O Dilema
Coreano
Texto de Brain Cloughley,
tradução de btpsilveira
Nas suas
declarações públicas, o líder supremo da Coreia do Norte, Kim Jong-un parece
ser completamente psicótico e afastado de qualquer senso de realidade. Que
outro líder mundial vem à sua mente ao ler esta descrição?
Bem, pelo
menos Kim não tenta governar seu país e expressar seus insultos preferidos e
uma política internacional peculiar tuitando platitudes ridículas nas primeiras
horas do dia. Kim se circunscreve nas pontificações que faz sobre questões
mundiais a vídeos oficiais que são encarados com um misto de horror, diversão e
maus presságios pelos países regionais e condescendência misturada com
paternalismo descrente pelas administrações dos Estados Unidos.
Um de
seus pronunciamentos,
em março de 2016 foi uma gracinha, mesmo pelos seus padrões e possivelmente foi
motivo de um pouco de reflexão tanto no Pentágono quanto em Mar-a-Lago. Ele
realizou um alerta de que “se os (norte)americanos imperialistas nos provocarem
mais um pouco, não hesitaremos em desfechar uma ataque nuclear preventivo. Os
Estados Unidos devem escolher! Só
depende de vocês se a nação chamada Estados Unidos continuará a existir no
planeta ou não”.
Então há
um ano o Secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson “desistiu das
negociações” com a Coreia do Norte dizendo que “só podem ser obtidas
com a desnuclearização, abrindo mãos de armas de destruição em massa”.
A
declaração foi muito franca, mas em maio de 2017 houve algumas declarações “cuidadosamente
pensadas” do presidente Trump, entre elas as observações de que o Sr.
Kim é “um sujeitinho bem esperto” e que “se for de meu interesse uma reunião
com ele, a farei – claro. Eu ficaria muito honrado”.
Estaríamos perdendo alguma coisa aqui? O porta voz
da Casa Branca, Sean Spider, que foi recentemente demitido por falhar em ser ‘um
sujeitinho bem esperto’, pensou que talvez houvesse algo estranho nas
declarações de seu presidente e afirmou por sua vez que Washington precisa
primeiro ver que a Coreia do Norte abandonou imediatamente seu comportamento
provocativo e que “claramente, isso não esta acontecendo neste instante”. Mas…
qual a mensagem que está sendo enviada para o maluco do Kim? Porque na
realidade Spicer também declarou que Kim tem “obviamente trabalhado de forma a
levar seu país avante. Apesar das preocupações lógicas que nós e muitas outras
pessoas tenham, ele é uma pessoa jovem que lidera um país com armas nucleares”.
O que fez
Kim para merecer um comentário tão absurdamente paternalista? Com certeza ele é
seis anos mais jovem que o presidente francês Macron (e que Donald Trump Junior),
e da mesma idade de Eric Trump, mas se existe algo que o Supremo Líder norte
coreano absolutamente não quer ouvir é que ele é “uma pessoa jovem que lidera
um país com armas nucleares”.
Talvez os
membros arrogantes do establishment em Washington imaginem que os líderes de
outras nações não prestam atenção ao que é dito a seu respeito, ou mesmo que
não leem ou ouvem tais coisas, que ignoram os insultos ou que não se importam
com eles. Pois não é verdade. Eles estão atentos. Já passou da hora em que
mesmo os fanáticos funcionários da administração dos EUA devem entender que os
comentários desairosos sobre presidentes, Ministros e outras figuras
importantes de países estrangeiros servem apenas para aumentar a raiva contra
os Estados Unidos e na verdade também para unir estes povos contra o poderoso
intrometido de além mar.
Poucos
dias depois dos “inteligentes” comentários de Trump sobe o “sujeitinho esperto”
em primeiro de maio, o Senador dos Estados Unidos Cory Gardner veio com
observações de que “trata-se de um louco maníaco no comando de um dos regimes
nucleares mundiais – tentando ser um regime nuclear, Nós não temos que
lisonjeá-lo nem honrá-lo para que ele concorde em negociações com os Estados
Unidos, a menos que ele cumpra com suas obrigações e promessas”. Gardner não
passa de um legislador, mas a Agência Central de Notícias da Coreia do Norte
respondeu imediatamente com algumas invectivas fortes, assim você pode pensar
que talvez os congressistas tenham entendido que não adianta insultar Kim e
companhia, porque isso não os encoraja a mudar para um comportamento mais
racional. Mas não. A seguir, o Senador John McCain se juntou ao time, chamando
Kim de “um gordinho doido”.
O irônico
comentário feito pela embaixadora dos Estados Unidos para a ONU sobre a Coreia
do Norte em 06 de augusto, de que “basicamente, nós lhe demos um chute no estômago
com sanções no valor de um bilhão de dólares” é outro exemplo de um abuso
inimaginável. Os norte coreanos chutaram de volta com condenações e uma
promessa de que sentarão à mesa de negociações com os Estados Unidos até que
cessem as políticas agressivas. O que esperava essa estúpida da Haley? Que
reação imagina ela que viria de Pyongyang como resposta dessas provocações
inúteis e afirmações insultuosas de que as Nações Unidas (na verdade os Estados
Unidos) “já avisaram as ditador da Coreia do Norte”?
Foi daí
que o secretário Tillerson, o intelectual da diplomacia de Washington anunciou que na realidade os Estados Unidos podem sentar à
mesa para conversações “quando as condições forem as corretas” para discutir “desnuclearização
e passos que assegurem que a Coreia do Norte se sinta segura e próspera”. Declarou
que “o melhor sinal que a Coreia do Norte pode nos fornecer de que estão se
preparando para conversações é interromper seus lançamentos de mísseis. Não
tivemos nenhum período de tempo mais extenso sem esse tipo de comportamento provocativo
de lançamento de mísseis balísticos. Penso que esse seria o mais forte sinal que
poderia nos ser enviado. Parar com os lançamentos de mísseis”.
Ele
estava mandando
publicamente que o psicótico Líder Supremo da Coreia do Norte interrompesse
seus testes de mísseis balísticos. Mas, como seria previsível para qualquer um,
menos para os ingenuamente arrogantes valentões de esquina que moram nas
distantes nuvens sagradas washingtonianas, a Coreia do Norte na mesma hora
prometeu se vingar de maneira “milhares de vezes” pior contra os Estados
Unidos. Talvez Washington esperasse que o Líder Supremo Kim Jong-um anunciasse
alguma coisa mais ou menos assim: “acabei de receber uma mensagem do grande
Tillerson. Decidi parar imediatamente com os testes de mísseis. Beleza!”
Em uma mudança
da água para o vinho, a verdade é que isso foi uma espécie de “ramo de oliveira”
oferecido por Tillerson, exatamente ao contrário da declaração anterior da
embaixadora Nikki Haley de que “o tempo de
conversas já acabou”. Não é surpresa que ninguém consiga entender
para que diabos de lado vão caminhando os Estados Unidos. É difícil esperar que
os norte coreanos entendam o que está acontecendo, e o perigo é que o “gordinho
maluco” de repente resolva provar que está fora do alcance do planeta. A coisa
que mais preocupa é que pode levar milhões de pessoas com ele.
Junto com
os insultos, espalham-se mensagens contraditórias, e isso não é maneira de
exercer liderança internacional. Já passou da hora de Washington falar em
uníssono e dizer exatamente quais as suas intenções quanto a um dos assuntos
mais importantes da política internacional no momento. Mais importante que
tudo: parar de abusar.
PS:
exatamente quando terminava este artigo, fui informado de um notícia
urgente através do Washington Post informando que os cientistas de
Kim conseguiram produzir uma arma nuclear miniaturizada que pode ser levada por
mísseis disponíveis na Coreia do Norte, “cruzando dessa forma o limiar para se
tornar um poder nuclear de pleno direito”. Trump deveria interromper suas
férias, parar de tuitar e voltar para a Casa Branca para fazer o seu trabalho.
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