurar vitória a EUA/OTAN. Agora, políticos ocidentais começam a ter graves chiliques públicos (essa senhora, por exemplo), mas a maioria dos europeus já aceita as seguintes realidade brutais:

1.      A Rússia é muito mais forte que a Europa; e, ainda pior,

2.     A Rússia jamais atacará primeiro (o que frustra muito profundamente os russófobos ocidentais).

Quanto à solução óbvia para esse problema – ter relações amistosas com a Rússia –, é simplesmente impensável para quem construiu toda a própria carreira a criar e inflar a ameaça soviética (hoje, a ameaça russa) contra o mundo.


Mas a Rússia está mudando, embora lentamente demais (pelo menos, para o meu gosto). Como mencionei semana passada, vários políticos poloneses, ucranianos e bálticos declararam que as manobras militares Zapad2020, previstas para acontecer no sul da Rússia e no Cáucaso, podem ser usadas para prepara um ataque ao ocidente (
aqui, um exemplo bem típico desse nonsense). No passado, o Kremlin no máximo faria declaração pública para ridicularizar a bobagem. Mas dessa vez, Putin fez algo diferente. Imediatamente depois de ver a reação daqueles políticos, Putin ordenou vasto exercício NÃO AGENDADO de prontidão militar, que envolveu nada menos que 150 mil soldados, 400 aeronaves e 100 embarcações! A mensagem não poderia ser mais clara:

 

1.      Sim, somos muito mais poderosos que vocês; e

2.     Não, não mais pedimos desculpas por nossa força.

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E, só para garantir que a mensagem fosse bem compreendida, os russos também testaram a prontidão de unidades das Forças Aeroembarcadas Russas próximas à cidade de Riazan. Vejam com seus próprios olhos (
Vídeo).


Essa, me parece, é a resposta certa. Francamente, ninguém no ocidente está dando atenção ao que o Kremlin tenha a dizer. Assim sendo, de que serviriam mais e mais ‘declarações’ que serão tão ignoradas no futuro quanto já foram ignoradas no passado.


No mínimo, qualquer compreensão, por lenta e relutante que seja, de que a Rússia é mais poderosa que a OTAN ajudará a conduzir políticos da UE na direção de baixarem o tom de voz e voltarem à realidade. Observem esse recente vídeo de Sarah Wagenknecht, figura destacada da esquerda alemã, e vejam com seus próprios olhos (
Vídeo).


O exemplo da alemã Sarah Wagenknecht é interessante, porque tradicionalmente a Alemanha e demais países do norte da Europa são muito mais anti-Rússia que os países sul-europeus. É, portanto, encorajador ver que a histeria anti-Putin e anti-Rússia nem sempre é endossada por todos e todas.


Mas se as coisas vão lentamente melhorando na UE, no velho mau EUA, as coisas só pioram. Mesmo que os Republicanos estejam agora completamente afundados na onda do ódio à Rússia (inflada, suponho por alguma variante de “orgulho gay”) e, juntos emprestam à causa a própria insanidade, como mostra esse artigo intitulado “
Republicanos no Congresso: Rússia deve ser declarada estado que patrocina terroristas”. Vale lembrar que declarar a Rússia estado terrorista é sonho há muito acalentado pelos Democratas).

 


Opções russas para o próximo outono



Na verdade, a Rússia não tem qualquer alternativa particularmente boa na relação com os EUA. Os dois partidos estão agora plenamente unidos num mesmo ódio doentio contra a Rússia (e também contra a China, claro). Além do que, por mais que haja organizações anti-Rússia regiamente financiadas nos EUA (neoconservadores, papistas, poloneses, maçons, ucranianos, bálticos, judeus ashkenazi, etc.), organizações russas nos EUA, como essa, por exemplo, tem mínima influência ou relevância.


Contudo, enquanto o caos continua a piorar dentro dos EUA, e os políticos norte-americanos continuam a alienar o planeta todo, o mais que possam, a Rússia têm oportunidade perfeita para afrouxar as garras dos EUA sobre a Europa. A beleza da dinâmica atual é que a Rússia nada precisa fazer, absolutamente nada (e nem pensar em ações clandestinas ou ilegais) para ajudar as forças anti-UE e anti-EUA na Europa: só tem de martelar continuadamente a seguinte simples mensagem: “os EUA estão naufragando – alguém realmente deseja naufragar junto com eles?”.


Há muitas oportunidades para repetir e passar adiante essa mensagem. Os esforços EUA/Polônia para impedir que a União Europeia beneficie-se da oferta de gás russo barato bem podem ser o melhor exemplo do que chamaríamos de “política europeia suicida”, mas há muito mais.


Verdade seja dita, nem EUA nem União Europeia são algum tipo de alta prioridade para a Rússia, não, pelo menos, em termos econômicos. A credibilidade moral do ocidente pode sem dúvida ser descrita como morta e sepultada há muito tempo.


Quanto ao poder militar do ocidente, só preocupa na medida em que políticos ocidentais podem ser tentados a crer na sua própria propaganda sobre suas forças militares serem as melhores e mais poderosas na história da galáxia. Por isso a Rússia engaja-se com regularidade em vastos exercícios surpresa: para provar ao ocidente que os militares russos estão perfeitamente prontos e a postos para qualquer coisa que o ocidente possa inventar.


Quanto à movimentação constante de cada vez maior número de forças de EUA/OTAN cada vez mais próximas das fronteiras russa, é movimentação ofensiva em termos políticos, mas, em termos militares, quanto mais EUA/OTAN aproximam-se da Rússia, mais opções a Rússia terá para destruí-las. “Deslocamento avante” é realmente coisa do passado, pelo menos contra a Rússia.


Com o tempo contudo, conforme o centro federal dos EUA perde cada vez mais em termos de controle sobre país, talvez seja boa ideia o Kremlin tentar abrir algumas trilhas para “diplomacia popular”, principalmente com alguns estados menos hostis dos EUA.

O enfraquecimento do Executivo já resultou em governadores de estados dos EUA que ganham papeis cada vez mais destacados no cenário internacional. Embora isso não seja, em termos estritos, perfeitamente legal (só o governo federal tem competência para agir no campo da política externa), fato é que as coisas são assim, já há anos.


Outros possíveis parceiros dentro dos EUA para empresas russas podem ser empresas norte-americana (especialmente agora, quando estão gravemente abaladas pela recessão).

Por fim, penso que o Kremlin deve tentar abrir canais de comunicação com as várias pequenas forças políticas nos EUA que, claramente, não estão comprando a propaganda oficial: grupos libertários, autênticos liberais e progressistas, paleoconservadores.

O que vemos diante de nós é o colapso do centro federal dos EUA. Vivemos momento perigoso e altamente instável de nossa história. Mas dessa crise surgirão oportunidades.


O melhor que a Rússia pode fazer agora é, simplesmente, manter-se muito cuidadosa e vigilante, e esperar que novas forças políticas surjam na cena política nos EUA.

 

https://thesaker.is/russia-and-the-next-presidential-election-in-the-usa/

 

 


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