A União Europeia está confusa: pensa em
cooperar com Moscou para enfrentar Trump
Peter Korzun, traduzido por btpsilveira
A união Europeia está preparada para um relacionamento mais claramente comercial com os Estados Unidos uma vez que o presidente eleito Donald Trump assuma seu
mandato, disse em 03 de dezembro Federica Mogherini, Alta Representante da União Europeia para Relações
Exteriores e Políticas de Segurança e vice presidente da Comissão
Europeia.
De acordo com a
proeminente diplomata, uma União Europeia mais independente poderia se alinhar
com a Rússia contra quaisquer esforços da administração Trump caso esta decida
minar o acordo com o Irã, embaralhar a política no Oriente Médio ou reduzir o
papel das Nações Unidas. “De uma maneira transacional... caso a caso, poderemos
encontrar assuntos nos quais não seria surpresa ver europeus alinhados com
russos, do mesmo lado – Acordo com o Irã, processo de paz do Oriente Médio e
possivelmente o papel das Nações Unidas”, disse ela.
Mas ela também expressou sua preocupação com a possibilidade de uma
reaproximação Rússia/EUA, às custas da Europa.
Estas declarações contraditórias revelam quão profundamente desorientada
está a União Europeia depois da eleição de Donald Trump para a presidência dos
Estados Unidos com o slogan “EUA primeiro”. Ao contrário de governos nacionais
que tentam desesperadamente proteger seus próprios interesses enquanto
transitam entre vários centros de poder, Bruxelas tem sido abertamente pró
Estados Unidos, ao apoiar aventuras militares no estrangeiro e ao promover o
TTIP (Transatlantic Trade and Investiment Partnership – Parceria Transatlântica
de Comércio e Investimento – NT).
Aparentemente, a apreensão da liderança da União Europeia é justificada.
Trump pende para os interesses nacionais em detrimento da globalização. De
certa forma, é uma atitude isolacionista. Seus ataques contra a China e o Irã,
sua caracterização como «candidato pro-Russia» pelas posições do
secretário de estado que indicou e suas admoestações contra a OTAN, que
necessitaria de reforma – tudo caminha na direção de mostrar que a União
Europeia tem que se adaptar a uma nova realidade. Com seu futuro incerto,
Bruxelas tem que encontrar o seu lugar em um ambiente de mudança constante. Os
avanços na direção de Moscou mostram o processo de busca de novas orientações para
a sua política externa, entre a crescente confusão entre as fileiras de
liderança da União Europeia.
Mogherini acredita que os pontos em comum com Moscou seriam “Acordo com
o Irã, processo de paz no Oriente Médio e possivelmente o papel desempenhado
pelas Nações Unidas”. Ocorre que a União Europeia não é membro das Nações
Unidas; não está claro o que ela quis na realidade dizer. Está bem difícil
entender como a Rússia e a União Europeia poderiam juntar esforços para conter os
Estados Unidos na Síria com toda a histeria europeia quanto às “atrocidades”
supostamente cometidas em Alepo. Bruxelas jamais lançou iniciativas próprias
para lidar com a crise no país assolado pela guerra.
Já a questão do acordo nuclear com o Irã é coisa que poderia ser
discutida. De fato, Trump já disse várias vezes que se opõe ao acordo e quer
que ele seja renegociado. Essa política vem contrastar com a reaproximação
recente entre Rússia e Irã. No entanto, ainda é muito cedo para dizer que os
assuntos relacionados ao Irã podem prejudicar o relacionamento Rússia/EUA
depois que Trump assumir a presidência.
Mas não tem base alguma as conjecturas de que estes assuntos poderiam
fazer com que a União Europeia e a Rússia se tornassem mais próximas em
oposição aos Estados Unidos. A simples ideia disso já é um sinal de desespero.
Não há dúvidas que a União Europeia deve atravessar tempos turbulentos e que
não é a hora certa para antagonizar Moscou. Qualquer um pode afirmar com
certeza de que a coisa certa a fazer seria levantar as sanções contra a Rússia
como primeiro passo para normalizar as relações entre Moscou e Bruxelas. Mesmo
porque as medidas restritivas são totalmente inúteis.
Acontece que apesar do que disse a Sra. Mogherini sobre uma possível
colaboração entre a Rússia e a União Europeia, o bloco, em 15 de dezembro, estendeu
por mais seis meses as sanções econômicas contra a Rússia, o que vem complicar
o relacionamento. Com as sanções em andamento, todas essas propostas vagas de coordenação
de esforços de política externa, incluindo as políticas que venham a ser adotadas
pelos Estados Unidos, que nem foram tomadas ainda, não passam de perda de
tempo.
A Rússia toma suas próprias iniciativas, mas sempre preferiu propostas
que fossem claramente definidas. Vou dar um exemplo: em sua entrevista para o
jornal alemão Die Welt em 14 de
dezembro, o Representante Permanente da Rússia para a União Europeia, Vladimir
Chizhov, fez uma proposta para iniciar cooperação
militar entre a Rússia e a União Europeia.
A Rússia e a União Europeia já têm experiência em operações militares
conjuntas no Chade, nos Balcãs e na luta contra os piratas na costada Somália.
De acordo com o diplomata, Moscou está pronto para concluir um acordo que dê
base legal para tais atividades conjuntas. A Rússia e a União Europeia podem
comandar forças conjuntas ou conduzi-las sob o comando das Nações Unidas.
Colocando as diferenças de lado poderiam cooperar em assuntos de segurança
mútua que mudariam o padrão das relações bilaterais em outras áreas da relação
em comum. A bola está nos pés da União Europeia.
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