tradução de btpsilveira
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Comentário do
tradutor: Este post aqui traduzido é de importância vital. Pode-se argumentar
que o Brasil ficou fora das negociações desses acordos explicitados abaixo
por fazer parte dos países BRICS. Mas nós todos sabemos que se um governo
neoliberal assumir o poder em nosso país, imediatamente abandonará os BRICS e
assinará esses acordos sob a batuta dos Estados Unidos. Portanto, é
importante estar prevenido quanto à natureza desses “acordos” porque talvez
tenhamos de lutar contra eles no futuro próximo.
A meta estratégica de
política externa dos Estados Unidos para 2016 deverá ser a finalização das
negociações sobre o acordo de Parceria Transatlântica para Comércio e
Investimento (TTIP – Transatlantic Trade and Investiment Partnership em
inglês – NT). Conforme relatado pela imprensa, o acordo deverá criar uma zona
de livre comércio entre os Estados Unidos e a União Europeia. Esses países
são responsáveis por 60% do PIB e 33% do comércio global.
Enquanto isso, o
acordo TPP (Trans-Pacific Partnership), com o total de 12 países signatários
que assinaram o termo inicial do acordo em Atlanta em Outubro de 2015 ainda
necessita ser ratificado para entrar em vigor. Os países incluídos no TPP
acumulariam estimados 40% do comércio global.
Desempenha papel
decisivo nos dois acordos os Estados Unidos, responsáveis por cerca de 10% do
comércio global segundo as estimativas mais confiáveis. Assim, se os dois
acordos entrarem em vigor, as duas parcerias transoceânicas controlariam 73%
do comércio global. Falando mais claramente, os Estados Unidos controlariam o
comércio.
Claro que já existe
uma entidade mundial que teria sido criada para assegurar o livre comércio.
Estamos falando da Organização Mundial do Comércio – OMC (World Trade
Organization – WTO na sigla em inglês – NT). Na atualidade, 162 países
constam como membros da OMC. Desde o seu início, a organização (que era
conhecida até 1995 como General Agreement on Tariffs and Trade – GATT) foi
pensada de maneira que um grupo muito seletivo de países teriam direito ao
voto decisivo nas questões chave da organização. A “liberalização” do
comércio mundial era na realidade regulada pelos Estados Unidos, Europa
Ocidental, Japão, Canadá e Austrália, sempre em benefício de suas variadas
corporações multinacionais (MNCs – Multi-Nacional Corporations), o que se
tornou cada vez mais difícil a cada ano, principalmente mais recentemente.
Negocia-se desde 2001, com os países em desenvolvimento tentando maneira mais
fácil de colocar seus produtos (principalmente agrícolas) no mercado mundial
com ênfase no mercado ocidental, e nenhum progresso foi alcançado desde
então. Para Washington e seus aliados torna-se cada vez mais difícil defender
seus interesses nos mercados globais de bens e serviços. A situação se tornou
ainda mais complicada para os países ocidentais dominantes quando a Rússia
passou a fazer parte da OMC em 2012, trazendo para a ribalta a possível
criação de um bloco dos países BRICS no interior da OMC.
Em 2012 os Estados
Unidos começaram a criar plataformas alternativas à OMC, na forma de duas
parcerias transoceânicas, com a ideia primordial de que seriam os Estados
Unidos que ditariam as regras do jogo para essas plataformas. A consequência
seria que a OMC acabaria pouco a pouco, tornando-se gradativamente uma concha
vazia. O objetivo de Washington com estas manobras: 1)retomar o controle do
comércio global e 2) enfraquecer economicamente a China, a Rússia e outros
países BRICS, isolando-os de parceiros comerciais.
Acontecem acusações
frequentes de que as duas parcerias teriam o efeito de fazer os Estados
Unidos capazes de controlar efetivamente o comércio global. Isso não é
totalmente verdade. Primeiro, temos que esclarecer três pontos.
O primeiro => sim, os Estados Unidos, agindo
como Estado, é o patrocinador de ambos os projetos, mas na realidade os EUA
estão trabalhando para favorecer os interesses de suas corporações
multinacionais (MNCs) e de seus bancos multinacionais (MNBs), e são estas as
entidades que de fato controlarão o comércio mundial. Quanto aos Estados
Unidos, com o tempo entrará em declínio e será transformado em outra concha vazia,
exatamente como a Organização Mundial do Comércio.
O Segundo => Não é apenas o comércio que
cairá totalmente sob controle das MNCs e MNBs, como também a vida econômica,
social e política de todo e cada país envolvido nessas parcerias. Os Estados
que swe juntarem ao TTIP e ao TPP perderão todas as suas prerrogativas de
soberania.
O terceiro => Além de estarem associadas às
duas parcerias transoceânicas, o plano central inclui ainda um terceiro
elemento que raramente é mencionado. É o Acordo de Livre Comércio de Serviços
(TiSA na Sigla em
inglês).
Fica explícito que
todos os países que assinarem os acordos TTIP e o TPP concordam também em se
juntarem ao TiSA. Neste contexto, fica claro que o TTIP e o TPP funcionam
como Cavalos de Tróia, mas o Acordo de Livre Comércio de Serviços funciona
como uma arma poderosa que garante a “vitória final”. Por “Vitória Final”
entenda-se a total erradicação da soberania dos Estados signatários.
Ninguém tinha
ouvido falar no TiSA até um ano e meio atrás. As primeiras informações sobre
o acordo emergente surgiram apenas no site do Wikileaks no verão de
2014. As informações indicavam que os Estados Unidos e a Austrália eram os
países que lideravam as negociações. Gradualmente, esse círculo se expandiu
com mais países aderindo. Quando a informação vazou, 50 países (entre os
quais os 28 membros da União Europeia) – responsáveis por um total de quase
70% do comércio global de serviços – já estavam envolvidos nas conversações.
Há três fatos
importantes que temos que saber sobre as preparações para a implantação do
TiSA.
Em primeiro lugar,
As negociações sobre a implantação do TiSA não estão na órbita da Organização
Mundial do Comércio. Ora, já existe um Acordo Geral para o Comércio de
Serviços (GATS na sigla em inglês) que opera dentro dos quadros da OMC. Mas
considerando que vários problemas permanecem insolúveis no comércio
internacional de serviços, parece lógico que o ideal seria melhorar o GATS.
Mas os Estados Unidos e seus aliados decidiram que a OMC estava se
atrapalhando nas resoluções dos conflitos comerciais e resolveram criar uma
plataforma paralela para essas negociações. Essa atitude está arruinando uma
organização que já conta sete décadas de existência (o GATT – de onde se
originou a OMC – surgiu em 1947).
Segundo, teimosa e
inflexivelmente, não se convida a Rússia, China, Índia, Brasil e África do
Sul para tomar parte nas discussões sobre o TiSA. Eles nunca foram oficialmente
notificados sobre a existência do projeto. Trata-se de uma verdadeira
política de isolamento, o que significa que a criação do TiSA visa
confrontação e não cooperação. Foi a razão que levou Barak Obama a afirmar
que os Estados Unidos não permitiria que a China impusesse as regras da
economia global. Afinal, tal imposição seria um direito dos Estados Unidos.
Terceiro: até o
verão de 2014, os trabalhos para a implantação do TiSA corriam em completo
segredo. Caso assinado, o conteúdo do acordo deverá permanecer em segredo por
cinco anos. Se não assinado, os materiais relativos ao assunto assim como o
teor das negociações devem permanecer “em segredo” por cinco anos. Democracia? E quem se importa? A democracia acabou.
A Comissão Europeia
(CE) negociava o TiSA pelas costas e sem o conhecimento e aprovação dos
Estados Membros da União Europeia ou do Parlamento Europeu. Até meados de
2014, o Parlamento Europeu ainda não tinha sido informado sobre as
negociações em andamento sobre o TiSA, mas no verão de 2014 o Comitê para
Comércio Internacional (INTA na sigla em inglês) manifestou interesse sobre o
processo de negociações, provocado pelas sérias preocupações que surgiram na
sequência das publicações do Wikileaks. Viviane Reding, membro do Parlamento
Europeu, foi nomeada relatora sobre o TiSA. Em conferência de imprensa
concedida em 13 de janeiro de 2015, ela queixou-se da completa falta de
transparência no processo de negociações, enfatizando que a transparência é conditio sine qua non para assegurar
que o Parlamento Europeu, seus parceiros sociais e ONGs desempenhem um papel
no processo. No entanto, debaixo da pressão da opinião pública, os Estados
membros da União Europeia autorizaram formalmente a Comissão Europeia a
entabular conversações sobre o TiSA, em março de 2015.
As negociações
estão sendo conduzidas em Genebra. Começaram oficialmente em Março de 2013.
Já aconteceram 15 etapas das conversações, com a última acontecendo em dezembro
de 2015 e a próxima marcada para fevereiro de 2016. Os encontros são
presididos rotativamente pelos Estados Unidos, União Europeia e Austrália. Agora,
memorandos e press releases são distribuídos depois de cada rodada das
conversações, mas são apenas pedaços de papel, sem conteúdo.
A seguir, uma
listagem dos principais elementos do TiSA.
Primeiro, o TiSA
estabelece que assim que o acordo entre em vigor, as regras do jogo em
mercados de serviços não mais serão escritas pelos Estados Nacionais, mas por
instituições supranacionais. Os Estados perderão o direito de elaborar quaisquer
tipos de legislação que possa causar prejuízo para os negócios ou mercados de
serviços.
Segundo, as
regulações estipuladas pelo TiSA afetarão não apenas os mercados de serviços
comerciais (transporte, turismo, hospedagem, comunicações, consumidores,
etc.) mas também as maiores e mais importantes funções dos Estados. Na
terminologia do TiSA, são conhecidas como “serviços públicos”.
Terceiro, o TiSA
estabelece que os Estados cessarão gradualmente a prestação de serviços
públicos, que passarão a fazer parte das atividades da iniciativa privada.
Vamos parar
um pouco aqui. Os operadores do TiSA querem mudar para o público o conceito
de “serviço público” (primeiro passo), mais tarde, darão o segundo passo,
convencendo a população da necessidade de pagar por esses “serviços”. Então
pode ser dado o terceiro passo, que é convencer o povo que tais “serviços”
não devem ser necessariamente providos pelo Estado, e que a iniciativa
privada pode fornecer um serviço melhor, mais qualificado e mais barato. Daí
as entidades privadas providenciarão para o público serviços “eficientes”, nas
áreas de habitação, cuidados com a saúde, educação e outros serviços. TODOS
NÓS SABEMOS O QUE ACONTECERÁ NO MUNDO REAL.
Quarto, o TiSA
requer que o Mercado nacional de serviços seja totalmente aberto para a
entrada de corporações e bancos multinacionais (MNCs e MBBs). Como resultado,
a esfera do Estado como fornecedor de serviços de “interesses comuns da população”
desaparecerá.
Quinto: o TiSA destroi
todas as funções sociais do Estado (educação, saúde, serviços públicos), ao quais
deverão cair nas mãos e ser fornecidos pelas entidades supranacionais. Então,
a regulação estatal sobre o setor financeiro deverá ser eliminada. Isto se
aplica primariamente ao setor de segurança e setor bancário. Também deverão
ser regulados por entidades supranacionais. O TiSA impõe a futura liberação
dos mercados financeiros (apesar do fato de que a crise financeira de
2007/2009 ter provado que essa atitude é um erro). O aspecto mais importante
da iminente reforma financeira (e a governança global como um todo) é a
transição para uma economia totalmente desmonetarizada (economia sem
dinheiro, digitalizada – no original cashless
economy – NT). É a maneira mais fácil
de controlar (e cobrar pela) a prestação de serviços para o público, e de
cortar os serviços de quem não puder pagar.
Finalmente, os
serviços de informação (a mídia, Internet, bibliotecas, livrarias) receberão
atenção especial. O TiSA impõe a condição de que o público seja mantido com
rédea curta, através do uso dos sistemas de informação e tecnologias de
comunicação que tornem possível fazer a monitorização da obediência dos
cidadãos às normas e padrões colocados pelas instituições nacionais (a governança
mundial).
Na realidade, o
TiSA é um plano para privatizar os Estados onde ele funciona como um
prestador/regulador de serviços sociais, financeiros e de informação. Ocorre
que não serão os bilhões de pessoas que habitam o planeta os beneficiários do
projeto, mas aquelas famílias do oligarquia global, que estão construindo um
campo de concentração planetário em nome da “governança mundial”.
Uma olhada nos principais documentos até agora revelados sobre o
acordo revela um plano da oligarquia financeira global e dos senhores do
dinheiro para tomar o poder global de uma vez por todas. Deixados de lado os
embates piegas e vazios sobre “democracia”, “direitos humanos” ou “responsabilidade
social das empresas”. Tudo é rígido, exato e sério, com o movimento
direcionado resolutamente na direção do objetivo. A meta do acordo é a
transição definitiva para uma nova ordem mundial muito semelhante àquela
descrita por George Orwell em seus livros “1984” e “A Revolução dos Bichos” (Animal Farm – NT). Os mestres do
dinheiro têm pressa. O TiSA está previsto para ser implementado em 2020, mas
provavelmente o processo será acelerado.
Valentin
KATASONOV - (nasceu em 5/4/1950) tornou-se professor do Instituto Estatal de Moscou
de Relações Internacionais (MGIMO) onde lecionou de 1972 até 1990. É
conhecido autor russo no mercado financeiro internacional. É também
cientista e escritor respeitado. Doutor
em Ciências Econômicas e membro da Academia de Ciências Econômicas e de
Negócios da Rússia. Em 1991, escreveu a monografia: “Uma grande potência ou
potência ambiental?”; entre 1991-1993 trabalhou como Consultor Econômico da
ONU.
No período 1993-1996 foi membro do
Conselho Consultivo do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento
(BERD). Entre 1996 e 2000 foi Vice-Diretor do Russian National Investment
Bank. No período de 2001 a 2011 foi Diretor do Departamento de
Relações Internacionais para Assuntos de Câmbio, Moedas e Fundos do BERD. A
partir de 2012 tornou-se Analista Econômico independente (free-lance). Escreveu
durante a carreira inúmeros livros, ensaios, monografias e artigos publicados
em diversos veículos de imprensa.
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