Quem é o responsável pela explosão em Beirute?

 

Quem é o responsável pela explosão em Beirute?


Elijah J. Magnier, 7/8/2020, no blog, em https://ejmagnier.com/2020/08/07/the-beirut-explosion-who-is-responsible/  tradução de btpsilveira

 

Terça feira, 04 de agosto, ocorreu uma explosão no porto localizado no coração de Beirute, causando devastadora quantidade de mortes e destruição material. 140 pessoas morreram na hora, 80 ainda permanecem perdidas no meio das ruínas e mais de 5000 foram feridas. Mais de 300.000 casas foram destruídas e muitas outras danificadas. De algum modo, 2.750 toneladas de Nitrato de Amônia (NA) – equivalente a 1000 toneladas de TNT (dinamite) entraram em ignição e causaram a maior explosão desde o final da Segunda Guerra Mundial. Na capital do Líbano circulam muitas teorias acusando Israel ou o Hezbollah, e ainda a CIA pela explosão. Onde está a verdade? Cui bono?

Um navio com bandeira da Moldávia, The Rhosus, estava navegando da Georgia para Moçambique levando (entre outras mercadorias) 2.570 toneladas de Nitrato de Amônia para a Fábrica de Explosivos em Moçambique. O Banco Internacional de Moçambique pagou pelo carregamento. O navio parou em Beirute em 20 de novembro de 2013 para descarregar maquinário agrícola e deveria embarcar bens do Líbano para a Jordânia em seu caminho para Moçambique. Uma inspeção concluiu que o navio era impróprio à navegação e as autoridades locais libanesas impediram o Rhosus de sair do porto. As autoridades portuárias descarregaram o navio e colocaram a carga no armazém portuário nº 12. Mais tarde, a carga foi confiscada por causa de contas não pagas pelos proprietários do navio.

O Nitrato de Amônia tem várias propriedades, entre elas a de ser componente de misturas explosivas (Mellor, 1922; Elvers, 1989, Suslick, 1992). O NA puro é estável e deve preencher certas qualidades específicas para poder ser usado na produção de explosivos industriais. De acordo com a Associação de Produtores de Fertilizantes Europeus, o NA é especialmente difícil de detonar e assim necessita de estímulo substancial para ocorrer uma detonação. Mas deve ser estocado com cuidado em área seca, bem ventilada e de armazenamento selado. Além disso, as instalações elétricas do armazém devem ser resistentes ao vapor de amônia.

Por mais de seis anos as 2.750 toneladas de NA permaneceram no armazém libanês sem quaisquer planos para revende-lo ou transferi-lo. Além disso a área de estocagem escolhida é sujeita às mudanças de clima das estações climáticas libanesas, entre elas o calor sufocante do verão. A área é construída em metal e sem ventilação apropriada.

Ana passado, o capitão Naddaf, que trabalha no porto às ordens do Serviço Nacional de Segurança, informou seu superior sobre a presença de uma “carga perigosa no armazém nº 12”. Seu oficial superior, o General A. o instruiu a providenciar um relatório por escrito e tirar fotos do armazém e seu conteúdo. A construção tinha uma brecha de tamanho suficiente para a passagem de uma pessoa, o que poderia facilitar a entrada e até mesmo eventual roubo.

Como é organizado o porto libanês? Seu controle está nas mãos de uma espécie de máfia local composta de oficiais de alta patente, diretores de alfândega, administradores e oficiais de segurança. Cada pessoa em seu posto é apontada por determinado líder político que lhe oferece imunidade e proteção. O porto produz somas enormes de dinheiro e o suborno é o pão de cada dia para todos os que comandam o “espetáculo”. Face a corrupção desse nível, não será fácil, mesmo com especialistas científicos, descobrir o que aconteceu com o armazenamento de NA e em que condições foi estocado. Na realidade, muitos oficiais no porto não têm competência para o trabalho para o qual foram indicados, como vimos, por puro favoritismo e através de conexões políticas. É o caso do Diretor da Alfândega e da inteligência do Exército, General S., responsável pela movimentação e conteúdos do porto. Assim, levando tudo em conta, quando ocorre um desastre como o de terça feira, será obviamente bem difícil encontrar o verdadeiro responsável. A pergunta é: como surgiram as condições que levaram à explosão do NA?

Às 15hoo de 04 de agosto, um serralheiro foi chamado para fechar os buracos no armazém para prevenir possível roubo do conteúdo. O serralheiro não foi informado sobre o conteúdo perigoso do armazém, nem lhe foi dito para tomar as precauções necessárias a fim de prevenir que partículas de metal quente se espalhassem ou produzissem fragmentos que pudessem causar um incêndio. Ele trabalhou a uma distância de poucos centímetros dos bags de NA que jaziam no solo, e dos quais vazava uma substância branca. Feito o trabalho, entre 16h30 e 17h00, a fumaça foi vista saindo do armazém.

Bombeiros foram chamados pela lidar com o incêndio potencial. Às18h08 a primeira explosão foi ouvida, seguida pela segunda cerca de um minuto após. Depois da primeira explosão, começou um incêndio dentro do armazém. O fogo gerou ainda mais calor, suficiente para que todo o NA explodisse e criasse um vácuo (pressão negativa). A pressão da explosão causou a maioria das mortes e a destruição que devastou a cidade.

Quem chamou o serralheiro e orçamentou seu trabalho? Ele foi informado sobre o perigo de soldar perto de Nitrato de Amônia? Por que as 2.750 toneladas de NA foram deixadas por mais de seis anos, sem regulamentação de armazenamento e sem nenhuma razão justificável?

Há que se perguntar: “quem se beneficia com a explosão?” A área afetada pertence na maioria a pessoas que são inimigas do Hezbollah. Assim, não seria do interesse de Israel nem dos Estados Unidos bombardear e causar tanto dano a propriedades e negociantes amigáveis. Também não faz sentido destruir essa parte de Beirute para impor um “Novo Oriente Médio” ou um “Novo Líbano”, porque a atual população que é contra o Hezbollah está atualmente mais fraca que nunca e não tem condições de enfrentá-lo. A França e os Estados Unidos não estão em boa posição para influenciar a população libanesa.

Especulações sobre a possibilidade de que o Hezbollah pudesse estar estocando armas no armazém nº 12 são ridículas e sem fundamento – mesmo porque o local está sob vigilância constante por câmaras controladas pelas próprias forças de segurança. Com certeza o Hezbollah não estocaria armas em uma área que não lhe é amigável e sobre a qual não tem controle.

O Hezbollah atualmente está à espera do veredito que será anunciado pelo Tribunal Especial sobre o assassinato do ex primeiro ministro Rafic Hariri. É assim que os Estados Unidos e Israel estão tentando diminuir a influência da organização no Líbano – em vão. Na realidade, todas as tentativas dos EUA e de Israel, sejam no Líbano, Iraque ou Síria acabaram falhando. Os Estados Unidos estão impondo sanções duras contra a Síria e o Líbano (impedindo os países do Golfo e da Europa de ajudar na crise financeira severa enfrentada pelo Líbano), mas o resultado é sempre o mesmo: não conseguirão submeter o Hezbollah.

As várias teorias da conspiração não se ajustam aos fatos desse acidente. Ignorância, incompetência, favoritismo e burocracia são as razões da perda de tantas vidas e da destruição e Beirute, uma capital onde o povo ainda não aprendeu a viver junto. Trata-se de uma tragédia nacional. Os libaneses têm propriedades em vários países estrangeiros a leste e oeste. É a expressão da falta de sentimento de pertencer a uma nação – porque este é um país onde os políticos eleitos juntaram e roubaram toda a riqueza do Líbano, onde eles acumulam poder que é transmitido a seus filhos.

 

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