Moscou e Pequim unem forças para substituir o dólar
dos EUA no Mercado Global, substituindo-o pelo padrão ouro
O Banco Central da Rússia abriu seu primeiro escritório fora de suas
fronteiras em Pequim, em 14 de março, dando um passo decisivo para a construção
de uma aliança Pequim/Moscou, a qual visa substituir o dólar dos EUA no sistema
monetário mundial, e introduzir gradualmente um padrão de comércio baseado em
ouro.
Conforme o
jornal South China Morning Post o novo
escritório estava previsto em acordos celebrados entre os dois vizinhos “para
fortalecer os laços econômicos” desde quando o ocidente introduziu sanções
contra a Rússia por causa da crise ucraniana e a economia russa foi prejudicada
pela súbita baixa nos preços de petróleo.
De acordo com Dmitry Skobelkin, alto funcionário do Banco Central da
Rússia, a abertura de um escritório de representação em Pequim pelo Banco
Central da Rússia é um movimento “muito oportuno” para auxiliar áreas
específicas de cooperação, entre as quais a emissão de títulos, operações
contra a lavagem de dinheiro e medidas antiterroristas entre China e Rússia.
O novo escritório do Banco Central foi inaugurado no momento em que a Rússia
está se preparando para emitir seus primeiros títulos da dívida pública
denominados na moeda chinesa, o Yuan. Funcionários do Banco Central da China e
comissões das autoridades financeiras estiveram na cerimônia da embaixada russa
em Pequim, a qual foi instituída em outubro de 1959, no apogeu das relações
entre China e União Soviética. A emissão de títulos denominados nas moedas
domésticas dos dois países foi objeto de acordo em maio passado pelas autoridades
financeiras dos aliados, um movimento amplamente considerado como destinado a
eventualmente testar o status de moeda de reserva mundial do dólar
(norte)americano.
Ao falar
sobre os futuros laços com a Rússia, o Premier Chinês Li Keqiang disse em
meados de março que os laços comerciais entre Rússia e China serão afetados
pela queda dos preços do petróleo, mas acrescentou que vê um enorme potencial
de cooperação. Vladimir Shapovalov, alto funcionário do Banco Central da
Rússia, disse que os dois bancos centrais estão preparando um memorando de
entendimento para resolver questões
técnicas sobre a importação de ouro russo pela China, e que os detalhes
deverão ser divulgados em breve.
Se a Rússia, o quarto maior produtor de ouro depois da China, Japão e
dos Estados Unidos – está de fato a ponto de se tornar o maior fornecedor de
ouro para a China, cresce enormemente a probabilidade do surgimento de um
cenário previsto há anos, o de que que Pequim está em preparação para
desenvolver uma moeda lastreada em ouro.
* * *
Enquanto isso, na medida em que o banco central russo se move para cada
vez mais perto da China, esta responde com medidas equivalentes, ao estabelecer
o primeiro banco de compensação chinês em Moscou para a movimentação de
transações em Yuan. O Banco Industrial e Comercial da China (ICBC na sigla em
inglês – NT), começou oficialmente operações de compensação bancária na Rússia
na quarta feira.
“As autoridades de regulamentação
financeira da China e da Rússia assinaram uma série de compromissos
importantes, com os quais delimitam um novo nível de cooperação financeira”,
disse Dmitry Skobelkin, o já mencionado funcionário do Banco Central da Rússia.
“O lançamento dos serviços de
compensação em renminbi (moeda chinesa, Yuan – NT) na Rússia deverá expandir as
transações empresariais locais e promover uma maior cooperação financeira entre
os dois países”, acrescentou ele.
A analista
financeira Irina Rogova afirmou à revista russa Expert que a casa
de compensação bancária poderá se tornar um grande centro financeiro para os
países da União Econômica Eurasiana.
* * *
Parece que a tática de contornar o dólar dos Estados Unidos está
surtindo efeito: de acordo com a Administração Estatal Chinesa de Tributação, o
volume de comércio entre a China e a Rússia cresceu 34% em janeiro, em termos
anuais. O comércio bilateral em janeiro de 2017 chegou a $6.55 bilhões de
dólares. As exportações chinesas para a Rússia alcançaram uma alta de 29.5%,
chegando a $3.41 bilhões, enquanto as importações cresceram 39.3%, para $3.14
bilhões de dólares. Como muitos suspeitam, com as sanções contra a Rússia
forçando Moscou a encontrar parceiros comerciais em outros mercados, entre eles
a China, aconteceu exatamente o que se esperava.
A criação de um centro de compensação bancária possibilitará aos dois
países o crescimento constante de comércio e investimentos bilaterais ao mesmo
tempo em que faz diminuir sua dependência do dólar (norte)americano. As ações
encetadas pelos dois países criarão um centro de liquidez para o Yuan na Rússia
que fará com que as transações de comércio e operações financeiras ocorram sem
maiores problemas.
Ao expandir o
uso de suas moedas nacionais para transações comerciais e financeiras, os dois
países podem reduzir potencialmente a volatilidade das taxas de câmbio tanto do
rublo quanto do yuan. O jornal Sputnik noticiou que o
centro de compensação bancária é apenas uma de uma série de medidas que o Banco
Popular da China e o Banco Central da Rússia têm em mente para estreitar sua
cooperação.
Uma das
principais medidas que estão sendo consideradas é um esforço já noticiado para uma organização conjunta de
comercialização de ouro. Em anos recentes, a China e a Rússia têm sido os compradores mais ativos
do metal precioso. Quando de uma visita à China ano passado, o vice presidente
do Banco Central Russo Sergey Shvetsov afirmou que Moscou e Pequim querem
facilitar mais transações em ouro entre os dois países.
“Nós discutimos a questão do comércio
de ouro. Os países BRICS são grandes economias com enormes reservas de ouro e
um volume impressionante de produção e consumo do metal precioso. Na China, o comércio de ouro se desenrola em Xangai e na Rússia em
Moscou. Nossa ideia é criar uma ligação
entre as duas cidades com a intenção de aumentar o comércio entre os dois
mercados” disse o primeiro vice diretor do Banco Central da Rússia, Sergey
Shvetsov à Agência de Notícias Russa TASS.
Em outras palavras, a China e a Rússia estão se afastando do comércio
baseado no dólar, para uma linha de transações comerciais eventualmente
lastreada em ouro, no que está gradualmente emergindo como um “padrão ouro”
oriental, compartilhado entre Rússia e China, e que pode servir como barreira
de proteção para as suas respectivas moedas.
Enquanto isso, o preço do ouro continua sem
refletir nenhuma dessas mudanças potencialmente tectônicas, exatamente como a
China – que é o maior acumulador de ouro em anos recentes – quer.
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