O que pode dar errado? (I)
por William Blum
tradução de btpsilveira (http://mberublue.blogspot.com.br/)
01 de dezembro de2016 – Information
Clearing House – Ele não é “qualificado”?
Isso não tem importância.
Ele jamais foi eleito
para qualquer coisa no governo? Também é irrelevante.
E também não importa que em nível
pessoal ele não passe de um panaca.
Para mim, o que conta realmente no
atual estágio que as coisas atingiram é que ele – ao contrário da querida Hillary – provavelmente não vai
começar uma guerra contra a Rússia. Seu questionamento sobre a sacralidade da
OTAN, que classificou como “obsoleta”, e seu encontro com a congressista Tulsi
Gabbard, do Partido Democrata, severa crítica da política de mudança de regime
dos Estados Unidos, notadamente na Síria, é outro sinal encorajador.
Ainda mais encorajadora é a indicação
do General Michael Flynn como Conselheiro para a Segurança Nacional. Flynn
jantou no último ano com Vladimir Putin em um jantar de gala oferecido pela
estatal de comunicação russa de tendência esquerdista e linguagem inglesa, RT
(Russia Today). Agora, na mídia ocidental, Flynn está estigmatizado porque não
vê a Rússia ou Putin como demônios a serem exorcizados. Na verdade é mesmo
incrível a indiferença com a qual os jornalistas ocidentais veem a
possibilidade de uma guerra contra a Rússia, mesmo um conflito termo nuclear.
(agora fico só na espera de uma barragem
de emails de meus leitores politicamente corretos, sobre a alegada tendência
antiIslâmica de Flynn, mas mesmo que seja verdade, isso é irrelevante para a
discussão dos meios para evitar uma guerra contra a Rússia)
Penso que, sob Trump, a influência
(norte)Americana sirva para encontrar uma solução para a sangrenta crise
Rússia/Ucrânia, que resultou da derrubada pelos EUA do presidente ucraniano
democraticamente eleito em 2014 para possibilitar futuros avanços da OTAN no
cerco da Rússia; poderia em seguida colocar um fim nas sanções impostas pelos
Estados Unidos contra a Rússia, que ninguém na Europa quer ou foi por elas
beneficiado; e então – finalmente! – um fim para o embargo contra Cuba. Seria
um dia para comemorar! Pena que Fidel não estará aqui para ver isso.
Poderíamos ter outros dias para
celebrações se Trump resolver perdoar ou de qualquer forma colocar em liberdade
Chelsea Manning, Julian Assange e/ou Edward Snowden. Nem Obama nem Hillary
jamais fariam isso, mas penso que com Trump há pelo menos uma chance. Assim,
aqueles três heróis podem ter ao menos um pouco de esperança. Tenho na mente um
quadro onde todos eles estarão reunidos comemorando esse dia maravilhoso.
É bem provável que Trump não se
disponha a lançar ações militares contra o Islã radical pelo medo de ser tachado
como antimuçulmano. Basta a sua repulsa contra o Estado Islâmico e a vontade de
destruí-lo, algo que com certeza não pode ser dito a respeito de Barak Obama.
Quanto aos tratados internacionais,
escrito por advogados de corporações empresariais com o claro intuito de
beneficiar apenas seus patrões, sem qualquer preocupação com o resto de nós,
deve ter tratamento muito mais duro com Trump na Casa Branca que o acontecido
normalmente até aqui.
Os principais críticos da política externas
de Trump deveriam estar envergonhados e até mesmo humilhados por aquilo que
apoiam no Afeganistão, Itaque, Líbia e Síria. Ao invés disso, o que os incomoda
sobre o presidente eleito é sua falta de vontade de fazer com que o mundo se
torne a imagem dos EUA. Eles parecem muito mais preocupados em saber porque
diabos o mundo não ser uma imagem servil e mal ajambrada dos Estados Unidos.
No ultimo e trepidante capítulo da saga
“Alice na Trumpelândia”, ele disse que não tem mais planos para processar
Hillary Clinton, que ele tem uma mente aberta sobre os acordos relativos à
mudança climática, doas quais ele prometeu retirar completamente os Estados
Unidos e que ele também não tem mais certeza de que é uma boa ideia torturar
suspeitos de terrorismo. Assim, se você inda tem seja lá quais medos sobre as
palavras que ele derrama sobre suas políticas... respire fundo... elas podem
ser facilmente abandonadas à beira do caminho; embora eu ainda pense que em nível
pessoal ele seja um imbecil ( aqui o
autor faz uma brincadeira intraduzível: “he’s
a two-sillable word: first sylable is a synonym for a donkey; second sillable
means ‘an opening’ ” – ou seja. A primeira sílaba é o sinônimo de donkey/burro
em inglês: ass. A segunda significa uma abertura: hole/buraco. Juntando as duas
temos asshole – imbecil – NT )
Aparentemente, Trump ainda sente
necessidade profunda de aprovação e pode sucumbir miseravelmente ao criticismo
generalizado e aos protestos. Tadinho do Trump... tão poderoso... tão
vulnerável.
O dilema de Trump, bem como as homéricas
trapalhadas de Hillary, poderiam provavelmente ser evitadas se Bernie Sanders
tivesse alcançado a indicação no Partido Democrata. Isso será um enorme “se”
histórico, digno de ser colocado ao lado da escolha dos Democratas que
escolheram Harry Truman para substituir Henry Wallace em 1944, com Roosevelt,
doente, como vice. Truman nos legou uma coisinha charmosa chamada Guerra Fria,
que por sua vez nos presenteou com o McCartismo. Acontece que Wallace, assim
como atualmente Sanders, era um tanto quanto insuportavelmente esquerdista para
as narinas refinadas do Partido Democrata.
Mídia chapa branca: o
bom, o mau e o feio
Em 16 de novembro, em um briefing no
Departamento de Estado, o porta voz John Kirby estava em pleno exercício de um
de seus diálogos ásperos com Gayane Chichakayan, repórter da RT (Russia Today),
desta vez sobre as acusações dos Estados Unidos de que a Rússia estaria
bombardeando hospitais e bloqueando a entrada de ajuda humanitária da ONU na
Síria que ajudaria a população encurralada na cidade de Alepo. Quando Chichakyan
pediu pela explanação de algum detalhe sobre estas acusações, Kirby replicou: “Por que você não pergunta para o seu
Ministério da Defesa”?
GK – Pergunte você. Mas você pode dar
qualquer informação específica sobre quando a Rússia ou o governo sírio
bloqueou as entregas de ajuda humanitária da ONU? Apenas alguma informação
específica.
KIRBY: Não houve qualquer entrega de
ajuda no último mês.
GK: E você acredita que essa ajuda foi
bloqueada exclusivamente pela Rússia ou pelo governo sírio?
KIRBY: Não tenho nenhuma dúvida que a
obstrução está vindo do regime e da Rússia. Não há dúvidas.
…
MATTHEW LEE (Associated P`ress):
Deixe-me – pera aí, apenas deixe-me dizer: Por favor, tenha cuidado ao dizer:
“seu ministério da defesa” e coisas parecidas. Quero dizer que ela é uma
jornalista como nós todos, assim – ela está perguntando por questões colocadas,
mas eles não são –
KIRBY: São de uma estatal – de uma
estatal –
LEE: Mas eles não são–
KIRBY: De uma mídia estatal, Matt.
LEE: Mas eles não são –
KIRBY: São de uma mídia estatal que não
tem independência.
LEE: As questões que ela está colocando
não estão fora do contexto.
KIRBY: Eu não disse que as questões
estão fora do contexto.
……
KIRBY: Sinto muito, mas não colocarei a
Russia Today no mesmo nível do resto de vocês que estão representando empresas
de mídia independentes.
Talvez alguém devesse perguntar se o
porta voz do Departamento de Estado sabe que em 2011 a Secretária de Estado
Hillary Clinton ao dar uma entrevista falando sobre a RT declarou: “os russos
abriram uma rede de TV em língua inglesa. Ela já está em alguns países, e a considero
muito instrutiva”.
O Senhor Kirby deveria responder também
quanto a repórteres da BBC, UMA EMPRESA ESTATAL de televisão e rádio difusão do
Reino Unido, a qual emite suas transmissões para os Estados Unidos e por todo o
mundo.
Ou sobre a ESTATAL Australian
Broadcasting Corporation, descrita na Wikipedia nos seguintes termos: “A
corporação provê serviços de celular, internet, rádio e TV, através das regiões
metropolitanas e nacional na Austrália, bem como além mar ... e é muito bem
conceituada pela qualidade e confiabilidade, bem como por oferecer programação
cultural e educacional que o setor de difusão comercial não parece ser capaz de
fornecer por si mesmo”.
Temos ainda a Radio Free Europe, Radio
Free Asia, Radio Liberty (Região Central e Oriental da Europa) e a Radio Marti
(Cuba); todas estatais, nenhuma “independente”, mas todas consideradas pelos
Estados Unidos boas o suficiente para continuar a fornecer informação para o
mundo.
Não devemos nos esquecer do que os
(norte)Americanos têm em casa: PBS (Public Broadcasting Service) e NPR
(National Public Radio), as quais teriam vida muito curta sem subsídio estatal.
Quão independentes seriam? Alguma delas por acaso já se opôs de forma aberta às
modernas guerras dos Estados Unidos? Há razões muito boas para supor que a NPR
possa ser chamada de National Pentagon Radio (Rádio Nacional do Pentágono – NT). Mas não importa, isso é
parte da ideologia da imprensa (norte)americana de fingir que não tem ideologia
nenhuma.
Bem, em relação à imprensa não estatal (norte)americana...
Há cerca de 1400 jornais diários nos Estados Unidos. Por acaso você pode
mencionar um singelo jornal, um só, ou uma rede de TV qualquer que tenha sido
inequivocamente contra as guerras desfechadas pelos Estados Unidos contra a
Líbia, Iraque, Afeganistão, Iugoslávia, Panamá, Granada e Vietnã enquanto elas
estavam ocorrendo ou pelo menos logo após terem começado? Ou que tenha demonstrado oposição a duas delas? Que tal uma delas,
pelo menos? Em 1968, seis anos depois da Guerra do Vietnã, o Boston Globe (18 de fevereiro de 1968) examinou
as posições editoriais de 39 jornais líderes nos Estados Unidos em relação à
guerra, descobrindo que “nenhum advogou pela cessação da guerra”. Por algum acontecimento
divino alguém jamais viu em jornais da imprensa empresa dos EUA a frase “Invasão
do Vietnã”?
Em 2003, a estação líder de audiência
MSNBC tirou do ar o admirado Phil Donahue por causa de sua oposição à
convocação para a guerra contra o Iraque. Com certeza, o Sr. Kirby pode sem dúvida
nenhuma chamar a MSNBC de “independente”.
Caso a mídia (norte)americana fosse
oficialmente controlada pelo Estado, será que soaria diferente do que vemos
quanto à política externa dos Estados Unidos?
Observação soviética:
“A única diferença entre a nossa propaganda e a sua propaganda é que vocês
acreditam na sua”.
...(continua)
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