Terroristas esmagados
em Alepo. Agora é Idlib.
por Peter Korzun, com tradução de btpsilveira
Com uma esmagadora derrota dos
terroristas cada vez mais próxima em Alepo, os insurgentes estão desenvolvendo atividades
cada vez mais intensas na província de Idlib. A derrota em Alepo agora é mais
uma questão de “quando” que de “se”. E está bem próxima. As forças sírias
apoiadas pela Rússia conseguiram uma vitória notável que pode mudar o curso da
guerra, apesar do fato incontestável que o final do conflito ainda está
distante. Grandes porções do território ainda são controladas pelos rebeldes, notadamente
em Idlib. Atualmente a província é a maior área geográfica nas mãos dos grupos
de oposição, dos quais o mais importante é a Jabhat al-Nusra (sua nova
denominação é “Jabhat Fatah al-Sham) e Jund al-Aqsa.
Na
medida em que centenas de rebeldes estão se rendendo e deixando suas posições
em Alepo, o grupo extremista sunita Ahrar al-Sham atacou os enclaves xiitas
Fouah e Kafraya na província de Idlib com lançadores de mísseis do tipo Grad
(tipo de lançador múltiplo de foguetes desenvolvido pelos soviéticos). O ataque
foi mais simbólico que outra coisa. Na realidade, a queda de Alepo é o início
de uma nova batalha pela província de Idlib. Os ataques sinalizam uma finalização
dos acordos de cessação de hostilidades firmados em 2015.
Na etapa que deve se seguir,
Idlib se tornará o mais importante alvo e destino das operações militares conjuntas
de sírios e russos. Com exceção do Estado Islâmico, Idlib se tornou o lar de um
grande número de movimentos rebeldes no país. É lógico supor que os extremistas
pretendem cercar e “limpar” os enclaves sunitas ainda existentes na província
antes que os ataques já esperados tenham início. Mais de 20.000 militantes
oriundos de outras partes da Síria se dirigiram recentemente para Idlib, sempre
se aproveitando das tréguas acordadas com as forças governamentais. Estão tomando posição para repelir o assalto esperado.
Rebeldes
altamente posicionados na coalizão antigovernamental também estão se movendo
para a província para “governar o novo Estado Sírio”.
Conforme uma fonte rebelde, uma dezena de
antigos militantes do Estado Islâmico – entre eles o Jurista Islâmico tunisiano
Bilal al-Shuwash al-Tunsi e seu parceito Abu Darr al-Tunsi – chegaram na
província de Idlib no dia 06 de dezembro depois de terem cruzado a fronteira
com a ajuda da Turquia. Bilal al-Shuwash al-Tunsi e seus lutadores agora estão
nas fileiras da Jabhat Fateh al-Sham, um grupo jihadistas que tem ligações com
a al-Qaeda.
O porta
voz do líder da Jaysh al-Fateh, xeque Abdallah Muhammad al-Muhaysini disse que centenas de lutadores do Estado Islâmico estão
deixando aquela organização terrorista e se juntando às fileiras rebeldes
devido à constante perda de território que o Estado Islâmico atualmente sofre.
Tudo
isso indica que haveria um plano de tornar Idlib um novo campo de batalha para
a criação de um governo paralelo ao Estado Sírio. A batalha por Idlib deve ter
início ainda antes da posse do presidente eleito dos Estados Unidos. Não
obstante, a administração Obama ainda quer porque quer alcançar seu objetivo de
derrubar Assad apesar de todas as dificuldades, chegando mesmo à beira de uma guerra com a Rússia. Obviamente, esta política
é rejeitada por Donald Trump.
O
presidente eleito tem uma visão bem diferente quanto à forma de resolver a
crise na Síria que a da atual administração. Ele acredita que a principal prioridade de sua administração na
Síria deve ser derrotar o Estado Islâmico em vez de lutar para derrubar o
presidente sírio Bashar al-Assad.
Trump
tem sustentado que a mudança de regime na Síria apenas causaria ainda mais
instabilidade na região. Ele pensa que apoiar o presidente Assad é a maneira
mais eficiente de impedir que no terrorismo se espalhe ainda mais. De acordo
com seus pronunciamentos, ele deve buscar uma aliança com a Rússia
contra o Estado Islâmico.
O presidente
da Síria acredita que Trump pode vir a se tornar um “aliado natural” na luta contra o terrorismo.
Não se
exclui sequer a possibilidade de cooperação entre Estados Unidos e Rússia na
Líbia, Afeganistão e Iraque.
Com a
operação liderada pelos Estados Unidos para tomar Raqqa, a capital não oficial
do Estado Islâmico, a derrota dos rebeldes em Alepo e a batalha iminente por
Idlib, a questão “o que acontecerá a seguir” na Síria adquiriu importância
essencial. Chegou a hora em que as principais partes envolvidas terão que tomar
decisões cruciais. Ou coordenarão esforços ou continuarão em precário
equilíbrio, nas fronteiras do confronto direto.
Quando
Donald Trump estiver na presidência, tornar-se-á possível um acordo para a
coordenação de atividades. Um bom início poderia ser o esforço conjunto para
bombardeios aéreos contra a Jabhat Fatah al-Nusra em Idlib e o Estado Islâmico.
As zonas de influência e obrigações mútuas podem ser definidas até que as
eventuais negociações conduzidas pela ONU produzam efeito. Juntos, EUA e Rússia
poderiam avançar no quadro do Grupo Internacional de Apoio à Síria.
O
posicionamento de Trump na Síria abre novas oportunidades de cooperação
frutífera com a Rússia. O conflito não pode durar para sempre. A cooperação
entre Rússia e os Estados Unidos é condição sine
qua non para a conquista de acordos de paz. Esta atitude pode se refletir
em outras áreas do relacionamento bilateral.
Estas
esperanças e perspectivas tem uma chance de se materializarem. Atualmente, algo
muito estranho está acontecendo. Apesar de todo o sensacionalismo ocidental
sobre a necessidade de combater o terrorismo, os sucessos militares das forças
apoiadas pela Rússia em Alepo provocam raiva e ranger de dentes e apelos para a
suspensão dessa operação bem sucedida.
Em 07
de dezembro, os Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França, Itália e Canadá
afirmaram estar prontos para impor sanções contra os aliados do presidente
Bashar al-Assad. O porta voz da Casa Branca Josh Earnest disse que os Estados
Unidos e seus aliados europeus devem impor mais sanções políticas e econômicas
contra a Rússia por causa da Síria. Os líderes ocidentais querem uma cessação
imediata das hostilidades por razões humanitárias. Isso é uma besteira sem
tamanho. Os grupos terroristas se reagrupariam para fazer com que o povo
sofresse por mais tempo. A melhor maneira de levar ajuda humanitária para a
crise de Alepo é derrotar os militantes o mais rápido possível.
São
altas as perdas civis em Raqqa e Mosul, mas não se vê ninguém dizendo que os
combates devem cessar. Derrotar aqueles que estão causando o problema é a
melhor maneira de resolvê-lo. Apenas depois disso um esforço internacional
apoiado pela ONU poderia realmente prestar algum tipo de ajuda.
O Ministro
de Relações Exteriores da Rússia já descartou a ameaça ocidental como sendo mero sinal de “impotência
política”.
As
ameaças de sanções adicionais estão fatalmente destinadas a serem infrutíferas,
da mesma forma que as desesperadas tentativas dos militantes terroristas de
manter pelo menos um pedaço da cidade sob seu controle. Alepo é página virada.
O que importa agora é Idlib.
Parece
que a atual administração dos Estados Unidos e seus aliados europeus fazem o
melhor que podem para ajudar os terroristas e impedir a sua derrota total. Mas
estas ameaças não impedirão as forças aliadas à Rússia de atacar duramente e em
breve os terroristas que se concentram em Idlib. Quanto mais sucessos militares
contra os terroristas são conquistados, mais evidente a “impotência política”
ocidental se torna. De qualquer forma, os acontecimentos na Síria estão
acontecendo da pior maneira possível para a atual administração dos Estados
Unidos e seus aliados. E não há o que possam fazer para mudar este estado de
coisas.
Comentários
Postar um comentário