por Mike Whitney, tradução de btpsilveira
Fevereiro
de 2017 "Information
Clearing House"
- "Counterpunch" – Atualmente, o jornal The New York Times está tentando cumprir
atarefadamente com um de seus projetos mais ambiciosos: remover um presidente
eleito e em exercício. O colunista do Times,
Nicolas Kristof chegou a dizer isso claramente em um artigo recente
intitulado “Como podemos nos livrar de Trump”.
Para
ser franco, a ideia me agrada, principalmente porque penso que a visão de Trump
sobre imigração, meio ambiente, direitos humanos, liberdades civis e desregulamentação
são totalmente deploráveis e podem destruir o país. Mas as razões pelas quais o
New York Times se posiciona contra
Trump são diferentes das minhas. A razão do jornal para a remoção de Trump é
sua vontade de normalizar as relações com a Rússia, que ameaça prejudicar os
esforços de Washington para projetar profundamente o poderio dos Estados Unidos
na Ásia Central.
A
decisão de Trump de normalizar as relações com Moscou representa uma ameaça
direta para a estratégia imperial mais abrangente de Washington para controlar
o crescimento da China, derrubar Putin, espalhar bases militares através da
Ásia Central, implementar acordos comerciais que mantenham o papel dominante
das imensas companhias multinacionais ocidentais e arruinar os esforços russos
e chineses de ligar a rica União Europeia à Ásia, através da expansão de
corredores de oleogasodutos e linhas ferroviárias de alta velocidade que
aproximarão os continentes, criando a maior e mais populosa zona de livre
comércio que o mundo jamais viu.
Falando
resumidamente, é isso que o establishment da política externa dos EUA e por
inclusão o New York Times estão
tentando evitar a qualquer custo. A integração econômica da Ásia/Europa deve
ser bloqueada para preservar o controle hegemônico de Washington sobre o poder
mundial.
Não se
deixe enganar, o Times está pouco se
lixando para o sofrimento das famílias de imigrantes que foram vítimas das
políticas extremistas de Trump, da mesma forma com que pouco se importam com os
três milhões de refugiados que fugiram das guerras dos Estados Unidos na Líbia
e na Síria. O fato de que o jornal continua a descaracterizar esse enorme êxodo
humano como alguma espécie de desastre natural em vez da previsível
consequência da persistente agressão dos Estados Unidos só confirma o fato de
que o New York Times absolutamente
não é uma fonte confiável de narrativa imparcial. É uma publicação política,
que constrói uma narrativa política que reflete a visão da elite politiqueira,
cujos objetivos estratégicos não podem ser atingidos sem ainda mais lavagem
cerebral, mais coerção e mais guerra.
Vamos
para um pouco e pensar sobre o artigo do Times
que disparou todo esse espalhafato contra a alegada conexão de Trump com a
inteligência russa. É esse artigo que está nas mãos de vários membros do Congresso
e da imprensa como uma prova irrefutável do conluio entre Trump e Moscou. Vejam
um excerto desse artigo:
“Registros telefônicos e conversas
interceptadas mostram que membros da campanha presidencial de 2016 de Trump e
outros comparsas tiveram contatos repetidos com funcionários de alta patente da
inteligência russa no ano que antecedeu as eleições, de acordo com quatro
atuais e antigos funcionários (norte)americanos.”
“Autoridades legais (norte)americanas e agências
de nossa inteligência interceptaram as comunicações ao mesmo tempo em que
descobriram evidências de que a Rússia
estavam tentando prejudicar a eleição, através de ataques cibernéticos contra o
Comitê Nacional do Partido Democrata, afirmaram três dos funcionários. As
agências de inteligência passaram então a tentar descobrir se a campanha de
Trump estava em conluio com os russos nos ataques de hacking ou outros esforços
para influenciar os resultados da eleição.” (“Auxiliares da campanha de Trump tiveram
repetidos contatos com a inteligência russa” – New York Times)
Não há
razão para seguir adiante no artigo, pois no seu todo ele segue um padrão
pensado para criar a impressão de que a equipe de campanha de Trump estava
junto com os russos para torpedear a campanha de Hillary. Infelizmente o Times não apresenta qualquer evidência
sólida de que “registros telefônicos e conversações interceptadas (que) são
parte de um enorme acervo de informação sobre o assunto do FBI” existe mesmo.
Nem conseguem provar que alguém da equipe de campanha de Trump jamais se
comunicou com pessoas na Rússia (claro, com a exceção de Flynn), quanto mais
para prejudicar fosse como fosse a eleição presidencial. Tudo não passa de uma
cortina de informação 100% não confirmada.
E daí,
o que está realmente acontecendo? Por que o Times
publica um artigo alegando crimes que podem causar um impeachment – e que
aumentou os ataques contra Trump por parte de seus inimigos na imprensa, no
Congresso e nas capitais estrangeiras – sem fornecer qualquer evidência de que
o que publicou é verdade? Nenhum dos agentes da inteligência citados no artigo
veio a público ou se identificou (como seria de se esperar caso as acusações
fossem sérias) e, como admite o próprio Times,
“O FBI se absteve de comentar”.
Eles
não têm coisa nenhuma, é ou não é?
Só se
pode concluir que a intenção verdadeira do artigo foi criar uma suspeita tão forte
quanto possível – para prejudicar Trump ao máximo – sem na realidade dizer
muito sobre qualquer coisa, isto é, criar a impressão de que foi cometido um
delito, sem providenciar provas desse delito. Quanto a isso, o Times certamente teve sucesso. Trata-se
de uma campanha difamatória impressionante.
(Aliás, em uma entrevista na manhã de
domingo para a Fox News, o Chefe de
Gabinete da Casa Branca, Reince Priebus afirmou que funcionários da Inteligência
de alto nível lhe disseram que não houve colusão entre o pessoal de Trump e a
Rússia. Priebus disse que “pessoal de alto nível, na comunidade de inteligência
lhe disse que a história do New York
Times não passa de lixo. E para ser franco, eles usaram palavras bem mais
fortes que essas”. Previsivelmente, o entrevistador da Fox News, Chris Wallace, pediu que Priebus revelasse suas fontes, pedido
que o mesmo Wallace nunca fez para o Times)
Mais
da “peça jornalística” do Times:
“As conversas interceptadas são diferentes
daquelas conversações gravadas no último ano entre Michael T. Flynn, antigo
Conselheiro para a Segurança Nacional de Trump e Sergey I. Kislyak, embaixador
russo para os Estados Unidos. Naquelas conversas, que levaram à renúncia de
Flynn na noite de segunda feira, os dois homens discutiram as sanções que a
administração Obama impôs contra a Rússia em dezembro.”
Mais
desinformação. Até agora, tudo o que sabemos sobre as conversas de Flynn, foi
que ele disse que a administração Trump poderia “rever” as sanções recém
impostas, depois que Trump prestasse seu juramento como presidente. Não há
qualquer evidência de que Flynn tenha feito algo ilegal ou em violação à Lei
Logan (lei dos EUA que criminalizam o
cidadão (norte)americano que entrar em contato com governos estrangeiros em
prejuízo dos Estados Unidos, ou que negocie em nome dos EUA sem autorização
legal – NT). Nada. A imprensa tem usado o incidente para sugerir que houve
atividades ilícitas no episódio, quando, de fato, não há qualquer evidência de
crime. Até onde sabemos, Flynn estava apenas fazendo seu trabalho.
Ainda
mais interessante é o fato de que Obama decidiu impor novas sanções contra a
Rússia em dezembro último (depois que Trump já tinha sido eleito), sabendo que
Trump provavelmente não apoiaria as sanções.
Isso
não parece estranho? Por que Obama faria algo tão desrespeitoso na undécima
hora, a menos que tivesse alguma carta na manga? Será que Obama estava
preparando uma armadilha para apanhar o homem que ele sabia que estaria por
trás de qualquer esforço para melhorar as relações com a Rússia? (Flynn)
Sei
lá, mas os fatos são bem suspeitos. Primeiro, Obama impõe as sanções em
dezembro passado, sabendo que Trump deveria se opor a elas.
Segundo,
Obama sabia que a Rússia gostaria de discutir o assunto das sanções com Flynn,
certo?
Certo.
Assim, Obama armou uma armadilha para apanhar Flynn?
Talvez “sim”, talvez “não”. Difícil dizer.
Mas o que sabemos é que 17
antes de Obama deixar o gabinete, ele lançou uma ordem executiva expandindo os
poderes da NSA “para partilhar comunicações pessoais globalmente interceptadas
com as outras 16 agências de inteligência do governo antes de aplicar as
proteções de privacidade”. (NYT)
Por
que isso é importante?
Porque
Flynn já tinha tido sua conversa com o embaixador russo, assim, se a agência de
inteligência que recolheu ilegalmente a informação quisesse escapar de um
processo, a melhor maneira seria espalhar a informação entre as outras agências,
tornando impossível apontar qual agência era a responsável. Falando de maneira
mais simples: estavam apagando preventivamente as digitais sangrentas da arma
do crime.
Veja,
de Zero Hedge: “De acordo com o especialista em direitos civis e proeminente
advogado sobre questões da Primeira Emenda na Corte Suprema (o STF lá deles – NT) Jay Sekulow, o que
as agências de inteligência dos EUA estão fazendo ao vazar as informações sobre
a administração Trump não só é ilegal, mas “está bem próximo de um golpe branco”,
golpes esses que foram tornados muito fáceis pela regra de última hora de
Obama, a qual facilita intencionalmente a propagação de vazamentos e torna quase
impossível apanhar os responsáveis por eles.
Aqui
está sua explicação:
“Houve
uma mudança enorme nas regras da NSA, na medida em que uma ordem da presidência
Obama, expedida apenas 17 dias antes que ele deixasse o gabinete permite que a
NSA, que costumava controlar esses dados, possa gora partilhá-los com outras 16
agências, o que vai apenas piorar essa situação caótica, que foi colocada em
prática no apagar das luzes da administração Obama, ao deixar o gabinete.
Se
isso era algo assim tão importante, por que a administração Obama esperou até
que tivesse apenas mais 17 dias na administração para colocar a ordem em vigor?
Eles tiveram oito anos e não fizeram isso, primeiro. Segundo, isso muda uma
regra, agora extinta, que também era uma ordem executiva e que datava da
administração Ronald Reagan, em vigor até 17 dias do final da administração
Obama e que implicava que só a NSA de posse dos dados originais, poderia
determinar que sejam disseminados.
Em vez
disso, essa mudança determinada por Obama, aliás, assinada por James Clapper em
15 de dezembro de 2016 e por Loretta Lynch, Procuradora Geral, em 03 de janeiro
de 2017, decide que agora 16 agências poderão compartilhar todos os dados
originais, o que na prática é quase a criação de um governo oculto. Hoje, você
tem todo esse povo que não concorda com as posições do Presidente Trump
espalhando cada vez mais vazamentos.
Caso
tivessem uma justificativa para isso, tudo bem, beleza. Mas por que não o fizeram
há 08, 04 ou 03 anos atrás, em vez de esperar faltar apenas 17 dias para o
final da administração Obama?
Outra
pergunta potencial: Eles sabiam muito bem que tinham em mãos uma “bala de prata”
e estavam trabalhando para tornar mais fácil que a informação fosse “vazada”,
apesar das claras consequências criminais desses vazamentos”. (“Jay Sekulow: Obama
Should Be “Held Accountable” For The “Soft Coup” Against Trump“, Zero
Hedge)
O
panorama é de uma mudança em uma história que é bem maior, e que eu não posso
verificar de forma independente. Entretanto, o que realmente preocupa é que
parece estar emergindo uma espécie de aliança entre os Democratas, a pauta
dirigida da mídia, as agências dominadas pelo estado profundo, o todo poderoso
establishment da política externa e os progressistas que estão desesperados
para expulsar Trump custe o que custar, por bem ou por mal. Gleen Greenwald
coloca isso de forma magistral em um artigo recente no Intercept. Ele diz:
“Sou obrigado a considerar a administração
Trump extremamente perigosa... Eles querem esculhambar com o meio ambiente. Querem
eliminar a internet livre. Querem
empoderar bilionários. Querem promulgar normas intolerantes contra muçulmanos,
imigrantes e outras minorias. É importante resistir a tudo isso... (Mas) se
você é alguém que acredita que a CIA e o estado profundo, por um lado, e a
presidência Trump, por outro, são extremamente perigosos, e são, pense que há
uma enorme diferença entre os dois lados, que é a seguinte: Trump foi eleito democraticamente
e está sujeito a controles democráticos... por outro lado, a CIA não foi eleita
por ninguém. Os meios de controlar a CIA são escassos e tênues. Assim, forçar
para que a CIA e outros membros da comunidade de inteligência obtenham poder
suficiente para prejudicar ou eliminar a parte eleita do governo é uma loucura.
É a receita perfeita para destruir a democracia da noite para o dia, em nome de
sua salvação”. (“Greenwald: Empowering
the “Deep State” to Undermine Trump is Prescription for Destroying Democracy“,
Democracy Now)
Em
outras palavras, se você dormir entre os cães, acordará cheio de pulgas. A
esquerda deve evitar a tentação de se alinhar com esses grupos e agências que
podem ajudá-la a obter seu objetivo de curto prazo, que é o apear Trump do
poder, mas em última análise fará com que o país se torne um “Estado Policial
Estilo 1984”. Apoio equivocado para os russófobos do estado profundo só farão
om estrangulamento do poder pelo “Estado de Segurança Nacional”. Isso não é o
caminho para a vitória e sim para a aniquilação.
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