Tradução pela Vila Vudu
O presidente eleito Donald Trump está acusando o diretor da CIA John Brennan de ser a fonte de "notícias falsas" sobre ele, essencialmente de acusar nosso novo supremo líder de ser fantoche de Moscou, e acusando-o de participar de festins sexuais à plena vista de câmeras da inteligência russa num hotel em Moscou há vários anos.
Não tenho ideia de se Trump, sim ou não, quando em visita a Moscou em 2010, contratou prostitutas para urinarem no colchão de uma suíte presidencial do Four Seasons Hotel porque os Obamas certa vez dormiram lá. Não me interessa. Tampouco tenho ideia de se o governo russo "hackeou" o Comitê Nacional Democrata e roubou e-mails domanager da campanha eleitoral de Clinton, John Podesta. Não vi prova alguma apresentada por qualquer CIA, FBI ou Agência de Segurança Nacional, portanto concluo que a conversa sobre hacking está ultrapassada. Todos os países espionam-se uns os outros. É fato da vida. Os EUA espionam absolutamente todo mundo, em todo o planeta. Assim sendo, tenho problemas com a indignação 'politicamente correta' que vejo em tantos dos meus amigos e ex-colegas de CIA sobre os russos.
Isso posto, a conversa sobre hackers russos distrai e tira a atenção de questões reais e importantes que cercam a CIA e o futuro dela na política dos EUA.
Uma dessas questões reais é que a CIA tem mentido consistentemente ao povo norte-americano, por muitos, muitos anos. Por que Trump concluiria que Brennan estaria cuspindo notícias falsas? Ora! Nos últimos 15 anos, a CIA disse que não torturava prisioneiros. Era mentira. A CIA disse que não criara um arquipélago de prisões secretas onde mantinha centenas de pessoas, inclusive civis inocentes. Era mentira. ACIA disse que não criara um centro-calabouço de tortura chamado "Salt Pit" [Poço de Sal] no Afeganistão. Era mentira. A CIA disse que não estava mandando prisioneiros para países do terceiro mundo para serem torturados com conhecimento e autorização do alto comando da CIA. Era mentira. A CIA disse que não hackeou computadores que pertenciam a investigadores do Seleto Comitê de Investigação de Inteligência do Senado quando estava sendo preparado o relatório definitivo sobre o programa de tortura da CIA. Era mentira.
E nem comento as juras da CIA de que jamais derrubou governos, influenciou eleições, cometeu assassinatos ou por outras vias vem emporcalhando a política externa dos EUA desde o final dos anos 1940s.
Não sou fã de Donald Trump. Absolutamente não sou. Mas está cheio de motivos e boas razões, quando se põe a reclamar contra a Comunidade de Inteligência. Quando Trump disse recentemente que a CIA é inchada e ineficiente, acertou. Quando disse que é preciso pôr abaixo a CIA e reestruturá-la, acertou.
Primeiro, é muito bom para o país que, em dois, três dias, John Brennan estará desempregado. Brennan foi completo desastre para a CIA. A mal pensada "restruturação" que promoveu na organização há dois anos, que acabou com as divisões "geográficas" e criou dez novos "centos de fusão" onde se equipararam operadores e analistas, foi mal concebida e típica de quem não tem experiência operacional. Diluiu as expertises, forçou a CIA a depender mais de escutas eletrônicas e afastou de lado a coleta de inteligência de fonte humana.
Segundo, por mais que tenha insistido, Brennan jamais conseguiu e de fato nem deveria ter tentado negar o papel que teve no programa de torturas do governo Bush. Foi vice-diretor executivo da CIA de Bush – 4º mais alto funcionário na organização – de 2001 a 2003 e diretor do Centro de Integração de Ameaça Terrorista de 2003 a 2004. Estava até o pescoço enfiado em contraterrorismo nos dias mais sombrios da Agência. Dizer que não tinha ideia de que existia na CIA um programa de tortura naquele momento é risível.
Terceiro, não tenho ideia de que tipo de diretor da CIA será Michael Pompeo. Não sou otimista. Mas, isso posto, se puder tomar uma única medida durante todo o mandato, tenho esperança de que limpe a casa, demitindo todos os funcionários da Agência que algum dia tiveram algo a ver com o programa de torturas, todos os funcionários que algum dia tiveram algo a ver com o escândalo do hacking no Senado, e todos os funcionários que algum dia forneceram informação falsa às comissões de supervisão. Como me disse o meu recrutador da CIA em 1989, "A CIAquer gente honesta, não gente perfeita e infalível." Bem, mesmo tantos anos depois, é imprescindível demitir os desonestos.
Quarto, podemos com certeza discutir se o país precisa ou não precisa, afinal, de uma CIA. Já cheguei à conclusão de que não precisamos. Os excelentes funcionários civis no Gabinete de Inteligência e Pesquisa no Departamento de Estado podem fazer as análises. Os Serviços de Inteligência Humana do Pentágono podem recrutar e dirigir fontes humanas em todo o mundo. Milhares de gabinetes e serviços civis do Departamento de Defesa e outros podem fazer o desenvolvimento da ciência e da tecnologia.
Até o serviço estar concluído porém, o trabalho da CIA tem de ser bem delimitado e simples: recrutar espiões para roubar segredos. Se não pode fazer nem isso, quando a maioria dos funcionários da CIA mantêm os traseiros gordos sentados alegremente em Langley, Virginia, os EUA temos um problema. Lá prestam um desserviço ao contribuinte norte-americano. O 'alto comando' tem de ser demitido. Funcionários que não respeitam a lei internacional e a lei dos EUA têm de ser demitidos. O expurgo tem de começar dia 20 de janeiro.
John Kiriakou é ex-funcionário de contraterrorismo da CIA e
ex-investigador sênior da Comissão de Relações Exteriores do Senado. John
tornou-se o sexto sentinela tocador de apito & alarme [ing. whistleblower]
indiciado e condenado pelo governo Obama nos termos da Lei Antiespionagem
– lei concebida para castigar espiões. Cumpriu pena de 23 meses em prisão
fechada, porque jamais desistiu de opor-se ao programa de torturas do governo
Bush.
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