A faceta sinistra do legado de Obama
Por Melvin Goodman – tradução de btpsilveira
Há um lado sinistro do legado do Presidente Barak Obama nas questões de
segurança nacional e internacional que pode permitir que o presidente eleito
Donald Trump prejudique tanto as instituições (norte)americanas quanto a
comunidade internacional.
O presidente Obama, um advogado bem treinado, formado
em Harvard e especialista em Direito Constitucional, não foi escrupuloso o
suficiente com suas obrigações morais, criando uma página lamentavelmente infortunada
na história dos Estados Unidos. Em vez de promover um “mundo seguro para a
democracia”, na brilhante exortação do Presidente Woodrow Wilson cem anos
atrás, o presidente Obama contribuiu para a instalação futura de um sufocante
Estado de Segurança Nacional e uma cultura de sigilo hermético.
As administrações tanto do presidente George W. Bush quanto de Barak
Obama inclinaram-se demais na direção do militarismo exacerbado, que já
desempenhava um papel muito grande no processo do ciclo de inteligência. O
Pentágono fez a inteligência estratégica sofrer em suas mãos com a dominação
crescente que se destina principalmente a apoiar os militaristas beligerantes
em época de guerra interminável. O fracasso das estratégias de inteligência
durante a administração Obama inclui a ausência de cuidados necessários com os
eventos na Crimeia e na Ucrânia; as “Primaveras Árabes”, a emergência do Estado
Islâmico e a imprudência no trato com a Rússia na Síria.
Presume-se que a militarização da
inteligência crescerá na administração Trump, já que será dominada por generais
reformados e funcionários graduados de West Point em quase todos os departamentos
fundamentais e agências da política para a comunidade mundial. A CIA se tornou
uma organização paramilitar na sequência dos ataques de 11/9 e atualmente dá
muito mais atenção às ações secretas.
As campanhas do Presidente Obama podem ter sido na base de transparência
e abertura, mas ignorou solenemente as responsabilidades da CIA por suas
transgressões e enfraqueceu os fundamentos do papel da inspeção de toda a
comunidade de segurança nacional. Uma seção de Inspeção Geral estatutária foi
criada em 1989 devido os crimes cometidos no episódio dos crimes Irã/Contra,
mas o presidente Obama assegurou-se que nenhuma inspeção seria realizada contra
a CIA durante a maioria dos oito anos de sua presidência e permitiu que o
gabinete do Inspetor Geral da CIA fosse desmantelado.
O relatório impositivo do Comitê sobre a Inteligência do Senado sobre o
uso ilegal pela CIA de abuso e tortura não poderia ser elaborado sem o trabalho
do gabinete do Inspetor Geral, porém o presidente Obama tolerou que o diretor
da CIA interferisse junto ao staff do Comitê e ignorou pedidos para que
revelasse o relatório em sua totalidade. Resultado: será fácil para a
administração Trump reinstalar o uso de tortura, violando as leis constitucionais
dos Estados Unidos e a lei internacional, deixando de lado o bom senso e a
decência. Com relação à prática ainda não banida de waterboarding (simulação de
afogamento – NT), Donald Trump já disse que “apenas pessoas muito estúpidas dizem
que isso não funciona”.
Além disso, a administração Obama está
desencadeando uma campanha sem precedentes contra jornalistas e informantes,
usando a Lei contra a Espionagem, já velha centenária, mais que o uso que dela
fizeram todos os seus antecessores combinados. A lei que Obama está usando foi
criada na realidade para processar funcionários do governo que falassem com
jornalistas e não para intimidar informantes que apresentam denúncias
legítimas, reportando crimes e impropriedades. Um antigo executivo e editor do
jornal Washington Post afirma que o
controle de informação usado abertamente por Obama é “o mais agressivo que eu
vi desde a administração Nixon”.
O presidente Obama, sempre usando a sua retórica altamente rebuscada e
altissonante, denunciou a tortura que “vão contra a plena execução do Estado de
Direito”, alertou que o uso indiscriminado de drones poderá “definir o tipo de
nação que deixaremos para nossas crianças” e que “vazar investigações pode
prejudicar o jornalismo investigativo que faz com que o governo assuma suas
responsabilidades”. No entanto, apesar da retórica, ele nunca quis
responsabilizar aqueles que praticam o abuso e a tortura; expandiu o uso da
guerra através de drones e, de acordo com o diretor executivo da Fundação para
a Liberdade de Imprensa, “deixou tudo pronto para que Trump, se quiser, lance
uma repressão sem precedentes contra a imprensa”.
Enquanto o congresso entregar ao presidente a condução da política
nacional de segurança; enquanto os tribunais estiverem afastando qualquer
desafio ao poder do presidente na condução da política de segurança do país e
enquanto a mídia for submissa às fontes oficiais e autorizadas, a nação terá
que confiar nos informantes e naqueles que revelam as informações essenciais
sobre a segurança nacional ou internacional. Na administração Trump seu papel
será ainda mais crucial, haja vista as afirmações imprudentes do presidente
eleito sobre as forças nucleares, proliferação nuclear, uso da força e as
relações dos Estados Unidos com seus principais aliados. O fato de que Trump
renegou e permanece hostil aos briefings da inteligência e que suas três
primeiras nomeações foram de notórios teóricos da conspiração criaram o pior
cenário possível para o aprofundamento da parte sinistra do legado de Obama.
Melvin A. Goodman é
pesquisador sênior no Centro para a Política Internacional (EUA), professor na
Universidade John Hopkins e antigo analista da CIA, já tendo publicado vários
livros. É colunista de Segurança Nacional do site CounterPunch.
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