Manlio Dinucci, tradução de José Reinaldo
de Carvalho
Publicando originalmente na Rede Voltaire
Barack Obama foi um “santo
subito”:
assim que entrou na Casa Branca, foi preventivamente laureado, em 2009, com o
Prêmio Nobel da Paz graças aos “seus extraordinários esforços para fortalecer a
diplomacia internacional e a cooperação entre os povos”.
Enquanto isso, a sua
administração já preparava secretamente, por meio da secretária de Estado
Hillary Clinton, a guerra que dois anos depois demoliria o Estado líbio,
estendendo-se depois à Síria e ao Iraque através dos grupos terroristas
funcionais à estratégia dos EUA e da Otan.
Inversamente, Donald Trump
é o “demônio subito”, ainda antes de entrar na Casa Branca. É acusado de ter
usurpado o posto destinado a Hillary Clinton, graças a uma maléfica operação
ordenada pelo presidente russo Putin.
As “provas” são fornecidas
pela CIA, a mais especializada em matéria de infiltrações e golpes de Estado.
Basta recordar as suas operações para provocar e conduzir as guerras contra
Vietnã, Cambodja, Líbano, Somália, Iraque, Iugoslávia, Afeganistão, Líbia,
Síria; os golpes de Estado na Indonésia, El Salvador, Brasil, Chile, Argentina,
Grécia.
Milhões de pessoas presas,
torturadas e assassinadas; milhões de desalojados das suas terras,
transformados em fugitivos, objeto de um verdadeiro tráfico de escravos.
Sobretudo crianças e mulheres jovens, escravizadas, violentadas, obrigadas a
prostituir-se.
Tudo isto deveria ser
lembrado por aqueles que, nos Estados Unidos e na Europa, organizam no dia 21
de janeiro próximo, a marcha das mulheres para defender justamente a paridade
de gênero conquistada com duras lutas, continuamente postas em causa pelas
posições sexistas manifestadas por Trump.
Esta não é, porém, a razão
pela qual Trump é acusado em uma campanha que constitui um fato novo nos
procedimentos de alternância na Casa Branca: desta vez a parte perdedora não
reconhece a legitimidade do presidente eleito, e tenta um impeachment
preventivo. Trump é apresentado como um tipo de “Manchurian Candidate” que, infiltrado na Casa Branca, seria controlado por Putin, inimigo dos Estados
Unidos.
Os estrategistas neocons,
artífices da campanha, buscam assim impedir uma mudança de rumo nas relações dos
Estados Unidos com a Rússia, que a administração Obama levou ao nível de uma
guerra fria. Trump é um “trader” que, continuando a basear a política
estadunidense na força militar, tenciona abrir uma negociação com a Rússia,
possivelmente também para debilitar a aliança de Moscou com Pequim.
Na Europa aqueles que
temem um relaxamento das tensões com a Rússia são antes de tudo os dirigentes
da Otan, cuja importância cresceu com a escalada militar da nova guerra fria, e
os grupos no poder nos países do Leste – particularmente Ucrânia, Polônia e
países bálticos – que apostam na hostilidade à Rússia para ter um crescente
apoio militar e econômico por parte da Otan e da União Europeia.
Nesse quadro, não se pode
ignorar nas manifestações de 21 de janeiro a responsabiidade de todos os que
transformaram a Europa na primeira linha do confronto, inclusive nuclear, com a
Rússia. Não deveremos manifestar-nos como súditos dos Estados Unidos que não
querem um presidente “mau” e pedem um presidente “bom”, mas para nos libertarmos
da sujeição aos Estados Unidos que, indpendentemente de quem seja o presidente,
exercem sua influência na Europa através da Otan; para sair dessa aliança de
guerra, para exigir a remoção das armas nucleares dos EUA dos nossos países.
Deveremos manifestar-nos
para termos voz, como cidadãos e didadãs, nas decisões de política externa que,
indissoluvelmente ligadas às econômicas e políticas internas, determinam as
nossas condições de vida e o nosso futuro.
http://www.voltairenet.org/article194929.html
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