Empurrados pelos
neocons, EUA e o mundo caminham para uma crise perigosa
Texto de The Saker – tradução de btpsilveira
Primeiro,
o que escrevi no muro
Em
outubro do ano passado escrevi uma análise denominada Os EUA estão
prestes a encarar a pior crise de sua história e como o exemplo de Putin pode
inspirar Trump e penso que está na hora de revisitá-la. Comecei
aquele artigo analisando as calamidades que poderiam recair sobre os Estados
Unidos se Hillary fosse eleita. Desde que isso não aconteceu (graças a Deus!),
podemos ignorar essa parte com segurança e partir para minhas predições do que
poderia acontecer se Trump fosse eleito. Eis o que escrevi:
Trump
vence. Problema: ele estará completamente sozinho. Os neocons têm o controle
total, repito: total controle do Congresso, imprensa, banca/finanças e dos
tribunais. De Clinton a Clinton eles se infiltraram profundamente no Pentágono,
Foggy Bottom (“Foggy Bottom” – apelido do
Departamento de Estado, devido ao nome do bairro onde está instalado desde 1947
– NT), e nas agências de três letras. Seu quartel general é o FED. Como
diabos Trump poderá lidar com esses “malucos no porão”,
babando de ódio? Pense na campanha de rancor surdo que todas as
“personalidades” (de atores a políticos e repórteres) lançaram contra Trump –
eles queimaram todas as pontes, eles sabiam muito bem que perderiam tudo se
Trump vencesse (e se ele se mostrar um bundão fácil de domar, sua eleição não
fará a menor diferença). Os neocons nada tem a perder e lutarão até o último
homem. Como Trump teria que agir para fazer alguma coisa antes de ser
completamente cercado e anulado pelos neocons e seus agentes de influência? Nomear
uma equipe totalmente diferente? Como emplacá-los? Sua primeira escolha – Pence
como candidato a vice – já foi um desastre total (ele já está traindo Trump na
Síria e quanto ao resultado das eleições). Eu tinha *medo* de ouvir quem Trump
apontaria como Chefe de Gabinete da Casa Branca porque temia que apenas para
tentar apaziguar os neocons, nomeasse uma nova versão do infame Rahm Emanuel...
(político dos EUA, do partido Democrata,
que foi Chefe de Gabinete da administração Obama de 2009 a 2010 – NT). Caso
Trump prove que tem princípios e coragem, os neocons sempre podem arrumar um
jeitinho de meter um “Dallas” nele e substituí-lo. Pence. Et voilá!
Sugeri
então que a única opção de Trump seria seguir o exemplo de Putin e fazer com os
neocons o que Putin fez com os oligarcas. Claramente, isso não aconteceu. Na
realidade, um mês depois da eleição de Trump, escrevi outra análise intitulada
“Pessoal, acabou! Os neocons e o ‘estado profundo’
castraram a presidência Trump”:
Há menos
de um mês, alertei que uma “revolução colorida” estava em curso nos Estados
Unidos. Meu principal elemento de prova era a assim chamada “investigação” que
CIA, FBI, NSA e outras agências estavam conduzindo contra o candidato a se
tornar Assessor para a Segurança Nacional do Presidente Trump, o General Flynn.
Nesta noite, o plano para expulsar Flynn finalmente teve sucesso e ele ofereceu
sua renúncia. Trump aceitou. Uma coisa quero deixar bem clara desde o início:
Dificilmente Flynn poderia ser visto como um homem sábio ou um santo, que
poderia, sozinho, salvar o mundo. Não é. No entanto, Flyyn era a pedra
angular da política de Segurança Nacional de Trump. (…) Os
neocons que governam o ‘estado profundo’ forçaram Flynn a renunciar sob o
pretexto imbecil de que ele teve uma conversação telefônica através de uma
linha aberta, insegura e claramente monitorada, com o embaixador russo. Pior:
Trump aceitou a renúncia. Desde que adentrou a Casa Branca, Trump tem apanhado
dia após dia, aparando golpes da mídia sionista governado pelos neocons, das
“estrelas” duplipensar-mas-gente-boa (doubleplusgoodthinking, no
original-NT) de Hollywood e até mesmo de políticos europeus. E Trump
aparou cada golpe olimpicamente, sempre devolvendo cada pancada. Nunca se ouviu
o seu famoso “você está despedido!”. Eu tinha esperanças. Queria ter
esperanças, sentia que era meu dever ter esperanças. Agora, Trump nos traiu a
todos. Volto a enfatizar: Flynn não é o meu herói. Mas, por todas as medidas,
era o herói de Trump. E Trump o traiu. As consequências serão imensas. Por
um lado, agora, Trump está claramente batido. O estado profundo levou
apenas três semanas para castrar Trump e fazê-lo reverenciar os “que mandam
mesmo”. Aqueles que poderiam estar na retaguarda de Trump sentirão que
ele não estará na sua retaguarda e se afastarão dele. Os Neocons se sentirão
encorajados com a eliminação de seu pior inimigo e baseados nessa vitória, vão
pressionar mais fortemente, dobrando a aposta mais uma vez e outra, e outra... O
estado profundo venceu, pessoal. Acabou.
Concluí
então que as consequências dessa vitória poderiam ser catastróficas para os
Estados Unidos:
Na sua
corrida cheia de ódio contra Trump e o povo (norte)americano (também conhecido
como “cesta de deploráveis”) os neocons estão sendo forçados a mostrar sua
verdadeira face. Através de sua rejeição ao resultado das eleições, suas
sublevações, sua demonização de Trump, os neocons têm mostrado duas coisas
cruciais: primeiro, que a democracia dos Estados Unidos é uma palhaçada
deplorável e que eles, os neocons, são um regime de ocupação que governa contra
o desejo do povo (norte)americano. Em outras palavras, exatamente como Israel,
os Estados Unidos não têm legitimidade. Desde que, também como Israel, os EUA
não são mais capazes de assustar seus inimigos, eles nada mais possuem. Nem
legitimidade, nem capacidade de coerção. Claro que os neocons venceram. Mas a
sua vitória representou a perda da última chance que os EUA tinham de evitar um
colapso.
Penso que
estamos vendo hoje os primeiros sinais de um colapso iminente.
Os
sintomas da agonia
Externamente,
a política dos Estados Unidos está basicamente “paralisada” e em vez de uma
política externa o que temos é apenas uma longa série de ameaças vazias
lançadas contra uma lista de países demonizados aos quais agora se promete
“fogo e enxofre” caso ousem desobedecer ao Tio Sam. Mesmo que isso renda ótimas
manchetes, não pode ser qualificada como uma “política” seja lá como se olhe
(discuti o assunto em profundidade durante uma entrevista que concedi a pouco tempo para o site SouthFront). Além
disso há o Congresso que, na essência, tirou de Trump todos os poderes para conduzir a política
externa do país. Esta forma ilegal e esquisita de “voto de
desconfiança” também transmite a mensagem de que Trump ou é louco, ou traidor,
ou ambos.
Internamente,
as convulsões recentes em Charlottesville agora estão sendo debitadas na conta
de Trump, que, depois de ser um agente de Putin, agora está sendo demonizado
como um tipo de nazista (veja como Paul Craig Roberts alerta sobre o fato, uma e duas vezes quanto
a essa dinâmica).
Em termos
de organização, está claro que Trump está cercado de inimigos, como ilustrado
pelo fato absolutamente ultrajante de que ele sequer pode falar com um líder
estrangeiro sem que tenha a transcrição da conversa vazada para a Siomídia.
Acredito
que são passos de preparação para disparar uma crise realmente grande, que será
usada para remover Trump, ou por um processo de impeachment ou pela força, sob
o pretexto da mencionada crise. É só prestar atenção nas mensagens que a Siomídia
está enfiando nas mentes da população dos Estados Unidos.
A preparação psicológica para o golpe: assustar
mortalmente a todos.
Eis três
exemplos reveladores através de três capas da Newsweek:
(Em síntese, nas três capas a- Para
Putin, é hora de receber b- O plano contra os Estados Unidos e c- Briga de
namorados – NT)
Pergunte
a você mesmo: qual a mensagem que se quer transmitir?
Nada
menos que: Trump é um traidor, trabalha
para Putin, o qual quer destruir a democracia nos Estados Unidos e estes dois
homens são os mais perigosos do planeta. É um “plano contra os EUA”!
Nada mau,
é ou não é?
“Eles”
estão lá fora para “nos” pegar e “nós” estamos todos em terrível perigo: Kim
Jong-un está a ponto de declarar uma guerra nuclear contra os Estados Unidos,
Xi e Putin estão ameaçando o mundo inteiro com suas armas e “nosso” próprio
presidente só alcançou o poder graças à “KGB Russa” e aos “Hackers de Putin”, ele
agora trabalha para os russos, é claramente um nazista, um supremacista branco,
um racista, e talvez, um “novo Hitler” (como o próprio Putin, claro).
Daí há
aqueles muçulmanos realmente assustadores, e árabes fanáticos que aparentemente
só tem um objetivo na vida: destruir “nosso modo de vida” e matar a todos os
“infiéis”. É por isso que precisamos do TSA (Departamento
de Segurança nos Transportes – NT) 16 agências de inteligência e equipes da
polícia militarizada SWAT por todo lado: para quando os terroristas vierem nos
buscar aqui onde vivemos.
Consequências
internacionais perigosas
Seria
hilariante se não fosse também extremamente perigoso. Por um lado, os Estados
Unidos estão realmente provocando um inimigo perigoso quando tenta
constantemente assustar Kim Jong-un e a liderança da República Popular
Democrática da Coreia (Coreia do Norte). Não, não é por causa das bombas
nucleares norte coreanas (que muito provavelmente não tem ICBMs armados com
bombas nucleares, mas uma combinação não necessariamente compatível de mísseis
balísticos de médio alcance e “dispositivos” nucleares) mas por causa do
exército convencional da Coreia do Norte, enorme e difícil de destruir. A
ameaça real não está nos mísseis, mas numa combinação mortal de artilharia
convencional e forças especiais as quais pouco representam em termos de perigo
para os Estados Unidos ou para o exército dos EUA, mas são uma ameaça duríssima
para a população de Seul e da parte norte da Coreia do Sul. Bombas nucleares,
seja de que forma se apresentem, são mesmo um problema adicional, uma cobertura
tóxica em um já perigoso “bolo convencional”.
[Barra
lateral – pesadelo da vida real: agora,
se você *realmente* quer ficar aterrorizado e acordado durante a noite, então
considere o seguinte: Embora pessoalmente acredite que Kim-Jong-un não é louco
e que o objetivo principal da liderança norte coreana seja evitar a guerra a
qualquer custo, e se eu estiver errado? E se aqueles que dizem que a liderança
norte coreana é totalmente insana estiveram certos? Ou, o que penso ser muito
mais provável, e se Kim Jong-un e os demais líderes da Coreia do Norte chegarem
à conclusão de que não tem mais o que perder, que os (norte)americanos estão
indo para matá-los, junto com familiares e amigos? Se em teoria assim
desesperados, o que eles podem fazer? Bem, vou dizer a vocês: esqueça Guam; pense sobre Tóquio! Na
realidade, enquanto a Coreia do Norte pode devastar Seul mesmo com sistemas de
artilharia antigos, pode também muito provavelmente ser capaz de atingir com
seus mísseis a capital Tóquio ou a região de Keihanshin que
inclui Kioto, Osaka e Kobe, assim como a região Industrial de Hanshin com suas
indústrias de importância crucial para o Japão. A Grande Tóquio (região de Kanto)
e a região de Keihanshin são densamente povoadas (37 e 20 milhões de pessoas
respectivamente) e englobam um número imenso de indústrias, muitas das quais
produzirão um desastre ambiental de proporções titânicas se atingidas com
mísseis. Não só isso, mas bombardeios nos nódulos econômicos e financeiros do
Japão resultarão muito provavelmente em um colapso econômico internacional do
tipo 11/09 com torres gêmeas e tudo. Assim, se os norte coreanos quiserem, mas
quiserem mesmo machucar os (norte)americanos, o que podem fazer é atingir Seul
e cidades chaves no Japão, o que resultará em uma crise política dolorosíssima
para o planeta inteiro. Durante a Guerra Fria costumávamos estudar as consequências
de um bombardeio soviético contra o Japão e a conclusão era sempre a mesma: o
Japão não se pode dar ao luxo de uma guerra de nenhum tipo. O território
nacional japonês é tão pequeno, tão densamente povoado, tão rico em alvos
lucrativos que uma guerra destruiria o país inteiro. Era verdade naquela época
e continua sendo verdade. Só que agora é ainda pior. Imagine só a reação na
Coreia do Sul e no Japão se algum louco dos Estados Unidos bombardear a Coreia
do Norte e o resultado for Seul e Tóquio sendo atingidos por mísseis! Aliás, os
sul coreanos já declararam sua posição nos termos mais claros possíveis. Já os
japoneses estão colocando oficialmente suas esperanças em mísseis (como se a tecnologia mitigasse
as consequências da loucura!). Então amigos, a Coreia do Norte é sim
extremamente perigosa e encurralar sua liderança até um último recurso
desesperado é de fato totalmente irresponsável, bombas nucleares ou não.]
O que
estamos a observar agora é um ciclo de reação positiva no qual cada movimento
dos neocons resulta em uma desestabilização cada vez mais profunda do sistema
como um todo. Desnecessário dizer que isso é muito perigoso e só pode resultar
em uma eventual catástrofe ou colapso. De fato, os sinais são de que os Estados
Unidos estão perdendo totalmente o controle em todos os lugares e aqui estão
algumas manchetes que podem ilustrar a assertiva:
·
A Síria retoma mais três cidades na rota para Deir
Azzor em sua primeira operação aerotransportada
Existe um
ditado francês que diz: “quando o gato
sai de férias, os ratos fazem a festa”, e isso é exatamente o que está
acontecendo agora: os Estados Unidos estão ao mesmo tempo fracos e basicamente
ausentes. Como dizem os armênios, “o rato
sonha sonhos em que pode assustar o gato”. Bem, o “rato” do mundo está
dançando e sonhando e simplesmente ignorando o “gato”. Todo movimento do gato
só torna as coisas ainda piores para ele. O mundo segue adiante enquanto o gato
está ocupadíssimo destruindo a si mesmo.
Consequências
domésticas perigosas
Em
primeiro lugar na minha lista, coloco os distúrbios raciais. Na realidade, eles
estão acontecendo por todos os Estados Unidos, mas raramente são mostrados como
tal. Não estou falando sobre as agitações “oficiais” do Black Lives Matter, que
já são ruins o suficiente. Falo sobre mini sublevações que a imprensa oficial
sistematicamente tenta esconder. Os que estiveram interessados neste tópico
podem ler o livro de Colin Flaherty Não enraiveça as crianças negras - Don’t Make the
Black Kids Angry que mostra que ataques racistas de negros contra
brancos (conhecidos como “caçando o urso polar”) estão em crescimento em
praticamente todo lugar. Da mesma forma, para todos os que surpreendentemente
persistem ignorando a forte correlação entre raça e crime deve ler a análise
seminal de Ron Unz Race and Crime in America. Bem, antes que alguém que pensa que é voluntário policial autonomeado me
acuse de racismo, não estou dizendo nada sobre as causas dos problemas
raciais nos Estados Unidos. Digo apenas que a violência racial nos Estados
Unidos é severa e está crescendo exponencialmente.
O Segundo
problema que percebo como muito ameaçador para a sociedade dos Estados Unidos é
a deslegitimação extremamente rápida de todo o sistema político do país e,
especialmente, do governo federal. Neste momento já por décadas os (norte)americanos
votam para obter “A” e acabam tendo que suportar algo “não A”. Os exemplos
podem incluir o já famoso “leia meus lábios, não haverá aumento de imposto” (frase de George H. W. Bush na convenção do
partido Republicano em 1988. Sabemos que não foi assim que aconteceu em seu
governo... NT) claro, mas Obama também prometeu parar com guerras estúpidas
e agora Trump por sua vez, prometera “drenar o pântano”. Os (norte)Americanos
foram enganados por décadas mas agora eles já sabem disso.
Há um
abismo cada vez maior entre os assim chamados “valores (norte)americanos”
ensinados nas escolas e a realidade do exercício do poder. Enquanto
oficialmente os EUA supostamente deveriam defender todas aquelas coisas
honradas e éticas ensinadas por nossos pais fundadores, a realidade corrosiva é
que os Estados Unidos estão deitados na mesma cama com terroristas Wahabis, com
nazistas e sionistas. Toda a hipocrisia que neste momento ameaça derrubar ao chão
todo o sistema político dos Estados Unidos não é diferente da hipocrisia que
prevalecia no antigo sistema soviético e que derrubou a União Soviética (se
estiver interessado, você pode ler mais a respeito aqui). A singela verdade é que nenhum regime pode
sobreviver por muito tempo quando dá suporte ativo ao exato contrário do que deveria
apoiar. O resultado? Ainda estou para encontrar um (norte)americano adulto que
acredite sinceramente que ele/ela ainda “vive na terra da liberdade e lar dos
bravos”. Talvez crianças ainda comprem esse blefe, mas até adolescentes sabem
que isso não passa de um monte de bobagens.
Terceiro,
apesar de todas as estatísticas encorajadoras sobre o Dow Jones, o desemprego
está em crescimento e a realidade é que a sociedade dos Estados Unidos está se
transformando rapidamente em um dos três tipos a seguir: no topo, um pequeno número
de pessoas obscenamente ricas, e logo abaixo e a seu serviço, um número de
profissionais bem qualificados, serviçais desses homens podres de ricos,
lutando desesperadamente para manter um estilo de vida que até pouco tempo era
associado com a classe média (norte)americana.
E então,
vem a grande maioria dos cidadãos que na essência estão em busca e fazendo “o
possível para conseguir um salário mínimo e mais um pouquinho” e que sobrevive
basicamente sem pagar seguro de saúde, trabalhando normalmente em dois
empregos, comendo comida barata e recebendo “pão e circo moderno” (em inglês, palavra intraduzível – PROLEFEED
– a qual foi usada no livro “1984” de George Orwell, significando
entretenimento barato e de má qualidade e notícias falsas [alguém aí falou ‘Rede
Globo’?] que eram empurradas goela abaixo das massas pelo Partido. Fazia parte
da linguagem “NEWSPEAK”, usada (no livro) pelos povos da Oceania – NT) e
desistindo totalmente de coisas que eram comuns a todos os trabalhadores dos
EUA nos anos 50 e 60 (ter um dos genitores morando em casa, tirando suas
férias, mantendo uma casa de campo, etc.).
Normalmente,
(norte)Americanos trabalham muito e, até agora, a maioria deles consegue
sobreviver, mas grande parte deles está à distância de um cheque de pagamento
da pobreza total. Um monte deles só consegue sobreviver (mal) porque recebem
ajuda de seus pais e avós (o mesmo se pode dizer do sul da Europa, aliás). Um
grande segmento da população dos Estados Unidos sobrevive agora apenas por
causa da Walmart e da Dollar Store. Se estas falirem, os cupons de alimentação serão
a última saída. Ou a cadeia, claro.
Combine
isso tudo e você tem uma situação potencialmente explosiva. Não é de admirar
que quando tantos (norte)americanos ouviram Hillary Clinton comentar sobre a “cesta
de deploráveis” tenham tomado a fala como uma declaração de guerra.
Então, o
que os neocons planejam fazer agora a respeito disso tudo?
Reprimir com
força a liberdade de expressão e a divergência, claro! Que mais?
Resposta
única: Repressão, logicamente!
YouTube,
Google, Facebook e Twitter – todos estão reprimindo os “maus discursos” que
aliás incluem muito mais do que o que uma espécie comum de auto descrito “liberal”
teria desaprovado. GoDaddy e Google estão até derrubando alguns domínios e seus
administradores. Claro que ninguém será jogado na cadeia por, digamos, defender
a segunda emenda, mas são “desmonetizados” e suas contas simplesmente são
fechadas. Não são os policiais armados que derrubam a liberdade de expressão,
são as “Corporações dos EUA”, mas o efeito é o mesmo. Aparentemente, os neocons
não conseguem entender que a censura simplesmente não funciona na era da
internet. Ou talvez entendam e estejam deliberadamente tentando disparar um
retrocesso?
A seguir
existe uma campanha de vilificação pela imprensa: a menos que você seja de
algum tipo de “minoria”, você assumidamente é nefasto por nascimento e culpado
por todos os males do planeta. Aliás, o seu líder é Trump, claro, ou talvez
seja Putin em pessoa, vide supra. Cristão
heterossexual macho? Melhor procurar uma toca para se esconder...
Seja qual
for o caso, através de sua insistência maníaca para, por um lado humilhar e
destruir Trump e pelo outro, reprimir milhões de (norte)americanos, os neocons
estão cometendo um erro duplo. Primeiro, eles estão mostrando a própria face
real e segundo, estão subvertendo as próprias instituições que usam para
controlar e governar o país. Claro que tais ações só fazem enfraquecer os
próprios neocons e os Estados Unidos e vai acelerar o ciclo de reação positiva mencionado
acima com novas ameaças a todo o sistema internacional.
Nós e
eles
O que faz
o colapso gradual do Império AngloSionista tão singularmente perigoso é que se
trata do maior e mais poderoso império da história da humanidade. Nenhum
império jamais gozou do monopólio quase total do poder como os Estados Unidos
desde a Segunda Guerra Mundial. Por qualquer medida, militar, econômica, política
ou social, os EUA depois da Segunda Guerra se tornou um gigante e embora tenham
acontecido alguns contratempos durante as décadas subsequentes, o colapso da
União Soviética só reafirmou o que parecia então uma vitória total dos Estados
Unidos. Em minha opinião, admitidamente subjetiva, o último presidente
competente (pera aí, eu não disse “bom”, disse “competente”) dos Estados Unidos
foi George Herbert Walker Bush que, ao contrário de seus sucessores, ao menos
sabia como administrar um Império. Depois disso, está sendo na base da ladeira
abaixo, cada vez mais rápido. Se Obama provavelmente foi o mais incompetente presidente
da história dos EUA, Trump será o primeiro a ser oficialmente linchado em pleno
exercício. Como resultado, o Império AngloSionista se tornou um grande trem de
transporte que perdeu a locomotiva mas que ainda tem um imenso poder de inércia
puxando para o desconhecido e sem ninguém no controle. O resto do planeta, com
a exceção já irrelevante dos europeus ocidentais, está apressadamente saindo
horrorizado do caminho do trem desgovernado. Até agora, os trilhos (bom senso
comum mínimo, realidades políticas) estão mais ou menos em compasso de espera,
mas um acontecimento de inopino (político, econômico ou militar) pode acontecer
a qualquer momento. Tudo muito, mas muito mesmo, assustador.
Os
Estados Unidos tem algo entre 700 a 1000 bases militares em todo o mundo, todo
o sistema financeiro internacional está profundamente emaranhado na economia do
país, o dólar dos Estados Unidos ainda é a única real moeda de reserva, os
títulos do Tesouro dos EUA são adquiridos por todos os atores internacionais
importantes, (entre eles Rússia e China), o sistema SWIFT é controlado
politicamente pelos Estados Unidos e o país é o único no mundo que pode
imprimir quanto dinheiro queira e, no final mais não menos importante, os
Estados Unidos tem um enorme arsenal nuclear. A soma de tudo é que o colapso
dos Estados Unidos ameaça a todos e isso significa que ninguém pode
desejar ser o causador dessa queda. O colapso da União Soviética ameaçou o restante
da humanidade por uma única razão: seu arsenal nuclear. Em contraste, qualquer
derrocada dos Estados Unidos pode ameaçar a todos nós de várias maneiras.
Então a
pergunta real a responder é: o resto do mundo pode evitar um colapso catastrófico
do Império AngloSionista?
Esta é a
suprema ironia da situação: mesmo sabendo que o resto do planeta está enojado e
cansado da arrogância incompetente dos AngloSionistas, ninguém quer de verdade que o Império desabe
catastroficamente. Mesmo assim, com os neocons no poder, o colapso parece
inevitável, com as suas devastadoras consequências para todo o mundo.
É
realmente incrível quando descobrimos: todos odeiam os neocons, não só a
maioria do povo (norte)americano, mas na realidade o mundo todo. Mesmo assim,
numericamente um pequeno grupo de pessoas de alguma forma manejou para colocar
todo o mundo em perigo, até eles mesmos, devido ao seu impenitente desejo de
vingança, arrogância sem fim e falta de visão induzida pela ideologia fanática.
Que isso tenha chegado a essa escala planetária é um testemunho dramático da
decadência moral e espiritual de nossa civilização. Como deixamos as coisas chegarem tão longe?
Chegamos
à próxima questão óbvia: ainda seremos capazes de impedi-los?
Honestamente,
não faço ideia. Espero que sim, mas não tenho certeza. Minha maior esperança
era que Trump fosse capaz de sacrificar o Império em benefício dos Estados
Unidos (o contrário do que os neocons estão fazendo: sacrificando os EUA pelo
benefício de seu Império) e que ele poderia administrar uma transição
relativamente segura e não violenta do império para um “país normal” para os
Estados Unidos. Seguramente, isto não está acontecendo. Em vez disso, os
neocons estão agora ameaçando tudo e todos: os chineses, os russos, os norte
coreanos e claro, os venezuelanos. Mas também (economicamente) os europeus, o
Oriente Médio inteiro (através do tema “no Oriente Médio, só democracia”),
todos os países em desenvolvimento e até o povo (norte)americano. Ora, eles
estão ameaçando até o presidente dos Estados Unidos e olhem que nem tão sutilmente
assim!
E daí, o
que vem depois?
Realmente
não sei. Mas tenho a sensação forte de que Trump será removido do gabinete,
seja por “crimes ou contravenções” ou por “razões médicas” (podem simplesmente
declarar sua insanidade e incapacidade para exercer a presidência). Como
sabemos o quão fraco e invertebrado é Trump, ele pode até ser “convencido” a
renunciar. Não o vejo sendo assassinado porque ele simplesmente não tem a estatura
moral de um Kennedy. Depois disso, Pence assumiria o poder e poderia ser
apresentado em um evento maravilhoso, um abraço comunal das elites, seguida por
uma destruição sem piedade e imediata de qualquer forma de oposição ou
dissenção política, as quais seriam imediatamente qualificadas como racistas,
homofóbicas, antissemíticas, terroristas e etc. A mão maldita da “KGB russa”
(sei, sei… nós sabemos que a KGB foi dissolvida em 1991) será encontrada em
todos os lugares, entre os libertários dos Estados Unidos (que provavelmente
serão os únicos com cérebro suficiente para entender o que estaria realmente
acontecendo).
A
(pseudo) “esquerda” se rejubilará. Caso aconteça de existir uma resistência
mais acirrada, bastará um cenário com mais um acontecimento regional ou social
no estilo 11/09, seguida de uma guerra qualquer (afinal, por que deixar de lado
algo que funcionou tão bem da primeira vez?). A menos que os Estados Unidos
resolvam reinvadir Granada ou dar a Nauru um golpe que o minúsculo país insular
já está merecendo, qualquer guerra mais ou menos real atualmente resultará em
fracasso retumbante para os Estados Unidos, ao ponto de que para os neocons,
usar armamento nuclear se tornará um risco real e iminente, especialmente se
alvos simbólicos dos Estados Unidos, como porta aviões, forem atingidos (em
1991, quando a 8ª Divisão Aerotransportada dos EUA foi mandada para o Iraque,
não existia nada entre essa força de infantaria ligeira e as divisões blindadas
iraquianas e se os iraquianos tivessem atacado, bastaria usar uma arma nuclear
tática. Em breve, isso seria convenientemente esquecido).
Há uma
razão pela qual os neocons prosperam em tempos de crise: esta permite que eles
fiquem escondidos por trás da tormenta, especialmente quando, por sinal, foram
eles mesmos os causadores do caos. Isso quer dizer que enquanto eles estiverem
no poder, nunca, mas nunca mesmo, permitirão que a paz ressurja subitamente,
porque então os holofotes seriam dirigidos diretamente contra eles. Caos,
guerras, crises – este é o seu ambiente natural, onde vicejam.
Pense
nisso como uma espécie de subproduto de sua existência. Claro que eventualmente
eles serão interrompidos e derrotados, como todos os seus predecessores o foram
no decorrer da história. Mas desta vez, fico aterrorizado ao pensar no preço
que a humanidade terá que pagar.
The Saker.
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