Líbia, o plano da
conquista
tradução por José Reinaldo
Carvalho
O ano de 2016 se
anuncia muito complicado em nível internacional, com tensões difusas também em
nossa vizinhança. A Itália fará sua parte com o profissionalismo das suas
mulheres e dos seus homens e junto ao compromisso dos aliados”: assim o
primeiro-ministro Matteo Renzi comunicou aos filiados do Partido Democrático
(PD) a próxima guerra em que a Itália participará, a da Líbia, cinco anos
depois da primeira.
SAS (símbolo) |
O plano está em
vigor: forças especiais do Serviço Aéreo Especial (SAS, na sigla em inglês) da
Grã Bretanha – informa “The Daily Mirror” [1]–
já estão na Líbia para preparar a chegada de cerca de mil soldados britânicos.
A operação – “acordada entre Estados Unidos, Grã Bretanha, França e Itália” –
envolverá cerca de seis mil soldados e marines estadunidenses e europeus com o
objetivo de “bloquear cerca de cinco mil extremistas islâmicos que se apossaram
de uma dúzia dos maiores campos petrolíferos e, do reduto do chamado Estado
Islâmico em Sirte, preparam-se para avançar até a refinaria de Marsa al Brega,
a maior do Norte da África”.
A gestão do campo
de batalha no qual as forças do SAS estão instruindo não identificados
“comandantes militares líbios”, prevê a mobilização de “tropas, tanques, aviões
e navios de guerra”. Para realizar bombardeios na Líbia, a Grã Bretanha está
enviando mais aviões ao Chipre, onde já estão instalados 10 Tornados e 6
Typhoons para os ataques na Síria e no Iraque, enquanto um destroier está a
caminho da Líbia. Já estão na Líbia – confirma o “Defesa Online” – também
algumas equipes da Marinha de Guerra dos Estados Unidos.
Toda a operação
estará formalmente “sob direção italiana”. No sentido em que a Itália suportará
o ônus mais gravoso e custoso, pondo à disposição bases e forças para a nova
guerra na Líbia. Nem por isso terá o comando efetivo da operação. Este será na
realidade exercido pelos Estados Unidos através da própria rede de comando e
daquela da Otan, sempre sob comando estadunidense.
Símbolo do AFRICOM - U.S. Africa Command |
Um papel chave
será desempenhado pelo U.S. Africa Command, o Comando África dos Estados
Unidos: este acaba de anunciar, em 8 de janeiro, o “plano quinquenal” de uma
campanha militar para “enfrentar as crescentes ameaças provenientes do
continente africano”. Entre os seus principais objetivos, “concentrar os
esforços sobre o Estado falido da Líbia, contendo a instabilidade no país”. Foi
o Comando África dos Estados Unidos que, em 2011, dirigiu a primeira fase da
guerra, depois dirigida pela Otan, sempre sob o comando estadunidense, que com
forças infiltradas e 10 mil ataques aéreos demoliu a Líbia transformando-a em
um “Estado falido”.
Agora, o Comando
África está pronto a intervir novamente para “conter a instabilidade no país”,
e é também a Otan que, segundo declarou o secretário geral Stoltenberg, está
“pronta para intervir na Líbia”. E novamente a Itália será a principal base de
lançamento da operação. Dois dos comandos subordinados ao U.S. Africa Command
se encontram na Itália: em Vicenza, o do U.S. Army Africa (Exército dos EUA
para a África), em Nápoles o da U.S. Naval Forces Africa (Força Naval dos EUA
para a África).
Esta última está
sob as ordens de um almirante estadunidense, que é também o chefe da Força
Naval dos EUA na Europa, do Comando Conjunto da Otan com quartel general em
Lago Patria) e, a cada dois anos, da Força de Resposta da Otan. O almirante
está, por sua vez, sob as ordens do comandante supremo aliado na Europa, um
general estadunidense nomeado pelo presidente, que ao mesmo tempo está na
chefia do Comando Europeu dos Estados Unidos.
Nesse quadro, terá
lugar a “direção italiana” da nova guerra na Líbia, cujo escopo real é a
ocupação da zona costeira econômica e estrategicamente mais importante. Guerra
que, como a de 2011, serà apresentada como “operação de manutenção da paz e
humanitária”.
Manlio
Dinucci – é geógrafo e geopolítico – suas últimas
publicações são: Laboratorio di Geografia
– Zanichelli 2014; Geocommunity, Ed.
Zanichelli, 2013; Escalation. Anatomia della
guerra infinita, Ed. Derive Approdi, 2005.
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