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Eurípedes
A Última Potência Hegemônica: Aqueles a quem os Deuses Destruirão

Resenha de livro por David Ray Griffin, tradução de btpsilveira (1)

Conhecido mundialmente por livros e artigos sobre geopolítica, F. William Engdahl publicou recentemente um livro intitulado “The Lost Hegemon: Whom the Gods Would Destroy” – A Última Potência Hegemônica: Aqueles a quem os Deuses Destruirão. O subtítulo remete a uma frase atribuída a Eurípedes, “Os Deuses primeiro enlouquecem aqueles a quem querem destruir”.

O livro descreve o comportamento insano dos Estados Unidos, empenhado em destruir a si mesmo, desde a queda da União Soviética. A loucura envolve o método através do qual os Estados Unidos querem prevenir a perda de sua hegemonia global. Engdahl escreve que o método se baseia em um esquema concebido por Zbigniev Brzezzinski, enquanto serviu como conselheiro para a segurança nacional na presidência de Jimmy Carter.
O esquema para destruir a economia da União Soviética foi atraí-la para uma guerra que não poderia ser vencida no Afeganistão. O método usado foi convidar Osama Bin Laden para trabalhar com a CIA e trazer muçulmanos fundamentalistas da Arábia Saudita e de todo o mundo árabe para lutar no Afeganistão, enquanto o papel que cabia aos Estados Unidos seria treinar e armar tais militantes (Operação Ciclone). Engdahl crê que o enfraquecimento da economia da União Soviética foi a causa de sua dissolução. A Guerra Fria tinha terminado. O que fizeram então os Estados Unidos?
Engdahl argumenta que a política dos EUA “poderia ter encorajado um desenvolvimento real e pacífico das nações em um clima de paz e cooperação... Esta cooperação poderia ter incluído a China e a Rússia, em vez de cerco, confrontação, caos e guerra”.  No entanto, os Estados Unidos escolheram usar sua posição como única superpotência remanescente para tentar se tornar o primeiro império global na história.
Observando como a Operação Ciclone funcionou perfeitamente, Washington decidiu reutilizar os Afegãos Árabes da CIA, os mujahidins, “para desestabilizar a influência russa que ainda restava no espaço europeu depois da queda da União Soviética”. As primeiras e maiores batalhas aconteceram na Chechênia, onde eles sabotaram as rotas russas de oleodutos e gasodutos e na Iugoslávia, onde foram usados para iniciar a guerra da Bósnia, com o intento de desestabilizar o país.
O foco sempre foi a Rússia, porque os estrategistas (norte)americanos, obcecados com a “Primazia (norte)Americana” viam a Rússia como o país mais provável para se tornar capaz de desafiar essa primazia – como argumenta Brzezinski – em “O Grande Tabuleiro de Xadrez”.
De qualquer maneira, graças ao sucesso de seus projetos terroristas, os líderes em Washington se tornaram “convencidos de que tinham descoberto o instrumento ideal para levar o terror a qualquer lugar do mundo e avançar na sua agenda de hegemonia global”.
O próximo capítulo de importância na história aborda os acontecimentos de 11/9.Engdahl rejeita as principais teorias: a oficial que “se torna menos crível quanto mais pessoas sérias a investigam”; a visão de que Cheney e seus falcões neocons pensaram o evento como oportunidade de criar um “novo Pearl Harbour”; e a ideia de que 11/9 foi orquestração de Israel. Engdahl não sugere uma hipótese alternativa. No entanto, afirma que os governos tanto dos Estados Unidos, quanto de Israel e Arábia Saudita “claramente estavam preparados para usar os acontecimentos de 11/9 para alavancar seus objetivos”.
Engdahl também torna claro a imensa importância dos acontecimentos de 11/9, por pelo menos duas razões. Primeiro, como Osama bin Laden e sua rede Al-Qaeda foram declarados culpados, os Estados Unidos conseguiram “criar um ‘novo inimigo’ para repor o velho comunismo soviético”, então degradado. Segundo, a “guerra ao Terror” que foi declarada, tratava-se na realidade, como disse o General Wesley Clark, de uma “Guerra ao Islã”.
Que desde o início essa foi a real natureza de Guerra ao Terror está claro por algo que Clark afirmou – que um memorando do Secretário de Defesa Rumsfeld indicava que o Pentágono estava planejando “destruir os governos de sete países (muçulmanos) em cinco anos”, começando com o Iraque. Claro que essa contagem de tempo não foi efetivada. Porém o governo dos Estados Unidos não abdicou da lista. De fato, sob a administração Obama, mais dois países da lista foram alvejados, Líbia e Síria – com os falcões neocons tentando ardentemente encontrar um motivo para a atacar ainda um terceiro – o Irã.
O livro de Engdahl discute um enorme número de fatos e ideias das quais não trato aqui. Em vez disso, prefiro resumir algumas de suas principais conclusões:
“A tática de Washington de usar politicamente o fundamentalismo muçulmano para assegurar a revitalização da hegemonia global (norte)americana está falhando em todos os lugares”.
Engdahl diz que a razão dos fracassos reside na falta de inteligência dos líderes em Washington. Inteligência política real seria a habilidade de ver as conexões que não são necessariamente óbvias, tal como a capacidade de ver “a interconexão de toda a vida e de todos os povos em todas as guerras”. É o reconhecimento de que “quem desencadeia uma força destrutiva em qualquer lugar, afeta destrutivamente toda a humanidade, incluindo os mesmos que desencadearam tal força”.
O erro da CIA e do complexo militar e industrial dos EUA foi acreditar na falsidade de que “poderiam armar jihadistas muçulmanos violentos... como a sua máquina de matança, sem consequências imprevistas.”
Por causa dos repetidos fracassos dessa abordagem, os Oligarcas (norte)Americanos “estãos e tornando cada vez mais desesperados. Na sua crescente ansiedade, eles ameaçam atém mesmo com uma nova guerra mundial”. Isso em uma era termonuclear. Literalmente: como disse Eurípedes, “os deuses primeiro enlouquecem aqueles a quem querem destruir”.


David Ray Griffin ** é professor emérito na Claremont Graduate University. Seu próximo livro será: Bush and Cheney: How They Ruined America and the World (Como Bush e Cheney arruinaram os EUA e o mundo).




(1) O livro é realmente muito bom e quem tiver oportunidade, pode ler como boa escolha para entender como funciona o pensamento neocon na conduta das políticas externas dos Estados Unidos, sob uma visão crítica e fora do circuito oficial da imprensa "chapa branca" lá dos EUA. 

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