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Se o acordo de paz ajustado entre Rússia e EUA der certo, quem perde é a Turquia.


Alex GORKA | 28.02.2016 ●●●●● tradução: NirucewKS063

Resultado de imagem para anger erdoganCaso tenham sucesso, os esforços diplomáticos na Síria terão impacto enorme entre os países vizinhos, especialmente a Turquia. Para a plateia e para todos os efeitos visíveis, o presidente Tayyip Erdogan apoia a iniciativa da Rússia e dos Estados Unidos, mas entre choro e ranger de dentes. Sim, isso está contra os seus instintos, mas há um montão de razões pelas quais ele não pode se opor abertamente. Ele apoia, mas cheio de reservas. Ficou muito claro que o líder turco está receoso com os acontecimentos.


Erdogan disse e redisse que o plano para um cessar fogo só serve mesmo para beneficiar Assad. A Turquia está a cada dia mais frustrada com a resposta internacional à guerra da Síria, em particular com os Estados Unidos, que resolveram apoiar a milícia curda que a Turquia vê como uma força insurgente. Além do mais, Ancara está revoltada até os ossos com a operação militar russa, que mudou completamente o equilíbrio do poder em favor de Assad, seu inimigo figadal.

Na realidade, o plano urdido pelos Estados Unidos e a Rússia foi asperamente criticado pelo presidente turco, que afirmou que na realidade ele só serve para beneficiar o líder sírio Bashar Al Assad.

Nós apoiamos um cessar fogo que traria alívio para nossos irmãos sírios”, disse Recep Tayyip Erdogan. “Mas estamos preocupados ao ver que este cessar fogo é o do regime de Assad, responsável pela morte de mais de meio milhão de pessoas, e dos poderes que o apoiam de forma aberta, enquanto para a oposição o tom do apoio é hesitante”. Erdogan acusa ainda o ocidente, a Rússia e o Irã de “permitir, direta ou indiretamente, a morte de pessoas inocentes”.

 “Se este é um cessar fogo à mercê da Rússia, que tem atacado brutalmente a oposição moderada e se alinhou com Assad sob o pretexto de lutar contra o Estado Islâmico, temo que o fogo que cai sobre pessoas inocentes nunca será parado” Disse Erdogan em um discurso pela televisão.

Disse mais: que as milícias curdas deveriam ser excluídas do cessar fogo.

Sabemos muito bem que isso não acontecerá. Os curdos sírios são a única força de combate no terreno, apoiada pela Rússia e pelos Estados Unidos, com capacidade de lutar contra o Estado Islâmico.

Claramente, o presidente turco está com as calças na mão.

A derrubada do avião de combate russo em novembro passado e o cessar fogo elaborado pela Rússia e pelos Estados Unidos em conjunto colocou os planos de Erdogan em um beco sem saída. Ao arruinar suas relações com a Rússia, Erdogan viu minguar sua influência na situação da Síria como um todo. Na verdade, o acordo entre Rússia e EUA tornou Erdogan, a Turquia et caterva simplesmente irrelevantes.

O governo turco tinha certeza absoluta de que o presidente Assad seria deposto e o país dividido. Isso providenciaria para a Turquia uma oportunidade de anexar áreas perto de suas fronteiras habitadas por sírios turcos e aniquilar as chances de um Estado curdo independente ou autônomo no Norte da Síria. A Turquia acreditava e ainda acredita que com a autonomia curda já estabelecida no Iraque, uma autonomia curda na Síria poderia representar uma ameaça ao instigar protesto entre as minorias curdas no país turco.

Em teoria, a Turquia poderia muito bem ter iniciado conversações com a Rússia, os Estados Unidos e a Síria sobre o futuro status de eventual Curdistão Sírio. A chance foi jogada no mato por Erdogan, quando a Turquia se recusou a reconhecer o governo sírio liderado por Assad e com a deterioração de suas relações com Moscou. Na visão dos Estados Unidos, os curdos são aliados na luta contra o Estado Islâmico. Agora, o presidente turco está de mãos atadas, sem ferramentas para impactar os eventos dentro da Síria. Eventual operação militar contra os curdos teria um custo proibitivo e seria de altíssimo risco. É de quase zero a possibilidade de sucesso em uma operação desse tipo sem apoio dos Estados Unidos e nos bigodes das operações militares russas. Com os jihadistas apanhando feito boi na horta, a formação e uma zona controlada pelos curdos e pelos militares sírios ao longo das fronteiras da Turquia se tornará o pesadelo recorrente do líder turco.

Resultado de imagem para anger davutogluO Primeiro Ministro turco está acusando a Rússia e a Síria, assim como o Estado Islâmico e a milícia curda apoiada pelos Estados Unidos de tentar formar um “escudo de terror” ao longo da fronteira com a Síria e disse que seu país não permitirá que isso aconteça. Em seu discurso semanal aos legisladores do partido governante em 23 de fevereiro, Ahmet Davutoglu disse que a intenção é estabelecer uma estrutura “terrorista” – baseada nos grupos do Estado Islâmico e milícias curdas do YPG (Unidades de Proteção do Povo – milícia curda – NT), apoiadas pelos Estados Unidos no norte da Síria. A Turquia considera a organização do YPG como terrorista por suas ligações com os rebeldes curdos proscritos pelo governo turco.

 “A Turquia está consciente desses jogos que pretendem fazer da Turquia um país vizinho de estruturas terroristas e não permitirá isso” disse Davutoglu.

Ancara está certa que este cenário resultará em agitação e instabilidade no país, causada pelos curdos turcos. O apoio para as forças que lutam contra Assad seria a única maneira de lidar com isso. Assim, a Turquia providencia ajuda logística para a oposição armada e os grupos terroristas que lutam contra Assad. Sua artilharia atinge alvos dentro da Síria, através da fronteira. Esse estado de coisas não vai durar para sempre. Se as forças que lutam contra o governo de Assad não respeitarem o cessar fogo ajustado entre Rússia e Estados Unidos, as ações de combate continuarão e as tropas sírias avançarão até a fronteira.

Uma Guerra total contra a Turquia é a última coisa que os curdos querem, por enquanto isso não está na sua agenda. Mas nunca se sabe. Pode se tornar uma possibilidade apenas remota se a Turquia estabelecesse boas relações com seus vizinhos que também possuem minorias curdas: Síria, Iraque e Irã. Estes países compartilham a perspectiva da criação de um Curdistão independente. Ocorre que atualmente nenhum destes países quer saber de amizades com a Turquia.

Uma parceria estratégica com a Rússia preveniria a Turquia contra essas possibilidades, mas a própria Turquia se privou definitivamente dessa opção.

A Rússia não está preocupada com o fator curdo. Na sua visão, os curdos são aliados do governo sírio na luta contra o Estado Islâmico. Se o presidente Erdogan pedisse desculpas formais pela derrubada do avião russo em novembro passado, talvez as relações entre os dois países pudesse ser normalizada. Como resultado, Ancara abriria uma janela de oportunidades e aumentaria seu papel como um ator influente na região, tomando parte do processo que determinará o futuro da Síria. Mas ao derrubar o avião russo, a Turquia cortou o nariz para arrumar o rosto... Talvez ainda não seja tarde para corrigir o mal feito.

Publicado originalmente em: http://www.strategic-culture.org/news/2016/02/28/russia-us-brokered-peace-initiative-syria-gain-result-turkey-loss.html
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