Como a Turquia apoia
os jihadistas
por Thierry Meyssan
●●● tradução: ALVA -- REDE VOLTAIRE
A Rússia colocou a
questão do futuro da Turquia enviando ao Conselho de Segurança um relatório de
serviço de Inteligência sobre as atividades do apoio deste país aos jihadistas.
O documento compreende uma dezena de revelações pondo em causa as atuações do
MIT (Serviço Secreto Turco-ndT). O problema é que cada uma destas operações
citadas liga-se a outras operações nas quais os mesmos atores operaram junto
com os Estados Unidos, ou seus aliados, contra a Rússia. Estas informações
juntam-se às já disponíveis sobre os laços pessoais do Presidente Erdoğan com o
banqueiro da Al-Qaeda, e sobre a receptação pelo seu filho do petróleo roubado
pelo Daesh (E.I.).
A Rússia remeteu aos membros do Conselho de Segurança da ONU
um relatório de Inteligência sobre as atividades da Turquia a favor dos jihadistas
operando na Síria [1].
Este documento fornece uma dezena de fatos em que cada um, por si, viola uma ou
várias resoluções do Conselho.
Ao fazê-lo, a Rússia coloca o Conselho perante as suas
responsabilidades e, por extensão, várias outras organizações intergovernamentais.
Pelos princípios do Direito, o Conselho devia exigir as provas correspondentes
a estas asserções e convocar a Turquia para dar explicações. No caso da
culpabilidade da Turquia ser estabelecida, deveria decidir as sanções a tomar
segundo o capítulo VII da Carta, quer dizer recorrendo à força. Pelo seu lado,
a Organização do Tratado do Atlântico-Norte e a Organização da Cooperação
Islâmica deveriam excluir das suas fileiras este Estado criminoso, enquanto a
União Europeia deveria cessar as negociações de adesão.
No entanto, uma leitura atenta do relatório da Inteligência
russa mostra que os fatos alegados são susceptíveis de abrir muito outros
dossiês, e de pôr em causa outras potências. De tal modo que é mais provável
que não se discuta publicamente este relatório, mas que se negociará à porta
fechada o futuro da Turquia.
O caso Mahdi Al-Harati
Nascido na Líbia, em 1973, Mahdi al-Harati emigrou para a
Irlanda e aí construiu uma família.
Em Maio de 2010, ele estava a bordo do Mavi Marmara, o
navio almirante da «Flotilha da Liberdade», organizada pela ONG turca IHH para
fornecer ajuda humanitária a Gaza. Os barcos foram pirateados em alto mar pelo
exército israelita, provocando um escândalo internacional. Os passageiros foram
raptados pelo Tsahal, sequestrados em Israel, depois, finalmente libertados [2].
O Primeiro-ministro de então, Recep Tayyip Erdoğan, dirigiu-se a um hospital
para reconfortar os militantes feridos. O seu gabinete difunde uma fotografia
onde se vê um, de entre eles, a abraçá-lo como se fosse seu pai. Seria um
turco-irlandês, El Mehdi El Hamid El Hamdi, mas, na realidade era o
líbio-irlandês Mahdi al-Harati.
Em julho de 2011, a sua casa em Rathkeale (Irlanda) é
assaltada. A sua companheira, Eftaima al-Najar, chama a polícia e diz que os
ladrões se apoderaram de ricas jóias egípcias e líbias e de 200.000 euros em
notas de 500. Contatado por telefone, Mahdi al-Harati confirma à polícia ter-se
encontrado com autoridades do Catar, da França e dos Estados Unidos e ter
recebido esta soma da CIA para ajudar a derrubada de Muammar al-Kaddafi [3].
Posteriormente, ele irá desmentir as suas primeiras declarações assim que a
Resistência líbia se apropriou do assunto [4].
Em julho-agosto de 2011, ele comanda a Brigada Tripoli —da
qual também era membro o seu cunhado, Hosam al-Najjair—, uma unidade da Al-Qaeda
enquadrada por legionários franceses, encarregada pela Otan de tomar o Hotel
Rixos [5].
Oficialmente, o hotel é o centro da imprensa internacional, mas a Aliança foi
informada, pelo construtor turco do edifício. que ele inclui um porão arranjado,
acessível a partir do exterior, onde se refugiam vários membros da família
Kaddafi e dirigentes da Jamahiriya. Durante vários dias, ele bate-se junto com
os franceses contra os soldados de Khamis Kaddafi [6]
Em Setembro de 2011, a Otan nomeia-o adjunto de Abdelhakim
Belhaj, o chefe histórico da Al-QaeSusan Rice, da tornado «governador militar de
Tripoli» [7].
Ele demite-se a 11 de Outubro, pretensamente no seguimento a um diferendo com
Belhaj [8].
No entanto em Novembro de 2011, ao lado de Abdel Hakim
Belhadj, comanda um grupo de 600 a 1.500 jihadistas da Al-Qaeda na Líbia
—anteriormente do Grupo Islâmico Combatente na Líbia (GICL)— que são registados
como refugiados e transportados por mar para a Turquia sob a supervisão de Ian
Martin, antigo secretário-geral da Fabian Society e da Anistia Internacional,
tornado representante especial de Ban Ki-moon.
Mahdi al Harati (direita) |
Chegados à Turquia, os jihadistas são transferidos de ônibus,
escoltados pelo MIT (serviços secretos turcos), para a Síria. Eles instalam-se
em Jabal al-Zouia, onde criam, por conta da França, o Exército Sírio Livre
(FSA). Durante quase dois meses, Abdel Hakim Belhadj e Mahdi al-Harati recebem
todos os jornalistas ocidentais que passando pela Turquia tentam cobrir o
acontecimento, naquilo que eles transformam numa «aldeia Potemkin» [9].
O gabinete do Primeiro-ministro Erdoğan coloca-os em conexão com
contrabandistas que os transportam de moto a Jabal al-Zouia. Lá, eles vêem com
os seus próprios olhos milhares de pessoas manifestarem-se «contra a ditadura
de Bashar Assad e pela democracia». Conquistada, a imprensa ocidental conclui
tratar-se de uma revolução, até que um jornalista do jornal espanhol ABC,
Daniel Iriarte, constata que os manifestantes não são maioritariamente sírios e
reconhece os seus chefes líbios Abdel Hakim Belhadj e Mahdi al-Harati [10].
Pouco importa, o espetáculo da Brigada Falcões do Levante (Suqour al-Sham
Brigade) conseguiu o seu efeito. O mito de um ESL composto de «desertores do
Exército Árabe Sírio» nasceu e os jornalistas, que o alimentaram, nunca
reconhecerão ter sido enrolados.
Em setembro de 2012, Mahdi al-Harati voltou à Líbia por
razões médicas, não sem antes ter formado, junto com o seu cunhado, um novo
grupo de jihadistas, Liwa al-Umma (a Brigada do Ummah) [11].
Em Março de 2014, Mahdi al-Harati escolta um novo grupo de jihadistas
líbios que vêm para a Turquia por mar. Segundo o relatório da Inteligência
russa, ele é apoiado pelo número 2 do regime, Hakan Fidan, chefe do MIT
(serviços secretos), que acaba de retomar funções. Eles juntam-se ao Daesh
(E.I.) pelo posto fronteiriço de Barsai. Esta decisão surge na sequência da
reunião organizada, em Washington, pela conselheira de Segurança Nacional, Susan
Rice, com os chefes dos Serviços Secretos do Golfo e da Turquia, a fim de lhes
confiar o prosseguimento da guerra contra a Síria, pretensamente sem ter de
usar a Al-Qaeda e o Daesh [12].
Em Agosto de 2014, Mahdi al-Harati é «eleito» prefeito de
Tripoli, com o apoio do Catar, do Sudão e da Turquia. Ele depende do governo de
Tripoli, dominado pela Irmandade Muçulmana, e rejeita o de Tobruk, apoiado pelo
Egipto e pelos Emirados Árabes Unidos.
O percurso de Mahdi al-Harati atesta as ligações entre a
Al-Qaeda na Líbia, o Exército Sírio Livre, o Daesh e a Irmandade Muçulmana,
reduzindo a nada a teoria de uma revolução democrática na Síria. Ela mostra
também o apoio de que esta rede tem beneficiado a partir dos Estados Unidos, da
França e da Turquia.
A transferência de
combatentes do Daesh da Síria para o Iêmen
O relatório de Inteligência revela que os serviços secretos
turcos organizaram a transferência dos combatentes do Daesh da Síria para o Iêmen.
Eles teriam, segundo o caso, sido transportados por avião ou por barco para
Áden.
Esta imputação havia já sido formulada, a 27 de Outubro de
2015, pelo porta-voz do Exército Árabe Sírio, o general Ali Mayhub. Segundo
ele, pelo menos 500 jihadistas do Daesh tinham sido auxiliados pelo MIT turco a
dirigirem-se para o Iêmen. Tinham sido embarcados em dois aviões da Turkish
Airlines, um da Catar Airways e um dos Emirados. Chegados à Áden, os jihadistas
foram divididos em três grupos. O primeiro dirigiu-se para o estreito de
Bab-el-Mandeb, o segundo para Marib, e o terceiro foi enviado para a Arábia
Saudita.
Esta informação, que foi amplamente desenvolvida pela
imprensa árabe pró-Sírios, foi ignorada pela imprensa ocidental. Do lado
iemenita, o general Sharaf Luqman, porta-voz dos militares fiéis ao antigo
presidente Saleh, confirmou a acusação síria e acrescentou que os jihadistas
tinham sido acolhidos no Iêmen por mercenários da Blackwater-Academi.
A transferência de combatentes do Daesh de um teatro de
operações para outro atesta a coordenação de operações na Síria e no Iêmen. Ela
implica a Turquia, o Catar, os Emirados Árabes Unidos, a Arábia Saudita e a
Blackwater-Academi.
A « aldeia tártara»
O relatório de Inteligência russo evoca igualmente o caso da
«aldeia Tártara», um grupo étnico Tártaro, inicialmente baseado em Antalya,
depois deslocado pelo MIT mais para norte, para Eskisehir. Muito embora ele
precise que é formado por combatentes da Al-Qaeda e que ajuda combatentes
islamistas na Síria, não explica porque é que este grupo foi movido para mais
longe da Síria, nem quais são as suas atividades específicas .
Os tártaros formam a segunda minoria russa e muito poucos são
os que aderem à ideologia jihadista dos Irmãos Muçulmanos ou do Hizb-ut-Tahrir.
● Entretanto, em Março de 2012, os islamistas árabes do Tartaristão atacaram uma exposição sobre a Síria «berço da civilização» no museu de Kazan. Um pouco mais tarde, a 5 de Agosto de 2012, jihadistas, ao mesmo árabes e tártaros, reuniram-se secretamente em Kazan, incluindo representantes da Al-Qaida.
● Em Dezembro de 2013, jihadistas tártaros pan-turcos, do movimento Azatlyk (Liberdade), deixam o teatro sírio para irem para a Ucrânia e assegurarem o serviço de ordem na praça Maidan, na tentativa de golpe de Estado; enquanto outros militantes da mesma organização se manifestavam em Kazan.
● No 1º de Agosto de 2015, um Congresso Mundial de Tártaros é organizado em Ancara, com o apoio e a participação dos governos ucraniano e turco. É presidido pelo agente da CIA célebre durante a Guerra Fria, Mustafa Dzhemilev, e decide a criação de uma «Brigada muçulmana internacional» para «libertar» a Crimeia. Djemilev é, de imediato, recebido oficialmente pelo presidente Recep Tayyip Erdoğan [13]. A Brigada dispõe de instalações em Kherson (Ucrânia). Ela organiza diversos atos de sabotagem na Crimeia, entre os quais uma gigantesca falha de eletricidade (cortada a partir da Ucrânia), depois, não conseguindo entrar em massa na Rússia, vai reforçar as tropas ucranianas no Donbass.
Se o Conselho de Segurança se meter a escavar a questão da
«aldeia Tártara», não lhe faltarão elementos para observar que os Estados
Unidos, a Turquia e a Ucrânia patrocinam os jihadistas Tártaros na Síria, na
Crimeia e no Tartaristão, aí incluídos elementos da Al-Qaeda e do Daesh.
Os Turcomanos da
Brigada Sultão Abdulhamid
Enquanto a Turquia não levantou o dedo mínimo para socorrer
os Turcomanos iraquianos, massacrados pelo Daesh, ela, apoiou-se nos Turcomanos
sírios contra a República Árabe da Síria. Eles são organizados pelos «Lobos
Cinzentos», um partido político paramilitar turco, historicamente ligado aos
serviços secretos da OTAN na sua luta contra o comunismo (a «Gládio»). Foram
eles, por exemplo, quem organizou a tentativa de assassínio do Papa João Paulo
II, em 1981 [14].
Os Lobos cinzentos estão presentes na Europa, nomeadamente no seio dos
sociais-democratas belgas e dos socialistas neerlandeses. Eles instalaram em Frankfurt
uma coordenação europeia. Na realidade, não são um partido em si mesmo, antes,
formam o ramo paramilitar do Partido de Ação Nacionalista (MHP Milliyetçi
Hareket Partisi).
As Brigadas Turcomanas organizam com o MIT a pilhagem das
fábricas de Aleppo. Peritos turcos desmantelam as máquinas-ferramentas que são
expedidas e remontadas na Turquia. Simultaneamente, eles, ocupam a zona
fronteiriça da Turquia onde o MIT instala e controla campos de treino de jihadistas.
Em Novembro de 2015, é a estrela dos Turcomanos sírios, o
turco Alparslan Çelik —membro dos Lobos cinzentos e um dos comandantes da
Brigada Sultão Abdoulhamid— , quem dará a ordem para abater os dois pilotos do
Sukoi-24, que acabava de ser destruído pela aviação de caça Turca assistida por
um avião-radar AWACS Saudita. Um, de entre eles, acabará efetivamente
executado.
Acontece que, em 1995, os Lobos Cinzentos tinham organizado,
com a empresa imobiliária turco-americana Celebiler isaat (que financia as
campanhas eleitorais de Hillary Clinton), um vasto programa de recrutamento de
10.000 jihadistas para irem combater na Chechênia. Uma base de treino fora
instalada na cidade universitária de Top Kopa, em Istambul. Um dos filhos do
general Djokhar Dudaiev dirigia a transferência a partir da Turquia, via
Azerbaijão, ao lado do MIT.
O relatório de Inteligência russo revela que o MIT constituiu
a Brigada Sultão Abdoulhamid —que agrupa as principais milícias turcomanas— e
que treinou os seus elementos na base de Bayır-Bucak, sob a direção de
instrutores das forças especiais de intervenção do Estado-Maior do Exército
turco e de agentes do MIT. Ele precisa que a Brigada Turcomana colabora com a
Al-Qaeda.
Qualquer pesquisa, um pouco mais aprofundada, levará o
Conselho de Segurança a reabrir velhos dossiês criminais e a constatar os laços
entre a Brigada Sultão Abdoulhamid, os Lobos Cinzentos, a Turquia, os EUA e a
Al-Qaeda.
O IHH e o İmkander
O relatório de Inteligência russo revela o papel de três ONGs
humanitárias turcas no fornecimento de armas aos jihadistas, a IHH, a İmkander
e a Oncu Nesil. A Declaração Final do Grupo de Apoio Internacional à Síria
(GSIS), reunido em Munique, nos dias 11 e 12 de Fevereiro, parece validar esta
acusação pois estipula que, doravante, os Estados Unidos e a Rússia velarão para
que os comboios humanitários na Síria só transportem materiais humanitários.
Até então, o governo de Damasco e a imprensa não paravam de acusar estas ONGs
de apoio aos jihadistas, mas, ninguém os escutava. Em Setembro de 2012, um
cargueiro fretado pela IHH transportou armas para a Síria por conta dos Irmãos
Muçulmanos [15].
Das organizações
citadas eu apenas conhecia as duas primeiras.
A IHH é uma associação fundada e animada pelo Partido da
Prosperidade turco (o “Refah”) de Necmettin Erbakan, mas sem vínculo
estatutário ou orgânico com ele. Foi primeiro registada na Alemanha, em
Freiburg-Im-Breisgau, em 1992, sob o nome Internacional Humanitäre Hilfe (HHI),
em seguida na Turquia, em Istambul, em 1995, sob o nome İnsani Yardım Vakfı.
Sendo o seu novo acrónimo IYV e não IHH, ela fez preceder o seu nome por Insan
Hak ve Hürriyetleri, ou seja, em turco «Direitos do homem e liberdades». Sob o
disfarce de ajuda humanitária aos muçulmanos da Bósnia e do Afeganistão, ela
fornecia-os em armas, o que se inscrevia na estratégia da OTAN. Depois disso,
ela apoiou militarmente o Emirado islâmico da Ichquéria (Chechênia) [16].
Em 2006, ela, organizou na mesquita de Fatih, em Istambul, grandes exéquias
fúnebres sem corpo, mas, com dezenas de milhar de militantes, pelo jihadista checheno
Shamil Bassayev, que acabava de ser morto pelas Forças russas após o massacre
que tinha comanditado na escola de Beslan [17].
A IHH ganhou renome mundial ao organizar, com o AKP (sucessor
do Refah), a «Flotilha da Liberdade», que devia levar ajuda humanitária a Gaza
quebrando o bloqueio israelita, novamente com o aval da Casa Branca que
procurava humilhar o Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Entre os passageiros
da flotilha estava o já referido Mahdi al-Harati. O relatório da Comissão das
Nações Unidas, presidida por Geoffrey Palmer, atesta que, contrariamente às
alegações, a flotilha não transportava nenhuma carga humanitária. O que leva à
concluir que a IHH sabia que ela jamais chegaria a Gaza, e coloca, pois, a
questão dos objetivos reais desta expedição.
A 2 de Janeiro de 2014, a polícia turca —que acaba de
interpelar os filhos de três ministros, e o diretor de um grande banco, por
branqueamento de dinheiro— intercepta um caminhão de armas da IHH destinado aos
jihadistas sírios [18].
Em seguida ela revista a sede da IHH. Interpela, nos seus escritórios, Halis
B., suspeito de ser o líder da Al-Qaeda na Turquia, e İbrahim S, comandante-adjunto
da organização para o Próximo-Oriente. [19].
O governo consegue despedir os policiais e ordena a libertação dos suspeitos.
A İmkander(em turco Irmandade, por referência à Irmandade
Muçulmana) é uma outra associação «humanitária», fundada em 2009, em Istambul.
Ela especializou-se na ajuda aos chechenos e na defesa dos jihadistas do Cáucaso.
Assim, organizou uma campanha midiática na Turquia quando o representante de
Doku Umarov (o auto-proclamado «emir do Cáucaso»), Berg-Khazh Musaev (dito Emir
Khamzat), foi assassinado em Istambul. À época, o FSB considerava-se em guerra
contra os Estados que apoiavam militarmente os jihadistas e não hesitava em
liquidá-los nesses países (como Zelimkhan Yandarbiyev no Catar, e Umar Israilov
na Áustria). A İmkander organizou grande exéquias fúnebres na mesquita de
Fatih, em Istambul.
A 12 e 13 de Maio de 2012, com o apoio da prefeitura de
Istambul, a İmkander organizou um congresso internacional --- na tradição dos
congressos da CIA durante a Guerra Fria --- para apoiar os independentistas do
Cáucaso. No fim do evento, foi criado de forma permanente o Congresso dos Povos
do Cáucaso, reconhecendo como autoridade única o Emirado do Cáucaso de Doku
Umarov. Os delegados acusaram o Império Russo, a União Soviética e a Federação
Russa de ter praticado e continuar a praticar o genocídio dos Caucasianos. Num
vídeo, o Emir Doku Umarov apelou a todos os povos do Cáucaso para se juntarem à
Jihad. A Rússia reagiu vivamente [20].
Em 2013, a Rússia exigiu ao Comité pelas sanções 1267/1989,
do Conselho de Segurança colocar a İmkander na lista de organizações ligadas à
Al-Qaeda. O Reino Unido, a França e Luxemburgo opuseram-se a isso [21].
Com efeito, se a İmkander reivindica apoiar politicamente a Al-Qaeda no
Cáucaso, a Rússia não traz provas consideradas suficientes pelos Ocidentais de
uma participação em operações militares.
Estas duas ONGs estão diretamente implicadas, quanto ao
tráfico de armas a IHH, e quanto ao apoio político a İmkander. Elas dispõem do
apoio do AKP, o partido que o Presidente Erdoğan criou para substituir o Refah,
na altura proibido pelo Tribunal Constitucional.
Que fazer do relatório
da Inteligência russa ?
É pouco provável que o Conselho de Segurança considere o
relatório de Inteligência russo. A questão do papel dos serviços secretos é
geralmente tratada em segredo. De qualquer forma, os EUA terão de esclarecer o
que pretendem fazer do seu aliado turco, que se deixou apanhar violando as
resoluções do Conselho.
Estas informações somam-se às já disponíveis sobre os laços
pessoais do Presidente Recep Tayyip Erdoğan com Yasin al-Qadi, o banqueiro da
Al-Qaida [22],
e sobre o papel do seu filho, Bilal, no comércio do petróleo roubado pelo
Daesh [23].
Não se duvide, as bravatas turcas, anunciando uma possível
invasão militar na Síria, não são mais que um meio de criar diversão. Seja com
for, se uma guerra viesse a irromper entre a Turquia e a Rússia este relatório
de inteligência seria suficiente para privar Ancara do apoio da Aliança
Atlântica (artigo 5 da Carta Otan).
[1]
“Relatório da
inteligência russa sobre a atual assistência da Turquia ao Daesh”, Tradução
Marisa Choguill, Rede Voltaire, 19 de Fevereiro de 2016.
[2]
« Flottille de la
liberté : le détail que Netanyahu ignorait », par Thierry Meyssan, Réseau
Voltaire, 6 juin 2010.
[4]
“Dublin
man denies receiving funds from US to assist overthrow of Gadafy”, Mary
Fitzgerald, Irish Times, November 22, 2011.
[5]
“Irish
Libyans join rebels trying to oust Gadafy”, Paulo Nunes Dos Santos, Irish
Times, August 13, 2011.
[6]
Segundo a sua ordem de missão, que havia sido determinada aquando de uma
reunião secreta da Aliança, em Nápoles, na qual participava Alain Juppé, Mahdi
Al-Harati devia aproveitar a confusão no Rixos para me eliminar.
[7]
«Comment les hommes
d’Al-Qaida sont arrivés au pouvoir en Libye», par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire,
6 septembre 2011.
[8]
“Libyan-Irish
commander resigns as deputy head of Tripoli military council”, Mary
Fitzgerald, Irish Times, October 11, 2011.
[9]
No XVIIIº século, o ministro russo Grigori Potemkine mandou erigir luxuosas
fachadas, em cartão-machê, afim de mascarar a pobreza das aldeias aquando da
visita da imperatriz Catherine II à Crimeia. Desde aí, a expressão «aldeia
Potemkine» designa a criação de um lugar fictício para fins de propaganda.
[10]
«Islamistas libios se
desplazan a Siria para «ayudar» a la revolución», por Daniel Iriarte, ABC (España)
, Red Voltaire , 19 de diciembre de 2011.
[11]
“Irish
Syrian fighters pass on lessons of revolution”, Mary Fitzgerald,Irish Times,
August 1, 2012.
[13]
« L’Ukraine et la
Turquie créent une Brigade internationale islamique contre la Russie »,
par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 12 août 2015.
[14]
Tratava-se de forçar a Santa Sé a abandonar a Ostpolitk que o cardeal
secretário de Estado Agostino Casaroli prosseguia na mesma óptica que Willy
Brandt.
[16]
«The
role of Islamic charities in international terrorist recruitment and financing»,
Evan F. Kohlmann, Danish Institute for International Studies, 2006.
[18]
« La police turque
saisit une cargaison d’armes destinées à la Syrie »,Réseau Voltaire, 2
janvier 2014.
[20]
«De
"la Conférence Internationale sur le Caucase" à Istanbul», in «Le
briefing d’A.K. Loukachevitch, porte-parole du Ministère des Affaires
étrangères de la Russie, le 18 mai 2012».
[21]
“Commentaire
du Département de l’Information et de la Presse du Ministère des Affaires
étrangères de la Russie sur une demande russe adressée au Comité des sanctions
du Conseil de sécurité de l’ONU contre Al-Qaïda”, Ministère des Affaires
étrangères de la Fédération de Russie, 12 septembre 2013.
[22]
“Erdogan reunia-se em
segredo com o banqueiro da al-Qaeda”; “Al-Qaida, eterna reserva
da Otan”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Al-Watan(Síria) , Rede
Voltaire, 6 de Janeiro de 2014.
[23]
“O papel da família
Erdoğan no seio do Daesh”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 3 de Agosto
de 2015; « La
Russie expose les preuves du trafic de pétrole de Daesh via la Turquie »,
par Valentin Vasilescu, Traduction Avic,Réseau Voltaire, 3 décembre 2015.
Publicado originalmente em http://www.voltairenet.org/article190364.html
Comentários
Postar um comentário