A oposição entra em colapso
na Síria como resultado dos eventos em Alepo
por YURY
ZININ
tradução: btpsilveira
“O fracasso da
oposição em Alepo” – “Enquanto a cidade cercada espera a batalha decisiva, o
Sol se põe sobre os terroristas”. Manchetes parecidas com estas podem ser encontradas
através de toda a imprensa do Oriente Médio depois da retirada desastrosa dos
jihadistas, especialmente aqueles da Frente Al-Nusra, da faixa de terreno que
eles se acostumaram a dominar em Alepo – segunda maior cidade da Síria.
A menos que as
forças da Jabhat al-Nusra tenham sido derrotadas, diz o influente jornal libanês
As Safir, Damasco não seria capaz de
expulsar outros grupos extremistas da cidade que eles ocuparam por tanto tempo.
O decorrer dos
acontecimentos em Alepo claramente pegou de surpresa aquelas forças do Oriente
Médio que têm apoiado a oposição radical armada, provendo-os tanto de
petrodólares quanto de armas e apoio na imprensa.
Estas forças
continuam papagueando as mesmas velhas acusações contra a Síria e a Rússia, de
que eles estariam bombardeando “brutalmente” a população civil em Alepo, e
desta forma “organizando um desastre humanitário”. Claro, eles têm que
encontrar uma desculpa, por esfarrapada que seja, para o fracasso de seus
jihadistas/terroristas em Alepo, enquanto ao mesmo tempo tentam fortalecer o
espírito daqueles que ainda têm capacidade de luta. Mas está tudo acabado
agora, ao ponto de ter o presidente do autodenominado “Observatório Sírio para
os Direitos Humanos”, citado na mídia ocidental dia sim outro também, resumido
a questão: a oposição sofreu em Alepo sua pior derrota desde 2012.
Não é coincidência
que a derrota tenha sido também reconhecida pelas forças antigovernamentais. A
oposição nunca esteve tão fraca, disse Faiz Farah, um dos mais proeminentes
líderes da Coalizão Nacional para as Forças de Oposição e Síria Revolucionária,
que permanece uma organização política e militar profundamente dividida, que
tem visto conflitos que desaguam em luta armada entre seus principais grupos
por todos os lados.
Neste momento, em
que se inicia o fim de seu apoio estrangeiro, argumenta Farah, a oposição está
se tornando cada vez mais fraca e seus patrocinadores fazem questão de não
deixar esquecer o quão fraca se tornou. Se a situação se aprofundar, a oposição
terá que encarar o inevitável – uma morte longa e dolorosa.
Como única chance
possível de sobrevivência, Farah pede urgência na imposição de uma transformação
política radical. Caso necessário, pede em particular que sejam cortados todos
os laços com a miríade de bandidos que estão lutando na Síria, incluindo os
terroristas e grupos como a Jabhat al-Nusra.
Outro membro
proeminente da oposição síria, Haj Hussein disse que a oposição se tornou mero
peão nas mãos de forças externas. Ele alega que o financiamento externo desacredita
os esforços da “causa nacional”. Com tudo isso, é claro como água que a oposição
está entrando em uma crise sistêmica profunda e começa a colher os frutos das
decisões equivocadas tomadas em 2011. Naquela ocasião, ao assumir o desejo de
derrubar um governo legítimo, acabaram por lançar o país em um quadro de caos e
destruição, tornando-se ilegal no decorrer do processo.
A oposição não foi
capaz até agora de apresentar um único projeto de desenvolvimento para o país.
O que mais se ouve deles é a lamentação constante de que foram alegadamente “abandonados
pelo ocidente”. Neste momento, o slogan mais popular estre esses grupos é o de
que os Estados Unidos e seus aliados deram folga demais para o “Urso Russo”.
O jornal londrino Al-Arab disse que a oposição, apesar de
todo o forte apoio que tiveram do ocidente, até agora falhou em convencer o
mundo de que é capaz de desempenhar um papel comparável ao mostrado por
Damasco. Preferem buscar a justificação fácil para seu fracasso, dizendo que
até agora houve todo tipo de conspiração “contra a revolução do povo sírio”.
Certos jornalistas
sempre se referem a esta “revolução” como uma espécie de força mística, que
seria, conforme apregoam, muito complicada para ser entendida por meros
mortais. Ocorre que estes últimos já fizeram sua escolha, escolhendo da maneira
mais antiga conhecida na história humana: eles fugiram das áreas controladas
pela oposição, buscando refúgio nas áreas controladas pelo governo ou para fora
do país. Hoje, a repetição deste mesmo cenário pode ser visto em Alepo:
centenas de milhares de residentes da parte oriental da cidade, mesmo com as
ameaças de morte feitas pelos jihadistas radicais, estão saindo para distritos ocidentais
da cidade, que já estão sob o controle de Damasco.
YURY ZININ, prestigiado pesquisador
do Instituto Moscovita Estatal para Relações Internacionais, exclusivamente
para a revista online “New Eastern Outlook.”
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