Ucrânia, Coreia, Irã, Síria… Tio Sam
luta falsificando a história
Texto de Finian
Cunningham, tradução de btpsilveira
No discurso pronunciado pelo presidente Vladimir Putin no Fórum
Internacional do Ártico, ele ressaltou os perigos reais e presentes
apresentados pela falsificação da história. Afirmou que esta distorção
deliberada da história corrói a lei e a ordem internacional, criando caos e
levando a conflitos futuros.
O líder russo lamentou o uso da história como uma “arma ideológica” para
demonizar terceiros, e disse que sem uma compreensão apropriada da história
somos levados a repetir erros do passado.
Também recordou uma das máximas de Karl Marx que certa vez afirmou: “a
história se repete primeiro como tragédia, depois como farsa”.
Como que para exemplificar, enquanto Putin enumerava os perigos de
falsificação da história, o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko era
recebido em Londres pela Primeira Ministra inglesa Theresa May durante uma
visita de dois dias.
O regime sediado em Kiev e liderado por Poroshenko teve origem em um
golpe ilegal e violento em 2014 contra um governo eleito democraticamente,
contando com apoio encoberto de Washington e da União Europeia. Desde então, o
governo militar ucraniano está enfronhado em uma guerra contra a região leste
do país, na qual até agora já houve mais de 10.000 mortos, e cerca de um milhão
de pessoas foram deslocadas. Tudo porque a população de etnia russa da região
do Donbass se recusou a reconhecer a legitimidade do governo de Kiev, por causa
da forma ilegal pela qual assumiu o poder há três anos.
No entanto, a se acreditar na maneira pela qual Poroshenko e o regime de
Kiev descrevem os acontecimentos, a Ucrânia estaria lutando contra uma invasão
pela Rússia. A falsificação da história pelo presidente ucraniano foi
legitimada pela sua hospedeira britânica que acenou respeitosamente enquanto
Poroshenko afirmava que seu país era um baluarte da defesa europeia contra a
invasão russa.
“Este não é um conflito ucraniano, é europeu. As sanções e a resistência
do exército ucraniano são a única razão pela qual os tanques russos ainda não
estão na Europa”, disse Poroshenko. Essa versão asinina da história recente
recebeu aprovação tácita da Inglaterra.
Mesmo sem querer, Poroshenko parecia estar confirmando os perigos da
distorção histórica, exatamente como alertava Putin.
A falsificação dos fatos recentes e contemporâneos na Ucrânia podem ser
um expediente útil para reforçar o apoio financeiro e militar para o
cambaleante e corrupto regime em Kiev; essa propaganda escandalosamente falsa
da História também pode ser usada para expandir o poder militar da OTAN,
liderada pelos EUA, com todos os seus contratos lucrativos de vendas de armas
para os governos ocidentais, como consequência dessa atitude. Mas essa
deturpação dos acontecimentos serve, em última instância, para alimentar um
conflito desnecessário, assevera Putin. Essa distorção flagrante também pode
ser classificada como um ato criminoso para desfechar uma guerra.
Mas a Ucrânia é apenas um exemplo. Os perigos da distorção histórica,
supressão ou falsificação dos fatos são abundantes em desenvolvimentos
internacionais recentes.
Esta semana, o vice presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, estava
mais uma vez ameaçando e Coreia do Norte com “aniquilação” e guerra, dizendo que a espada (norte)americana “estava desembainhada”
para “proteger a liberdade” dos japoneses e seus aliados da Coreia do Sul,
apresentando o quadro de um conflito entre os “mocinhos” apoiados pelos EUA e
os “bandidos” apoiados pelos comunistas.
Se Washington reconhecesse o legado horrível dos crimes de guerra que
foram cometidos durante a Guerra da Coreia e que resultaram na morte de mais de
três milhões de pessoas, aniquiladas pelo bombardeio em tapete promovido pelos
EUA, talvez houvesse a oportunidade de um diálogo criativo que resolvesse de
vez o conflito em andamento na Península coreana. Mas da maneira que está, com
os (norte)americanos mais uma vez apresentando uma retórica fantasiosa sobre a
história coreana, o que se esta promovendo é o aumento das tensões e de um
conflito mais além. Dessa forma, a tendência é que a verdadeira intenção de
Washington com mais essa falsificação da história mostre a sua cara feia.
Outrossim, Washington continua afirmando que seu ataque com mísseis contra
a Síria no início do mês são um “legítima” demonstração de poderio militar, que
pode ser usado contra qualquer nação que julgue estar violando a Lei
Internacional, citando os incidentes com armas químicas na Síria em 04 de
abril. Os Estados Unidos e seus aliados alegam, sem a menor evidência, que o
incidente foi levado a efeito pelas forças do governo da Síria.
Trata-se de mais uma falsificação flagrante da história, construída
pelos governos dos EUA, Inglaterra e França, em conjunto com a Organização para
a Proibição de Armas Químicas, afilada da ONU. Todas estas acusações foram
efetuadas com uma pressa indevida e sem uma investigação imparcial dos alegados
incidentes com armas químicas em Khan Shaikhun, na província de Idlib. No
entanto, as acusações sem fundamento foram invocadas como “justa causa” para ataques
com mísseis contra a Síria pela administração Trump apenas três dias depois,
quando na realidade esse bombardeio deveria ter sido denunciado e condenado
como uma agressão ilegal e um crime de guerra contra um país soberano.
Uma falsificação da história bem pior e ainda mais perturbadora e assustadora
se revela quando informações fidedignas mostram que os assim chamados “capacetes
brancos” (White Helmets), um “grupo de resgate” formado por militantes armados
e ilegais intimamente ligados com a mídia, trabalhando como seus agentes, são
todos financiados pela inteligência dos (norte)americanos, britânicos e
franceses. É por isso que a Rússia, Síria e Irã estão exigindo uma investigação
completa e imparcial sobre o último incidente com armas químicas. Há fortes
suspeitas de que o incidente não passou de uma armação propagandística, efetuada
pelos militantes apoiados pelas potências ocidentais, justamente para criar um
pretexto para os ataques dos Estados Unidos contra a Síria que se seguiram.
Este cenário em particular mostra com clareza que a narrativa mais ampla
de toda a Guerra da Síria, que começou em março de 2011, não passa, desde o
início, de uma operação ocidental encoberta, destinada a mudar o regime no
país. O objetivo da mudança de regime era derrubar o presidente Bashar Al
Assad, aliado estratégico da Rússia, Irã e Hezbollah, e ferrenho oponente das
intrigas do ocidente imperialista na região do Oriente, Médio, rico em
petróleo. Documentos (norte)americanos arquivados e deliberadamente omitidos do
conhecimento público pela mídia e pelas autoridades governamentais mostram que
uma derrubada do regime apoiada pelas potências ocidentais está na pauta da CIA
e do MI6 britânico já há várias décadas.
A falsificação da história no curto e longo prazo é uma maneira crucial
para as potências ocidentais continuar a desenvolver suas pautas ilegais de
conflitos e mudanças de regime – uma pauta que depende totalmente do apoio das
potências ocidentais a grupos terroristas que fazem o trabalho sujo por
procuração. São as mesmas potências que já fizeram isso no Afeganistão, Iraque,
Líbia e muitos outros países pelo mundo todo, sempre usando similares dos esquadrões
da morte que atuaram na América Central e do Sul.
Como referido pelo presidente Putin em seu discurso desta semana, a
falsificação da história explica porque a guerra na Síria continua em andamento
e parece não ter um final à vista. Não só na Síria, como na Coreia do Norte e
na Ucrânia, entre outras zonas de conflito.
Falando em outras zonas de conflito, nesta semana o Secretário da Defesa
dos Estados Unidos, General James Mattis, acusou provocativamente o Irã – mais uma
vez – de ser o “líder mundial de apoio ao terrorismo”. Mattis estava falando
estas palavras de pura “sabedoria” (norte)americana quando estava na Arábia
Saudita! Só uma pessoa com uma noção profundamente irreal do papel da CIA no
terrorismo contra o Irã (o golpe de 1953 e ‘otras cositas más’) bem como o
entendimento deliberadamente errôneo do despotismo saudita apoiado pelos EUA
pode fazer uma declaração tão escancaradamente absurda como a que Mattis fez,
alimentando ainda mais as tensões conflituosas em uma região tão sensível.
Se o público ocidental fosse totalmente informado da maneira pela qual
as crises na Ucrânia, Coreia, Síria e Irã têm sido largamente promovidas pelas
maquinações do ocidente, então estes conflitos provavelmente terminariam. Porque
as causas dos conflitos deveriam ser exaustivamente divulgadas, mostrando a
culpabilidade dos governos ocidentais, em particular dos Estados Unidos.
Então, se a justiça vencer, aqueles políticos ocidentais e seus veículos
de imprensa, responsáveis por ocultar, distorcer e dessa forma alimentar
aqueles conflitos seriam finalmente responsabilizados por seus atos.
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