Outra trapalhada: Seria
cômica se não fosse trágica a nova ação da OTAN na Líbia
por Finian Cunningham
tradução btpsilveira
Washington e seus aliados de sempre na OTAN
estão intensificando seu envolvimento militar no já devastado país do Norte da
África que enfrenta agora o crescimento da atividade de terroristas em seu
território, em uma espécie de repetição macabra de uma comédia clássica de
humor negro.
No início da semana passada,
facções dispersas anunciaram que teriam formado um novo “governo de união nacional”.
A administração imediatamente apoiada pelas Nações Unidas, foi montada a partir
de dois governos antes rivais, que se auto nomearam, um deles baseado na cidade
de Triploli e outro na cidade de Tobruk.
Mas
são reduzidas as chances da implementação de um governo nacional. O poder real
no país está com uma pletora de milícias de guerra, quase todas com
relacionamentos com o grupo terrorista Estado Islâmico e que retalharam o país
em feudos.
A
razão da precipitação na formação do tal pouco convincente “governo de união”
está na necessidade de um fiapo ao menos de legitimidade para uma intervenção
militar ocidental de maior porte na Líbia, à guisa de ajudar “as autoridades” a
lutar contra os terroristas jihadistas.
Dunford |
Apenas
três dias depois que foi revelado o surgimento do novo governo, um dos mais
altos funcionários militares de Washington, General Joseph F. Dunford, já veio
a campo para dizer que estavam em curso planos para uma “ação decisiva contra o Estado Islâmico na Líbia” que deveriam
acontecer nas próximas semanas, tudo de acordo com relato da agência Reuters.
“Você tem que tomar medidas militares
decisivas para controlar a expansão do ISIL e ao mesmo tempo isso tem que ser
feito de forma sustentável em um processo político de longo prazo”, disse o General
Dunford, usando uma forma alternativa para se referir ao grupo terrorista
Estado Islâmico.
O
chefe do Estado Maior das Forças Armadas dos Estados Unidos esteve em Paris
onde teve reuniões de consultas com seus pares na aliança militar da OTAN na
França, Inglaterra e Itália.
O jornal The New York Times relatou assim os planos militares anunciados por Dunford:
“Preocupados
com a crescente ameaça representada pelo Estado Islâmico na Líbia, os Estados
Unidos e seus aliados estão aumentando os voos de reconhecimento e coletando
dados de inteligência para a preparação de possíveis bombardeios e ataques de
comandos, disseram altos funcionários, comandantes e agentes de inteligência
nesta semana”.
Nos
últimos meses, houve relatos de que forças especiais (norte)americanas,
inglesas e francesas estariam trabalhando clandestinamente na Líbia para tentar
estabelecer com quais milícias poderiam seus governos colaborar.
Kaddafi |
Ocorre
que a Líbia está atualmente mergulhada na mais profunda anarquia tribal desde
há quatro anos, quando as potências da OTAN, lideradas pelos Estados Unidos
derrubaram o governo de Muammar Kaddafi e hoje é praticamente impossível
desatar o Nó Górdio da confusão entre as milícias rivais. Muitas delas, e
mesmos os autodenominados partidos políticos do novo governo estão integrados
com a rede terrorista.
A
visão estúpida e distorcida que a OTAN tem do caos que reina atualmente na Líbia
e por ela induzido, é exemplificada pela história de como uma unidade de 20
tropas (norte)americanas que aterrissaram no aeroporto da cidade de Al Watiya,
perto de Trípoli, foi recebida. Os (norte)americanos esperavam uma calorosa
recepção pela milícia que supostamente dominava a área do aeroporto, dado que
eles tinham recebido armas e treinamento dos Estados Unidos em 2012. Acontece
que o batalhão reinado pelos Estados Unidos não dominava mais o aeroporto. Fora
desalojado por uma milícia rival que não foi nada amigável com os
(norte)americanos.
Aparentemente,
um tiroteio foi evitado, mas houve uma tensão latente até que os comandos
americanos finalmente receberam permissão de livre passagem pela área do
aeroporto.
O
que o pequeno exemplo ilustra claramente, é o total descontrole que reina hoje
na Líbia. As tropas dos Estados Unidos sentiam que poderiam aterrissar calmamente
em qualquer lugar do país sem qualquer problema e quase tiveram que enfrentar
um tiroteio cara a cara com um inimigo que nem sabiam quem eram e que dominava
a área do aeroporto. Pois este é precisamente o estado de caos que reina na
Líbia e que Kaddafi previu que aconteceria depois de sua queda, pouco antes de
ser assassinado na rua por um bando de insurgentes que o lincharam barbaramente
em outubro de 2011. A Líbia era um país estável e próspero antes das ações dos
EUA e da OTAN.
Está
mais que evidente que os Estados Unidos e seus aliados da OTAN não tem a menor
ideia do que está acontecendo na Líbia, nem de quem são os grupos que
atualmente a dominam, e isso depois de meses de ações de reconhecimento
supostamente efetuado por suas tropas especiais para determinar quais são os “parceiros”
que eventualmente lutarão contra o Estado Islâmico.
O
General em Chefe dos Estados Unidos admitiu toda a sua ignorância sobre o
assunto quando anunciou o plano para mais intervenções militares na Líbia.
Dunford
disse que “os militares dos Estados
Unidos deverão procurar o Presidente Obama e o Secretário da Defesa dos EUA
(Ashton Carter) para que forneçam ideias sobre o “caminho a seguir” para lidar
com os militantes do Estado Islâmico” na Líbia.
Ou
seja, Dunford e seus aliados da OTAN não tem a menor ideia do que acontece e
muito menos tem um plano. Eles simplesmente vão desembarcar em um país dominado
inteiramente por milícias fanáticas e imprevisíveis, muitas delas aparentemente
alinhadas com o Estado Islâmico.
O General “top”
dos Estados Unidos, não deu nenhum detalhe específico sobre o que seja,
dizendo: “Eu
penso que está muito claro que todos nõs – franceses, (norte)americanos e
outros – estamos indo juntos e para atuar em conjunto com o novo governo
líbio... Minha perspectiva é que temos que fazer mais [do que estamos fazendo]”.
Como
sublinhamos anteriormente, trabalhar “em
conjunto com o novo governo” não inspira confiança, vez que depois de anos
de disputa, subitamente “surge” um governo, e principalmente levando em conta
que vários de seus membros políticos estão comprovadamente associados a grupos
armados ilegais.
De
maneira trágica mas previsível, a Líbia é o resultado que inevitavelmente
acontece quando um país é deixado à própria sorte, para ser governado
insanamente em total desrespeito à lei internacional e à soberania de outras nações.
Washington,
Londres e Paris juntamente com seus aliados na OTAN abusaram de forma cínica de
um mandato da ONU para estabelecimento de uma zona de exclusão aérea em março
de 2011 para lançar uma blitzkrieg aérea de sete meses na Líbia. As potências
da OTAN, com as monarquias petrolíferas do Golfo, lideradas pela Arábia Saudita
e em conluio com grupos jihadistas no terreno, como por exemplo o Grupo de
Lutadores Islâmicos da Líbia, convergiram para o objetivo de mudar o regime no
país.
Foram
estas mesmas milícias, e seu estoque de armamento, que foram mobilizadas pela
CIA (norte)americana e pelo MI6 britânico para se infiltrar na Síria, de acordo
com as informações do jornalista (norte)americano Seymour Hersh, entre outros
repórteres investigativos. A Turquia foi a porta de entrada e a Arábia Saudita
o financiador do corredor Líbia/Síria (no original Lybia/Syria ‘ratline’). Saliente-se que tudo isto estava
acontecendo mais ou menos na mesma época em que os representantes dos
jihadistas tomaram de assalto o consulado dos Estados Unidos em Benghazi, em
setembro de 2012, matando o embaixador dos Estados Unidos Christopher Stevens e
três oficiais (norte)americanos.
Agora,
aparentemente por causa da resoluta intervenção russa na Síria em apoio ao
governo do Presidente Bashar Al-Assad e suas forças, os jihadistas estão
fugindo do país e estabelecendo bases na Líbia. Esta relocação dos jihadistas
da Síria e do Iraque para a Líbia já foi relatada inclusive pelos principais
meios de comunicação ocidentais.
Bem,
então, sim, os governos ocidentais e seus chefes militares podem muito bem
estarem preocupados quanto ao aumento das atividades do grupo terrorista Estado
Islâmico na Líbia. A ameaça é real o suficiente.
Mas
o que Washington e seus meios de comunicação ocultam e não vão dizer nunca a
vocês é que estes mesmos grupos terroristas foram gerados na Líbia a partir de
uma mudança de regime ilegal e depois transportados para a Síria para outra
operação de mudança de regime, deixando para trás a Líbia como um país
arruinado e em putrefação, hoje paraíso de terroristas e milícias armadas.
Depois
de tudo, lá vem novamente as mesmas potências ocidentais para por ordem em uma confusão
que eles mesmos criaram, diga-se antes de mais nada. Parece uma comédia pastelão
tipo “O Gordo e o Magro”, com cores militares. Só que não é engraçado. É uma
comédia criminosa e de tremendo mau gosto.
Finian Cunningham – (nascido em 1963) escreve exaustivamente
sobre assuntos internacionais, com artigos publicados em várias línguas.
Originário de Belfast, no Norte da Irlanda, é mestre em Química Agrícola e
trabalhou como editor de ciências para a Royal Society of Chemistry, em Cambridge,
Inglaterra, antes de seguir carreira como jornalista. Por mais de 20 anos
trabalhou como editor e escritor em vários meios de comunicação, incluindo-se
os jornais The Mirror, Irish Times e Independent. Trabalha agora
como jornalista freelance no Leste da África e suas colunas aparecem nos órgãos
jornalísticos RT, Strategic Culture Fopundation e Press TV.
Olá! Boa madrugada a todos... Não é possível ¨achar um lado bom/positivo nesta história¨! Porém, um fato menos negativo é a retroação, a batida-em-retirada dos soldados (mercenários) profissionais, contratados, treinados e subvencionados á mando da decadente, caquética e terminal uni-potência (UÓXYNTUM - U5@), num primeiro instante, na Líbia, infelizmente, mas, quem sabe, no momento seguinte, de volta á ¨Casa¨ que os criaram... vá lá, também infelizmente, vai...
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