A Estratégia Atlanticista para Atacar a
Rússia Através das Privatizações
por Paul Craig Roberts e Michael Hudson – tradução btpsilveira
NOTA: Os leitores querem saber quem são – além das ONGs financiadas pelo
capital ocidental – os quinta colunas dentro da Rússia. Michael Hudson e eu
sempre os descrevemos como Integracionistas Atlanticistas e economistas
neoliberais. O Saker revelou alguns nomes específicos, deu nome aos bois (leia aqui, já traduzido). Entre
os quinta colunas estão o Primeiro Ministro Russo, a presidenta do Banco Central
e dois ministros da área econômica. Eles estão armando uma armadilha de
privatização contra Putin que poderia fazer ruir tudo o que foi realizado de
bom na Rússia até este momento e entregar a Rússia para o controle ocidental.
À venda? |
Fevereiro de 2016 "Information Clearing House"
– Dois anos atrás autoridades russas discutiam planos para privatizar um grupo
de empresas estatais russas, entre as quais as principais seriam a Rosneft,
produtora de petróleo, o Banco VTB, a companhia de aviação Aeroflot e as
Rodovias Russas. O objetivo declarado era o de aperfeiçoar a gestão dessas
companhias, e também o de induzir o retorno do dinheiro dos oligarcas para
investimentos, depois de duas décadas nas quais o capital fugiu da Economia Russa
para o ocidente. A participação estrangeira seria permitida naqueles casos em
que a transferência de tecnologia ocidental e técnicas de gestão provavelmente
seriam benéficas para a economia.
No entanto, o panorama econômico da
Rússia se deteriorou na medida em que os Estados Unidos forçaram governantes
ocidentais a impor sanções econômicas contra a Rússia e o preço do petróleo
baixou. Tais acontecimentos fizeram a economia russa menos atrativa para
investidores estrangeiros. Então, a venda dessas companhias teria preços muito
mais baixos atualmente que teriam em 2014.
Nesse meio tempo, um déficit crescente
no orçamento, combinado com o déficit na balança de pagamentos deu aos
apologistas russos da privatização um argumento para que se prosseguisse com as
liquidações de empresas. No entanto, há um vício nessa argumentação: é o viés
neoliberal de que a Rússia não pode simplesmente monetarizar seu déficit, mas
para sobreviver, teria que vender alguns de seus ativos mais importantes. Nós advertimos a Rússia de que não pode ser
tão ingênua a ponto de aceitar o perigosíssimo argumento neoliberal. A privatização
jamais auxiliará na reindustrialização da economia russa e por outro lado
deverá se transformar em uma economia rentista. A partir daí, os lucros serão
extraídos apenas em benefício dos proprietários/investidores estrangeiros.
Yeltsin, o bêbado |
Para estar seguro, o Presidente Putin
estabeleceu uma série de condições em 01 de fevereiro para impor que novas
privatizações não seguissem o modelo desastroso das vendas efetuadas no
malfadado regime de Yeltsin. Desta vez as privatizações não aconteceriam se
os preços de venda fossem irrisórios, tendo que refletir o real valor de
mercado das companhias. As empresas vendidas permaneceriam sob jurisdição
russa, e não seriam operadas por proprietários sediados em terceiros países (offshore owners no original – NT). Estrangeiros poderiam participar, mas
as companhias continuariam sujeitas às regulações e legislações russas, incluindo-se
a manutenção do seu capital dentro do território russo.
Além disso, as empresas objeto de
privatização não podem ser vendidas a partir de financiamento de bancos
estatais russos. O objetivo é a obtenção de “dinheiro vivo” com as vendas – de preferência
a partir das divisas armazenadas por oligarcas russos em Londres e outros
locais.
Putin, de forma sensata, descartou a
possibilidade de venda do maior banco da Rússia, o Sperbank, que detém a maior
parte das contas individuais de poupança. A banca evidentemente deve permanecer
como uma utilidade pública, porque a capacidade de criar crédito a partir do dinheiro
é um monopólio natural e inerentemente de caráter público.
Apesar das proteções acrescentadas pelo
Presidente Putin, há razões sérias para que não se vá em frente com as
privatizações recentemente anunciadas. Tais razões não se esgotam no fato de que
as vendas estariam ocorrendo em cenário de recessão econômica que resultou das
sanções impostas pelo ocidente e pela queda dos preços do petróleo.
As desculpas apresentadas pelas
autoridades russas já citadas para vender companhia agora, é a necessidade de
financiar o déficit do orçamento doméstico. Essas desculpas demonstram que a
Rússia ainda não se livrou do mito ocidental atlanticista de que o país deve
obrigatoriamente depender de bancos estrangeiros e obrigacionistas (cotistas)
para criar dinheiro, como se o Banco Central da Rússia não pudesse fazer isso
por si mesmo, com a monetarização do déficit orçamentário.
A monetização dos débitos orçamentais é
precisamente o que os Estados Unidos tem feito, e o que os Bancos Centrais
ocidentais vêm fazendo desde a Segunda Guerra Mundial. A monetização do débito
é prática comum no ocidente. Os governos podem dessa forma revitalizar a
economia através da impressão de dinheiro em vez de endividar o país junto a
credores privados que drenam os fundos do setor público através do pagamento de
juros aos credores privados.
Não há razão lógica em obter dinheiro
junto a bancos privados na intenção de prover o governo de numerário quando o
Banco Central desse mesmo governo pode criar o dinheiro necessário sem ter que
pagar juros sobre eventuais empréstimos contraídos junto a organismos privados.
Apesar disso, os economistas russos foram imbuídos da “verdade gravada em pedra”
do que se trata apenas de uma crença ocidental de que apenas os bancos comerciais
devem criar dinheiro e que os governos tem que vender títulos gravados com juros
para poder levantar numerário. Foi essa mesma crença que está sendo agora
incutida ao governo russo que levou a União Europeia inteira a um beco sem
saída, economicamente falando. Ao privatizar a criação de crédito, a Europa tirou
dos governos a determinação dos destinos dos países e a entregou nas mãos do
setor bancário.
A Rússia não tem necessidade de
aceitar uma filosofia econômica pro rentistas que sangrará o país de suas
receitas públicas. Os neoliberais não querem ajudar a Rússia, e sim colocar o
país de joelhos.
Essencialmente,
o que os russos aliados ao ocidente – “Atlanticistas Integracionistas – que querem
que a Rússia sacrifique sua soberania em nome de uma integração com o Império
Ocidental estão fazendo é usar economistas neoliberais para enganar Putin e
tomar de volta o controle da economia russa que Putin reestabeleceu para o
governo depois dos malfadados anos Yeltsin, quando a Rússia foi literalmente
saqueada pelos interesses estrangeiros.
Apesar de ter tido algum sucesso na redução
do poder adquirido pelos oligarcas russos que emergiram das privatizações
promovidas por Yeltsin, o governo russo precisa reter as empresas estatais como
um contrapeso ao poder econômico. A razão pela qual o Estado deve operar
ferrovias e outras estruturas básicas é manter uma atividade empresarial ao
mesmo tempo em que reduz o máximo possível o custo de vida para a população. O
objetivo dos empresários privados, por sua vez, é aumentar o preço o máximo que
possam. A isso, chamam de “extração de rendimentos”. Empresários privados
colocam pedágios nas obras de infraestrutura que são privatizadas para aumentar
o custo de manutenção. É o oposto exato do que os economistas clássicos querem
dizer quando mencionam o “mercado livre”.
Fala-se que está sendo feito um acordo
com os oligarcas. Eles comprariam as companhias estatais russas com dinheiro
que esconderam no exterior durante a onda de privatizações da era Yeltsin e
fariam um novo “negócio do século” quando a economia se recuperasse,
permitindo-lhes mais uma vez fazer ganhos exorbitantes com as privatizações.
A questão é
que, quanto mais o poder econômico se move do governo para o setor privado, menos
poder de compensação tem o governo contra os interesses privados. Desse ponto
de vista, não é o momento de permitir mais privatizações.
Muito menos deve se permitir que
estrangeiros possam adquirir ativos nacionais russos. Para obter um pagamento
uma única vez, em moeda estrangeira, o governo russo não deve anuir que o fluxo
de pagamentos oriundo de suas reservas naturais possa ir pouco a pouco se
revertendo em rendimentos futuros que poderão ser, e serão, tirados da Rússia e
enviados para o exterior, mesmo que a gestão e controle das empresas
mantenha-se geograficamente na Rússia.
A venda de ativos públicos em troca de
um único pagamento foi o que fez o governo da cidade de Chicago, quando vendeu
os direitos dos medidores fixos de estacionamento (parquímetros), que representava
um fluxo de dinheiro que já tinha 75 anos, recebendo pagamento único. O
dinheiro pago ao governo de Chicago durou um ano e para isso, vendeu uma fonte
de receitas que já durava 75 anos. Sacrificando as fontes de receitas públicas,
os governantes de Chicago impediram a taxação de bens imobiliários, coibiram a
taxação da riqueza e permitiram aos bancos de Wall Street condições potenciais
para fazer uma fortuna.
Criaram também revolta e clamor público
contra a medida. Assim que puderam os novos proprietários dos estacionamentos
fixos aumentaram drasticamente os preços cobrados para estacionar nas ruas de
Chicago, além de processar a administração da cidade por supostos danos ao
fechar ruas para paradas e em feriados, “interferindo” dessa forma na
possibilidade de lucro dos novos proprietários. Em vez de ajudar a cidade, a
venda ajudou foi a empurrar a cidade em direção da falência. Não admira que os
Atlanticistas gostariam de ver a Rússia amarrada ao mesmo destino.
Se usar a privatização para cobrir um
problema orçamentário de curto prazo, a Rússia criará um problema orçamentário
de longo prazo. Os lucros das empresas russas fluirão para fora do país,
reduzindo a taxa de poder de troca do rublo. Se os lucros forem pagos em
rublos, estes serão despejados no mercado e trocados por dólares, comprimindo a
taxa de câmbio do rublo e aumentando a do dólar. Na realidade, ao permitir que
estrangeiros possam adquirir ativos nacionais russos, a Rússia estará lhes
dando uma arma para especular contra o rublo no futuro.
É evidente que os novos proprietários russos
também podem enviar seus lucros para o exterior. Mas pelo menos o governo
russo pretende que esses elementos estariam sujeitos à jurisdição russa e são
mais facilmente obrigados a seguir regulamentos russos que aqueles estrangeiros
que controlam suas companhias do exterior e mantém seu capital em Londres e
outros centros bancários no estrangeiro (todos sujeitos às influência
diplomáticas dos Estados Unidos e a sanções da Guerra Fria II).
Na raiz de todas as discussões sobre
privatização está a questão: o que é dinheiro, porque tem que ser criado por
bancos privados e não por bancos centrais? O governo russo pode perfeitamente
financiar seu déficit orçamental através da criação de dinheiro pelo seu Banco
Central, que é exatamente o que fazem Estados Unidos e Reino Unido. Não há a
necessidade de que o governo russo conceda fontes de receitas perpetuamente
pelo futuro afora para cobrir o déficit orçamentário de um ano. Se fizer isso,
estará dando um passo a mais para o empobrecimento e para a perda de
independência econômica e política.
A globalização não passa de uma
ferramenta inventada e usada pelo Império Americano. A Rússia deve evitar
abrir-se para a globalização, não aceitá-la. A privatização, por sua vez, é o
veículo usado para minar a soberania dos países e permitir lucros crescentes
através do constante aumento de preços.
Da mesma forma que as ONGs financiadas
pelo capital ocidental operando na Rússia são uma quinta coluna contra os
interesses nacionais russos, assim também o são os economistas russos
neoliberais, compreendam eles ou não. A Rússia jamais estará livre das
manipulações maquinadas pelo ocidente enquanto sua economia não estiver fechada
para as tentativas de remodelar a economia russa no interesse de Washington e
não no interesse da Rússia.
Receita dos mega-especuladores ocidentais para o Brasil, semelhante à tentativa na Rússia: >--> PLS 555/2015, de autoria do senador Tasso Jereissati, o qual determina privatizar todas as sociedades de economia mista e estatais federais, estaduais e municipais, transformando-as em SOCIEDADES ANONIMAS !!!!!!
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