Uma tragédia com a
proporção de 19 Fukushimas paira sobre a Ucrânia
por
Dmitry Orlov
http://www.zerohedge.com/news/2015-12-24/ukraines-looming-19-fukushimas-scenario
tradução: NirucewKS063
tradução: NirucewKS063
Com toda a ação (e
atenção) voltada para a Síria, a Ucrânia já não importa tanto para o
ocidente. Já na Rússia, onde a Ucrânia ainda é um grande problema a surgir
no horizonte, e onde cerca de 1,5 milhões de refugiados ucranianos estão
estabelecidos confortavelmente sem qualquer intenção de retornarem ao que resta
da Ucrânia, a situação do país ainda é discutida ardorosamente. Mas para
os Estados Unidos e para a União Europeia, a Ucrânia agora é nada mais que um
grande imbroglio para a política externa e é melhor que seja esquecida num
canto qualquer.
Nesse meio tempo, a Ucrânia entrou em colapso total – todas as cinco gloriosas etapas do desastre – preparando os estágios de um pano de fundo de pesadelo para a Ucrânia para já, antes do Natal, ou pouco depois.
Primeira Fase:
Financeiramente, o governo ucraniano está em default soberano já há
dias. O FMI se viu forçado a ir contra as suas próprias regras para manter
um suporte que é vital ao país, apesar de este ser claramente um mau pagador.
No processo, o FMI prejudicou a Rússia, por sua vez um dos seus principais
acionistas. Nada de bom pode resultar disso.
Segunda fase: A
indústria e o comércio estão à beira da paralisação e o país está se
desindustrializando com rapidez. Antes, a maior parte de seu comércio era
exercida com a Rússia. Agora, isto faz parte do passado. Nada que possa
interessar à União Europeia é produzido na Ucrânia, a não ser, talvez, as
prostitutas. Recentemente a Ucrânia tem estado a vender suas próprias terras, e
isso é ilegal, mas dado que está acontecendo na Ucrânia, a palavra “ilegal”
parece coisa de piada.
Terceira Fase: Falando em termos de política, o governo da Ucrânia não passa de uma farsa total. Grande parte da estrutura governamental foi entregue a vigaristas do estrangeiro, entre eles o antigo presidente da Georgia, Saakashvili, um criminoso com mandado de prisão em seu próprio país, que recentemente o despojou de sua cidadania.
O parlamente está repleto de criminosos que só estão
ali porque compraram a peso de ouro seu assento, que lhes garante imunidade e
onde se distraem vociferando uns contra os outros. Recentemente, o Primeiro
Ministro Yatsenyuk foi retirado do pódio onde discursava agarrado pela virilha.
Muito digno de um político na sua posição. Mas ele não parecia constrangido.
Afinal de contas, onde estão seus “cojones”? Parece que estão em um vaso, o qual
estaria em poder de Victoria Nuland, no Departamento de Estado dos EUA. Este
tipo de coisa é muito divertido de se ver no YouTube, mas em verdade é a triste
realidade de um país: aqueles que estão no poder na Ucrânia (se é que se pode
dizer que estão no poder) só pensam em uma coisa. Roubar o que der, enquanto
dá.
Quarta fase: A
sociedade ucraniana (se ainda existe) está atualmente dividida em um certo
número de facções que se digladiam. De certa forma, isso era inevitável.
Afinal, o que poderia acontecer se pegássemos porções da Polônia, Hungria,
Romênia e Rússia, juntássemos tudo na marra e sacudíssemos? Claro que os
resultados podem ser vários, mas se ao mesmo tempo gastássemos cinco bilhões de
dólares (como fizeram os [norte]americanos) para que isso tudo se virasse
contra a Rússia (ou seja, contra si mesmo dado que grande parte dos ucranianos
são de origem russa) então o resultado seria mesmo catastrófico.
Quinta fase: A
falência cultural está em estágio avançado. Antes, a Ucrânia se ombreava à
Rússia no quesito nível de sistema educacional, mas desde sua independência, o
sistema mudou para o ensino em língua ucraniana (uma espécie de dialeto
inventado) usando para isso livros didáticos inexistentes. Os insanos
nacionalistas ucranianos ensinam às próprias crianças uma história alucinada.
Dizem para as crianças que a Rússia é um país atrasado, que o atraso em que
estão é culpa dos russos e que eles merecem ser felizes na União Europeia
(talvez assim como os gregos? Sei...). Acontece que na atualidade os níveis de
pobreza da Ucrânia são vistos comumente apenas em alguns países africanos e os
jovens ucranianos estão fugindo ou aderindo ao gangsterismo e à prostituição
como forma de sobrevivência. Convenhamos que não é uma narrativa cultural muito
convincente. O que significa ser um ucraniano atualmente? Dispensadas as
interjeições, tenho raiva só de pensar.
Vamos agora ao
significado de tudo isso. Acrescentando incompetência a tudo o que havia de
errado, a Ucrânia não foi capaz de assegurar o suprimento imprescindível de gás
natural ou carvão caso seja preciso atravessar um inverno rigoroso. Apenas
algumas semanas de tempo gelado bastarão para esgotar toda a reserva e depois
disso as tubagens congelarão com a consequência de tornar grande parte das
áreas urbanas inabitáveis (lembra-se que não há mais dinheiro e por falar
nisso, também não há mais indústria para reparar os danos). Parece mau o
suficiente mas ainda não estamos falando do pior.
Você sabe, mais da
metade da eletricidade produzida na Ucrânia é oriunda de centrais nucleares. Há
19 reatores em ação atualmente no país e aparentemente mais dois em construção.
Tudo isso em um país que tem a economia em queda acentuada e rápida e que está
quase se equiparando a Mali ou o Burundi! O combustível nuclear utilizado
nestes reatores todos era fornecido pela Rússia. Foi feito um esforço para
substituir o combustível russo pela Westinghouse, mas a tentativa fracassou por
questões qualitativas que acabaram culminando em um acidente. Não consigo
imaginar o que fará uma Ucrânia com a economia em ruínas, dívida soberana com a
Rússia de bilhões de dólares, quando chegar a hora de reabastecer o combustível
daqueles 19 reatores? Taí uma boa pergunta...
Mas há perguntas
ainda melhores: chegarão tão longe quanto o ponto de esgotamento [dos
reatores]? Você sabe, devido à escassez do dinheiro no país, a manutenção
obrigatória dessas instalações nucleares tem sido precária. Provavelmente você
já sabe disso, mas para dirimir qualquer dúvida, vou falar claramente: não se
pode esperar que um reator nuclear estrague e depois chamar um mecânico para
consertar. Não funciona assim. Não dá para simplesmente chegar e dizer “não
está estragado, logo não precisa fazer nada”. Parece mais com: se você esqueceu
uma etapa, não posso seguir até a próxima”. A única maneira de impedir que dê
defeito é substituir religiosamente todas aquelas peças listadas no programa
prévio de substituição. Sem atraso. Ou isso, ou então... BUM! E os cabelos da
população começarão a cair.
A que distância se
encontra a Ucrânia de um acidente nuclear? Bem, parece que está bem próxima, na
verdade: há pouco tempo um acidente grave foi evitado quando os nazistas
ucranianos explodiram as linhas de transportes de eletricidade para a Crimeia
causando um blackout que durou vários dias. Os russos foram obrigados a
rapidamente estender linhas elétricas de seu território continental para a Crimeia,
restabelecendo o fornecimento de energia. Ocorre que o problema não se
restringiu à Crimeia. O Sul da Ucrânia, que tem quatro blocos de energia também
ficou sem eletricidade e se não fossem as rápidas ações dos peritos, que
trabalharam em equipe, um acidente nuclear teria acontecido.
Espero que você já
tenha conhecimento disso, mas não custa repetir: uma das piores coisas que
poderiam acontecer a um reator nuclear é a perda de seu suprimento de energia
elétrica. Sim, é claro que centrais nucleares produzem energia – uma parte do
tempo. Mas precisam de energia elétrica o tempo todo para evitar uma fusão do núcleo
(em inglês, meltdown). Foi exatamente o que aconteceu em Fukushima Daiichi, que
contaminou o terreno até Tóquio com radionucleídios e continua até hoje vazando
para o Oceano Pacífico o seu combustível radioativo.
Dessa forma,
desenha-se o singelo cenário de pesadelo total para a Ucrânia. Durante pelo menos
duas semanas a temperatura cai abaixo do ponto de congelamento; o abastecimento
de gás e/ou carvão acaba; consequentemente, fecham as centrais termoelétricas;
as redes elétricas entram em colapso; as bombas de circulação dos 19 reatores
nucleares (que, a propósito, provavelmente não passam por uma revisão completa
periódica como deveriam) param de funcionar è
meltdown (fusão do núcleo)!
Assim, se você
estiver a fim de rezar uma oração pela Ucrânia neste período de festas de fim
de ano, não perca seu tempo. Ela já está devidamente ferrada. Mas você ainda
pode rezar para que este inverno seja quente. Muito, realmente quente, então
talvez o cenário das “19 Fukushimas” possa ser evitado. Impossível não é, na
medida que temos visto invernos bem quentes e a cada ano parece que um novo
recorde se estabelece. O futuro do planeta parece estar esquentado –
consequentemente, para o assunto que estamos abordando, isso é bom. Mas vamos
rezar também para que não esquente tanto assim – radioativamente.
Dmitry Orlov
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