Síria:
Alepo liberada, problemas para a Turquia.
Moon of Alabama,
tradução de btpsilveira
A
liberação da parte oriental de Alepo foi completada antes do natal, exatamente
como planejado pelas forças russas. Os terroristas já não praticam decapitações
na cidade. Em vez disso, a quase destruída Catedral do Profeta Elias na Cidade
Velha foi tomada por uma multidão de pessoas para comemorar o Natal.
Por volta
de 88.000 pessoas deixaram a área durante a evacuação de Alepo Oriental. De
acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha cerca de 35.000 (13.000
militantes e suas famílias) deixaram a cidade rumo à cidade de Idlib,
atualmente sob o domínio da Al-Qaeda. A Organização de Ajuda Humanitária da ONU
apurou que 54.000 pessoas acorreram para as áreas dominadas pelo governo do
país na Alepo Ocidental.
Os
sapadores atualmente desenvolvem um trabalho de procura e desmontagem de vários
dispositivos explosivos que já causaram dezenas de mortes
entre soldados do exército da Síria.
Foram encontradas valas comuns
repletas de corpos de civis e de soldados sírios executados provavelmente pouco
antes da evacuação pela Al-Qaeda, Ahrar al Sham e outros grupos terroristas
apoiados pelos Estados Unidos.
O governo sírio queria negociar sua libertação
antes da evacuação, mas a estimativa de mortes adicionais pela presença
prolongada de terroristas durante as negociações era alta e a política
internacional exigia uma solução tão rápida quanto possível para a crise.
Vários
armazéns cheios de comida foram encontrados, assim como equipamentos clínicos.
Os militantes e suas famílias obviamente estavam bem supridos, enquanto a
população sofria. As armas e munições encontradas (em grande parte feitas na
Bulgária – vídeo de apenas um dos armazéns 1, 2)
e transportadas e distribuidas pelos Estados Unidos – e têm o valor estimado até
agora em cerca de 100 milhões de dólares [norte]americanos).
As
forças da Turquia e de alguns de seus jagunços estão tentando capturar a cidade
de Al Bab, a leste de Alepo e que no momento se encontra em mãos dos militantes
do Estado Islâmico. A sua “Operação Escudo do Eufrates” está enfrentando sérios
problemas. Assim que suas forças mercenárias se encontraram com os lutadores do
Estado Islâmico, fugiram em desabalada carreira. Em 22 de dezembro um ataque
suicida a bomba matou 16 soldados turcos. Cerca de 80 a 90 soldados turcos
foram mortos durante a curta campanha, apenas até agora – mais que todos os
soldados russos mortos na Síria desde o início da campanha da Federação Russa
há mais de um ano. Dez dos
mais modernos tanques do exército turco, os Leopard2A4, construídos na
Alemanha, foram ou destruídos ou danificados pelas forças do Estado Islâmico,
que usaram os mísseis antitanques TOW fornecidos pelos Estados Unidos para seus
“rebeldes moderados” que lutam contra o governo sírio. Fotos da batalha fornecidas
pelo Estado Islâmico sobre os danos causados à cidade de Al Bab mostram os
“Capacetes Brancos” financiados pelos Estados Unidos e pela Inglaterra,
fornecendo “trabalho de socorro” aos lutadores do Estado Islâmico.
O
exército turco enviou mais 500 tropas de forças especiais bem como artilharia para
tentar conquistar Al Bab. Não foi permitido que jatos turcos entrassem no
espaço aéreo da Síria e os Estados Unidos negaram qualquer apoio aéreo. Hoje, a
Força Aérea da Federação Russa (!) deu apoio
áereo para as tropas turcas que lutam contra o ISIS em Al Bab (caso vocês se
lembrem, há pouco tempo os propagandistas neocons estavam afirmando
estridentemente que a Rússia tinha fornecido ao Estado Islâmico uma
Força Aérea.)
No
leste da Síria, mais uma vez o Estado Islâmico está tentando capturar o enclave
governista em Deir Azzor, mas até agora as tentativas de alcançar qualquer
ganho de terreno acabaram em fracasso. As forças do YPG curdo e alguns grupos
árabes tribais subornados e hilariantemente denominados “Forças Democráticas da
Síria”, ambos sob o comando dos Estados Unidos se arrastam muito lentamente para as proximidades
da cidade de Raqqa, tomada pelo ISIS.
Um
pouco antes do Natal, o presidente dos Estados Unidos assinou uma nova diretiva
que permite a distribuição de defesa antiaérea do tipo MANPAD para os “rebeldes
moderados” na Síria. Alguns desses MANPADs fatalmente acabarão nas mãos do
Estado Islâmico, exatamente como aconteceu com os TOW que a CIA “distribuiu”
para os “rebeldes moderados”. Essas armas poderão muito bem ser usadas contra
as linhas aéreas civis fora da Síria. Os curdos dos grupos YPG/SDF também
querem essas armas calculando corretamente que seu principal inimigo potencial
é o exército turco da OTAN e sua Força Aérea. Já os russos entendem que a
distribuição dos MANPADs para seus inimigos na Síria é um “ato hostil” e
deverão responder à altura.
Com
a acumulação de suas perdas na Síria, agora o presidente Erdogan está acusando
os Estados Unidos de estar apoiando o ISIS e outros grupos terroristas na Síria –
grupos, aliás, que o próprio Erdogan apoiava até que o golpe suposta e
provavelmente apoiado pelos Estados Unidos foi derrotado (com ajuda da Rússia –
NT). Suas constantes reviravoltas (pro-EI/anti EI; pro Russos/Anti Russos/pro
Russos, etc) estão fazendo fazendo com que perca apoio entre seus seguidores (além disso, os
problemas econômicos do país não ajudam em nada). O recente assassinato do
embaixador russo na Turquia por um policial ligado a grupos islâmicos pode ser
um dos resultados dessa bagunça toda.
Não
são apenas os seguidores de Erdogan que estão confusos, entre os vários atores,
aliados e interesses na Síria. Elijah Magnier escreveu uma excelente
retrospectiva sobre o atual “Equilíbrio regional e internacional no Levante”. A
primeira parte cobre as idas e vindas da Turquia na guerra da Síria e a segunda parte, O papel da Rússia e suas diferenças táticas com o
Irã na guerra da Síria.
Ele conclui que:
A Síria certamente está a caminho de outras
batalhas, mas um acordo de paz já parece ser visível para o ano de 2017.
Algumas vezes a diplomacia necessita de um pouco da linguagem de armas e fogo
para impor a paz aos participantes. Uma coisa é certa: os jihadistas não
deporão suas armas porque isto vai contra a essência de sua ideologia. Mais
certamente deverão migrar para algum país nas cercanias da Síria.
A
primeira escolha lógica dos militantes em migração deverá ser a Turquia, onde
eles têm uma base de apoio e muitos seguidores de sua ideologia. Com sua
procura pela guerra na Síria e apoio aos radicais islâmicos Erdogan acabou por
colocar seu país na mesma posição que o Paquistão se colocou quando Muhammad
Zia-ul-Haq apoiou o suprimento dos Mujaidins pela CIA, contra o governo
progressista do Afeganistão em 1978. O resultado foi uma lenta, constante e
mortal insurgência que prejudica o país desde então. Provavelmente demorará
décadas para a Turquia se libertar desse câncer e retornar ao modelo de país
secular.
http://www.moonofalabama.org/2016/12/syria-roundup-turkeys-problems-increase.html#more
http://www.moonofalabama.org/2016/12/syria-roundup-turkeys-problems-increase.html#more
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