A Otan avança
para o Leste e o Sul
por ManlioDinucci
tradução por José
reinaldo Carvalho
REDE VOLTAIRE
Os ministros da Defesa da Otan decidiram “reforçar
a presença na parte oriental de nossa Aliança”. Isto serve para “nos defender
das ameaças crescentes provenientes da Rússia”, esclareceu o secretário
estadunidense da Defesa, Ash Carter.
Com esse objetivo os
Estados Unidos quadruplicam os financiamentos para “a iniciativa de
ressegurança da Europa”, que com uma rotação de forças (cerca de seis mil
soldados), permitirá a realização de mais exercícios militares da Otan (os mais
de 300 efetuados em 2015 não foram suficientes), a potencialização de
aeroportos, o préposicionamento de armamentos pesados, o deslocamento
permanente para o Leste de unidades blindadas. Isto, sublinhou Carter,
“permitirá aos EUA formar na Europa uma força armada de alta capacidade, a implantar
rapidamente no teatro regional”.
Ao acusar a Rússia
de “desestabilizar a ordem e a segurança europeias”, os EUA e a Otan reabriram
a frente oriental, introduzindo a Europa numa nova guerra fria, desejada
sobretudo por Washington para quebrar as relações entre a Rússia e a União
Europeia, prejudiciais aos interesses estadunidenses.
Ao mesmo tempo, os
EUA e a Otan preparam outras operações na frente meridional. Em Bruxelas o
chefe do Pentágono “acolheu” (considerando a Europa como a sua casa) os ministros
da defesa da “Coalizão global contra o EI (o chamado Estado Islâmico)”, de que
fazem parte sob o comando estadunidense, com a Itália, a Arábia Saudita e
outros patrocinadores do terrorismo de “marca islamita”. A reunião lançou um
impreciso “plano da campanha militar” na Síria e no Iraque. Lá as coisas vão
mal para a coalizão, não porque o dito EI esteja vencendo, mas porque está
perdendo: apoiadas pela Rússia, as forças governamentais sírias estão liberando
crescentes partes do território ocupado pelo autodenominado EI e outras
formações, que recuam também no Iraque. Depois de fingir durante anos combater
o chamado EI, fornecendo-lhe armas por debaixo do pano através da Turquia, os
EUA e seus aliados pedem atualmente o cessar-fogo por “razões humanitárias”. Em
substância, eles pedem que o governo sírio pare de libertar do proclamado EI o
seu próprio território, porque – segundo declarou o secretário de Estado John
Kerry, invertendo os fatos – “quanto mais Assad conquista território, mais ele
cria terroristas”. Ao mesmo tempo, a Otan reforça as “medidas de ressegurança”
da Turquia, que visa a ocupar uma parte do território sírio na zona de
fronteira.
No Norte da África,
a coalizão sob condução dos EUA, se prepara para ocupar, sob o pretexto de as
libertar do EI, as zonas costeiras da Líbia mais importantes econômica e
estrategicamente. A intensificação dos voos a partir do hub aéreo de Pisa,
limítrofe à base estadunidense de Camp Darby, indica que a operação “sob
condução italiana” já começou com o transporte de armas para as bases de onde
será lançada.
No mesmo quadro
estratégico se enquadra a decisão dos ministros da Defesa, “sob pedido conjunto
da Alemanha, da Grécia e da Turquia”, de deslocar para o Mar Egeu o Segundo
Grupo Naval Permanente da Otan, hoje sob comando alemão, que vem de concluir
“operações ampliadas com a marinha turca”.
A missão oficial da
frota de guerra “não é deter ou repelir as embarcações de refugiados, mas
fornecer informações contra o tráfico de seres humanos”, colaborando com a agência
Frontex da União Europeia. Com o mesmo objetivo “humanitário”, são também
enviados, por demanda dos EUA, aviões radares Awacs, centros de comando em voo
para a gestão do campo de batalha.
“A mobilização
atlântica é um bom sinal”, comenta “Il Fatto Quotidiano” de 12 de
fevereiro [1], lembrando que “não é a primeira vez que
a Aliança se engaja em uma ação humanitária”. Exatamente como na Iugoslávia, no
Afeganistão e na Líbia.
Publicando originalmente em http://www.voltairenet.org/article190353.html
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