EUA lançarão guerra econômica contra “inimigos múltiplos” – China na
Alça de Mira
Agosto de 2017 – texto de Andrei Akulov, tradução de btpsilveira
Há um cheiro de Guerra comercial no ar. Donald Trump usou o twitter para
expressar seu desapontamento com a China e seus
esforços para pressionar a Coreia do Norte no intento de que esta abandone seu
programa nuclear e de lançamento de mísseis. A embaixadora dos Estados Unidos
para a ONU, Nikki Haley disse que Washington não vai mais esperar ações do
Conselho de Segurança da ONU na sequência de novos lançamentos de mísseis de
teste pela Coreia do Norte. De acordo com ela, “o tempo das conversas acabou”. A
embaixadora acredita que depende de Pequim, que “precisa decidir se quer
realmente dar o passo decisivo”, de desafiar Pyongyang.
De acordo com o site Politico, os principais assessores do
presidente Trump estariam reunidos nos bastidores da Casa Branca em um esforço
para lançar uma série de medidas econômicas destinadas a punir a China. Há uma
gama de opções sobre a mesa, inclusive restrições comerciais. Durante a sua
campanha na corrida presidencial, Trump se queixou várias vezes sobre as
“práticas comerciais desleais” da China.
Em abril, logo depois do encontro diplomático entre o presidente chines
Xi Jinping e sua esposa com Trump na Mansão de Mar-a-Lago a linguagem havia
mudado. Agora, o criticismo retornou. Os lançamentos de mísseis da Coreia do
Norte colocaram lenha na fogueira.
Na aparência, o presidente Trump não tem uma política definida em
relação à China. Ele muda de promessas de se aproximar de Taiwan, desafiando
Pequim, para conversações amigáveis em Mar-a-Lago e depois para planos de
introduzir medidas punitivas.
Punitivas no sentido de que poderiam ter como alvo as importações
chinesas de aço que seriam tarifadas, quotadas, ou uma mistura das duas
medidas. Na teoria, as transações chinesas nos EUA poderiam ser congeladas e
programas econômicos com juntos restringidos. No início de 2016, Trump chegou a
ameaçar aumentar as tarifas sobre bens importados da China em 45%, além de
fechar o mercado (norte)americano para bens chineses.
A China pode golpear de volta restringindo importações (norte)americanas
e pressionar os bens (norte)americanos no mercado asiático. Se começar uma
guerra comercial, a China pode se aproveitar do fato de que foram os EUA que a
iniciaram para começar a dizer aos seus parceiros do projeto One Belt, One Road
(Nova Rota da Seda) que não é possível confiar nos Estados Unidos e sua política
de dar prioridade a ameaças ao invés de negociações. Não há dúvidas de que a
China se utilizará de ferramentas proporcionadas aos membros da Organização
Mundial de Comércio para proteger seus interesses. Atualmente, Pequim tem em
seu poder mais de um trilhão de dólares (U$1.000.000.000.000) em títulos do
Tesouro (norte)Americano (5,5% do total dos T-Bonds no mundo). Pode vendê-los
todos.
A China tem suas próprias preocupações. A última coisa que quer é o
colapso do regime na Coreia do Norte, seguido por um dilúvio de refugiados e a
presença de militares dos Estados Unidos e da Coreia do Sul nas fronteiras
chinesas.
A instalação do sistema THAAD de mísseis de defesa na Coreia do Sul é na
realidade o primeiro passo neste sentido. A China se opôs veementemente a esse
movimento encetado pelos EUA sob o pretexto da ameaça dos mísseis norte
coreanos. A instalação é apoiada pelo Japão. Acrescente-se que a Coreia do Sul
anunciou planos para modernizar o sistema de mísseis de defesa Patriot,
construído nos Estados Unidos, que já estão em solo sul coreano.
Com o comércio bilateral entre China e EUA alcançando somas de U$ 519
bilhões de dólares em 2016, os dois países são o segundo maior parceiro
econômico um do outro atualmente. Uma guerra comercial entre os dois gigantes
econômicos pode afetar o mundo inteiro.
Não se trata apenas da China. O presidente acaba de assinar um nova
pacote de sanções contra a Rússia, Irã e Coreia do Norte, informou o vice
presidente Mike Pence durante uma visita à Georgia. Assim, A Rússia e a China
parecem estar dentro do mesmo barco alvejado pelas medidas punitivas
(norte)americanas. Some-se a estas aquelas impostas contra a Venezuela do
Presidente Maduro e percebemos que a introdução de sanções Parece se tornar a
ferramenta mais frequente Para a implementação dos objetivos de política
externa dos EUA.
A partir de 2017, o Gabinete para o Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC
– Office for Foreign Assets Control) administra 26 programas de
sanções ativas. A guerra econômica contra a Rússia traz embutida o risco do
crescimento de sérios protestos entre os aliados (norte)americanos na Europa.
Muitas companhias europeias estão estudando perspectivas de investimentos no
Irã, apesar das sanções dos Estados Unidos. Uma guerra (comercial) contra a
China não fará outros aliados ficarem contentes, especialmente na região Ásia/Pacífico.
Muitos países da região da Ásia/Pacífico ficaram muito frustrados algum
tempo atrás pela rejeição da administração Trump da Parceria Trans-Pacífico (TPP
Trans-Pacific Partnership), na qual depositavam tanta esperança. Agora, com o
projeto chinês One Road One Belt a pleno vapor, os EUA não têm nada para lhe
opor.
As sanções sempre se revelam um tiro pela culatra. As guerras econômicas
consumem recursos da mesma forma que os conflitos armados. Mas agora os Estados
Unidos parecem dispostos a desencadear guerras econômicas contra o mundo
inteiro. Por exemplo, o presidente tem um plano para instituir
tarifas de mais de 20% para importadores de aço como a China. Isso pode
disparar uma guerra econômica global total. O Fundo Monetário Internacional
(FMI) alertou os líders no encontro do G20 em Hamburgo, Alemanha, que eles estavam colocando em risco a
recuperação do crescimento global ao perseguir políticas nacionais à custa das
regras acordadas de comércio internacional. “Porque as políticas nacionais
inevitavelmente interagem em grande número de áreas vitais, criando efeitos
indiretos através dos países, a economia mundial trabalha muito melhor quando
os administradores se envolvem em diálogos regulares e trabalham dentro de
mecanismos adrede acordados para resolver as divergências” diz o alerta.
Com as sanções sendo largamente usadas como instrumento de política
externa, os Estados Unidos começam a ser amplamente considerados como parceiros
comerciais pouco confiáveis, impondo sanções a seu bel prazer. Os países tendem
a procurar por outros parceiros, mais dignos de confiança. Guerras comerciais,
como outras guerras, não beneficiam ninguém e trazem problemas para todos.
Haverá consequências globais perigosas, e ninguém vencerá. A administração
Trump está dando o passo errado na sua tentativa de obter sucesso na política “America
First” (Primeiro, os Estados Unidos - NT).
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