Putin tem a cabeça fria e podemos dizer desde agora que a resposta dos
russos virá na hora, lugar e forma que eles mesmos escolherem e na intensidade
apropriada à gravidade do ataque dos Estados Unidos.
Texto de Gilbert
Doctorow, tradução por btpsilveira
Meus dias como apologista de Trump terminaram com reviravolta nas suas
promessas de campanha de uma nova direção para a política externa dos Estados
Unidos.
Tendo prometido ser uma solução, ele se tornou parte integral do
problema. E com o seu ego maior que a própria vida, petulância e teimosia, o
Comandante-em-chefe Trump atualmente representa uma ameaça à paz mundial ainda
maior que o “fracote” Barak Obama, ao qual substituiu.
Trump ignorou os pedidos russos por uma investigação do alegado ataque
com armas químicas na província de Idlib, antes de emitir conclusões de
culpabilidade, como aconteceu algumas horas depois do evento.
Ele preferiu aceitar uma narrativa que muito provavelmente é uma falsa
bandeira produzida por rebeldes antigovernamentais na Síria e disseminada por
ONGs mercenárias pagas pelo Reino Unido e por Washington, como os “Capacetes
Brancos”. Ordenou o disparo de 50 ou mais mísseis Tomahawk contra uma base
aérea do governo sírio na província de Homs, cruzando dessa maneira todas as “linhas
vermelhas” da Rússia na Síria.
Até este momento, o Kremlin havia escolhido não
reagir aos sinais provenientes de Washington da determinação de Trump de mudar
o curso em relação à Rússia e à falência progressiva da hegemonia mundial dos
EUA. A postura de esperar-para-ver é anterior à posse de Trump, tendo
acontecido quando Putin resolveu ignorar o protocolo e não responder à
provocação final de Obama, que atacou propriedades diplomáticas russas e
expulsou diplomatas russos dos EUA.
Os russos também preferiram olhar para o lado quando a nova administração
continuou com a retórica neocon na tribuna do Conselho de Segurança das Nações
Unidas, durante a visita do vice presidente Pence, do chefão do Pentágono
Mattis e do Secretário de Estado Tillerson à Europa.
Acontece que o ataque de mísseis é uma mudança do jogo. A pressão para
que Vladimir Vladimirovich Putin responda adequadamente agora é imensa.
Putin tem a cabeça fria e podemos dizer desde
agora que a resposta dos russos virá na hora, lugar e forma que eles mesmos escolherem
e na intensidade apropriada à gravidade do ataque dos Estados Unidos. Espere
alguma coisa lá pelo final deste mês.
Enquanto isso, nós que esperávamos uma mudança de curso, o afastamento
do governo dos Neocons e falcões liberais que dirigem o estado profundo
deveríamos deixar de lado tudo o que estivermos fazendo, e ajudar a formar uma
declaração política das bases que Donald Trump e o establishment político não
poderiam ignorar e teriam que ouvir alto e claro. Uma campanha massiva de
cartas endereçadas ao Congresso e à Casa Branca? Uma marcha sobre Washington?
De uma maneira ou de outra, a Casa Branca tem que
ser informada de que manejar a política externa tendo por base cálculos que
levam em conta apenas questões domésticas, como parece ter acontecido ontem,
coloca a nação inteira sob risco existencial.
Agir duramente contra a Rússia e seus aliados nada pode ter a ver com a
formação de uma coalizão para aprovar uma reforma tributária.
A mesma coisa pode ser dita em relação a uma leitura alternativa para o
ataque de mísseis de ontem: que seria uma mensagem endereçada ao presidente
Chinês Xi Jinping em visita aos EUA, de que se não houver ação conjunta para
restringir as ações da Coreia do Norte, os Estados Unidos podem agir sozinhos e
com total desprezo à Lei Internacional.
No final, tudo isso é uma fórmula lógica para o suicídio.
Gilbert Doctorow é um analista politico estabelecido
em Bruxelas. Seu último livro, A
Rússia tem um futuro? Foi publicado em 2015. Pode ser encontrado em seu blog, aqui.
http://russia-insider.com/en/us-missile-strikes-syria-have-crossed-russian-red-lines-and-risk-serious-escalation/ri19479
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