Peter Korzun, tradução de btpsilveira
Por decisão do presidente Obama, 300 Marines dos Estados Unidos foram
mandados para a Província de Helmand, no Afeganistão – é a primeira vez em três
anos que a zona de conflito recebe soldados do exército dos Estados Unidos.
Quase todo o distrito de Helmand, a não ser pela sua capital, Lashkar
Gah, ou está envolvido em batalhas pesadas ou totalmente controlado pelo
Talibã. A província é o principal produtor de ópio do país.
Apesar de todas as promessas de retirada, permanecem no Afeganistão
8.400 tropas que ali ficarão mesmo depois que Obama deixar o gabinete em 20 de
janeiro. Caso os (norte)americanos deixem o país, dificilmente o governo afegão
atual continuará no poder.
Já há 15 anos as forças (norte)americanas estão engajadas em ações de
combate – de longe a mais longa guerra travada pelos Estados Unidos – e não há
previsão para o fim das hostilidades.
Depois que os soldados do Talibã realizaram tentativas de invadir a
capital, cerca de 200 soldados da OTAN, principalmente italianos, também foram mandados para a instável província de Farah, a
oeste do país.
Cerca de um terço do país – mais território que em qualquer
tempo desde 2001 – ou está sob controle dos insurgentes ou em risco de cair em
breve. Em várias cidades estrategicamente importantes, as forças do Talibã
estão desafiando as forças afegãs de segurança. Há dúvidas sobre a capacidade
do governo em controlar o país, desde que há conflitos em 24 das 34 províncias
do Afeganistão.
Em dezembro passado, o general John Nicholson, comandante em chefe dos
Estados Unidos e da OTAN no Afeganistão disse que o governo afegão controla atualmente cerca de 64% da
população do país, de 30 milhões de pessoas, abaixo dos 68% que controlava no
início de 2016.
De acordo com Robert Grenier, que foi o oficial sênior do
contraterrorismo da CIA e chefiou a base da agência em Islamabad, no Paquistão,
de 1999 a 2000, parece inevitável que grandes partes do país, principalmente no
Sul e no Leste, caiam nas mãos dos Talibãs, que deverão estabilizar seu
controle sobre essas áreas. As forças afegãs sofreram mais de 15.000 baixas nos
oito primeiros meses de 2016, entre elas mais de 5.500 mortes.
Enquanto líderes regionais e senhores da guerra ganham proeminência, o
governo de Kabul perde coesão. Segundo a ONU, sete milhões de afegãos
necessitam de ajuda e 2.2 milhões sofrem de desnutrição. A pobreza e o
desemprego fazem que os jovens fiquem propensos a se juntar a grupos extremistas.
Depois que a infraestrutura de extração de petróleo em mãos do Estado
Islâmico foi destruída na Síria pelas forças da Federação Russa, a questão do
controle das rotas de heroína na Afeganistão tornou-se crucial para o grupo extremista.
Os militantes do Estado Islâmico fazem US$ 1 bilhão por ano com a heroína
afegã, de acordo com o Serviço de Controle de Drogas da Rússia (FSKN). A
possibilidade de uma aliança entre o Talibã e o Estado Islâmico é um pesadelo
cada vez mais real.
Oficiais afegãos se aproximaram da Rússia, solicitando a retomada de
cooperação. Estes representantes do país acreditam que a Organização de Cooperação
de Xangai (OCX) pode ajudar a administrar a crise. Oficiais da OTAN também
fizeram declarações apoiando uma retomada de cooperação entre a Rússia e a OTAN
no Afeganistão. Depois que a Crimeia se tornou mais uma vez parte da Federação
Russa em 2014, essa cooperação foi interrompida.
Moscou permitiu que cargas não militares atravessassem seu território,
oriundas de países da OTAN e de países da ISAF (International Security
Assistance Forces – Forças Internacionais de Assistência para a Segurança) não
pertencentes à OTAN. A OTAN se utilizou do centro de trânsito em Ulyanovski. Um
programa comum de treinamento e prevenção para o comércio de drogas foi
implementado pelas partes na Ásia Central.
A Rússia concordou em vender equipamento e munição para apoiar as
operações da OTAN no Afeganistão. Por exemplo, em 2010 a OTAN comprou 31
helicópteros MI-17 da Rússia, para renovar o estoque do exército afegão.
Contra o pano de fundo do sensacionalismo que cresce nos Estados Unidos
quanto à “ameaça” que vem de Moscou, Washington teve que levantar parcialmente
as sanções contra a cooperação russa na manutenção dos helicópteros. E não foi
só dessa vez. Os Estados Unidos quebraram o seu próprio regime de sanções para
permitir a aquisição de tecnologia russa para seu programa espacial.
O governo afegão precisa desesperadamente de mais helicópteros russos
para repelir os ataques do Talibã e do Estado Islâmico. Em 2016 pediram formalmente ao governo russo que iniciasse as
entregas.
Caso a Rússia entregue seu equipamento de aviação para o Afeganistão,
claro que necessitará treinar pessoal afegão. Formalmente, é exatamente o que
estão fazendo a OTAN e os Estados Unidos no Afeganistão nesse exato momento – eles
estariam no país em missão de aconselhamento e treinamento. Na realidade, tudo
isso significará o reinício da cooperação enquanto estiverem EUA/Rússia
trabalhando na mesma missão.
O presidente russo Vladimir Putin recentemente expôs a sua preocupação sobre a situação do Afeganistão e
pediu por esforços urgentes para resolver o problema. A instabilidade no país
se espalha para a Ásia Central, representando uma ameaça direta para a
segurança da Rússia. Quase 2.000 militantes que operam nas províncias ao norte
do Afeganistão vieram de países do espaço pós União Soviética.
Há um crescente risco de ataques extremistas em países aliados a Moscou.
Militantes com experiência de combate recebida na Síria já foram vistos no Vale
de Fergana, no Uzbequistão. A infiltração do Estado Islâmico para o Afeganistão
ameaça o Cáucaso Norte da Rússia e a região do Volga. Além disso, a heroína
oriunda do Afeganistão mata 25.000 russos anualmente.
Apenas um esforço internacional poderá resolver a questão quentíssima do
Afeganistão. Trata-se de assunto de interesse comum para a Rússia e para a
OTAN. A situação do país poderia ser discutida dentro do quadro de trabalho do
Conselho Rússia/OTAN. Em quatro de janeiro o Ministro russo de Relações Exteriores
fez uma declaração importante, ao dizer que a Rússia está pronta para
restaurar suas relações com a OTAN. O Afeganistão pode se tornar o ponto de
reinício no caminho para reconstruir o relacionamento quebrado.
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