Finian Cunningham, tradução de btpsilveira
As conexões entre um grupo exilado que é contra o Irã com os principais
membros da administração Trump pode explicar porque o presidente dos Estados
Unidos está adotando uma linha muito hostil com relação à República Islâmica,
declarando-a como “o maior patrocinador do terrorismo” e disparando novas
sanções contra Teerã.
O Conselheiro Nacional para a Segurança de Trump, Michael Flynn fez uma
declaração inusitada na semana passada, afirmando, provocativamente, que “o Irã está avisado” quanto
a futuras ações que não especificou, entre elas, as militares, referindo-se aos
recentes testes com mísseis balísticos. Trump em pessoa reforçou a tese,
menosprezando o Irã por estar alegadamente desestabilizando o Oriente Médio.
Isso leva à suspeita de que um grupo dissidente iraniano com ligações
suspeitas com a inteligência de Israel e Arábia Saudita pode ter sussurrado
algumas coisinhas no ouvido do presidente para influenciar suas políticas.
A recém nomeada Secretária de Transportes de Trump, Eliane Chao e pelo
menos um dos principais assessores do presidente, antigo prefeito de Nova
Iorque Rudi Giuliani foram convidados pelo grupo
dissidente iraniano Mujahedin-eKhalk (MEK) como palestrantes convidados em
comícios promovidos pela organização.
Outras grandes figuras políticas que fazem parte do círculo mais próximo
do presidente e que também são associados ao MEK incluem o luminar do Partido
Republicano, Newt Gingrich, o antigo diretor da CIA James Woolsey e o antigo
embaixador dos EUA para as Nações Unidas, John Bolton.
Originalmente o MEK era uma insurgência armada contra a ditadura do Xá
apoiado pelos Estados Unidos durante os anos 60. Mais tarde, caiu em desgraça
com o governo islâmico clerical que governo o Irã desde 1979. As autoridades
iranianas designaram o MEK como um grupo terrorista apoiado pelo estrangeiro. Calcula-se que tenha levado a efeito cerca de 17.000
assassinatos contra cidadãos iranianos nas tentativas de desestabilizar a
República Islâmica. O homicídio dos cientistas nucleares iranianos nos anos
recentes têm sido ligados às operações do MEK, orquestrado pela inteligência de
(norte)americanos e israelenses. O estadista republicano Newt Gingrich, atualmente
conselheiro de Trump para Política Externa, tem um pronunciamento que se tornou
famoso, pedindo por mais assassinatos.
Já complicado o suficiente, considerando que as conexões do grupo com
figuras centrais em Washington, o MEK foi também responsável pela morte de ao
menos seis soldados (norte)americanos e subcontratados pelos militares dos EUA
durante os anos 70, quando se opunha ao Xá apoiado pelos Estados Unidos. o MEK
declara que desde então renunciou oficialmente ao uso da violência armada, desde
2001, e culpa um grupo dissidente pelos assassinatos de (norte)americanos. Foi
tirado da lista de organizações terroristas em 2012 – movimento recomendado
pelo think tank Brookings, baseado em Washington, o qual na época afirmou que o
grupo poderia ser usado como ferramenta para a “troca de regime por procuração
no Irã”.
De acordo com uma reportagem da Associated Press desta semana, a
Secretária Eliane Chao recebeu $50.000 dólares por um discurso de cinco minutos
que proferiu em 2015 em um comício em Paris, França, o qual foi organizado pelo
braço político do MEK. Rudi Guiliani também estava presente no mesmo
acontecimento, onde falou veementemente pedindo a mudança de regime no Irã.
Chao, que é casada com o Senador Republicano Mitch McConnel, ainda
recebeu um numerário adicional de $17.500 dólares por um discurso feito em
março de 2016, em outro comício, desta vez nos Estados Unidos, organizado por
grupos iranianos dissidentes ligados ao MEK.
Trump chegou a pensar em Giuliani para o posto de Secretário de Estado,
antes que o principal posto na diplomacia dos EUA fosse finalmente entregue
para Rex Tillerson, antigo presidente executivo da Exxon Mobil. No mês passado,
Giuliani e outros antigas autoridades (norte)americanas escreveram uma carta
para Trump, pedindo que a nova administração “estabeleça um diálogo” com o
braço político do MEK, relata a AP.
Esse fundo de lobby pode explicar porque a administração Trump está
repentinamente tomando rumos hostis contra o Irã.
Conforme algumas reportagens na imprensa dos
Estados Unidos, um dos motivos pode ter sido que a administração Trump está de
fato tentando perturbar uma aliança entre Rússia, China e Irã. Até agora, parece
que o gambito não ganhou tração. Tanto Rússia quanto China denunciaram as novas sanções impostas
unilateralmente pelos EUA contra o Irã como contraproducentes para as relações
internacionais.
Além disso, Moscou rejeitou igualmente as alegações dos Estados Unidos
de que o Irã seria um Estado apoiador do terrorismo. O Ministro de Relações
Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov disse que o Irã, ao contrário, foi um
parceiro crucial na derrota do Estado Islâmico na Síria e no Iraque.
Acrescente-se que a Rússia defendeu nesta semana, o
direito soberano do Irã de desenvolver tecnologia militar defensiva e que o
país não estava violando o acordo nuclear P5+1 de 2015 ao fazer testes balísticos
no último mês. Nem teria desrespeitado as recomendações do Conselho de
Segurança da ONU, disse Moscou, porque os mísseis em questão eram convencionais
por natureza e não destinados a transportar armas nucleares. Por isso,
consequentemente, o pretexto para o cerco hostil de Trump contra o Irã não faz
sentido.
De relevância para os cálculos de Trump é a contribuição de Israel e
Arábia Saudita – ambos países raivosos em suas acusações de que o Irã é uma
influência maligna na região. Trump deve se encontrar com o Ministro israelense
Benjamin Netanyahu quando este voar até Washington no final deste mês. A dupla
já teve conversações por telefone nas quais se relata que discutiram a necessidade
e de “conter o Irã”.
Consta que o Secretário de Defesa de Trump, James Mattis, que semana
passada imputou ao Irã o título de “maior patrocinador do terrorismo do mundo”,
estaria numa intensa troca de informações com o chefe militar da Arábia
Saudita, príncipe Mohammed Bin Salman, quanto a assuntos de segurança regional,
entre os quais mais uma vez “a necessidade de conter o Irã”. A Casa Wahhabi dos
Sauditas vê o Irã, com sua forma de governo mais democrática através da
Revolução Islâmica, como uma ameaça existencial para a dinastia que governa o
país, alinhada a outras monarquias sunitas no Golfo Pérsico.
O establishment em Washington depende do eixo Arábia Saudita/Israel e da
contenção belicosa que exercem sobra o Irã para manter sua hegemonia do
petrodólar, sobre a qual repousa o alicerce de toda a sua sobrevivência econômica.
Não importa o nome do ocupante da Casa Branca: a natureza das relações entre
Estados Unidos, Arábia Saudita e Israel é simbiótica.
Uma das principais figuras da Casa de Saud, o príncipe Turki al Faisal,
tio do atual Ministro da Defesa Príncipe Mohammed e ainda antigo chefe do
serviço de inteligência saudita, também é um dos patronos do grupo dissidente
MEK. Ele sempre discursa em comícios pedindo pela mudança de regime no Irã, de acordo com a AP. É muito possível que a Casa de Saud seja um
dos maiores financiadores do MEK, pois de outra forma é difícil explicar como o
grupo exilado mantém escritórios na Europa e nos Estados Unidos, tendo em sua
lista de convidados figuras políticas tão importantes.
A ligação com a inteligência militar israelense também parece
consistente. As autoridades iranianas afirmam que os assassinatos levados a
efeito por agentes do MEK foram possibilitados pelo Mossad israelense.
Aparentemente, Israel, Arábia Saudita e o grupo dissidente iraniano
exilado MEK são os maiores influenciadores da política de Trump quanto ao Irã.
Com certeza o crescimento da animosidade beligerante da administração
Trump sugere qie existe uma influenciação maliciosa.
Mas a dinâmica pessoal não pode ser descartada, desde que significante
nesta questão. Trump tem se mostrado um amador ignorante (diletante and ignoramos, no original) em questões de política
externa. Não lê livros, obtém suas informações através de notícias de TGV a
cabo e parece confiar cegamente em conselheiros e seus detalhes nebulosos para
formar o que chama de “política”. Ao ecoar as acusações de que o Irã seria “estado
patrocinador do terrorismo”, dá a sugestão de que o presidente é dado a
sucumbir ante influências malignas.
Sobre a questão iraniana, a mente de Trump está lotada de influências
malignas.
http://www.strategic-culture.org/news/2017/02/11/why-trump-targeting-iran.html
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