O fiasco das “conversações
oposicionistas” bancadas pelos sauditas
por Mike
Whitney - http://www.opednews.com/articles/The-Saudi-Hosted-Oppositi-by-Mike-Whitney-Al-Qaeda_Assad_Isis_Jihadists-151211-39.html
tradução por mberublue
Um plano liderado pelos
sauditas para estabelecer uma união política entre os grupos “moderados” da oposição
síria ruiu nesta quarta feira quando uma milícia islâmica poderosa se recusou a
participar do encontro depois que suas reivindicações foram rejeitadas. A Ahrar
al-Sham, um amálgama radical de extremistas wahabistas e fanáticos jihadistas
retiraram-se do conciliábulo anti Assad porque, de acordo com o Washington Post “alguns de seus
comentários e recomendações foram ignorados no encontro”.
Sem nenhuma surpresa, o Post mais uma vez foi falho em explicar exatamente
o que querem dizer os tais “comentários e recomendações”. A razão é muito
simples de entender. A mídia institucional não quer que o povo (norte)americano
saiba que o que a imprensa chama de “milícias moderadas” que seu governo apoia
atualmente são formados por maníacos homicidas que estão determinados a
derrubar um governo secular para colocar em seu lugar um Califado Islâmico. A
seguir algumas das “demandas” desses grupos que não aparecem na mídia
ocidental:
1 Todo o pessoal do exército
russo e iraniano devem deixar a Síria.
2 O Exército Árabe da Síria
(SAA – Syrian Arab Army) deve ser desmantelado, bem como suas unidades
paramilitares.
3 A Síria deverá se tornar um
Estado Islâmico.
4 Não haverá negociação com o Governo
Sírio.
5 Lutar contra o Estado
Islâmico é objetivo secundário porque os rebeldes perderam membros de suas
famílias durante a guerra com o Exército Árabe da Síria.
6 Uma Síria secular só serve
para dar mais poder ao Estado Islâmico
A Ahrar al-Sham pode ser
qualquer coisa, menos moderada. De acordo com o Telegraph, “O grupo foi instituído por jihadistas e incluído originalmente
entre os internacionalmente conhecidos jihadistas com laços fortes e antigos
com a al-Qaeda”. O grupo extremista recebe apoio e financiamento da Arábia
Saudita, a qual por sua vez é um país que se opõe de forma veemente a qualquer
governo democrático, com uma longa historia de apoio a organizações terroristas
e cujos cidadãos eventualmente
condenados por feitiçaria podem vir a ser decapitados. Toda e apenas a ideia de
que tais falsas negociações possam ter acontecido na capital do terrorismo no
planeta é risível.
De acordo com o New York Times: “todas as partes
assinaram uma declaração final que estabelece que se manterá a unidade do
Estado Sírio e construir um governo representativo civil que poderia governar o
país depois de um período de transição que teria início depois da derrubada de
Assad e seus apoiadores”. ("Rebeldes
sírios formam bloco para retomar negociações de paz," New York Times)
Soa bonito, mas o que o Times “esquece” de mencionar é que todas
estas condições já foram inseridas nos acordos prévios de Genebra, pela
insistência de Rússia e Irã. Caso prevaleça a democracia na Síria, será apenas
porque a Rússia e o Irá não aceitariam nada menos que isso.
Mais do New York
Times:
“Nos dois dias do encontro
bancado pelo governo da Arábia Saudita, que terminaram na quinta feira, mais de
100 líderes oposicionistas criaram uma nova alta comissão para supervisionar as
negociações com o governo... a alta comissão consta de 33 membros, um terço dos
quais representando facções armadas. Eles deverão selecionar um time de 15
pessoas que estarão presentes nas negociações que devem começar em janeiro...”
“Mohammed Baerakdar,
representante do Exército do Islã, uma das brigadas armadas, disse que o apoio
estrangeiro não foi suficiente para alcançar a vitória, então eles estavam à busca
de uma solução política.”
“Nós
não pegamos em armas para derramar sangue, mas para evitar isso”. (New York Times)
A verdade é que a tal “alta
comissão” não terá qualquer impacto significativo nas futuras negociações porque
seus líderes não representam os maiores nem os mais poderosos grupos de
lutadores no terreno. Os maiores e mais poderosos grupos são o Exército Árabe
da Síria (SAA), a Jahbat as-Nusra (e outras milícias ligadas à al-Qaeda),
Estado Islâmico e as Unidades de Proteção do Povo Curdo ou YPG. Nenhum desses grupos
participou das conversações sauditas, mesmo levando em conta que seus
representantes terão um papel de destaque para determinar o futuro do país.
Quanto à declaração de Baerakdar
de que “não pegamos em armas para derramar sangue, mas para evitar isso” não
passa de uma deslavada falsidade. Na realidade a maioria dos lutadores em
terreno sírio hoje, são grupos estrangeiros fundados, armados e treinados pela
Arábia Saudita, Turquia e principalmente Estados Unidos. Seu trabalho não passa
de uma ordem para destruir do país em pedaços para derrubar Assad, colocando em
seu lugar um fantoche submisso, dividindo o país da melhor maneira para os
interesses comerciais e estratégicos dos principais perpetradores da tragédia
síria.
A ideia de que veículos de mídia
com a proeminência do New York Times
ou do Washington Post podem levar a
sério um encontro patrocinado pela Arábia Saudita para conversações de paz é
simplesmente incompreensível. Será que alguém precisa ser lembrado de que 15
dos 19 sequestradores de aviões do 9/11 vieram da Arábia Saudita, ou que os
reis sauditas têm fundado e armado organizações terroristas pelos últimos 30
anos, ou que Riad está atualmente apoiando muitos dos militantes sunitas que
hoje executam sua guerra por procuração na Síria?
Os sauditas sempre estiveram
mergulhados até o pescoço no terror; de fato, o terrorismo parece ser uma
espécie de “esporte nacional” da Arábia Saudita, assim como o futebol no Brasil
ou o beisebol nos Estados Unidos. O problema é que – pelo menos desta vez –
parece que suas táticas de terrorismo estão levando um banho de água fria, apanhando
como boi na horta da coalizão liderada pela Rússia, daí eles resolveram aplicar
seu plano B, uma estratégia política para unir a oposição anti Assad e
teoricamente melhorar suas chances de sucesso na nova rodada de negociações em
Viena.
Mas como poderiam ter sucesso
as medidas tomadas pelos sauditas?
A seguir um trecho do Washington Post que coloca tudo preto no
branco:
“Falando em uma conferência de
imprensa na manhã de quinta feira o Ministro de Relações Exteriores da Arábia
Saudita, Adel Al-Jubeir disse que Assad tem duas escolhas: ou sai através de
negociações ou será tirado coercitivamente do poder, pela força”. (Grupos
da oposição na Síria definem quadros para as negociações de paz) Washington Post
Bem, então, na realidade nada
mudou, é ou não é? Todo o fiasco vergonhoso sobre as tais convocações para “conversações”
não passam de cortina de fumaça para ocultar o objetivo real que é a mudança de
regime.
Será que alguém acredita mesmo
que a Rússia e o Irã serão enrolados com essas conversinhas manhosas sobre “negociações
da oposição”?
Não nesta vida. Em nenhuma hipótese
permitirão que esses malucos estrangeiros da Chechênia, da Libia ou da Arábia
Saudita decidam o futuro da Síria. Esse futuro será delineado pelo povo sírio,
exatamente da forma decidida no Comunicado de Genebra sobre todo esse assunto:
Autodeterminação do povo sírio e eleições livres. São essas as pedras de
fundação que são necessárias para refundar o Estado Sírio, mas a refundação do
país não pode ter início enquanto não cessar toda interferência estrangeira,
possibilitando um diálogo honesto entre todos os interessados quanto à melhor
forma de agir para o futuro.
Mike
Whitney
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