Resultado de imagem para Finian Cunningham,Medo do “Perigo Vermelho” não funciona mais.

por Finian Cunningham
tradução de NirucewKS063

19 de janeiro de 2016 "Information Clearing House" - "Sputnik" – Os governos da Inglaterra e dos Estados Unidos estão para lançar mais uma campanha a fim de demonizar a Rússia, a qual acusará o Kremlin de estar se infiltrando nos partidos políticos europeus, bem como na mídia do continente. O objetivo covarde, malvado e malicioso da Rússia seria, dizem eles, destruir a União Europeia.


Já vimos antes versões dessa tática do medo, em relação à Ucrânia e a figura de “Putin, o novo Hitler”. Ocorre que isso atualmente só serve para provocar bocejos e sonolência e indica apenas que esse velho tipo de manobra não funciona mais em relação ao público ocidental. O ópio da propaganda enganosa ocidental perdeu a validade. Morreu.

Ainda mais contra a Rússia. A União Europeia não tem mais a quem buscar para culpar pelos prejuízos que causou a si mesma, por causa de sua abjeta subserviência às políticas imprudentes dos Estados Unidos.

Vinte e cinco anos depois do fim da Guerra fria e da dissolução da União Soviética, Washington o seu mais fiel cãozinho de colo em Londres estão desesperadamente procurando fazer com que o relógio ande para trás até os “velhos bons tempos” quando podiam controlar confortavelmente seu público através de histórias de fantasmas. Medo!

Puxe pela memória e procure lembrar das histórias de bicho-papão que tinham como tema os “comunistas debaixo da cama”, a “ameaça vermelha”, o “império do mal” e por aí vai, quando as autoridades ocidentais mobilizavam suas populações através do medo arrepiante de que “os russos estão chegando”.

Recordando agora aqueles tempos, parece incrível como é que puderam os ocidentais escapar impunes, livres leves e soltos depois de tal lavagem cerebral, com suas táticas do medo. Mas funcionou e bem, naquela época. Permitiu, por exemplo, que os Estados Unidos e seus aliados membros da OTAN pudessem construir um imenso arsenal de armas nucleares, que lhes permitiria destruir o mundo ainda mais vezes do que já permitia; que os Estados Unidos, particularmente, pudessem meter o bedelho, militarmente, em dezenas de países no mundo inteiro, subvertendo seus governos e implantando ditaduras brutais (como se nós, brasileiros, não soubéssemos disso – NT) e tudo com o “nobre” propósito de defender o “mundo livre” contra a ameaça dos “demônios russos”.

Semana passada, tivemos uma reprise da fórmula da guerra fria para a lavagem cerebral. O jornal britânico Daily Telegraph, notório provedor da guerra psicológica, rodou uma reportagem onde apresenta a Rússia e o presidente Vladimir Putin como um fantasma maligno, um abantesma que tenta quebrar a unidade europeia através da “fundação de partidos políticos” e “desestabilização apoiada por Moscou”.

O jornal, sarcasticamente apelidado de “Torygraph” por causa de suas fortes ligações com o establishment da extrema direita britânica, citou funcionários ingleses “anônimos” como tendo afirmado:

 “Existe mesmo uma nova Guerra Fria acontecendo lá fora. Através da União Europeia estamos vendo sinais alarmantes de esforços russos  para destruir a unidade europeia em uma enorme série de assuntos estratégicos vitais.”

No mesmo artigo se “informa” que o Congresso (norte)Americano teria ordenado a James Clapper, diretor da Agência Nacional de Inteligência dos Estados Unidos para “conduzir uma revisão de amplo espectro sobre os partidos políticos clandestinamente financiados pela Rússia na última década”
Entre os partidos políticos europeus suspeitos de terem sido financiados e manipulados pela Rússia estão inclusos o britânico Partido Trabalhista de Jeremy Corbin, a Frente Nacional de Marine Le Pen na França, bem como outros na Holanda, Hungria, Itália, Áustria e Grécia, de acordo com o Daily Telegraph.

Sequer um fiapo de evidência foi mostrado para substanciar a história da suposta conspiração russa para desestabilizar a política europeia. É típico da propaganda mentirosa ocidental da Guerra Fria, travestir como “notícias” as acusações assacadas contra o governo russo baseadas em insinuações, preconceito e demonização. A Rússia e seu líder Vladimir Putin são “malignos” porque, bão... ué, porque estamos dizendo que são “malignos”, oras!

O que acontece de verdade é que a União Europeia está caindo pelas tabelas por causa do crescente número de cidadãos comuns que se tornaram desiludidos com a monstruosidade antidemocrática em que se transformou o continente, e essa insatisfação com a União Europeia independe da coloração esquerdista ou direitista dos eleitores.

A implacável austeridade imposta pelas políticas econômicas, desemprego e pobreza em crescimento galopante, cortes draconianos nos serviços públicos – enquanto crescem os lucros de bancos e corporações e a minoria rica se torna cada vez mais rica – afastou vastas camadas da população europeia de 500 milhões de almas.

As lideranças políticas da União Europeia – e não importam as denominações – Conservadores, Liberais, Socialistas ou seja lá o que for, se mostram impotentes na criação de novas políticas democráticas para ir ao encontro das necessidades do público. Aos olhos de muitos europeus, os partidos políticos estabelecidos não passam de mais do mesmo, todos seguindo bovinamente uma forma de capitalismo que só se importa com o bem estar daqueles já obscenamente ricos.

Parte importante do problema é que não há meios de fazer a União Europeia mostrar alguma independência em relação a Washington. Os governantes europeus, subjugados debaixo do tacão da aliança militar liderada pelos Estados Unidos através da OTAN, seguem de olhos fechados as políticas desastrosas e as guerras ilegais para mudanças de regime no Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria. A consequência de tais guerras acabou por deixar a União Europeia abraçada a uma crise de refugiados sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial.

Resultado de imagem para tiro no péPara tornar as coisas ainda mais difíceis, acrescente-se o impasse desnecessário e completamente fútil entre a União Europeia e a Rússia por causa da Ucrânia. Os fazendeiros, comerciantes e trabalhadores europeus estão comendo o pão que o diabo amassou com o rabo por conta das políticas de Bruxelas e Washington que querem porque querem desestabilizar a Ucrânia na intenção de isolar a Rússia em busca de uma agenda geopolítica. Neste assunto, os dirigentes europeus são particularmente execráveis, desde que se tornou claro que Washington quer isolar a Rússia apenas por causa de seus próprios interesses em substituir a Rússia como o maior fornecedor de energia para o continente europeu. Pense em alguém atirando no próprio pé...

Levando-se em consideração essas facetas do imbroglio, não é de se admirar que os cidadãos europeus estejam descontentes com os seus, digamos, líderes políticos. O desprezo da população com Bruxelas cresce a cada dia para níveis assombrosos. Não sem razão.

A patética deferência servil ante as políticas econômicas e externas de Washington por parte dos dirigentes europeus estão originando protestos e dissensões no interior de todo o projeto da União Europeia. Na Polônia, o crescimento alarmante da extrema direita, com a ascensão de um  partido nacionalista ao poder é apenas mais um sinal dos tempos.

Mas em vez de encarar o problema e dançar conforme a música do descontentamento através da Europa, o que Washington e seus aliados atlanticistas como os britânicos estão tentando fazer é encontrar na Rússia um conveniente bode expiatório.

Ironicamente, são justamente Londres e Washington que estão buscando culpar a Rússia pelos problemas e pela crescente desunião que grassa na Europa. Na realidade, Londres e Washington são as principais razões que estão levando a Europa à beira do abismo.

Para conseguir sua intenção, a Inglaterra e os Estados Unidos estão trazendo de volta as velhas palavras de ordem da Guerra Freia para tentar demonizar a Rússia, como uma fórmula para desviar a atenção do público de suas próprias e malignas influências destrutivas contra o resto da Europa.

Décadas atrás, talvez funcionasse a tentativa de demonização da Rússia. Especialmente se levarmos em conta as organizações da mídia ocidental e seus “jornalistas” infiltrados pela CIA e MI6, organizados eficientemente em monopólio para ludibriar e manipular a opinião pública. Ocorre que estes dias acabaram. O público ocidental não se assusta mais com histórias de fantasmas, como se fossem criancinhas. Há muitas fontes alternativas de informação fora do circuito da mídia institucional que o público pode aproveitar para obter uma imagem mais acurada do todo.

Pois acontece que essa imagem mais acurada destoa da alegada atitude ilegal da Rússia. Ao contrário, a conduta ilegal aponta cada vez mais precisamente para Washington e seus lacaios comprados que atendem pelo nome de “dirigentes europeus”.

Com certeza, a tentativa de voltar aos tempos da Guerra Fria e seus fantasmas do “perigo vermelho” pode ser descartada com facilidade. O interessante é que essa tentativa revela uma carência de ideias nas propagandas enganosas dos órgãos ocidentais, que não conseguem mais manipular à vontade suas populações cada vez mais irritadas e inquietas.

Pessoas reais atualmente querem soluções reais para problemas reais, sociais e econômicos, e não histórias risíveis e estúpidas que perderam sua validade e coerência décadas atrás. Quanto mais o público tem sua inteligência insultada com esses absurdos, mais cresce o desprezo que votam aos seus governantes. Falidas e impotentes, as potências ocidentais estão em um beco sem saída. Vem que tem.

Finian Cunningham - nasceu em Belfast, Irlanda do Norte, em 1963. Especialista em política internacional. Autor de artigos para várias publicações e comentarista de mídia. Recentemente foi expulso do Bahrain (em 6/2011) por seu jornalismo crítico no qual destacou as violações dos direitos humanos por parte do regime barahini apoiado pelo Ocidente. É pós-graduado com mestrado em Química Agrícola e trabalhou como editor científico da Royal Society of Chemistry, Cambridge, Inglaterra, antes de seguir carreira no jornalismo. Também é músico e compositor. Por muitos anos, trabalhou como editor e articulista nos meios de comunicação tradicionais, incluindo os jornais Irish Times e The Independent. Atualmente está baseado na África Oriental, onde escreve um livro sobre o Bahrain e a Primavera Árabe.


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