China e Coreia
do Norte: Cálculo errado de Trump pode desencadear a guerra. Veja porquê
O
presidente pensa que pode blefar com os chineses e que um ataque contra a
Coreia do Norte terá consequências limitadas. Está errado nas duas conclusões.
Texto de Alexander
Mercouris, The Duran, trad: btpsilveira
Enquanto
a marinha dos Estados Unidos se aproxima da península coreana, a Coreia do
Norte (CN) ameaça contra-atacar as bases dos EUA e contra a Coreia do
Sul (CS) e a China alerta para a possibilidade de guerra, a pergunta ainda sem resposta é: existe realmente
uma estratégia por trás desses movimentos?
Dificilmente pode ser encarado como uma
novidade ver um porta-aviões dos Estados Unidos nas proximidades da Península
Coreana, e quando os EUA ameaçam tomar medidas unilaterais contra a CN estão
apenas repetindo ameaças já feitas antes por várias vezes. É de conhecimento
geral que as administrações de Clinton, George W. Bush e Obama consideraram
seriamente bombardeios preventivos contra a CN, sendo certo que a administração
Clinton chegou bem perto de realizar a façanha. Todas as três administrações,
porém, desistiram da medida ao avaliar que a consequência poderia ser uma
guerra que devastaria a Península Coreana.
No caso da administração Clinton, a
avaliação foi que uma possível retaliação da Coreia do Norte poderia envolver
ataques maciços de artilharia pesada contra a capital da Coreia do Sul, Seul, onde
poderiam acontecer mais de um milhão de mortes. A avaliação parece ter sido
muito exagerada. No entanto, desde que Seul aumentou de tamanho, mais subúrbios
foram construídos perto da fronteira com a Coreia do Norte (trazendo-os para mais
perto do alcance da artilharia norte coreana). Além disso, a CN adquiriu armas
nucleares e (talvez) a capacidade de usá-las. O que era um exagero em 1994 pode
muito bem não ser mais.
Nos bastidores de tudo, há uma grande
incerteza sobre o que exatamente um bombardeio preventivo dos Estados Unidos
poderia atingir, caso aconteça. O programa nuclear da CN é conhecido por ser
fortemente defendido e disperso pelo país, com muitas de suas instalações
profundamente encravadas em subterrâneos. Um bombardeio limitado por mísseis de
cruzeiro como o que foi feito na Síria pode não alcançar nenhum resultado
prático e provavelmente provocaria forte reação da Coreia do Norte. Em
contrapartida um ataque em escala total contra a Coreia do Norte – que tem
poder nuclear – pode arriscar a detonar uma guerra total na Península Coreana,
que poderia ser potencialmente devastadora, e, dada a capacidade que a CN tem
de lançamento de mísseis, poderia se espalhar para o Japão.
Não há sentido em nenhum cálculo
racional quanto a um ataque preventivo dos Estados Unidos contra a Coreia do
Norte, e sob qualquer outra administração, já estaria sendo cogitada a
possibilidade de não atacar, e desistir do último movimento dos EUA como um
blefe vazio.
A razão pela qual desta vez é
impossível fazer isso não está em qualquer mudança que tenha ocorrido na
Península Coreana desde que as administrações prévias consideraram seriamente e
depois abandonaram a opção de uma ação militar, mas porque depois do ataque
contra a Síria, ninguém mais pode estar seguro de que as decisões da política
externa desse presidente e de sua administração estão sendo tomadas de maneira
ordenada e racional. Em vez disso, parece que estas decisões são tomadas muito
mais por impulso de momento e por preocupações sobre “aparências”, com o presidente
tomando decisões repentinas, com os seus conselheiros aparentemente incapazes
ou não desejosos de conter o homem.
Até onde é possível ver uma estratégia
por trás dos últimos movimentos dos EUA, este parece ser uma tentativa de
amedrontar os chineses para que abandonem a Coreia do Norte, ameaçando-os com
uma guerra na Península Coreana se eles não obedecerem. Para dourar a pílula,
apresentam como isca um belo acordo comercial.
Este é o tipo de comportamento de
confronto que pode fazer sentido para os empresários do setor imobiliário que
Trump conhece bem. No entanto, o problema com essa atitude abertamente
amadorística é que não leva em consideração os fortes sentimentos chineses.
Mesmo sendo duvidoso que a maioria dos
chineses se importem com o destino da Coreia do Norte, a liderança chinesa pode
ter que enfrentar uma grave crise interna se aparentemente se render às
exigências dos Estados Unidos e demonstrar medo frente às ameaças de Trump. Um
ataque ou a ameaça de ataque dos Estados Unidos contra a Coreia do Norte pode,
por conseguinte, ser mais capaz de reforçar que diminuir o apoio chinês à CN.
O presidente Trump e seus conselheiros
cometeram o mesmo erro na avaliação da sequência dos ataques contra a Síria.
Nos dias que se seguiram, o presidente e seus conselheiros pareciam acreditar –
e foram encorajados a isso pelos britânicos – que o ataque de mísseis poderia
fazer os russos diminuírem seus apoio ao presidente sírio Bashar Al Assad. Como
se o suborno fosse uma coisa admirável, eles, como estão fazendo agora com a
China, também ofereceram para a Rússia a perspectiva de melhores relações para
tornar o negócio todo mais palatável.
Acontece que os russos nem se
intimidaram com o ataque de mísseis nem aceitaram o suborno. Pelo contrário, em
vez de sair da Síria ou reduzir seu apoio a Assad, sua resposta foi aumentá-lo.
Não há razão para acreditar que a reação
dos chineses a um ataque (norte)americano contra a Coreia do Norte seja
diferente. Pelo contrário, dada a grande sensibilidade demonstrada pelos
chineses em questões de prestígio, um fortalecimento da posição chinesa em face
de um possível “agressão” dos EUA contra o continente asiático é uma virtual certeza.
O problema é que tendo permitido que as
coisas chegassem a esse ponto, o presidente pode sentir que não pode mais
voltar atrás sem ser humilhado, e dada a sua também enorme sensibilidade às “aparências”
e à incapacidade de seus principais auxiliares em política externa – Mattis McMaster
e Kushner – em refreá-lo (Tillerson parece estar ainda mais mal na foto), as
consequências potenciais são assustadoras, para dizer pouco.
É, portanto, de uma importância
desesperadora nesta situação que o presidente ou volte a ter bom senso e aceite
seja qual for a saída honrosa que os chineses lhe ofereçam – não importa o quão
vazia de conteúdo seja – ou que seus conselheiros finalmente encontrem uma
maneira de segurar sua impetuosidade. Uma falha nestas questões pode ser
caminho certo para a catástrofe, agora ou em futuro próximo.
Embora humilhante, a alternativa pode
ao menos ensinar ao inexperiente presidente e a seus conselheiros que a
primeira lei das relações internacionais é nunca tentar blefar com a China,
porque a China sempre vai pagar para ver.
Existe ainda a Agravante de que o Ataque á Síria...não foi no Quintal da Rússia; enquanto, um Ataque a CN será no Quintal dos Nossos Amigos...que não tem os Olhos tão Fechados assim !
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