Os Talibãs se renderam e os EUA não
aceitaram. Agora eles estão de volta
texto de Ryan Grim tradução
de btpsilveira
Agosto de 2017 – "Information
Clearing House" – Por acaso você sabia que o Talibã tentou se
render pouco antes da invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos?
No Afeganistão, por séculos, quando uma
força rival conquista o poder, os derrotados baixam suas armas e se integram à estrutura
do poder – claro que com muito menos poder, ou nenhum. É como quando você lida
com um vizinho chato ao lado do qual continuará a viver. Não se trata de um
jogo de futebol, quando no final da partida cada time vai para a cidade onde
está sediado. Para os (norte)americanos, é compreensivelmente difícil de
entender, porque os EUA não lutam uma guerra prolongada no próprio território
desde a guerra civil.
Então, o Talibã tentou a rendição, e
repetidamente os Estados Unidos não aceitaram, em uma série incrível de
declarações estúpidas e arrogantes, muito bem descritas no livro investigativo
de Anand Gopal sobre a guerra do Afeganistão - “Nenhuma boa pessoa sobreviveu.”
Para a administração Bush, nada servia,
a não ser a aniquilação total. Ele queria ver mais terroristas mortos em sacos
plásticos. O problema foi que quando o Talibã parou de lutar, Ou fugiu para o Paquistão
ou se misturou com a população civil. Os militantes da Al Qaeda, por sua vez,
não passavam de um punhado.
Daí, como matar terroristas que não
estavam ali?
Muito simples: os afegãos com os quais
os EUA trabalhavam em parceria entenderam imediatamente a situação criada pelos
seus patrocinadores e começaram a “fabricar” pessoas más. Você sabe, a demanda
cria a oferta, e os Estados Unidos pagavam bem por informações que levassem à
morte ou captura de membros do Talibã. De repente, havia Talibãs por todos os
lados. Os números subiram como um foguete; tudo o que você tinha que fazer para
ver um vizinho chato morto ou mandado para Guantánamo era dizer para os
(norte)americanos que ele pertencia ao Talibã.
Sem nenhuma pergunta as portas eram arrobadas. Os que sobreviveram
se tornaram senhores de guerra e construíram fortunas imensas que mandaram
imediatamente para o exterior. “Não seremos mais construtores de nações”
declarou o presidente Trump na segunda à noite. Bem... na realidade nunca
fomos, a não ser que construir arranha céus em Dubai com dinheiro roubado
conte.
Depois
de alguns anos desses jogos mortais, depois que suas tentativas de se render
foram repetidamente ignoradas, o velho Talibã começou a pegar novamente em
armas. Quando foram expulsos do poder, a população ficou feliz em vê-los
partir. Os Estados Unidos deram um jeito de torná-los populares novamente.
Os
liberais passaram o tempo todo se queixando na campanha presidencial de 2008,
que os Estados Unidos tinham “ignorado” o Afeganistão – quando na realidade, as
únicas partes do país que tinham paz eram aquelas ponde as tropas estavam
ausentes. Nestes locais, não havia insurgência contra as forças afegãs, como
nos outros lugares. A seguir surgiu o presidente Obama, que promoveu um grande
aumento de tropas enquanto anunciava ao mesmo tempo a retirada – junto com um
aumento de foco em incursões noturnas, confiando mais uma vez no mesmo velho
sistema de inteligência incompetente que já atingiu indiscriminadamente tantas
pessoas que nada tinham a ver com o problema.
Mas
agora, agora temos Trump afirmando que tem uma estratégia nova e melhor. Afirma
que os Estados Unidos tem que fazer o Paquistão se envolver mais – esquecendo,
claro, que o serviço de inteligência paquistanês tem apoiado o Talibã por
décadas.
O
livro de Gopal é o resumo definitivo de como a guerra descarrilhou. Parece uma
novela, mas na verdade é um retrato cru e real de três afegãos e como passam
pela guerra – um senhor de guerra a favor dos Estados Unidos, um comandante do
Talibã e uma dona de casa. Deixaria aqui a sugestão para que Trump leia o livro
– afinal, o livro fornece um alerta terrível contra o tipo de esforço de guerra
que o presidente agora está tentando escalar – mas como tem mais que uma
página, seus conselheiros dizem que ele não conseguirá digerir. Além disso, a
única coisa que parece lhe interessar de verdade é o fato de
que o Afeganistão tem um monte de riquezas minerais que ele pensa que pertencem
aos EUA.
Antes
de pensar que está agarrando uma oportunidade para saquear o Afeganistão, Trump
deveria pensar em uma realidade que seria trágica se não fosse cômica: Nós
estamos perdendo uma guerra para um inimigo que já tentou se render. Não é
fácil.
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