Porque Rússia e
China apavoram Washington
Texto de Pepe
Escobar, tradução de btpsilveira
Publicado originalmente em SputnikNews.com
Unindo os países que o Pentágono declarou serem as
principais ameaças “existenciais” para os Estados Unidos, a parceria
estratégica Rússia-China não se revela através de um tratado assinado com pompa
e circunstância – e uma parada militar.
Mesmo escavando camada após camada de sofisticação
sutil, não há como saber a profundidade dos termos acordados entre Pequim e
Moscou, nos bastidores dos inumeráveis encontros entre Xi Jinping e Vladimir
Putin.
Diplomatas,
desde que mantidos no anonimato, ocasionalmente insinuam que uma mensagem em
código pode ter sido entregue à OTAN quantos ao que poderia acontecer se um
desses parceiros estratégicos fosse maltratado seriamente – seja na Ucrânia
seja no Mar do Sul da China – a OTAN teria que lidar com os dois.
Por
enquanto, vamos nos concentrar em dois exemplos de como a parceria funciona na
prática, e porque Washington não tem noção de como lidar com a situação.
A prova “A”
é a iminente visita que Secretário Geral do Partido Comunista Chinês (CCP, na
sigla em inglês – NT) Li Zhanshu, fará a Moscou, convidado pelo chefe da
Administração Presidencial no Kremlin, Anton Vaino. Pequim ressaltou que as
conversações girarão em torno – sem novidade – da parceria estratégica entre
China e Rússia “como já acordado previamente entre os líderes dos dois países”.
O encontro acontecerá logo depois que o primeiro
Vice Premier chinês Zhang Gaoli, uma das sete personagens mais eminentes do
Politburo chinês e um dos condutores das políticas econômicas chinesas foi recebido em Moscou pelo Presidente Putin. Na ocasião, discutiram investimentos
chineses na Rússia e o ângulo crucial da parceria, a questão energética.
Mas principalmente, estão preparando a próxima
visita de Putin a Pequim, que será particularmente espetacular, no quadro do encontro de cúpula
Um Cinturão, Uma Estrada (One Belt, One Road – OBOR, em inglês – NT) em
14/15 de maio, conduzido por Xi Jinping.
O
Secretariado Geral do PCC – subordinado diretamente a Xi Jinping – mantém esse
tipo de consultas anuais de alto nível com Moscou, e ninguém mais. Não é
necessário acrescentar que Li Zhanshu responde diretamente a Xi tanto quanto
Vaino responde diretamente a Putin. Mais altamente estratégico impossível.
Estes
acontecimentos estão também ligados diretamente ao último episódio ligando Os
Homens (de Trump) Vazios, neste caso, o pomposo/trapalhão Conselheiro para a
Segurança Nacional, Tte General H R McMaster.
Resumidamente, a tirada de McMaster, alegremente regurgitada
pela imprensa corporativa submissa, é que Trump teria desenvolvido uma espécie
de “química especial” com Xi depois que, no encontro Tomahawks-com-bolo-de-chocolate
em Mar-a-Lago, Trump teria conseguido desmanchar o acordo entre China e Rússia
sobre a Síria e isolado a Rússia no Conselho de Segurança da ONU.
McMaster deveria ter dedicado alguns minutos para
ler o Comunicado Conjunto
dos BRICS sobre a Síria para se inteirar que os BRICS estão dando retaguarda à
Rússia.
Não é de se admirar que um observador hindu
experimentado se sentiu compelido a observar que “Trump e McMaster parecem
dois caipiras completamente perdidos na Metrópole”.
Siga o dinheiro
A prova “B” está centrada no avanço discreto nos
acordos entre China e Rússia para substituir o dólar dos Estados Unidos como
moeda de reserva por um sistema lastreado no ouro.
A questão envolve também a participação primordial
do Cazaquistão – muitíssimo interessa em usar ouro como moeda ao longo da OBOR.
O Cazaquistão não poderia estar mais estrategicamente bem posicionado; um ponto
central chave da OBOR; membro crucial da União Econômica Eurasiana; membro da Shanghai
Cooperation Organization (SCO); e não por acaso, o país que funde a maior parte
do ouro russo.
Paralelamente,
a Rússia e a China avançam com seus próprios sistemas de pagamento. Agora que o
Yuan goza do status de moeda global, a China está desenvolvendo o seu próprio
sistema de pagamento, o CIPS, cuidadosamente pensado para não antagonizar
frontalmente o sistema SWIFT, internacionalmente aceito e controlado pelos
Estados Unidos. Por outro lado, a Rússia tem enfatizado a criação de “uma
alternativa” nas palavras da presidente do Banco Central da Rússia, Elvira Nabiulina,
na forma do sistema de pagamento Mir – uma versão russa do Visa/Mastercard. O
que implica que se os Estados Unidos quiser excluir a Rússia do sistema SWIFT,
mesmo temporariamente, pelo menos 90% dos caixas eletrônicos da Rússia serão
capazes de operar pelo sistema Mir.
O sistema de cartões UnionPay já está implantado em
toda a Ásia – entusiasticamente adotado pelo HSBC, entre outros. Combina um
modo “alternativo” de pagamento com um sistema lastreado
em ouro em desenvolvimento. Chamar a reação do Federal Reserve dos EUA de “tóxica”
é dourar a pílula.
E não se
trata apenas de Rússia e China. Estamos falando dos BRICS
O
que o primeiro vice presidente do Banco Central da Rússia Sergey Shvetsov tem
sublinhado é apenas o começo: “os países BRICS são grandes economias com
enormes reservas de ouro e um impressionante volume de produção e consumo do
metal precioso. Na China, o comércio de ouro acontece em Xangai e na Rússia em
Moscou; Nossa ideia é criar um ligação entre as duas cidades para aumentar o
comércio entre os dois mercados.”
A Rússia e a China já estabeleceram sistemas para
fazer o comércio global tangenciar o dólar dos Estados Unidos. O que Washington
conseguiu fazer com o Irã – expulsar seus
bancos do sistema SWIFT – atualmente é impensável contra
Rússia e China.
Assim, estamos a caminho, devagar mas com
segurança, de um sistema BRICS de "mercado para o ouro.” Uma “nova arquitetura
financeira” está sendo construída. A iniciativa implica na futura incapacidade
do FED (norte)americano de exportar inflação para outros países – especialmente
aqueles incluídos nos BRICS, EEU e SCO.
Os homens vazios
Os generais de Trump, liderados pelo “Cachorro
Louco” Mattis, podem tagarelar quanto quiserem sobre a necessidade de dominar o
planeta com seus sofisticados comandos AéreosMarinhosTerrestresEspaciaisCibernéticos.
Ainda assim, não serão suficientes para conter a miríade de alternativas que a
parceria estratégica entre China e Rússia está desenvolvendo.
Então, mais
que nunca, teremos Homens Vazios como o vice presidente Mike Pence, com sua
solenidade prolixa, ameaçando a Coreia do Norte; “o escudo está levantado e a
espada está desembainhada”. Esqueça que isso seria uma fala pomposa e
entediante mesmo em uma refilmagem barata de filmes B de Hollywood; o que temos
é um Pence aspirante a ocupar a Casa Branca ameaçando a Rússia e a China de que
pode acontecer alguma questão nuclear séria bem perto das regiões fronteiriças
entre Estados Unidos e Coreia do Norte.
Não acontecerá. Apresento o grande T. S. Eliot, que
descreveu tudo isso com décadas de antecedência:
“Nós somos os homens vazios / aqueles cheios de
palha / amparando uns aos outros / enfeitados e cobertos de nada. Pobres de
nós! / Nossas vozes áridas / quando sussurramos todos juntos / são quietas e
indefinidas / como o vento na grama seca / ou ratos andando sobre copos
quebrados / em nossa adega, hoje seca.”
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