Crise dos Refugiados
na UE: Parem as guerras ilegais e não culpem as vítimas
por
Finian Cunningham
tradução: Sonsatel
28 janeiro de 2016
"Information Clearing House"
- "RT"
– A Europa está em um declive perigoso e escorregadio, aumentando a
xenofobia e o racismo causado pelo afluxo de refugiados. A nova lei de confisco
da Dinamarca é sinal do clima taciturno e funesto.
Mas a verdadeira
resposta para o problema é combater o apoio da Europa para as guerras
criminosas de Washington.
Em outras
palavras, os cidadãos da Europa devem enfrentar a raiz do problema, e não
reagir aos sintomas. Deveríamos estar envergonhando os vilões, não culpando as
vítimas.
Devemos exigir
sanções legais e julgamento para os líderes do governo por causa de graves
violações do direito internacional.
Os governos
europeus são acusados de crimes de
guerra, contudo permitimos que escapem das acusações de assassinatos em massa. Então, quando nós
incorremos em problemas secundários, como a deslocação maciça de refugiados de
guerras e conflitos - que os nossos governos têm fomentado – nós, ilógica e
covardemente, nos concentramos em culpar as vítimas da criminalidade dos nossos
governos.
Parte da vergonha
pública dos vilões envolveria participação dos membros europeus da aliança
militar OTAN liderada pelos EUA – responsável perante o direito internacional.
Cada governo e líderes militares deviam ser processados por crimes de guerra e
crimes contra a paz. As provas incriminatórias estão por todo lado. O fato de
que os governos europeus têm travado guerras duvidosas no exterior –
impunemente- é a verdadeira vergonha e a raiz do problema.
Guerras na antiga
Jugoslávia, Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria e Ucrânia, bem como drones
assassinos no Paquistão, Somália e Iêmen, além de operações militares
secretas no Mali, no Níger e Costa do Marfim todas tem a cumplicidade de
Estados-Membros europeus. Grã-Bretanha e a França em particular têm sido mais ativas
na realização de intervenções militares da OTAN, liderada pelos EUA, sejam as evidentes,
sejam as secretas, como na Líbia e a Síria, respectivamente.
Os incontáveis milhões de
pessoas deslocadas em toda a Ásia
Central, Oriente Médio
e África são resultado
direto do militarismo Europeu, em conjunto com Washington. Mesmo a intervenção
francesa no Mali e República Centro-Africana são questionáveis sob
a lei internacional. Ambos foram lançados sem resoluções do
Conselho de Segurança
das Nações Unidas.
Nos últimos cinco
anos, a Líbia representa talvez o caso mais notório da guerra ilegal conduzida
pela OTAN e os seus membros europeus, incluindo a Noruega, Dinamarca, Holanda,
Itália, além da Grã-Bretanha e França. Juntamente com os EUA, esses países
violaram o mandato da ONU por bombardear o país mais próspero e estável da
África em uma balbúrdia sangrenta. Milhares de civis foram mortos nos sete
meses de blitzkrieg (ataque-relâmpago) EUA-UE, que culminou com o assassinato
brutal do líder Muammar Gaddafi.
Líbia foi saqueada
até se tornar um Estado falido, percorrida por grupos extremistas ilegalmente
armados, e os autores dessa descida à barbárie foram os governos europeus. Onde
estão os pedidos de justiça para esses crimes atrozes na chamada Europa
civilizada, cumpridora da lei, ganhadora do prêmio Nobel?
No entanto, na
semana passada, chefes militares americanos e europeus estavam convocando uma
intervenção militar ainda maior na Líbia e na Síria. Esta declaração de
intervenção militar - independentemente de seu objetivo de "combater o
terrorismo" - é em si mesmo ato de agressão ilegal sob a lei
internacional; de acordo com o respeitado advogado para crimes de guerra
Christopher Black, em diálogo com este autor. Então, onde estava a indignação
pública acusações contra este ataque flagrante de mais criminalidade pelos
nossos governos europeus e seu aliado americano?
Mesmo onde países
não tenham sido diretamente atingidos por militares da OTAN, como a Eritreia,
Sudão e Camarões, refugiados provenientes de tais lugares estão fazendo isso em
grande parte por causa da iníqua porta de entrada (gateway, no original – NT)
da Europa em que a Líbia foi transformada pela destruição pela OTAN.
Nesta semana,
vamos ver o parlamento dinamarquês votar medidas que permitem à sua polícia
confiscar bens dos requerentes de asilo no valor de mais de US $ 1.400. O
movimento tem causado controvérsia internacional por causa da preocupação de
que as autoridades dinamarquesas estão violando direitos humanos.
A lei dinamarquesa
é apenas um em uma litania de sinais sombrios que a Europa está se tornando um
lugar cada vez mais hostil para com os refugiados. Países como a Hungria, a
Eslovênia, a Polônia e a Áustria estão fechando suas fronteiras. Mesmo,
anteriormente mais abertas, Alemanha e Suécia, estão restringindo a entrada de
refugiados e enviando muitos de volta para os países de onde vieram.
Por um lado, é
compreensível que os residentes em diferentes países estejam alarmados com o
aumento do número de cidadãos estrangeiros. Especialmente quando os
estrangeiros são visivelmente diferentes na cor, vestido e prática religiosa.
Vamos direto ao ponto. Os muçulmanos do Norte da África e do Oriente Médio são
motivo de preocupação para muitos europeus.
A onda de assaltos
sexuais em cidades alemãs e suecas alegadamente efetuados “aparentemente por
jovens árabes" tem alimentado a reação popular. Mas há perigo de reação
exagerada que alimenta interesses políticos de grupos racistas. A charge da
revista francesa retratando o menino sírio que morreu de afogamento como um
agressor sexual de adulto é um incitamento desprezível e irresponsável.
Assim também é
pixar refugiados como "simpatizantes de terroristas". Na sequência
dos ataques terroristas jihadistas em Paris em 13 de novembro, tem havido aumento
dramático em ataques de ódio anti muçulmanos relatados na Grã-Bretanha e
França. Os terroristas de Paris podem ter infiltrados com as multidões de
refugiados sírios na Europa. Mas, certamente, o verdadeiro foco deveria ser
sobre por que e como esses jihadistas foram para a Síria, em primeiro lugar. E
por que milhões de pessoas que se deslocam são provenientes desse país.
Esta semana informou-se
que os requerentes de asilo na Grã-Bretanha estão sendo forçados a usar
pulseiras coloridas para se qualificarem na distribuição de alimentos. A forma
visível de identidade levou aos portadores a abusos nas ruas, de acordo com o
jornal The Guardian (lembra o uso de
estrelas amarelas por judeus na época da Alemanha de Hitler – NT).
Anteriormente, os
requerentes de asilo na cidade britânica de Middlesbrough tinham suas portas de
casas pintadas de vermelho por uma autoridade local. Mais uma vez, a
discriminação levou a ataques de bandidos racistas.
Se oficialmente ou
não, a Europa está se tornando racista, fortemente xenofóbica. Dada a própria
história do continente de guerra, deslocamento, fascismo e perseguição
genocida, deve se profundamente preocupante, que é mais uma vez uma encosta
escorregadia para a tal mentalidade niilista. Dobra a preocupação quando
ouvimos apologistas de medidas intransigentes contra refugiados que falam sobre
“a conservação de sangue europeu e cultura”. Considerando milênios de migrações
da Europa, para que servem estas conversas sobre "sangue puro", além
de instigar noções míticas malignas?
Comparar a Europa
com um barco afundando sobrecarregado com abundantes emigrantes também é
estúpido e irresponsável. A entrada, na Europa, de um milhão de refugiados, no
ano passado, equivale a 0,2 por cento do seu total de 500 milhões da população.
A entrada de 21.300 de refugiados na Dinamarca, no ano passado, constitui menos
de 0,4 por cento da sua população nacional.
A “crise” dos
refugiado na Europa está se transformando em um pânico irracional e xenófobo
que não é justificado pelos fatos. E enganando as pessoas no território
político perigoso da ação de perseguição, discriminação racista e outros fatos
sociais de caráter fascista que violam todos os nossos direitos como cidadãos.
Mas muito mais
importante, a histeria equivocada sobre refugiados é uma distração da verdadeira
questão. A cumplicidade dos Estados europeus nas guerras de agressão ilegal e
intervenções secretas de mudança de regime.
Líderes políticos
como David Cameron da Grã-Bretanha e da França, François Hollande, assim como
Nicolas Sarkozy devem ser processados perante um tribunal internacional por
crimes contra a paz. Os cidadãos europeus que não consideram seus governos
desonestos considera-se o verdadeiro problema.
Envergonhar os
vilões, não culpar as vítimas. Se nós não resistirmos à tirania sem lei, então
seremos suas próximas vítimas.
Finian Cunningham - nasceu em Belfast,
Irlanda do Norte, em 1963. Especialista em política internacional. Autor de
artigos para várias publicações e comentarista de mídia. Recentemente foi
expulso do Bahrain (em 6/2011) por seu jornalismo crítico no qual destacou as
violações dos direitos humanos por parte do regime barahini apoiado pelo
Ocidente. É pós-graduado com mestrado em Química Agrícola e trabalhou como
editor científico da Royal Society of Chemistry, Cambridge,
Inglaterra, antes de seguir carreira no jornalismo. Também é músico e
compositor. Por muitos anos, trabalhou como editor e articulista nos meios de
comunicação tradicionais, incluindo os jornais Irish Times e The
Independent. Atualmente está baseado na África Oriental, onde escreve um
livro sobre o Bahrain e a Primavera Árabe.
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