por Eric Zuesse, com tradução de btpsilveira
Desde quando Donald Trump venceu a corrida presidencial, a aristocracia
dos Estados Unidos (que controla ou é possuidora de todas as corporações
internacionais baseadas nos EUA, especialmente as empresas fabricantes de
armamento como a Lockheed Martins, cujo volume de vendas depende do gasto
sempre crescente das nações com “defesa” – e que necessita de uma restauração
da “Guerra Fria”) estão tentando abortar sua presidência, seja lá como for e a
qualquer custo. Acima de tudo, estão tentando retratar Trump como sendo um
agente secreto russo, um traidor.
Em 14 de fevereiro eles conseguiram uma vitória clara sobre Trump,
derrotando-o totalmente ao atingir um objetivo crucial (não foi uma vitória
parcial como antes, quando conseguiram que ele abolisse regulamentação
ambiental e outras normas que diminuíam seus lucros). Bem. Isso ocorreu porque
Trump é um covardão ou porque é um completo imbecil? Como foi tão rapidamente
derrotado? Neste momento, isso pode ser determinado apenas examinando de perto
a maneira pela qual ele capitulou.
Assim, os eventos de 14 de fevereiro serão esmiuçados aqui, em detalhe:
Trump deixou absolutamente claro em 14 de fevereiro
que a nova Guerra Fria entre Rússia e Estados Unidos continuará até que a
Rússia cumpra duas condições que não só seriam humilhantes para a Rússia (e
para a grande maioria de seus cidadãos), como podem ser consideradas também
profundamente imorais. Na realidade, uma dessas situações é simplesmente
impossível, embora sendo, também, imoral. Para Vladimir Putin, concordar com qualquer dessas duas
imposições, não apenas estaria violando seus próprios pontos de vista,
abundantemente expressos, mas também poderia fazer com a vasta maioria do povo
russo passasse a desprezá-lo – porque eles o respeitam, entre outras coisas,
pela firmeza com que defende seus pontos de vista. Nessas coisas, ele jamais
piscou. O apoio dos russos a estes conceitos é virtualmente universal (este
artigo explica quais são essas perspectivas).
A PRIMEIRA EXIGÊNCIA DE TRUMP: “Crimeia de volta”
Para entender a perspectiva russa sobre o primeiro desses assuntos (que
os (norte)Americanos precisam compreender se quiserem entender a monumental
estupidez da posição de Trump sobre esse assunto), que é a questão da Crimeia
(a qual por centenas de anos fez parte da Rússia, e que 1954 foi súbita e
arbitrariamente incorporada à Ucrânia pelo ditador soviético – e que os Estados
Unidos agora exigem que seja devolvida),
dois vídeos devem ser vistos por todos, e aqui estão eles (em inglês – NT):
O primeiro vídeo (clique aqui para ver) (todos devem
assistir pelo menos até os doze primeiros minutos para continuar a ler, porque
o vídeo é crucial) mostra o golpe engendrado pelos Estados Unidos para derrubar
com emprego de violência o presidente da Ucrânia, eleito democraticamente,
usando a cobertura de uma “revolução democrática” que de democracia nada tinha,
e cuja planificação já estava sendo realizada no
Departamento de Estado dos EUA desde 2011 e começou a ser organizada fora da
embaixada dos Estados Unidos na Ucrânia em 01 de março de 2013. O presidente da
firma Stratfor “CIA privativa” estava certo ao afirmar que se tratava do “golpe mais escancarado da história”.
O segundo vídeo (clique aqui para
ver) mostra o massacre de crimeus que tentavam fugir de Kiev durante o golpe
ucraniano, em 20 de fevereiro de 2014, no massacre que ficou conhecido
rapidamente na Crimeia como “o Pogrom de Korsun”. Korsun era a cidade onde os
fascistas que Obama tinha contratado conseguiram prender e matar muitos
crimeus. Foi este incidente – ocorrido durante
o golpe na Ucrânia que disparou o
medo dos crimeus ao ver o ódio raivoso que o regime instalado pelos
(norte)americanos em Kiev lhes devotava
Enfim, sobre a Crimeia, todas as pesquisas conduzidas por
institutos ocidentais tomadas junto aos crimeus, antes de depois do plebiscito
de 16 de março de 2014 (realizadas algumas semanas
depois que Obama derrubou o presidente ucraniano que tinha recebido 7% dos votos dos
crimeus) mostrou apoio de mais de 90% deles a voltar a
fazer parte da Rússia. Todos concordaram que havia bem mais que 50% de apoio a essa opção entre a população da
península. Além disso, mesmo Barack Obama aceita o princípio universal básico
do direito dos povos à autodeterminação, e é capaz de sentir isso quando o caso
de aplica à Catalunha na Espanha ou à Escócia, no Reino Unido, mas se recusa a
aceitar o mesmo princípio quando aplicado à Crimeia – especialmente sob as
atuais circunstâncias.
Dessa forma, em relação a essa primeira questão, Trump quer que Putin
force os cidadãos da Crimeia a se tornarem sujeitos de um regime golpista
instalado por Obama na Ucrânia. Isso não vai acontecer – e nem pode mesmo
acontecer. Obama instituiu sanções contra a Rússia com base no que ele chama de
“invasão de território” (referindo-se à Crimeia), mas os russos veem as coisas
sob um prisma diferente. Eles percebem que a Rússia defendeu com firmeza tanto
o território e a população que há escassos 60 anos faz parte da Ucrânia e que
cultural e historicamente pertenceu sempre à Rússia, e também o princípio de
autodeterminação dos povos – em especial nesse caso, quando a terra que sempre
foi parte do país a não ser nos últimos 60 anos, tinha sido conquistada três
semanas antes, através de um golpe de estado sangrento, aplicado por uma
potência estrangeira, que, além do mais, era um poder alienígena que os crimeus
detestam.
Putin não aceitará esta exigência de Trump. E faz muito bem.
EXIGÊNCIA Nº DOIS: QUE A RÚSSIA ACABE COM A GUERRA UCRÂNIA X DONBASS
Essa exigência foi apresentada em 14 de fevereiro da seguinte forma: a Rússia
deveria “desescalar a violência na Ucrânia”, referindo-se à invasão que a
Ucrânia promoveu contra seu próprio território na região do Donbass, a qual
rompeu com o regime ucraniano instalado por Obama, logo depois que a Crimeia
fizera o mesmo. Porém Putin (depois de ter sofrido sanções, demonização, etc –
não permitiu que o Donbass também se juntasse à Federação Russa). Em vez disso,
apenas lhes ofereceu ajuda humanitária e militar para que se protegessem de
moto próprio, de maneira que nem todos os cinco milhões de habitantes da região
fugissem para a Rússia através da fronteira.
90% da população do Donbass votou pelo presidente ucraniano que Obama
substituiu ilegalmente com seu golpe.
François Hollande, Angela Merkel e Vladimir Putin, depois de intensas
negociações, conseguiram estabelecer acordos para dar um fim à pior fase da
guerra (causada por Obama) entre Ucrânia e Donbass; parte fundamental do acordo
Minsk-2 era que a Ucrânia deveria permitir aos residentes no Donbass um certo
grau mínimo de autonomia frente à Ucrânia, como parte de uma Federação
Ucraniana, mas o parlamento ucraniano (Rada) se recusa a permitir isso, e os
Estados Unidos e seus aliados culpam os residentes no Donbass por esta recusa,
e acusam os moradores pela guerra continuada, ou, como o secretário de imprensa
de Trump colocou em 14 de fevereiro, “violência na Ucrânia”. Querem que o
Donbass parem a guerra, quando este é que sofre constantes ataques da Ucrânia,
governada por um regime que se recusa a implementar um dispositivo fundamental
para o acordo de paz costurado por Hollande, Merkel e Putin, assinado tanto
pelo Donbass quanto pela Ucrânia. (Nota: nem mesmo Hollande e Merkel foram
capazes de fazer o ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Obama participar desses
esforços pela paz na Ucrânia).
Uma exigência como essa – a vítima é quem tem que parar de lutar – é impossível
de cumprir. É como se, na Segunda Guerra Mundial, se culpasse os Estados
Unidos, União Soviética e Reino Unido pela guerra contra a Alemanha, Itália e
Japão. É uma exigência absurda, patética, que requer pessoas patéticas para
formulá-las e levar a sério suas premissas.
Esta foi a maneira pela qual Sean Spicer, porta voz do presidente Trump
expôs suas exigências na conferência de Imprensa em 14 de fevereiro:
O presidente Trump
deixou bem claro suas expectativas de que o governo russo promova a desescalada
da violência na Ucrânia e devolva a Crimeia. Ao mesmo tempo, espera que possamos
conviver harmoniosamente com a Rússia.
Para algumas pessoas, tudo isso parece um monte de besteiras. De
qualquer forma, não faz o menor sentido; é completamente impossível. Parece que
não queremos a paz com a Rússia; em vez disso, estamos reafirmando a guerra.
Com evidente orgulho, Spicer disse: “O presidente tem sido muito duro
com a Rússia”.
Um repórter presente na conferência de imprensa desafiou a declaração: “para
mim, e penso que para muitos outros (norte)americanos, parece que o presidente não tem sido duro com a Rússia”. Spicer
respondeu referindo-se às declarações da nova representante dos Estados Unidos
para a ONU, Nikki Haley: Ela fez a seguinte declaração na ONU em
02 de fevereiro:
Preciso condenar as ações agressivas da Rússia... os Estados Unidos
estão ao lado do povo da Ucrânia, que tem sofrido por cerca de três anos sob a
ocupação russa e intervenção militar. Até que a Rússia e os separatistas aos
quais dá apoio respeitem a soberania e a integridade territorial da Ucrânia,
esta crise deve continuar... Os Estados Unidos continuam a condenar e pedir
pelo fim imediato da ocupação russa na Crimeia. A Crimeia é parte da Ucrânia.
As nossas sanções relacionadas com a situação da Crimeia serão mantidas até que
a Rússia faça retornar o controle da península para as mãos da Ucrânia.
Assim Spicer disse que,
No que diz respeito à Rússia, penso que os comentários da embaixadora
Haley na ONU foram bem enérgicos e deixaram bem claro que (...)
(novo Questionamento) – Esta declaração foi feita por Haley e não pelo presidente.
SPICER: Ela falou
pelo presidente, assim como eu falo agora pelo presidente. Todos nós nesta
administração agimos assim. Assim, todas as ações e pronunciamentos desta
administração estão sendo feitos em respaldo e com respaldo do presidente. Por
consequência, penso que não se poderia ser mais claro quanto ao comprometimento
do presidente.
Então Trump continuará a guerra de Obama contra a Rússia, embora não
seja isso que ele prometeu aos eleitores americanos, que não esperavam esse
tipo de coisa. Alguns eleitores (este escritor entre eles) votou nele porque
Trump alegava discordar frontalmente com sua oponente Hillary Clinton a
respeito desse assunto – ele mentiu vergonhosamente para seus eleitores, no
assunto mais importante. Aplicou coerção mental – trapaceou – para vencer. Mas
como fica cada vez mais claro, ele na realidade não se opõe ao golpe aplicado
por Obama na Ucrânia. Talvez ele seja apenas tão estúpido que nem está
consciente de que houve um golpe, em vez de uma “revolução democrática” (a
história para cobertura). Talvez ele esteja em tal nível de estupidez que chega
a acreditar nas mentiras de Obama.
Hillary Clinton pelo menos era honesta o suficiente para tornar claro
que continuaria as políticas de Obama (só que ainda pior). Mas ela é tão
imbecil que sequer conseguiu derrotar Donald Trump.
De qualquer forma, agora tudo isso é leite derramado.
No início, parecia que Trump satisfaria a aristocracia dos Estados
Unidos (donos do complexo industrial/militar, entre outras coisas) que precisam
de um orçamento cada vez mais inchado apenas se voltando contra o Irã;
mas agora parece que o Irã vai
desempenhar apenas o papel de segundo violino.
A menos que o presidente Trump reveja seu curso e declare publicamente,
entregando ao povo (norte)americano e ao mundo uma evidência clara da perfídia
de seu predecessor, tanto na Ucrânia quanto na Síria, a guerra contra a Rússia
só pode escalar cada vez mais. A menos e até que ele torne claro e admita que o
problema entre os Estados Unidos e a Rússia não é Putin e sim Obama, as coisas
irão de mal a pior, direto para a Terceira Guerra Mundial; explico porque:
Quando tudo isso escalar para uma Guerra quente convencional, seja na
Ucrânia seja na Síria, o lado que estiver perdendo essa guerra convencional
terá apenas uma maneira de evitar a derrota: um súbito e inesperado ataque
nuclear total e rápido contra o outro lado. Uma guerra nuclear durará menos de
30 minutos. O lado que atacar primeiro talvez sofra um pouco menos danos que o
atacante, porque terá atingido algumas instalações nucleares do inimigo e
impedido alguns ataques retaliatórios. Se Donald Trump fosse inteligente,
poderíamos supor que ele sabe disso. Como ele é burro, não sabe. Assim, caminha
impávido em direção à aniquilação mútua. Talvez ele pense, como Hillary
Clinton, que os Estados Unidos têm “primazia nuclear” e pode vencer.
Tudo isso é de uma estupidez atroz. Mas pior que isso, é o mal. Não
estou aqui falçando sobre a Rússia ou Putin. O problema verdadeiro neste
assunto de importância vital de evitar uma guerra e um inverno nuclear – é meu
próprio país: os Estados Unidos da América. Chamar isto aqui de ‘democracia’ não é uma mentira;
é uma piada sem graça. O público
(norte)americano não é culpado por esse mal. A aristocracia deste país é. É uma
oligarquia que enlouqueceu.
Trump nunca foi uma pessoa de princípios. Nunca resistiu a si mesmo, de
qualquer forma. Entregou os pontos depois de apenas três semanas de trabalho.
Fica claro então que ele não é apenas um psicopata; ele é uma besta.
Trump prometeu “drenar o pântano”. Em vez disso, está alimentando os
crocodilos.
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