Ataque terrorista em Estocolmo. Será que eles pensam que somos estúpidos?

Texto de Seth Ferris, trad: btpsilveira

Vamos lá, tentar entender essa bagunça, OK?

Donald Trump disse que houve um ataque terrorista na Suécia. Ninguém na Suécia faz a menor ideia do que ele está falando. A declaração fez Trump parecer um idiota.

Em Londres, um homem dirigiu um carro contra uma multidão de pedestres e tentou atacar o Parlamento Britânico. Os governantes ocidentais imediatamente insistiram que se tratava de um ataque terrorista. As investigações tornaram claro que o atacante agiu sozinho, que não houve planejamento nem um mandante e que o homem não pertencia a qualquer organização terrorista. Isso fez de Trump e vários outros líderes parecerem um bando de imbecis. Mas mesmo assim nenhum deles retirou a acusação de que se tratava de um ataque terrorista.


Daí, uma pessoa sequestra um caminhão na Suécia e o joga contra uma multidão de pedestres. Mais um coro enorme de “ataque terrorista”. A questão é simples: o acontecido na Suécia tem porque tem que ser um ataque terrorista, porque o atacante fez a mesma coisa que o indivíduo em Londres fez, então tem que ter sido também um ataque terrorista. Assim, esses estúpidos políticos teriam estado corretos o tempo todo.

No momento em que escrevo tanto a polícia quanto os especialistas em terrorismo na Suécia estão dizendo que não houve planejamento por trás do ataque em Estocolmo. O motorista não estava ligado a organizações terroristas e nenhum grupo reivindicou autoria. Assim, os políticos estão sendo mais uma vez um monte de bestas. Mas eles insistem em que foi, sim senhor, um ataque terrorista, e que assim os bilhões de dólares gastos lutando contra o terrorismo estão plenamente justificados.

Será que eles pensam que somos todos burros? Parafraseando Oscar Wilde, enquanto em Londres foi uma desgraça, em Estocolmo parece ter sido falta de cuidado. Se realmente houvesse um cérebro, um planejamento por trás dos ataques, precisamos descobrir quem se beneficiaria mais que os outros com os eventos. Quem seria? Os terroristas ou os políticos ocidentais?


Bang! Bang! – e ninguém quer saber dos que morrem


O atacante de Estocolmo dirigiu o caminhão diretamente contra um shopping de rua em alta velocidade. Ao contrário de Londres, ele foi capturado vivo, e dessa forma foi capaz de dizer porque fez o que fez. Mas a julgar pelas informações que temos parece que será muito difícil que qualquer funcionário policial possa dizer o que é verdade ou não.

O suspeito é um homem de 39 anos oriundo do Cazaquistão. Ele já residiu na Suécia e tinha solicitado “residence card”, à Suécia, documento essencial para que os cidadãos não nascidos na União Europeia possam viver legalmente no país. Sabe-se que o prazo para que essas solicitações sejam processadas é de alguns meses, assim as autoridades suecas não se preocupam se você não tiver um, desde que já tenha solicitado o documento. Acontece que em junho de 2016 o pedido foi negado, e então ele foi comunicado que teria que deixar o país.

É relativamente fácil entrar em dado país como migrante, se você abandonou o país anterior voluntariamente e não tem histórico criminal. Em vez de fazer exatamente isso, ele se tornou um ilegal. Agora nos dizem que por alguma razão obscura, ele chamou atenção para si mesmo ao roubar um caminhão, matar pessoas e ser preso. Por que ele fez isso?

Muitos suecos trabalham na base de “uma mão lava a outra e as duas lavam o rosto”. Por exemplo, todos tem que ter um endereço legal, e viver realmente ali, mas muitas pessoas vivem em apartamentos que podem ter sido ilegalmente sublocados para eles, a preços muito mais altos que poderiam ser cobrados de locais alugados legalmente. Em muitos casos a coletoria local onde o endereço foi registrado sabe muito bem o que está acontecendo, mas olha para o lado, mesmo porque poderá usar este fato contra essas pessoas mais tarde, se necessário. Na maioria das vezes não se perde tempo e recursos tentando provar o que estaria supostamente acontecendo, a não ser que o locador incorra em outros crimes.

Da mesma forma, aquele que entra na Suécia como um  imigrante primário, quer dizer, não como um solicitante de asilo, tem que ter um lugar na universidade, um patrocinador permanente ou um certificado que demonstra ter encontrado emprego. Pela lógica do dinheiro, alguns indivíduos bem conhecidos em cada localidade montam firmas de papel, para emitir estes certificados a um dado preço, para empregos inexistentes. Estes são usados a seguir para registro na coletoria local, mas nenhum imposto é cobrado, e as agências públicas sabem muito bem que esses empregos não existem. Mas deixar passar, desde que os envolvidos não causem problemas, mesmo porque alguém com certeza sempre faz algum dinheiro “por fora”.

Até onde podem ir estas relações espúrias? Por pelo menos 15 anos, representantes do comércio de alimentação questionaram oficialmente o governo do Reino Unido sobre a política de dois pesos e duas medidas aplicada à questão. Restaurantes que empregavam pessoas que não teriam supostamente o direito de estar trabalhando no Reino Unido subitamente tinham seus estabelecimentos invadidos por funcionários estatais e eram multados. Posteriormente, os donos de restaurantes descobriam que aqueles mesmos trabalhadores que não podiam exercer suas funções em seus estabelecimentos agora trabalhavam para o governo, limpando escritórios governamentais. Quando John Reid “teve conhecimento” dos fatos depois de sua nomeação como Secretário do Interior em 2006, tentou desencadear um escândalo, mas descobriu rapidinho que estava mordendo a mão que o alimentava. Essa é a real razão pela qual deixou o governo quando Tony Blair perdeu o cargo de Primeiro Ministro.

Exatamente como o atacante de Londres, Kalid Masur, o atacante de Estocolmo não tinha nada a ganhar fazendo o que fez. Mas se por acaso ele teve promessas de se sair bem por aqueles que tinham algo a ganhar com os ataques é outra história. Os chechenos que migraram repentinamente para os campos de treinamento de terrorista no Vale de Pansiki na Geórgia, nada tiveram, a ganhar a não ser a morte violenta em poucos anos. No entanto seus familiares agora circulam em Mercedes, as quais custam mais que o rendimento acumulado de todos os outros moradores das aldeias onde vivem.

Esqueça a qualidade, pense na abrangência

Há sempre uma chance, claro, de que talvez não sejamos tão estúpidos quanto os políticos precisam e querem. Para isso, é necessário que exista uma confirmação externa de que os incidentes em Londres e Estocolmo sejam ataques terroristas cometidos por pessoas que se opõem aos valores ocidentais. Parece que as imagens dos ataques químicos em Idlib talvez possam fornecer essa confirmação.

E é, pelo menos até que a gente dê uma olhada mais de perto nas fotos do que, dizem eles, são ataques feitos pelo governo Assad – um regime terrorista, dizem eles. Nestas fotos podemos ver os White Helmets, trabalhadores humanitários de dia e combatentes ao lado dos militantes à noite, tratando das vítimas do que foi imediatamente identificado como um ataque com gás Sarin. Não estão usando luvas e a maioria deles também não usa máscaras.

Tanto o governo sírio quanto seus aliados russos já foram acusados antes de ataques com gás Sarin. Portanto os médicos do White Helmets com certeza não iniciariam o tratamento das vítimas sem vestir uma roupa de proteção adequada. Eles sabem que sem isso, começariam imediatamente a vomitar e a defecar e não estariam capazes de atender a ninguém. Porque é esse o efeito do gás Sarin e não espumar pela boca como as vítimas estão fazendo nas Como também podemos ver, as pessoas que estão sendo atendidas, estão dentro de uma instalação subterrânea que tem uma mangueira dirigida para o exterior. Que mangueira é essa, o que ela está fazendo ali e até onde ela vai? É evidente que os vídeos e fotos do assim chamado “ataque químico com gás” retratam na verdade a sequência de uma ação que o governo sírio admite ter tomado – o bombardeio de uma fábrica de mísseis dos rebeldes em Kahn Sheikun. As bombas usadas pelos Su-22 russos não podem ser adaptadas para conter substâncias químicas, assim, se realmente houve substâncias químicas envolvidas nos acontecimentos, elas já estavam naquele lugar – como é fortemente sugerido pelas pessoas usando roupas brancas, do tipo usado em fábricas de produtos químicos, supostamente sendo tratados dos efeitos de produtos químicos que teriam sido lançados do ar.

No Domingo de Ramos, logo que a história do “ataque terrorista” sueco começou a ser desvendada, duas bombas explodiram em uma igreja no Egito, matando ao menos 44 pessoas. O Estado Islâmico reivindicou responsabilidade pelo atentado, dizendo que teria sido cometido por – mais uma vez bem convenientemente – homens bombas usando coletes explosivos.

Porém resposta do presidente egípcio foi bem interessante. Ele foi citado com tendo afirmado à imprensa, “tratem o assunto com a consciência, credibilidade e responsabilidade que a questão exige. Não é verdade o que estou vendo ser repetido em todos os canais e isso ofende os egípcios”.

As 44 pessoas mortas estão sendo tratados como um mero golpe publicitário. Claro que o Estado Islâmico sabia que as igrejas estariam cheias. Tem sido assim por muitos anos, e as comunidades cristãs no Egito tem sido alvo de terrorismo por longo tempo. A resposta do governo egípcio tem sido a mesma do governo sírio – oferecer a eles proteção, em certos termos, para evitar que o país seja dividido por forças externas como está acontecendo com o Iraque e o Afeganistão. Assim, para quem, por trás dos ataques, aponta a fala do presidente Sisi?

Não se pode negar que o terrorismo existe. Há muitos grupos de terror organizados cujo objetivo é a derrubada violenta de estado onde operam, e a subjugação da população a um novo tipo de estado, com uma nova escala de valores. Defendem que o massacre se justifica, e ficam felizes ao usar o terror e o massacre como armas. De várias formas, esses grupos existem em todos os países, independente de sua ideologia e dos motivos pelos quais lutam.  

No entanto, os governos nacionais estão sempre prontos para usar o terrorismo para atingir seus objetivos. Quando as metas dos terroristas são as mesmas de determinado estado, discretas alianças são feitas, e são até comuns. Todos os grupos que atualmente são designados como “terroristas” no Afeganistão já foram uma vez armados e financiados pelo ocidente para se livrar dos soviéticos através desse método. Estamos ouvindo a toda hora que tal ou qual estado estrangeiro “bandido” não passa de um “apoiador do terrorismo”, mas mesmo deixando de lado o atual papel dos Estados Unidos como patrocinador do terrorismo em vários países, há muitos exemplos de que o ocidente, tão “bonzinho” e “decente”, já fez a mesmíssima coisa, tanto diretamente como através de terceiros.

Quando e se países ocidentais querem aterrorizar a população em dado país ou até na própria nação, possuem os meios para fazer isso através da ação de terceiros. Mesmo se considerando que os atacantes de Londres e Estocolmo agiram sozinhos, eles fizeram exatamente aquilo que se4rve como uma luva aos interesses de Trump e da Casa Branca precisavam – fazer com que o presidente seja visto sob uma luz mais benevolente, mesmo quando ele estiver completamente errado. Toda a vida de Trump tem se desenrolado como um conto onde se misturam o blefe, a arrogância e os estratagemas, como bem demonstra seu histórico nos negócios. A melhor coisa que poderia acontecer para esse personagem é parecer bem na foto e a realidade que se dane.

Em 1995, o jornalista Michael Crick escreveu um livro denominado “Jeffrey Archer: Mais Estranho que a Ficção” o qual levou à desgraça esse aclamado autor e político. Elçe argumenta no livro que toda a vida de Archer foi um  rosário de mentiras compulsivas que fizeram com que ele conquistasse um monte de amigos poderosos. Ele conseguiu levar toda esse emaranhado por mais de 60, porque estes métodos acabam funcionando nos corredores palacianos do poder. Com Trump dentro da Casa Branca, desesperado para se livrar dos escândalos que ele mesmo criou, conseguirá a mesma coisa, ou desta vez não vai funcionar?

Antes de usar as estatísticas

Os ataques de Londres e Estocolmo pouco têm a ver com terrorismo. No entanto nos falam de um monte de coisas que estão acontecendo na política ocidental e que continuarão piorando enquanto Trump estiver no comando.

O ocidente sabe, tem consciência de que está mentindo quanto a ameaça islâmica terrorista, que em grande parte é criação do próprio ocidente para atingir seus objetivos. Também sabe que as mentiras estão se tornando insustentáveis. Assim, a política externa ocidental adotou um novo princípio governamental: fazer tudo o que puder para convencer o mundo que o ocidente está correto, mesmo quando se sabe que está errado.

Há muitas coisas que a política externa ocidental poderia fazer. Poderia estar trabalhando para o fortalecimento da democracia e dos direitos humanos, labutando em oposição a estados que não querem dar às próprias populações esses valores que o ocidente leva os povos do mundo a acreditar que deveriam ter. Tanto o Reino Unido quanto a Suécia têm um bom histórico geral de direitos humanos. O ocidente não tem razão para querer minar esse histórico, mas é exatamente o que está fazendo, com a cumplicidade dos governos dos dois países, para estabelecer um esquema que pensam que os pode manter no poder.

Os terroristas não estão ganhando nada com esses ataques, pela simples razão de que não foram cometidos por grupos terroristas.  Quem tem a ganhar com isso são apenas os políticos que tentam nos convencer que essas mentiras são verdades. O Reino Unido já passou por isso antes na Irlanda do Norte, onde o conflito durou um tempo desnecessário porque a retórica oficial sobre ele não descrevia a realidade no terreno, e assim era incapaz para resolvê-lo. Os Suecos nunca enfrentaram nada igual, mas agora está tão cheia de histórias sobre ameaças não existentes que seu governo terá que enfrenta-las para que possa adquirir alguma credibilidade internacional, numa época em que os valores democráticos tradicionais estão sendo abandonados.

O povo está morrendo por causa dessas políticas. Talvez os governos vejam essas mortes como efeitos colaterais da oposição ao terrorismo. Quantas pessoas nesses países teriam votado para se tornarem “danos colaterais” de uma luta artificial e desnecessariamente prolongada?

Seth Ferris é jornalista investigativo e cientista politico, especialista em questões sobre o Oriente Médio.



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